INÍCIO

14 agosto 2021

AS REGRAS DA ABSTRAÇÃO



THE RULES OF ABSCTRACTION

https://youtu.be/Bg3oQ_OqQ_o


IMAGENS SEM FIM





A rigor, mnemosýne abraça toda a inteligência. Como o latino, o vocabulário helênico que se reporta à raiz *men- descreve a atividade do pensamento de modo tal que todos os seus campos se entrelaçam na rede da memória. Mas o significado de mnemosýne não se esclarece de pleno quando a gente se limita a contemplar seu emprego enquanto nome comum. A fim de buscar-lhe a compreensão, é preciso dirigir o pensamento para uma figura misteriosa: a imagem da dama divina que o tem por nome próprio. É indispensável remontar aos domínios do mito, ou seja, à nascente deste signo. Isso exige o esconjuro de equívocos muito comuns. Eis o principal: costuma-se dizer que Mnemósine é uma deusa “pobre de mitos”. É verdade que a Teogonia fala muito pouco a seu respeito. Só diz que ela é uma titânide, nascida do primeiro casal – Terra e Céu – e que foi amada por Zeus, a quem se uniu durante nove noites, vindo a parir-lhe, ao fim de um ano, a enéade das musas.8 Este é o testemunho máximo sobre a deusa. Mas apesar de uma referência tão enxuta no registro mitopoético, “dizer que Mnemósine é pobre de mitos resulta um contra-senso. Dá-se justamente o contrário: dessa fortuna, nenhum deus é mais rico do que ela. Pois todos os mitos lhe pertencem.” (Serra, 2006, p. 106). (Ordep Serra, 2012)




















Corta para 13 de agosto de 2021 um artigo obscuro do site “Viomundo” escrito por Por Lelê Teles. 



RÉQUIEM PARA UM CADÁVER INSEPULTO 

Senhoras e senhores, trago boas novas.
Eu vi a cara da morte e ela estava viva”. 
(Cazuza)

Mestre Cafuna, o maior de todos os futurólogos, adiantou-me o que se passará no Brasil nas eleições de vinte e dois.
Faço um breve resumo aos tuiteiros preguiçosos: o Necrarca perde pelo voto expresso e cai da própria altura, o gado bípede surta e estabelece-se não mais que 15 minutos de uma algazarrante guerra civil.
Correria, xingamentos e foguetório. O exército, chamado para conter os insurgentes, entra em cena com seus cães vira-latas, seus bacamartes enferrujados e suas tranqueiras fumacentas. Muitos civis incivilizados morrem daquela que ficará conhecida como “bala pedida”. E, assim, finda a Revolta dos Canjicas, num breve e bisonho capítulo do nosso Capitólio na capital. 

Agora, faço o relato literário que fiz aos sábios da minha aldeia, assim que retornei de um retiro. Os leitores preguiçosos já podem se retirar. Foi assim que tudo se passou: Após vários meses lutando contra a depressão e a ansiedade, procurei refúgio na Tenda da Cafunagem. Fui recebido pelo magnânimo Mestre Cafuna, criador do cafunismo; o homem que cheirou os seis sovacos de Shiva. Tive o prazer da companhia do sapientíssimo Cacique Papaku, polímata sem nenhuma formação formal. E passamos a tarde nus como vimos ao mundo. Ao longe, saltitantes sátiros com chifres retorcidos e patas de bode, tocavam, tântricamente, suas flatulantes flautas de pã. Aves haviam em voos e voltas. Estávamos às margens plácidas da cachoeira de Sofia de Iansã. Cafuna, magro como um faquir, estava deitado em seu catre de pregos pontiagudos. Papaku, em lótus, iogava numa esteira de palha de buriti. Eu, por minha vez, permaneci esparramado numa cama feita de varas de bambu.

Sim, fumamos a erva do diabo.

Após longos exercícios de respiração diafragmática, cada um pegou um didgeridoo e passamos a soprá-los, em respiração circular, até desoxigenar o cérebro. Então, leve como uma pluma, Cafuna abriu um portal para o futuro e tudo se mostrou diante de nossas vistas, claro e cristalino como num filme. Relato, agora, o que os meus olhos viram e os meus ouvidos ouviram.

Prepara-te.

No ano da graça de vinte e dois deste nosso século, precisamente no dia 31 de outubro, é exatamente isso o que ocorrerá. Haverá eleições, grande será a euforia. Porém, o voto não será impresso e tudo terminará numa desgraçante catarse cívica, como num filme sertanejo de Glauber Rocha. Em meio a grande agitação, gritaria e protestos. Napoleões de hospício e sebastianistas de araque virão à boca do palco. Nesse dia, o diabo estará à solta na terra do sol. Quais centauros hibridificados em motocas possantes, milicianos e playboys, treinados em stands de tiro, iniciarão o papoco. O Necrarca, foice em punho, tocará o berrante, como um demônio a soprar as trombetas do inferno. Os MotoBois, iracundos e belicosos, invadirão a praça dos três poderes. Nesse dia, o nosso Capitólio será lavado a sangue. Haverá choro e ranger de dentes. Poucas horas antes da refrega final, em todos os estados da federação, o rebanho de gado bípede, brandindo archotes incandescentes, invadirá as zonas eleitorais ameaçando eleitores. Aquelas imagens de machões votando com o cano da pistola, vistas nas eleições passadas, se multiplicarão mil vezes dessa vez. Mesmo assim, a derrota dos facínoras será fragorosa.

O Pavão Misterioso será depenado em praça pública. A mídia anunciará a vitória de Lula da Silva antes mesmo do resultado oficial, é que as pesquisas de boca de urna darão larga vantagem ao Barba. Após o anúncio oficial do TSE, o Jornal Nacional exibirá o meme imorrível: foto, sala de apartamento, turma olhando pra tevê; no lugar da cara de Aécio, surgirá a face triste do Necrarca, ladeado por Hulk e Agripino; broxados. Essa será a senha para a turba se assanhar. Ensandecidos pelo clangor da derrota, senhores e senhoras da terceira idade, liderados pelo valente Bob Jefferson, preso pelo tornozelo como um papagaio doméstico, forçarão as paredes de vidro do STF. Os 300 midiotas de Sara Winter, ressurretos, soltarão rojões no teto do palacete. Uma mulher de pele lívida, nua, exibindo a cirurgia nos seios e marquinhas de bronzeamento artificial, sexuará a estátua da justiça. Salva de tiros, urros, coices e relinchos. A pacata Brasília, sacolejada pela turba revoltosa, se converterá num misto de Itaguaí e Sucupira. Assombrosas sombras serão projetadas na cúpula do Senado, como se os prisioneiros da caverna de Platão entrassem em convulsão. Será uma noite de pavor e pânico. Um homem, ostentando um par de chifres e vestindo um casaco de pele de rola de jumento, guiará os bravos desordeiros, faca nos dentes, pelos largos e frios corredores do palacete.Ameaçarão tocar fogo nas vestes togosas de Moraes e Barroso, quadros são arrancados das paredes, estatuetas são decapitadas, livros rasgados abrasam pelo caminho. Balas de borracha, cães e gases lacrimogêneos tentarão, debalde, aplacar a fúria dos insurgentes. Surgirão botas, fuzis e capacetes.Haverá troca de tiros, golpes de punhais e adagas, murro no olho, pernadas, dedadas, cabeçadas e rabos-de-arraia.Ao final, estilhaços de vidro, sangue e corpos idosos forrarão o chão. Fogo por todos os lados, cheiro de pólvora no ar. Mas a refrega será breve e bravatosa, praticamente uma repetição d’A Revolta dos Canjicas da qual nos fala Machado de Assis, n’O Alienista. Sob raios e trovoadas, cairá uma forte chuva dos céus, como se um deus arrependido chorasse a satanagem que fez com os brasileiros. Pela manhã, um homem com crachá da prefeitura fará a contagem dos canjicas abatidos. Os mortos serão recolhidos aos cemitérios e crematórios, os vivos irão para a tranca.Ao fim da tarde, ao por do sol, na praça dos três poderes, de frente ao panteão, enorme bandeira rasgada ao alto, o tromPeTtista tocará, em marcha fúnebre, o fagueiro Lula Lá. Assim, pós catarse, o Brasil voltará à sua anormalidade de sempre. Mas nunca mais será tão fora do normal. No fundo, essa loucura toda servirá para nos redimir; por isso é catártica. Dessa vez, os militares, vacinados, aprenderão de uma vez por todas que são incompetentes para governar e que jamais serão vistos como as forças amadas. Igrejas proibirão reverendos de tomar chope em shoppings, empresários da fé, os chamados malafaias, serão desmonetizados pelos dizimistas ressabiados. ZeroZero, ZeroUm, ZeroDois, ZeroTrês e ZeroQuatro ocuparão uma cela na Papuda; bola de ferro nos calcanhares.Queiroz tentará uma delação premiada, mas será um arquivo queimado assim que botar os pés fora da casa de Wasseff; ninguém sabe, ninguém viu. O Véio da Havan, esquecido atrás da mobília empoeirada, sentirá no cangote o rugir do leão a lhe cobrar o que é devido, wolverínicas garras. Os marechais, uma vez marechados, calçarão as pantufas — tampão nos olhos — e descansarão o sono dos justos. O Centrão, de bolso cheio, cretínicamente negará que apoiou o cadáver político insepulto. Vaias, assovios e impropérios. PMs, temendo um revoar de cídicas retroescavadeiras, voltarão aos quartéis; rabos murchos, ordem unida. Eu, por minha vez, erguerei uma taça em libação, ao som da bela Manhã de Carnaval, de Luiz Bonfá, na voz de Elizeth Cardoso: “Manhã, tão bonita manhã / de um dia feliz que chegou / o sol no céu surgiu / e em cada cor brilhou / voltou o sonho então ao coração…”Nesse momento, aboletados num Rolls-Royce, Lula e Janja desfilam entre a multidão na Esplanada. Chuva de papéis picados. O povo, chorando e sorrindo, festeja o fim dos tempos trevosos. “Canta o meu coração / alegria voltou tão feliz / a manhã desse amor”.
Oremos ao senhor.


Fonte




 

08 agosto 2021

AMOR FILIAL

HOMENAGEM AOS PAIS

Ao celebrarmos o Dia dos Pais, podemos nos lembrar de muitos pais, filhos ou filhas notáveis ​​na mitologia grega. 




Todavia, nenhum nos parece tão apropriado quanto Anquises e Enéias, a epítome da devoção e do amor de um filho pelo seu pai. 

ENÉAS 
A deusa Afrodite se apaixonou pelo mortal Anquises, um troiano, e deu à luz o herói Enéias. Na destruição cataclísmica de Tróia, Enéias resgata seu pai idoso, literalmente levando-o nas costas, para fora da cidade, que estava sendo engolfada e consumida pelas chamas. 

Na Guerra de Troia, Eneias se converteu no mais valoroso guerreiro troiano, depois de Heitor. Favorecido pelos deuses, em várias ocasiões foi por eles salvo, durante os combates. Quando foi ferido por Diomedes, foi sua mãe, Afrodite, quem o salvou. E quando enfrentou Aquiles no campo de batalha, foi Poseidon quem o livrou de ser morto pelo herói grego.

Com a queda de Troia, sua mãe o aconselhou a deixar a cidade, levando sua família, pois lhe estaria reservado o destino de fazer reviver a glória troiana em outras terras.

A cena é vividamente mostrada em uma modesta ânfora de pescoço de figuras negras didata de ca. 500 a.C. O diminuto Anquises, com cabelo e barba brancos, se agarra às costas de seu filho alto, vigoroso e fortemente armado. 
A mulher que corre à frente da dupla certamente é Creusa, esposa de Enéias, que se separou do marido e estava fadada a ser deixada para trás.

Enéias resgata seu pai idoso literalmente levando-o nas costas, à frente está Creusa esposa de Eneas. (Black figure neck-amphora of ca. 500 B.C. The Met)

Enéias resgata seu pai idoso levando-nas costas. 

Tragicamente, Anquises não chegará ao local da futura cidade de Roma, morrendo na Sicília, mas Enéias cumprirá seu destino heróico como ancestral do povo romano. 

Encontramos essa história destacada em um denário de prata de Júlio César, que afirmava ser descendente da deusa Vênus (Afrodite romana), cuja cabeça aparece no anverso da moeda. 

Denário de prata mostrando Eneas carregando Anchises às costas e com a mão direita carrega o palladium (imagem da deusa Athená). 

Enquanto Anchises se empoleira no ombro de Enéias, o herói segura o Palladion, a pequena estátua de Atena armada que protegia Tróia. 

Em uma versão conectando Tróia e Roma, o Palladion acabou abrigado dentro do Templo de Vesta, em Roma. Vesta é uma das deusas romana que personifica o fogo sagrado, a pira doméstica e a cidade. Corresponde à Héstia dos gregos, embora o seu culto na península Itálica seja anterior à influência helénica no mundo romano. 

Vesta era a filha primogênita de Cibele e Saturno, a irmã mais velha da primeira geração de deuses olímpicos. Por direito de primogenitura, era uma das doze deusas olímpicas principais. 

Vesta, deusa do fogo, da pira doméstica e da cidade.

Foi engolida por Saturno e posteriormente resgatada por Júpiter. É representada trajando um longo vestido, muitas vezes com a própria cabeça coberta por um véu, ela é a deusa que nunca abandona o lar, o Olimpo, e jamais se envolve nas brigas e guerras de deuses ou mortais.

Desprezou o amor tanto de Netuno como de Apolo (Febo), resolvendo permanecer solteira. Como deusa de coração quente, ela representava a divindade do lar e defendia a vida da família. Era adorada antes dos outros deuses em todas as festas, uma vez que era a mais antiga das deusas do Olimpo. Um juramento feito em seu nome era o mais sagrado dos juramentos. O animal mais sagrado à deusa é o asno.

O Templo de Vesta (em latim: aedes vestae) é uma construção da Roma Antiga dedicada ao culto da deusa Vesta pelas sacerdotisas Vestais. Seu templo estava localizado no centro do Fórum Romano, próximo da Régia (a antiga residência real) e do complexo da Casa das Vestais, centro do poder público e tradicional núcleo político e religioso de Roma. 

O Templo de Vesta era provavelmente formado por 20 colunas da ordem coríntia, de influência grega, que se encontravam sobre um pódio de 15 metros de diâmetro. 

Acredita-se que seu telhado possuía uma abertura, possibilitando o escape da fumaça produzida pelo fogo sagrado que ardia dia e noite no centro do templo.

O núcleo do templo equivaleria simbolicamente ao centro do mundo. 

Além do fogo sagrado, havia também uma cella, ou câmara secreta cuja abertura dava para um compartimento denominado penus vestae, onde se guardavam os objetos sagrados, dos quais as virgens vestais eram guardiãs. Aí se encontrava o Paládio (Palladium), uma estátua da deusa Atena que teria a sua origem em Troia. 

A abertura para entrada no templo ficava voltada para o ponto cardial leste (oriente) como símbolo da conexão entre o fogo sagrado de Vesta e o Sol como fonte da vida, sabedoria e conhecimento. 

No dia do solstício de inverno (hemisfério norte) o sol nascente iluminava o fogo sagrado de Vesta. 

Nesse dia também os católicos cantam uma estrofe da Antífona do Ó (ἀντίφωνον, ἀντί "oposta" e φωνή "voz"; canto onde uma voz chama e todos respondem; O Anfiphone), cantada na hora canônica das vésperas (na hora do por do Sol):

O Oriens
splendor lucis æternæ, et sol justitiæ
Veni et illumina sedentes in tenebris
et umbra mortis.

Ó Sol nascente
Esplendor da luz eterna, e Sol da justiça 
Vem e ilumina os que estão sentados nas trevas 
E na sombra da morte. 

Ruínas dos templo de Vesta no Fórum romano. 

Reconstrução do templo dedicado a Vesta. 

Enéias ou Enéas (do latim Æneas, do grego antigo Αἰνείας) é um personagem da mitologia greco-romana cuja história é contada na Ilíada, de Homero, e, sobretudo, na Eneida, de Virgílio. 

Segundo a lenda, Eneias foi o mais famoso dos chefes troianos, filho da deusa Afrodite (a romana Vénus) e de Anquises, filho de Cápis, filho de Assáraco, rei da Dardânia. Era casado com Creúsa, filha do rei Príamo e de Hécuba. Tinha um filho, Iulo (na literatura romana Ascânio). Sob a proteção de Afrodite, Eneias deixa Troia (incendiada pelos gregos), levando sua esposa Creusa, o filho Ascânio, seu velho pai Anquises (que ele carrega às costas) e um punhado de soldados troianos. 

A Fuga de Enéias é um episódio histórico-mitológico romano narrado na Eneida de Virgílio e no Ab Urbe Condita de Tito Lívio, ambos da época de Augusto (séculos I a.C -I d.C.).

Enéias participou da Guerra de Tróia ao lado dos troianos, que após dez anos de luta perderam para os gregos. Os aqueus usaram um truque muito engenhoso para alcançar a vitória: construíram um grande cavalo de madeira e o ofereceram como um presente aos troianos.

Leva ainda os Penates e o palladion troianos, divindades que protegiam o Estado, os governos e as instituições que regem um e o outro para assim fundar uma nova cidade. Na estrada, sua esposa desaparece sem deixar vestígios e ele embarca em um navio, no qual vagueia pelo mar Mediterrâneo, em busca de uma nova pátria.

O troiano pede então conselho a Apolo, que o manda ir para a terra de onde era originário o seu primeiro antepassado. Anquises, douto nessa matéria, afirmava que em dias muito remotos, antes do rei Tros fundar a cidade de Troia, vivia na Frígia um rei chamado Teucro, cuja filha, Bátia, se casara com Dardano, pai de Trós. Acreditavam que Teucro viera da ilha de Creta. 

Puseram-se então a caminho. Ao terceiro dia aportaram em Creta, onde começaram imediatamente a construir uma cidade a que Eneias chamou Pérgamo. Lavraram a terra e semearam-na, e parecia que tudo correria bem, mas, inesperadamente, todo o seu trabalho foi destruído. Uma terrível seca arruinou as colheitas e desencadeou uma epidemia que se alastrou entre os troianos. 

Anquises interpretou isto como um sinal evidente da desaprovação divina, e aconselhou Eneias a voltar ao templo de Apolo, na Ilha de Delos, para receber novas instruções do oráculo. 

Na véspera da partida, os numes tutelares apareceram a Eneias e disseram-lhe que ele deveria ir para o local de origem de Dárdano, antes chamado Hespéria, agora Itália. 
Contando isto ao pai, Anquises lembrou-se que Cassandra profetizara que uma nova Troia erguer-se-ía na Hespéria. Mas, claro, todos acharam que ela estava louca. Puseram-se de novo a caminho.

Os Troianos encontraram-se com as Harpias, mas, ao contrário dos Argonautas, fugiram delas. Chegaram a Epiro, terras onde se tinham estabelecido Heleno e Andrómaca. Heleno disse-lhe o que ia acontecer e o que ele deveria fazer.

A seguir estiveram na ilha do ciclope Polifemo, e salvaram um homem, Aqueménides, que fora deixado para trás pelos Argonautas. Anquises, já velho, morreu antes de deixarem a Sicília.

Depois de muito tempo aporta em Cartago e, por artimanhas de Vénus e Cupido, torna-se amante de Dido, rainha e fundadora da cidade africana. Primeiro tinha sido Hera quem queria isto, para Eneias ficar com Dido e não chegar à Itália, mas Afrodite viu que o amor da rainha podia ser proveitoso para Eneias.

Porém não era ainda esse o seu destino final. Hermes, enviado por Zeus, pergunta-lhe por que estava ele construindo uma cidade que não seria do seu filho, para a sua descendência. Eneias fugira de Troia para não se submeter aos gregos e estava agora a submeter-se a Dido e seus conterrâneos!

Adverte-o, então, para que deixe Cartago e funde uma cidade e um reino para os seus. Ao deixar a cidade, mesmo a contragosto, vê Dido, extremamente apaixonada, suicidar-se numa pira funerária que tinha mandado fazer na sua fortaleza. E por último sua fuga após a guerra de Troia.

Após esse episódio, Eneias aportou na Itália. Em Cumas, foi ao Submundo, onde se encontrou com o pai, que lhe falou das gerações futuras. Também viu Dido, mas esta se recusou a falar com ele.

Depois foi para o Lácio. Latino, rei do Lácio e neto de Saturno, ofereceu-lhe terras e a mão de sua bela filha Lavínia, há muito prometida a Turno, rei dos rútulos, em casamento. Tal facto deveu-se a uma profecia que dizia que Lavínia devia casar-se com um estrangeiro, para assim dar origem a uma raça poderosíssima que governaria o mundo. Lavínia e Eneias se apaixonaram, mas a rainha Amata, mãe de Lavínia, queria que a filha casasse com Turno.

Turno, vendo que perderia o reino do Lácio e Lavínia, declarou guerra a Eneias e seus troianos recém-chegados ao Lácio. Outras nações se juntaram aos contendores, de um lado e de outro. A guerra foi tão acesa que Latino, com medo que seu país se arruinasse e fosse destruído, sugeriu um combate singular entre Eneias e Turno, sendo Lavínia o prémio. Ambos aceitaram, e Eneias venceu a Turno. Podendo escolher entre matar ou poupar o adversário, mais jovem, Eneias decidiu, após longa hesitação, matá-lo. Pois, na hesitação, viu no ombro do adversário despojos do seu tão dileto Palante. Imolou Turno em nome do amigo. Amata, mãe de Lavínia, preferiu suicidar-se a ver Eneias no trono.

Diz-se que Eneias abdicou do trono a favor do filho e voltou para a pátria, para reconstruir Troia. Após a morte de Eneias, seu filho Iulo, ou Ascânio (conforme a versão), fundou Alba Longa, da qual seus descendentes serão reis sucessivos. Em 753 a.C., é fundada Roma, a segunda Troia, pelos gêmeos Rómulo e Remo, descendentes maternos de Eneias, mas filhos diretos do deus Marte.

Esta versão da fundação de Roma, ou melhor, da ascendência de Rómulo remontar a Eneias, é tida por pesquisadores modernos como mera recordação de contactos entre o mundo egeu e a Itália. Tal versão foi tomando forma a partir do século III a.C. Apareceu em Q. Fábio Pictor (200 a.C.) a primeira versão, sendo a definitiva dada por Virgílio na sua obra Eneida, Ovídio e Tito Lívio.





Bibliografia 

Compilação modificada de textos de diferentes fontes.