DESENHO ASSISTIDO
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02 maio 2025
FRANCIS BACON PINTURA E DESENHO
FRANCIS BACON E A QUESTÃO DO DESENHO
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O Desenho na Obra de Francis Bacon: Entre o Mito e a Revelação
Francis Bacon (1909-1992), um dos artistas mais impactantes do século XX, é frequentemente associado à pintura visceral e distorcida, onde corpos se contorcem e rostos se dissolvem em pinceladas brutais. No entanto, uma questão persiste: Bacon desenhava? Durante décadas, o próprio artista negou, afirmando que trabalhava diretamente na tela, sem esboços prévios. Mas, após sua morte, uma série de descobertas revelaram que o desenho desempenhava um papel fundamental, e até então subestimado, em seu processo criativo.
Desenhos de Francis Bacon
O Mito do Artista que Não Desenhava
Bacon cultivou a imagem de um pintor intuitivo, que atacava a tela sem preparação, deixando a deformação surgir no próprio ato da pintura. Em entrevistas, insistia que seus trabalhos nasciam do acaso e da experimentação direta com a tinta. Essa narrativa, porém, foi desmontada quando centenas de desenhos e colagens, muitos deles presentes em coleções privadas, como a do seu parceiro Cristiano Lovatelli Ravarino, vieram à tona.
Desenhos como Obras Autônomas, Não Apenas Estudos
Ao contrário do que se poderia esperar, muitos dos desenhos de Bacon não eram meros rascunhos para pinturas, mas obras completas, feitas com lápis, pastel e colagem. Algumas são de grande escala e apresentam uma intensidade cromática e gestual comparável à de suas telas. Temas recorrentes em sua pintura, como os retratos do Papa Inocêncio X (inspirados em Velázquez), as crucifixões e os autorretratos distorcidos, aparecem também em seus desenhos, muitas vezes com uma liberdade ainda maior.
A Controvérsia e a Redescoberta
A autenticidade desses desenhos foi (e ainda é) alvo de debates, com alguns especialistas questionando sua atribuição. No entanto, exposições como "Francis Bacon: A Questão do Desenho" (Madrid, 2023) reforçaram sua legitimidade, mostrando como Bacon explorava o papel como um campo de experimentação paralelo à pintura. Seus traços, ora precisos, ora explosivos, revelam um artista em diálogo constante com o acidente controlado, a mesma tensão entre ordem e caos que define suas telas.
O Desenho como Chave para Entender Bacon
Longe de ser um detalhe secundário, o desenho na obra de Bacon abre novas perspectivas sobre seu método. Se suas pinturas são gritos congelados, seus desenhos são os sussurros que os antecederam, ou os ecos que os seguiram. Mostram um Bacon mais íntimo, mas igualmente brutal, confirmando que, mesmo quando negava o lápis, sua mão nunca deixou de desenhar. Muitos de seus desenhos trazem a mesma obsessão por corpos em transformação, com linhas que parecem escapar do papel, assim como suas figuras parecem querer fugir da tela. Se você conhece suas pinturas, reconhecerá imediatamente a mesma energia, só que, aqui, sem a mediação da tinta, apenas o traço nu e cru.
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BACON E A QUESTÃO DO DESENHO
Notícia de jornal
O Círculo de Bellas Artes (Madrid) recebe a exposição "Francis Bacon. A questão do desenho", que reúne mais de cinquenta desenhos a lápis, pastel e colagens pertencentes à coleção Francis Bacon Foundation of the drawings donated to Cristiano Lovatelli Ravarino. A mostra, que inclui séries de crucificados e retratos de Papas, busca desmentir a crença popular de que Bacon desenhava apenas como preparação para suas pinturas.
Durante anos, acreditou-se que Francis Bacon não desenhava, como ele mesmo afirmou em várias ocasiões. No entanto, desde sua morte em 1992, diversas evidências contestaram essa conclusão, revelando que ele não apenas desenhava, mas o fazia de forma prolífica e com a mesma maestria com que pintava. Desde então, a autenticidade dos desenhos de Bacon tem sido uma questão controversa, inclusive com processos judiciais.
Esta exposição apresenta mais de cinquenta desenhos a lápis, pastel e colagens da coleção Francis Bacon Foundation of the drawings donated to Cristiano Lovatelli Ravarino. Obras que o proprietário da coleção, Cristiano Lovatelli Ravarino (jornalista e parceiro do pintor por muitos anos), recebeu como presente do próprio Bacon, datados e assinados pelo artista entre 1977 e 1992.
Em geral, não se trata de esboços ou desenhos preparatórios, mas sim de obras por direito próprio, muitas delas de grande formato e cores impactantes, nas quais se repetem temas que obsedaram Bacon ao longo de sua carreira, como o retrato do Papa Inocêncio X de Velázquez, crucifixões, retratos e autorretratos.
Com curadoria de Fernando Castro Flórez, "A questão do desenho" busca lançar luz sobre uma das questões mais debatidas de um dos artistas mais importantes do século XX. (1)
Observação
Mantive os nomes próprios e institucionais no original (como Círculo de Bellas Artes e Francis Bacon Foundation), pois são marcas/entidades reconhecidas internacionalmente.
Fonte
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