INÍCIO

23 setembro 2023

O MISTÉRIO DAS FLORES

O MISTÉRIO DAS FLORES
MITOS GREGOS ANTIGOS SOBRE FLORES


(..) Guarda sempre ítaca em teu pensamento, 
É teu destino aí chegar. 
Mas não apresses absolutamente tua viagem. 
É melhor que dure muitos anos e que, já velho, 
ancores na ilha, rico com tudo que ganhaste no caminho (...). 

(ítaca, C. Kavátis, 1914. Trad. de Ísis Borges da Fonseca)

A relação da espécie humana com as plantas é tão antiga quanto a existência da nossa própria espécie. Nossa dependência desses organismos é vital, é como o ar que respiramos, o ar vivificador, ou a água que bebemos, a água da vida. Dependemos desses organismos de modo inalienável e vital. Sem florestas, sem flores, sem polinização pelos insetos, ou pelo vento não há vida humana, uma vez que não haverá frutos, grãos, não haverá alimentos. 

Desde que o Homo sapiens L. 1753, começou a praticar agricultura, por volta de cerca de 12 mil anos, foram derrubadas  quase metade das 5,8 trilhões de árvores que existiam então, de acordo com Crowther e cols. (2015). Grande parte do desmatamento aconteceu em anos relativamente recentes. Desde o início da revolução industrial, as florestas foram reduzidas em 32%, inicialmente nos países do hemisfério norte. Atualmente nos trópicos, os 3 trilhões de árvores restantes do planeta estão desaparecendo rapidamente, com cerca de 15 bilhões de exemplares derrubados a cada ano.

Por isso é totalmente odiosa, desprezível e condenável qualquer ação humana que destrua o ambiente que esses organismos vivem. Ao homem cabe buscar entender essa relação de uma maneira ampla e completa, de modo a preservar todas as espécies desse planeta, berço da vida. 

Flor de lótus. 

Com o equinócio de primavera que ocorre hoje, dia 23 de setembro às 03h50min (horário de Brasília), tem início no hemisfério sul a primavera. Este horário marca o equinócio de primavera no hemisfério sul (ponto Libra) e o equinócio de outono no hemisfério norte. 

Para comemorar esse evento notável trouxe vinte mitos gregos que aludem ao mistério das flores, explicação de sua existência pelos deuses e seu uso pelos humanos.

Equinócio sabemos significa Aequi = igual + Nox, nocti = noite, i.e., a noite igual ao dia ou seja: 12h luz ou dia e 12h de escuridão ou noite; e isso só ocorre nesse dia, não em toda a estação primaveril. Como sabemos, a cada dia que passa, do dia do equinócio até o dia do solstício de verão, as horas de luz aumentam em torno de 2 minutos por dia, por isso equinócio dura só um dia (na real nem um dia, dura apenas um momento), o momento em que a Sol, “movendo-se” do hemisfério norte para o hemisfério sul, passa pelo ponto Libra (diametralmente oposto ao ponto vernal).


Solstícios e equinócios (blog)

BOTÂNICA 

A história da Botânica, a ciência que se dedica a estudar as plantas, se perde nas areias do tempo e se entrelaça com o surgimento da racionalidade humana. Primeiramente como fonte de alimento: folhas, flores, frutos e raizes, depois como insumos para construção de moradias e material bélico: lanças, arco e flechas, e como fonte de drogas medicamentosas. Segundo Almeida (2011), o homem primitivo dependia fundamentalmente da natureza para a sua sobrevivência e utilizou-se principalmente das plantas medicinais como medicamento para curar doenças sempre presentes.
 
Era uma crença unânime e tida como “lei universal” que substâncias orgânicas só poderiam ser produzidas pela vida, por “mecanismos” bioquímicos celulares. Foi somente em 1828, que Friedrich Wöhler (1800-1882) sintetizou a ureia a partir do cianato de amônio, uma substância inorgânica, que percebemos que nossa crença não era uma “lei”. A partir daí caiu por terra a  crença de que somente seres vivos pudessem produzir compostos orgânicos.  

Em 1828, Friedrich Wöhler realizou um experimento com o objetivo inicial de preparar cianato de amônio (NH4OCN(s)). Ele fez isso a partir de dois compostos inorgânicos, o cianeto de prata (AgCN(s)) e o cloreto de  amônio (NH4Cl(s)). Primeiro Wöhler aqueceu o cianeto de prata na presença de oxigênio do ar, formando o cianato de prata. Esse composto foi então tratado com uma solução de cloreto de amônia, resultando em dois produtos: um precipitado de cloreto de prata e uma solução de cianato de amônio. Depois de filtrar e evaporar a solução de cianato de amônio, ele obteve essa substância no estado sólido, que foi aquecido, gerando cristais brancos, ou seja, a ureia. 

A síntese de Wöhler, representou um marco na história da Química Orgânica, pois antes se acreditava que os compostos orgânicos só poderiam ser produzidos por seres vivos, animais e vegetais. Essa ideia era conhecida como “Teoria da Força Vital” ou “Teoria do Vitalismo” (Fogaça, s/d)

Pode-se afirmar que o homem em toda sua existência no planeta não conhecia como origem de matéria orgânica qualquer fonte que não fosse vegetal, animal ou mineral. 

Isso significa que praticamente com exceção do século XX, toda a história da cura encontra-se intimamente ligada às plantas medicinais e aos recursos minerais. 

Acredita-se que o registro mais antigo de todos é o Pen Ts’ao, na China, publicação de 2800 a.C., escrito pelo herborista chinês Shen Numg, que descreve o uso de centenas de plantas medicinais na cura de várias moléstias. A medicina chinesa emprega misturas complexas de remédios, esses fitoterápicos chineses são derivados sobretudo de espécies arbóreas e herbáceas. Pelo menos 1.500 medicamentos fitoterápicos diferentes foram testados, analisados ​​e usados ​​na medicina chinesa; isso está bem documentado em mais de 50 edições diferentes ou revisadas do Pen-ts'ao. Tanto o Sheng-nung Pen-ts'ao Ching, o mais antigo livro chinês de matéria médica, quanto o mais recente Pen-ts'ao Kang-mu são compêndios bem conhecidos e valiosos de medicamentos fitoterápicos (USP).

Pen-ts’ao primeiro tratado de fitoterápicos da humanidade.

Os egípcios, sob a proteção de Imhotep, o Deus da cura, e a sapiência de seus inúmeros sacerdotes, muitos com funções médicas definidas, tornaram-se famosos pelos seus conhecimentos com os incensos, as resinas, as gomas e mucilagens que faziam parte da arte da mumificação.

Aristóteles  

Na Europa, especificamente na Grécia, Aristóteles, em 367 a.C., com 17 anos, Aristóteles foi enviado para a Academia de Platão em Atenas, na qual permanecerá por vinte (20) anos, inicialmente como discípulo, depois como professor, até a morte do mestre em 347 a.C. O fato de Aristóteles ser filho de médico poderá ter dado a ele o gosto pelos conhecimentos realistas, experimentais e da natureza (físicos), ao mesmo tempo que teve sucesso como metafísico.

Depois da primeira estada em Atenas, ausentou-se por 12 anos, com uma permanência inicial na Ásia menor, onde se dirigiu, ainda solteiro, para uma comunidade de platônicos estabelecida em Assos, (Trôade), hoje Behramkale, na Turquia. Ali reinava então sobre Assos e Atarneo, o tirano Hérmias, um eunuco, em cuja corte, Aristóteles passou três anos. Aristóteles casou-se com Pítias, irmã de Hérmias. Morto Hermias, pelos persas, Aristóteles retirou-se para Mitilene, a capital da ilha grega de Lesbos. Depois do falecimento de sua mulher, Pítias, viúvo, casa-se com Herpyllis, da qual nascerá Nicômaco, a quem dedicará posteriormente o livro Ética a Nicômaco.

Nesse tempo, importantes transformações estavam ocorrendo no mundo helênico, que então se unificou sob Felipe II da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande. Felipe II, rei da Macedônia de 356 a 336 a.C., desenvolveu o país e criou um exército poderoso. Sucessivamente foi anexando as cidades gregas, aproveitando as velhas discórdias, derrotando finalmente Atenas e Tebas, em Queronéia (338 a.C.) na batalha de mesmo nome, onde Alexandre o Grande, com 17 anos, comandou parte do exército que dizimou o Batalhão Sagrado de Thebas. (Leia a história aqui).

Felipe II reuniu as cidades gregas em uma liga, sob sua direção, no Congresso de Corinto (337 a.C.), pregando sempre a guerra contra o então grande Império Persa, que já há mais de um século ocupava as cidades gregas da Ásia Menor. 

Ofereceu-se também uma nova oportunidade a Aristóteles, que foi chamado em 343 ou 342 para a corte do rei Felipe II, em Pela, como educador de seu filho Alexandre (356-323 a.C.). Aristóteles ficou nesta função somente dois anos, depois dos quais aconteceu o totalmente inesperado, o assassinato do rei Felipe II. 
Foi assim que o jovem Alexandre assumiu o trono, em 336 a.C., com apenas 20 anos. Atravessando o Bósforo, partiu em 334 a.C. para a conquista do império persa. Foi de um sucesso espetacular, vencendo a Dario, na Batalha de Granico. Completou sua façanha, indo até a Índia. Estabeleceu sua capital em Babilônia. No Egito fundou a cidade de Alexandria, que logo passou à ser um grande centro de cultura. Estava mudada a estrutura política do então mundo conhecido, o que não demoraria a ter repercussão na filosofia. Sem função na Macedônia, Aristóteles volta para Atenas, no ano 335 a. C. 

Auxiliado sempre por Alexandre que o prestigiava, Aristóteles fundou o Liceu (cerca de 334 a.C.) no ginásio do templo de Apolo Liceu (Liceu é referência ao local do templo). Onde criou escola própria no gymnasion Apolo Liceu. Em pouco mais de dez anos de atividade, Aristóteles fez de sua escola um centro de adiantados estudos, em que os mestres se distribuíam por especialidades, inclusive em ciência, como a Matemática, Astronomia e a Física.

Um pouco da história de Aristoteles. Três séculos antes de Cristo, Aristóteles, discípulo de Platão, nascido em Στάγειρος, Stágeiros, depois Στάγειρα, Stágeira, na península Calcídica na província da Macedônia. 

Em Athenas havia um bosque consagrado a Απόλλω Λύκειον, Apolo Lykeios, ou Apolo Lício (Apolo luminoso) de onde provavelmente deriva o termo Lykeion, Liceu, de Λύκειον, Lykeion, Liceu, designava a escola filosófica fundada por Aristóteles, em 335 a.C., a escola peripatética, Περιπατητική Σχολή, cujos membros se reuniam nesse local. 

O Liceu de Aristóteles tinha cursos regulares, pela manhã e à tarde. Pela manhã, os discursos do filósofo eram esotéricos, i.e., direcionados ao público interno, mais restrito, com tópicos avançado sobre lógica, física, metafísica. Os discursos da tarde, chamados exotéricos, destinavam-se ao público em geral e diziam respeito a temas mais acessíveis, como retórica, política e literatura entre outros.

Aristoteles viajou extensivamente pelo mundo grego, escreveu extensa e sistematicamente sobre tudo o que era então conhecido do mundo físico e no mundo vivo. Nessa tarefa monumental, ele lançou as bases do raciocínio indutivo e da lógica, essencial nas ciências atuais; além de, devido ao seu trabalho a respeito da classificação dos seres, legou-nos duas categorias taxonomias ainda hoje usadas na biologia: gênero e espécie e é com justiça considerado o pai da Biologia.

Não muito distante dessa escola, em uma uma outra escola, a Academia, onde o jovem aluno chamado Teophrastus de Ereso, Θεόφραστος Ερεσό, 371– 286 a.C.), deixa a Academia após a morte do mestre Platão, e vai integrar a escola peripatética de Aristóteles, o Lyceu. 

Falecido Alexandre prematuramete em 323 a.C., com apenas 13 anos de reinado, recrudesceu o sentimento antimacedônico em Atenas. 
Demóstenes, insuflando os ânimos nacionalistas, a situação se tornou difícil para Aristóteles. Além disto, a filosofia de Aristóteles  não poderia escapar à reação do sacerdote Eurimedote, que o acusava de impiedade. 

Aristóteles, não teve alternativa, senão a de optar por retirar-se de Atenas, deixando o Liceu sob a direção de Teofrasto. Quando Aristóteles saiu de Athenas e deixou seus escritos e seu jardim de ensino, o Lyceu, para um de seus alunos, Theophrastus de Ereso (c. 370-285 aC). Oculto em sua propriedade em Cálcis, na Eubea, ali morreu já no ano seguinte aos 62 anos. Mas o Liceu teve continuidade e prosperou sob o comando de Teofrasto. 

Os escritos de Teofrasto sobre mineralogia e plantas totalizaram 227 tratados, dos quais nove livros de Historia Plantarum contêm uma coleção de conhecimento contemporâneo sobre plantas e oito de De Causis Plantarum são uma coleção de suas próprias observações críticas, um afastamento de abordagens filosóficas anteriores e, com razão, dão-lhe o direito de ser considerado o pai da botânica. 

Botânica como Ciência  

A ciência da Botânica surge no ocidente com os ensinamentos e escritos do pupilo de Aristóteles Theophrastus de Ereso. Theophrastus de Ereso (Θεόφραστος ο Ερεσό, 371– 287 a.C.), deixa a Academia após a morte de  Platão, e vai integrar a escola peripatética de Aristóteles (Περιπατητική Σχολή), o Lyceu na mesma cidade de Athenas.

Segundo Aristóteles todos os seres vivos têm alma, ainda que com características distintas. As plantas teriam apenas uma alma animada por uma função vegetativa. Expandindo os ensinamentos de Aristóteles Theophrastus, por volta de 350 a.C., empreende um esforço para compreender a vida das plantas, estudando sua forma, suas partes ou órgãos, o que hoje chamamos de anatomia, dando-lhes nome, e investigando seu funcionamento e seu papel e usos. 

Na primeira obra sobre o esse assunto Theophrastus nos apresenta em torno de 500 plantas de toda a Grécia, onde sistematiza e compila o conhecimento existente sobre as plantas à luz dos ensinamentos de Aristóteles. Esses primeiros escritos mostram a curiosidade humana a respeito das plantas, onde e como vivem, suas características morfológicas e seus usos, são considerados o ponto de partida para a botânica ocidental.

Durante as chamadas civilizações clássicas, as drogas vegetais começam a ser registradas de forma sistemática.

Essas obras foram posteriormente traduzidas para o sírio, para o árabe, para o latim e posteriormente de volta para o grego. 

Theofrasto reconheceu a existência de plantas monocotiledônea e dictoiledonea baseando-se no número de cotilédones. Investigando sua reprodução descobriu que as flores possuem ovários superiores e inferiores, descobriu a necessidade de polinização para a produção do fruto e a sexualidade das plantas. 

Embora usasse nomes para plantas de beleza ornamental, uso ou estranheza, não tentou nomear ou classificar cada planta com base em suas características ou semelhanças compartilhadas.

Theofrasto, usando material coletado nas campanhas de Alexandre, o Grande, e enviadas ao Liceu, escreveu acerca cerca de 500 “espécies ou tipos” de plantas que, embora bem descritas indicava uma considerável falta de discriminação. 

Para comparação somente na Inglaterra, atualmente são reconhecidos mais do que esse número de diferentes “tipos”, somente de musgos.

Para os antigos, assim como para os povos de civilizações anteriores como os da Pérsia e da China, as plantas eram distinguidas com base em seus usos culinários, medicinais e decorativos, bem como em suas supostas propriedades sobrenaturais. Por esta razão, as plantas recebiam uma descrição que as distinguia das demais.

Quatro séculos depois de Theophrastus de Ereso, já por volta de 64 d.C., Pedanius Dioscorides, Πεδάνιος Διοσκουρίδης ou Pedánios Dioskourídēs, ou simplesmente Dioscórides, que viveu por volta se 40–90 d.C, era um médico grego, farmacologista, botânico e autor da obra “De materia medica”, Περὶ ὕλης ἰατρικῆς, Sobre a Materia Médica), uma enciclopédia escrita em grego, de cinco volumes sobre fitoterapia e substâncias medicinais relacionadas (uma farmacopéia), que foi amplamente lida e usada por mais de 1.500 anos. Nesta obra ele registrou 600 “espécies” de plantas, na Grécia, e é considerado com justiça “o pai da farmacognosia”.

Por quase dois milênios, Dioscórides foi considerado a autoridade mais proeminente sobre plantas e drogas vegetais. Essa obra foi posteriormente traduzida para o Latim por humanistas do século XV, chamada “De Matéria Médica” e por mais de 1500 anos, durante o período greco-romano e na Idade Média, foi considerada a bíblia de médicos e farmacêuticos. Além disso, Dioscórides descreveu a origem, características e usos em terapêutica de mais de 500 drogas vegetais, aproximadamente 100 drogas de origem animal e outras tantas de origem mineral. 

Acredita-se que a obra “De matéria médica”, transformada em disciplina didática, deu origem à moderna Farmacognosia. (Hoffmann e Dos Anjos, 2018).

Meio século depois, Plínio, o velho, em sua enorme compilação das informações contidas nos escritos de 473 autores, descreveu cerca de mil “tipos” de plantas. 

Durante a Idade média, apesar das realizações notáveis ​​de pessoas como Albertus Magnus (1193-1280) que coletou plantas durante extensas viagens por toda a Europa, e a publicação do German Herbarius em 1485 por outro colecionador de plantas européias, Dr. Johann von Cube, pouco progresso foi feito no estudo das plantas e em sua classificação. 

Foi a renovação da observação crítica dos botânicos renascentistas, como Rembertus Dodonaeus (Dodoens) (1517-1585), Matthias de L’Obel (1538-1616): Plantarum seu stirpium Historia (1756); Charles de L’Ecluse (Carolus Clusius) (1526-1609) entre outros, que resultou no reconhecimento de cerca de 4000 “tipos” de plantas no século XVI.

Nesse ponto da história, a renovação do estudo crítico e o início da coleta de plantas em todo o mundo conhecido impuseram a necessidade de um sistema racional de agrupamento de plantas, bem como nomes inequívocos para cada uma das espécies descritas. (Gledhill, 2002).

Até o século XVI, três fatores impediram tal classificação: o primeira deles era que os principais interessados ​​era a nobreza e os boticários que atribuíam às plantas grande valor monetário, seja pela sua raridade, seja pelas virtudes reais ou imaginárias que lhes atribuíam, e as consideravam objetos a serem zelosamente guardados e cultivadas. 

Em segundo lugar estava a falta de qualquer sistema padronizado de nomeação das plantas, e terceiro, e talvez o mais importante, falta de qualquer expressão da ideia de que os seres vivos poderiam ter evoluído de ancestrais extintos anteriores e poderiam, portanto, formar agrupamentos de espécies relacionadas era uma contradição direta do dogma religioso da Criação Divina.

Talvez o maior desserviço ao progresso tenha sido causado pela doutrina das assinaturas, que afirmava que Deus havia dado a cada espécie de planta alguma característica que poderia indicar os usos que o homem poderia dar à planta.

Assim, as plantas com folhas em forma de rim poderiam ser usadas para tratar problemas renais e foram agrupadas com base nisso. Theophrastus Bombast von Hohenheim (1493-1541) havia inventado propriedades para muitas plantas sob essa doutrina e também considerava que o homem tinha um conhecimento intuitivo de quais plantas poderiam servi-lo e como. Ele é mais conhecido pelo nome latino que assumiu: Paracelso, e o livro doutrinário Dispensatório (Dispensatory) é geralmente atribuído a ele. 

Essa doutrina também foi apoiada por Giambattista Della Porta (1543-1615) que lhe fez uma extensão interessante: que a distribuição de diferentes “espécies” de plantas tiveram uma relação direta com a distribuição de diferentes tipos de doenças que o homem sofria em diferentes áreas. Com base nisso, a preferência dos salgueiros por habitats úmidos é ordenada por Deus porque as pessoas que vivem em áreas úmidas são propensas a sofrer de reumatismo e, como a casca da espécie Salix alivia dores reumáticas (contém ácido salicílico, principal analgésico da aspirina) os salgueiros existem para atender às necessidades do homem.

Apesar das atitudes desvantajosas, o interesse crítico renovado pelas plantas durante o século XVI levou a visões mais discriminatórias quanto à natureza dos “espécies”, à busca de novas plantas de diferentes áreas e à preocupação com os problemas de nomenclatura das plantas. 

John Parkinson (1569-1629), um boticário de Londres, escreveu um marco hortícola em seu Paradisi in Sole Paradisus Terestris de 1629. Esta era uma enciclopédia de jardinagem e de plantas então cultivadas, e contém um lamento de Parkinson que em seus muitos catálogos viveiristas “sem consideração de tipo ou forma, ou outra nota especial, dão (os) nomes tão diversos um do outro, que... muito poucos podem dizer o que eles significam”.

Essa atitude em relação aos nomes comuns ainda está conosco, mas não de forma tão violenta quanto a mostrada por um escritor desconhecido que, em Science Gossip de 1868, escreveu que nomes vulgares de plantas apresentavam uma linguagem completa de significados sem sentido.

Aristóteles e Teofrasto (371 a.C.), em “Historia Plantarum”, A história das plantas, Plínio (23-79 d.C.), em “Naturalis História”, História natural e Dioscórides, século I, em “De Materia Médica”, Matéria Médica, recebem notoriedade na descrição da botânica e no uso de plantas medicinais, ampliando o conhecimento acerca delas (MARQUES, 1998). 

Após a queda do Império Romano, a Europa atravessou um longo período de obscurantismo científico entre os séculos V e XV, a chamada Idade Média. De forma paralela, nesse período, o mundo árabe emergiu com grande atividade científica, sendo acrescido de alguns conhecimentos de origem indiana. Dessa forma, surge a Medicina Árabe, destacando-se o médico Avicena [..]. (ALMEIDA, 2011, p. 38) (Hoffmann e Dos Anjos, 2018).

Os escritos de Hipócrates, Galeno, Teofrasto e Plínio, extraviados na época, foram recolhidos, compilados por Abu Ali Huceine ibne Abedalá ibne Sina (980-1037), conhecido como Ibn Sīnā ou por seu nome latinizado, Avicena, polímata persa, e incluídos aos saberes árabes sobre plantas medicinais, tendo orientado os estudos hipocráticos-galênicos (Santos, 2005 em Hoffmann e Dos Anjos, 2018). 

Desse modo, cabe ressaltar que até o século XV os saberes relacionados às plantas medicinais eram permeados por versões de trabalhos árabes. Contudo, os textos médicos clássicos, originalmente gregos, foram recuperados na Renascença, sendo amplamente disseminados no século XVI (Marques, 1998, em Hoffmann e Dos Anjos, 2018).

Existem muitas modos possíveis para se criar nomes de gêneros e espécies, tanto para plantas quanto para animais, os organismos mais conspícuos da natureza além do homem. 

Gledhill (1996) nos mostra que os nomes continuaram a ser formados como frases construídos com um substantivo (nome) inicial (que mais tarde se tornaria o nome genérico, ou o gênero) seguido por uma descrição que se tornou posteriormente a espécie) 

Descobrimos que o “botão de ouro rastejante” (creeping buttercup) era conhecido por muitos nomes, entre os quais Caspar Bauhin (1550-1624) e Christian Mentzel (1622-1701) listaram os seguintes (Gledhill,2002):

Caspar Bauhin, Pinax Theatri Botanici, 1623:

Ranunculus pratensis repens hirsutus var. C. Bauhin
repens fl. lúteo simples. J. Bauhin 
repens fol. ex albo variis 
repens magnus hirsutus fl. pleno 
repens flore pleno pratensis repens Parkinson 
pratensis reptante cauliculo Lobelius 
polyanthemos 1 Dodoens hortensis 1 Dodoens 
vinealis Tabernamontana 
pratensis etiamque hortensis Gerard

Christianus Mentzelius, Index Nominum Plantarum Multilinguis (Universalis), 1682:

Ranunculus pratensis et arvensis C.Bauhin
reto acris var. C. Bauhin 
reto fl. simples alaúde J.Bauhin 
reto fol. pallidioribus hirsutis J. Bauhin
Crus Galli Otto Brunfelsius
Coronopus parvus Batrachion Apuleius Dodonaeus (Dodoens)
Ranunculus prat. 
parvus fol. trifido C.Bauhin 
arvensis annuus fl. minimo lute Morison 
fasciatus Henricus Volgnadius
Oi. Borrich Caspar Bartholino

Esses eram, é claro, nomes comuns ou vernaculares com ampla circulação e fortes candidatos para inclusão em listas que pretendiam esclarecer o complicado estado da nomenclatura de plantas. Nomes locais e vulgares escaparam dessa lista até tempos muito posteriores, quando estavam sendo menos usados ​​e os lexicógrafos começaram a coletá-los, evitando que a maioria desaparecesse para sempre.

Grandes avanços foram feitos durante o século XVII. Robert Morison (1620-1683) publicou um sistema conveniente ou artificial de agrupar “espécies” em grupos de tamanho crescente, como uma hierarquia. Um de seus grupos agora chamamos de família Umbelliferae ou, para dar-lhe seu nome moderno, Apiacee, e este foi o primeiro grupo natural a ser reconhecido (Gledhill,2002).

Por grupo natural, sugerimos que os membros do grupo compartilham um número suficiente de características comuns para sugerir que todos evoluíram de um estoque ancestral comum. 

Joseph Pitton de Tournefort (1656-1708) fez uma pesquisa muito metódica de plantas e classificou 10.000 “espécies” em 698 grupos (ou gêneros). As “espécies” devem agora ser considerados como as unidades básicas de classificação chamadas espécies. 

Embora a observação crítica das características estruturais e anatômicas tenha levado à classificação avançando além dos vagos sistemas de ervas e assinaturas, tal avanço não foi feito na nomenclatura das plantas até que um sueco, de pouca habilidade acadêmica quando jovem, segundo dizem, estabeleceu marcos tanto na classificação quanto na nomenclatura das plantas.

Otto Brunfels (1489-1534) foi provavelmente a primeira pessoa a introduzir o registro e ilustrações precisos e acurados das estruturas das planta em sua obra intitulada “Herbarium” de 1530, e Valerius Cordus (1515-1544) poderia ter revolucionado a botânica não fosse sua morte prematura. Seus quatro livros de plantas alemãs continham relatos detalhados da estrutura de 446 plantas, com base em seus próprios estudos sistemáticos sobre eles. Muitas das plantas eram novas para a ciência. Um quinto livro sobre plantas italianas estava sendo compilado quando ele morreu. Conrad Gener (1516-1565) publicou o trabalho de Cordus sobre plantas alemãs em 1561 e o quinto livro em 1563 (Gledhill,2002).

Uma sugestão primitiva de uma sequência evolutiva estava contida no “Plantarum seu Stirpium Historia” (1576), de Matthias de l’Obel, (Mathias Lobelius) no qual plantas de folhas estreitas, seguidas de plantas de folhas largas, bulbosas e rizomatosas, seguidas de dicotiledôneas herbáceas, seguidas de arbustos e árvores, foi considerado como uma série de aumento “perfeição”. Além disso, foi superintendente do Jardim Botânico de Hackney, e botânico oficial da coroa britânica. Em colaboração com Pierre Pena (1535-1605) publicou a obra “Stirpium adversaria nova” em 1571. Em sua primeira obra “Stirpium adversaria nova”, Lobelius descreveu 1500 espécies de maneira precisa, indicando as localidades onde essas espécies foram coletadas, na flora existente dos arredores de Montpellier, e também descreve com precisão plantas do Tirol, da Suíça e da Holanda. A esta obra foram adicionadas 268 gravuras detalhadas e precisas em xilogravura.

Andrea Caesalpino (1519-1603) manteve a distinção entre plantas lenhosas e herbáceas, mas empregou mais detalhes da estrutura de flores, frutos e sementes ao compilar suas classes de plantas (De Plantis, 1583) (Gledhill,2002).
Nesta época, os primeiros jardins botânicos da Europa iniciavam a ser estabelecidos. O mais antigo jardim botânico foi o de Pádua em 1546, seguido por Pisa em 1547, iniciado por Luca Ghini (professor de botânica de Cesalpino na Universidade de Pisa), que foi o seu primeiro diretor. Em 1554 Ghini mudou-se para Bolonha para ser professor de medicina, e Cesalpino pernaneceu em Pisa como professor de filosofia, medicina e botânica, substituindo Ghini como diretor do Orto botânico di Pisa (Jardim Botânico de Pisa). Em 1583 Francesco I de Medici concedeu-lhe dinheiro para a fabricação das placas de cobre do trabalho botânico De Plantis. Seu jardim botânico lhe rendeu fama por toda Europa. Galileu Galilei foi provavelmente entre 1582 e 1584 um de seus alunos. Durante sua cátedra, ele fez excursões botânicas por várias partes da Itália. Em 1563, enviou uma carta ao bispo de Pisa Alfonso Tornabuoni, que continha de forma delineada novos princípios para a classificação botânica, e mais tarde, na obra “De Plantis”, deu maior elaboração. A carta acompanhada de um herbário com 768 plantas, com seus nomes e classificação. Em 1570, ele mudou-se com seu aluno Michele Mercati pela Toscana em busca de plantas medicinais comissionado pelo Papa Pio V, que queria começar um hortus (Jardim) médico em Roma.

A influência de Cesalpino estendeu-se às ideias de classificações de Caspar Bauhin (1550-1624), que partiu do uso de informações medicinais e compilou descrições detalhadas das plantas às quais deu nomes de duas palavras, ou nomes binomiais. 

Gaspard Bauhin ou Caspard Bauhin (1550-1624) foi um naturalista e médico suíço que se destacou pelo seu trabalho como botânico. Foi um dos primeiros naturalistas que se tem registro a tentar conceber um sistema de classificação natural das plantas com base na sua morfologia. Publicou diversos tratados sobre botânica e anatomia humana, nos quais classificou várias espécies de plantas nativas da Suíça, atribuindo a cada espécie um nome científico, consistindo de um nome genérico e outro específico. Foi um dos primeiros naturalistas que se sabe ter utilizado uma forma de nomenclatura binomial. Foi irmão de Johann Bauhin (1541-1613), também grafado Jean Bauhin, o autor da obra “Historia plantarum universalis: nova, et absolutissima, cum consensu et dissensu circa eas”, um dos mais ambiciosos trabalhos de botânica de todos os tempos.

P. R. de Belleval (1558-1632) adotou um sistema binomial que nomeava cada planta com um substantivo latino seguido por um epíteto adjetivo grego. Joachim Jung (1587-1657) que temia ser acusado de heresia, o que o impedia de publicar sua obra, entretanto alguns manuscritos sobreviveram, estes continham muitos dos termos que usamos ainda hoje na descrição das folhas e estruturas das flores e seu arranjo, e também contém nomes de plantas constituído de um nome qualificado por um adjetivo. 

Robert Morison (1620-1683) Originalmente de Aberdeen, noroeste da Escócia, Morison formou-se em Master of Arts com apenas 18 anos. Continuando a estudar história natural, dedicou-se a botânica e apresentou à Grã-Bretanha um estudo sistemático de botânica ao mesmo tempo que John Ray. Morison também publicou listas florísticas organizadas por características compartilhadas, concentrando-se na forma dos corpos de frutificação. Gravemente ferido na batalha do Brig of Dee em 1644, depois disso, ele fugiu para a França, onde continuou a trabalhar para seu doutorado na Universidade de Angers. Nomeado doutor em medicina em 1648, Morison mudou-se para Paris, onde desenvolveu seu interesse pela botânica com a ajuda de Vespacian Robin, botânico do rei da França. Claramente um aluno talentoso, Robin o recomendou como chefe do jardim real do duque de Orleans em Blois. Ele assumiu o cargo em 1650 e lá permaneceu por dez anos (plants). O rei Carlos II era sobrinho do duque de Orleans e Morison foi apresentado a ele em 1660. Depois de retornar à Inglaterra na Restauração, o rei solicitou que Morison se juntasse a ele em Londres para servir como seu médico pessoal e botânico. Morison aceitou e em troca recebeu um salário impressionante. Nessa posição por mais nove anos, ele trabalhou em seu primeiro trabalho botânico, o “Praeludia Botanica”, que foi publicado em 1669. Nesse mesmo ano, a Universidade de Oxford procurava por um professor de botânica pela primeira vez. Naturalmente, Morison era o principal candidato e começou imediatamente. Nessa função, além das palestras regulares dadas no igualmente recém-criado Jardim Físico, ele se concentrou na produção de sua maior obra. O “Plantarum Historiae Universalis Oxoniensis” foi seminal porque, juntamente com o “Catalogus plantarum Angliae” (1670) de John Ray, introduziu na Grã-Bretanha uma abordagem sistemática para o estudo das plantas. Decidiu-se que uma pequena seção do trabalho, uma monografia de Umbelliferae (Apiaceae), deveria ser publicada primeiro, a fim de promover a publicação final em três volumes. Este “Plantarum Umbelliferarum Distributio Nova” foi publicado em 1672 e foi a primeira monografia sistemática escrita para um grupo específico de plantas na história botânica ocidental. Nela, ele descreveu seu método de classificação baseado na morfologia dos frutos (plants).

John Ray (1627-1705) introduziu a distinção entre monocotiledônea e dicotiledônea entretanto, manteve a distinção entre plantas herbáceas com flores e plantas lenhosas com flores, também usava nomes binomiais. (Gledhill,2002)

Joseph Pitton de Tournefort (1656-1708) fez um levantamento muito metódico de plantas e classificou 10.000 “espécies” em 698 grupos (ou gêneros). os “tipos” devem agora ser considerados como as unidades básicas de classificação chamadas espécies (Gledhill,2002). 
Embora a observação crítica das características estruturais e anatômicas tenha levado à classificação avançando além dos vagos sistemas de ervas e assinaturas de Deus, tal avanço não foi feito na nomenclatura de plantas até que um sueco, estabeleceu marcos tanto na classificação quanto na nomenclatura das plantas. Foi Carl Linnaeus (1707-1778), que classificou 7.300 espécies em 1.098 gêneros e deu a cada espécie um nome binomial (um nome que consiste em uma palavra-nome genérica (substantivo) mais um epíteto descritivo, ambos de forma latina (adjetivo).
Era inevitável que, à medida que o homem agrupava o número cada vez maior de plantas conhecidas (e então ele estava ciente principalmente das plantas da Europa, do Mediterrâneo e de algumas de outras áreas), a constância de características morfológicas associadas em alguns grupos deveria sugerir que o todo foi derivado, por evolução, de um ancestral comum (Gledhill, 1996, 2002).

A família Umbelliferae de Morison foi um exemplo. Além disso, como a unidade básica de qualquer sistema de classificação é a espécie, e algumas espécies foram consideradas muito menos constantes do que outras, era igualmente inevitável que a própria natureza da espécie se tornasse motivo de controvérsia, não menos em termos de dogma religioso. Um ponto frequentemente ignorado com comentários insuficientes é que os esforços de Linnaeus em direção a um sistema natural de classificação foram acompanhados por sua mudança de atitude em relação à Criação Divina. Dos 365 aforismos pelos quais Linnaeus expressou suas opiniões em “Fundamenta Botanica” (1736), e expandido em “Critica Botanica” (1737), sua visão inicial era que todas as espécies foram produzidas pela mão do Criador Todo-Poderoso e que as variações na casca externa foram obra da “Natureza em clima esportivo”. 

Em gêneros como Thalictrum e Clematis, ele mais tarde concluiu que algumas espécies não eram criações originais e, em Rosa, ele foi levado a concluir que algumas espécies se misturaram ou que uma espécie deu origem a várias outras. 

Mais tarde, ele invocou a hibridação como o processo pelo qual as espécies poderiam ser criadas e atribuiu ao Todo-Poderoso a criação dos gêneros primitivos, cada um com uma única espécie. 

A partir de sua observação do acréscimo de terra durante viagens a Öland e Gotland, em 1741, ele aceitou uma criação contínua da terra e que a natureza estava em contínua mudança (Oratio de Telluris habitabilis increment, 1744). 

Mais tarde, ele aceitou que os restos fósseis só poderiam ser explicados por um processo de criação contínua. In “Genera Plantarum”, 6ª ed. (1764), atribuiu a Deus a criação das ordens naturais (nossas famílias). A natureza produziu a partir deles os gêneros e espécies, e variedades permanentes foram produzidos por hibridização entre eles. As variedades anormais das espécies assim formadas foram produto do acaso.
Linnaeus estava bem ciente dos resultados que os hibridizadores de plantas estavam obtendo na Holanda e não é surpreendente que seu próprio conhecimento de variantes que ocorrem naturalmente o levou a uma crença secretamente expressa na evolução (Gledhill,2002). 
No entanto, essa expressão, e sua listagem de variedades sob suas espécies típicas na obra “Species Plantarum”, onde ele indicava cada uma com uma letra grega, ainda era contrária ao dogma da Criação Divina e levaria mais um século até que uma declaração oficial da teoria evolutiva fosse para ser feito, por Charles Darwin (1809-1882).

Species Plantarum “As espécies de plantas” foi escrito por Carl Linnaeus, publicado em 01 de maio de 1753, por Laurentius Salvius em Estocolmo, em dois volumes. Essa obra lista todas as espécies de plantas conhecidas na época, classificadas em gêneros. É o primeiro trabalho a aplicar consistentemente nomes binomiais e foi o ponto de partida para a nomeação de plantas. Uma segunda edição foi publicada em 1762–1763, e uma terceira edição em 1764. 


Linnaeus Species Plantarum 1753

O ensaio de Darwin sobre "A Origem das Espécies por meio da Seleção Natural" (1859) foi publicado com certa relutância. Nessa obra Darwin se preocupava em explicar as principais mudanças evolutivas pelas quais as espécies evoluem e baseava-se nas próprias observações sobre fósseis e criaturas vivas (Gledhill,2002). 

O conceito de seleção natural, ou a sobrevivência de qualquer forma de vida dependente de sua capacidade de competir com sucesso por um lugar na natureza, tornou-se, ainda é aceito como a principal força que dirige um processo inexorável de mudança orgânica. Nossa concepção dos mecanismos e dos fatores causais para os grandes passos evolutivos, como o desaparecimento dos dinossauros e de muitos grupos de plantas agora conhecidos apenas como fósseis, e o surgimento e diversificação das plantas com flores durante os últimos 100 milhões anos é atualmente razoavelmente bem explicado.

A grande era da caça às plantas, da segunda metade do século XVIII até a maior parte do século XIX, produziu uma enxurrada de espécies até então desconhecidas. Plantas estranhas e exóticas já foram valorizadas acima do ouro e causaram roubo, suborno e assassinato. O comércio de “tulipas de papel” pela família van Bourse deu origem à bolsa de valores continental, a Bourse. 

Com a invenção do Wardian Case (caixa, valise, bolsa) pelo Dr. Nathaniel Bagshaw Ward, em 1827, tornou-se possível transportar plantas dos mais distantes cantos do mundo por via marítima e sem grandes perdas. O “case” consistia de uma pequena estufa, que reduzia as perdas de água e tornava desnecessário o uso de grandes quantidades de água doce nas plantas durante longas viagens marítimas, além de proteger contra a névoa salina (maresia). 

Na confusão resultante da nomenclatura desse dilúvio de plantas e do uso de muitas línguas para descrevê-las, tornou-se evidente a necessidade de um acordo internacional sobre esses dois assuntos. Hoje, temos regras formuladas para governar os nomes de cerca de 300.000 espécies de plantas, que agora são geralmente aceitas, e descartamos um grande número de nomes considerados inválidos.

Nosso estado atual de conhecimento sobre os mecanismos de herança e mudança em plantas e animais é quase inteiramente limitado a uma compreensão das causas da variação dentro de uma espécie. Esse entendimento é baseado no comportamento observado de caracteres ou fatores herdados, conforme registrado pela primeira vez em Pisum sativum por Gregor Johann Mendel, em 1866. 

Com o desenvolvimento de lentes por Hans e Zacharias Jansen (1595), a criação do microscópio por Antoni van Leeuwenhoek 1665, 

A denominação do instrumento de aumento pela palavra “microscópio” foi dada por Johann Giovanni Faber (1570-1640) em 1624. Faber era médico residente em Roma a serviço do papa Urbano VII, e membro da Academia de Lincei. 

A Accademia dei Lincei, literalmente a “Academia dos Olhos de Lince”, é uma das mais antigas e prestigiadas instituições científicas europeias, localizada no Palazzo Corsini em a Via della Lungara em Roma, Itália. Fundada numa propriedade papal em 1603 por Federico Cesi (com 18 anos), a academia recebeu o nome do lince, um animal cuja visão aguçada simboliza a acuracidade de observação exigida pela ciência. Galileo Galilei era o centro intelectual da academia e adotou o nome “Galileo Galilei Linceo” como sua assinatura. A Academia dei Lincei não sobreviveu por muito tempo depois da morte em 1630 de Cesi, seu fundador e patrono e desapareceu em 1651.

A palavra microscópio, do grego antigo μικρός, mikrós, pequeno e σκοπέω, skopéō olhar (para); examinar, inspecionar; é um instrumento de laboratório usado para examinar objetos que são muito pequenos para serem vistos a olho nu.

O microscópio composto foi inventado no final de 1590 por Hans e Zacarias Janssen, ambos holandeses. Esses polidores de lentes e vendedores de rua combinaram duas lentes simples convergentes, uma operava como objetiva enquanto outra era a ocular.

Por volta de 1650, Robert Hooke (1635-1703), montou um microscópio óptico composto melhorando modelos anteriores o que tornou possível observar uma fina fatia da casca do sobreiro, a cortiça (a cortiça é o súber, um tecido morto que protege o tronco da planta Quercus suber L.). Nesse tecido observou pequenas cavidades, às quais chamou poros, caixa, cella, cellula (diminutivo de cella: pequeno quarto) posteriormente sendo chamadas de células.

Devido a ter encontrado problemas com o microscópio óptico composto, o holandês Antoine van Leeuwenhoek (1632-1723), abandonou o seu uso e utilizou um microscópio óptico simples, i.é., contendo só uma lente, e fez muitas observações científicas. Anton van Leeuwenhoek, é considerado por isso o pai ou progenitor da Microscopia, relatou ter descoberto animais minúsculos na água da chuva e afirmava que “eram dez mil vezes menores que as moscas de água”. Suas numerosas observações microscópicas e descrições tem um importante valor científico. A princípio, construiu microscópios por distração, chegou a construir dezenas deles, sua criação mais potente aumentava os objetos até 275 a 300 vezes.

Com o aprimoramento da microscopia, Robert Brown (1773-1858). Botânico e físico inglês, descobriu o núcleo da célula, em 1833. Em 1838, Mathias Jakob Schleiden (1804-1881), botânico, formulou o princípio de que todos os vegetais são constituídos de células. Em 1839, esse princípio foi estendido para os animais por Theodor Schwann (1810-1882).

Com o avanço técnico do microscópio, Marcello Malpighi (1628-1694) em 1671, Nehemiah Grew (1641-1712) em (1672) e outros exploraram a estrutura celular das plantas e elucidaram o mecanismo da fertilização da oosfera pelo anterozoide. Entretanto, a natureza da herança e da variabilidade permaneceu obscura. Por volta de 1900, Hugo de Vries (1848-1935) botânico holandês, Erich von Tschermak-Seysenegg (1871-1962) botânico austríaco, Carl Franz Joseph Erich Correns (1864-1933) botânico alemão, redescobriram e confirmaram que a herança tinha um caráter definido e particulado que é regulado por “ fatores” ou “genes”. 

Theodor Heinrich Boveri (1862-1915) zoólogo alemão e Walter Stanborough Sutton (1877-1916) geneticista norte-americano, que independentemente desenvolvem uma explicação do modo pelo qual os caracteres são transmitidos dos pais para os filhos ao descrever o comportamento de cromossomos durante a divisão do núcleo da célula. Isso levou à formulação da Teoria cromossômica de Boveri-Sutton em 1902.

Os cromossomos são moléculas filiformes que podem ser coradas em células em divisão, de modo que a sequência de eventos possa ser visualizada. Ao longo de sua extensão, pode-se constatar, os sítios de controle genético, ou genes, estes, situam-se em uma sequência linear ordenada. Diferenças entre indivíduos podem agora ser explicadas em termos de diferentes formas, ou alelos ou alelomorfos, nos quais genes únicos podem existir como consequência de mutações. 
No nível do gene, devemos agora considerar os mutantes e alelos selvagens como variantes na estrutura molecular representadas pelas sequências de bases do ácido desoxirribonucléico (DNA).

Nomes das espécies 

As regras para a formação dos nomes dos seres vivos podem parecer complicadas para quem não tem familiaridade com o meio, mas são perfeitamente inteligíveis e aplicáveis. 

Os botânicos sistematas e taxonomistas costumam usar nomes que podem ser derivados de características morfológicas, anatômicas, distintas ou de quaisquer níveis de organização ou interação com o meio observadas no indivíduo a ser classificado. 
Muitos nomes de gêneros ou espécies homenageiam deuses, ou fazem alusão à mitologia, grega, nórdica, indígena (autóctone) ou qualquer outra fonte. 
Os epítetos genéricos de muitas plantas do Velho Mundo foram retirados da
mitologia grega. Pode haver muitas razão para que os estudiosos e pesquisadores assim procedam, todavia, nem sempre são claras. 
Esse trabalho busca mostrar alguns epitetos, sejam eles genéricos ou específicos que são baseados em mitos gregos, ou tenta mostrar a razão do porque a planta está associada a esses mitos. Alguns nomes de origem grega apresentam associações óbvias outras  nem tanto.

VINTE MITOS GREGOS SOBRE FLORES

“Quem, eu pergunto, em sã consciência condenaria uma figura que, está claro, expressa coisas muito mais claramente do que elas podem ser descritas com quaisquer palavras do homem mais eloquente? De fato, a natureza foi formada de modo que tudo pode ser apreendido por nós em uma figura: De fato, aquelas que são explicadas e retratadas aos olhos em telas ou papel aderem à mente mais profundamente que aquelas descritas por meras palavras. É certo que há muitas plantas que não podem ser descritas por nenhuma palavra de modo a ser reconhecidas, mas que, sendo colocadas diante dos olhos em uma figura podem ser reconhecidas imediatamente à primeira vista”. (Leonhart Fuchs, in: Coltri, 2016)




Flor de lotus, Nelumbo nucifera Gaertner

Hobbe Smith, 1898. Floralia, festival anual romano em honra a deusa Flora, tinha início no dia 28 de abril e ia até 03 de maio. 

Flora é uma das deusas mais antigas da religião romana e foi uma das quinze divindades a ter seu próprio sumo sacerdote apoiado pelo Estado, chamado flamen Florialis
Deusa das flores, da vegetação e da fertilidade, ela recebia sacrifícios (piacula) no bosque sagrado dos Irmãos Arval, um sacerdócio arcaico. Seu festival incluía os Ludi Florae, os "Jogos de Flora" que duravam seis dias no período imperial. 

Dizia-se que seu altar em Roma fora estabelecido pelo rei sabino Titus Tatius durante o semi-lendário período régio. Flusalis (linguisticamente equivalente a Floralia) era um mês no calendário sabino, e Marcus Terencius Varro (116-27 a.C.) contava Flora entre as divindades sabinas. O festival estava ligado ao ciclo agrário, para consagrar as florações da primavera. 
Os Jogos da deusa Flora eram apresentados pelos edis plebeus e custeados pelas multas cobradas quando as terras públicas (ager publicus) eram usurpadas. Cícero menciona seu papel na organização desses jogos quando era edil em 69 aC. Os jogos começavam com apresentações teatrais (ludi scaenici) e terminavam com competições e espetáculos no circo máximo e um sacrifício a Flora. Em 30 d.C., os espetáculos das Floralias apresentados sob o imperador Galba ofereceram até um elefante na corda bamba.

Isso demonstra a importância que os antigos davam às flores, à floração que são a base da fertilização das plantas e da vida. 

Do nascimento à morte, da inocência à paixão, as flores têm inúmeras interpretações e implicações nos mitos e lendas tanto no Império Romano quanto da Grécia antiga.

As flores muitas vezes simbolizam juventude, beleza e prazer, mas também podem personificar a fragilidade e a súbita transição da vida para a morte, várias flores, como a anêmona, o açafrão e o jacinto, ganharam seus nomes dos mitos gregos.

Chloris ou Flora, de um afresco em Pompeia 79 EC.
Na mitologia grega, Chloris, grego Χλωρίς, Chlōrís, de χλωρός chlōrós, que significa: amarelo esverdeado, verde claro, pálido, ou fresco, era uma ninfa/deusa que era associado à primavera, flores e novo crescimento, que se acredita ter habitado nos Campos Elísios (WP).


Cornelis Cort (print maker), Frans Floris (I) (after design by), Hieronymus Cock (publisher), sem data. (meisterdrucke).
Cloris foi raptada por Zéfiro, o deus do vento oeste (que, como o próprio Ovídio aponta, era um paralelo com a história de seu irmão Bóreas e Orítia), que a transformou em uma divindade conhecida como Flora depois que se casaram. Juntos, eles têm um filho, chamado Karpos. Acredita-se também que ela tenha sido responsável pelas transformações de Adônis, Áttis, Crocus, Hyacinthus e Narcissus em flores.


Bouguereau, 1875, óleo sobre tela, Chloris (Flora) and Zephyrus.
Clóris do grego Χλωρίς, Khloris ou χλωρός, Khloros, significando verde-claro, verde-pálido, pálido ou fresco na mitologia grega, era a deusa da primavera, que presidia à formação dos brotos e das flores, e da qual o vento do inverno, Bóreas, que vem do norte, e o vento primaveril, Zéfiro, do oeste, tornaram-se amantes e rivais; havendo ela escolhido Zéfiro, dele tornou-se esposa fiel.
William-Adolphe Bouguereau (1825 - 1905) foi pintor e professor acadêmico francês. Com um talento manifesto desde a infância, recebeu treinamento artístico em uma das mais prestigiadas escolas de arte de seu tempo, a Escola de Belas Artes de Paris, onde veio a ser mais tarde professor muito requisitado, ensinando também na Academia Julian. Sua carreira floresceu no período áureo do academicismo, sistema de ensino do qual foi um ardente defensor e do qual foi um dos mais típicos representantes (WP).

***

A metamorfose é um tema típico presente na mitologia grega, deuses, assim como os mortais, tinham o poder de se transformar em animais, pássaros ou humanos e repetidamente usavam esse poder para enganar e manipular.

Na Grécia antiga, um festival de flores, dedicado ao deus Dionysos, Διόνυσος, o deus do prazer, (da colheita da uva, vinificação, pomares e frutas, da vegetação, fertilidade, insanidade, loucura ritual, êxtase religioso, festividades e teatro na religião e mitos gregos antigos) era realizado no início da primavera, no mês de Anthesterion, o oitavo mês do antigo calendário ático ateniense, que cai de meados de fevereiro a meados de março, talvez a nossa moderna celebração do (May day) Dia de Maio (no hemisfério norte), celebração da primavera  seja um retorno ao antigo Anthesterion. Ou no nosso verânico de maio, uma semana de calor antes do intenso frio invernal no Rio Grande do Sul (embora aqui nos aproximemos do solstício de inverno, no hemisfério sul).
No hemisfério sul a primavera inicia em setembro e também no inicio da estação primaveril ocorrem festividades para saudar e honrar a primavera e suas flores, como na minha cidade natal (Santa Maria) que havia um festival para celebrar a chegada da primavera. Nesse festival, faziam-se doces os mais variados tipos, a praça ficava cheia de gente. Havia brincadeiras e torneios nos colégios. 

Chloris, deusa grega das flores 
(A deusa romana Flora)

Evelyn De Morgan, 1880. Chloris ou Flora Deusa grega do florescer, do florescimento e das flores.

"Khloris" ou Χλωρίς, de "Khloros" ou χλωρός; significa verde-claro, verde-pálido, pálido ou fresco. Na mitologia grega, era a deusa da primavera, que presidia à formação dos brotos e das flores, e da qual o vento do inverno, Bóreas, que vem do norte, e o vento primaveril, quente, do oeste, Zéfiro tornaram-se amantes e rivais. Tendo ela escolhido Zérfio, dele tornou-se esposa fiel. Era a uma das Horas, sendo Clóris o seu título, e equivalia à deusa romana Flora.

Uma versão do mito conta que Clóris era uma ninfa dos campos, até que, em uma primavera, ela foi raptada pelo deus-vento Zéfiro, depois de Bóreas, irmão de Zéfiro, ter raptado Orithia, a filha de Erecteu. 

Na mitologia grega, o nome Chloris significa “amarelo-esverdeado”, “verde pálido”, “pálido”, ou “fresco, novo”, ela era uma ninfa (ou deusa), ligada à primavera, ás flores e novo crescimento.

Chloris, foi sequestrada por Zéfiro, o deus do vento oeste, que a transformou em uma deusa, uma vez que se casaram. Juntos, tiveram um filho, Karpos, acredita-se que sua casa seja nos Campos Elísios. 

Na mitologia grega, Καρπός; Karpós; latim: Carpus, literalmente "fruto, fruta", era um jovem conhecido por sua grande beleza. Filho de Zephyrus, Ζέφυρος: Zéphyros), o vento oeste e Chloris Χλωρίς: Chlōrís, primavera, ou nova vegetação, formando uma metáfora natural, para o enlace nupcial. O vento oeste anuncia o novo crescimento da primavera, que então dá frutos. Karpo, uma das Horae, é o equivalente feminino de Karpos; seu domínio sendo os frutos da terra.

John William Waterhouse, 1898. Chloris (Flora) e Zephyrus. 

Rosa dos ventos da Grécia antiga, criada pelo estudioso Adamantios Korais (1748-1833) por volta de 1796.

Acredita-se que Chloris também tenha sido responsável pela metamorfose de Adonis, Attis, Crocus, Hyacinthus (Jacinto) e Narciso em flores. 

A seguir são apresentadas vinte flores, cujos nomes derivam ou estão associados a vinte mitos gregos mágicos e perfumados.


1. Acônito

O acônito, Aconitum napellus L. 1753, também conhecido como aconite, capuz-de-frade, mata-lobos (wolf´s bane), erva de rato (mousebane), capacete do diabo, rainha dos venenos. 

A espécie Aconitum napellus L. 1753, é uma planta florífera herbácea perene, muito venenosa, pertencente à família Ranunculaceae. Esta familia compreende 5 gêneros reconhecidos e muitos deles são venenosos. 

Gêneros conhecidos:
Aconitum, Actaea, Adonis, Anemone, Anemonopsis, Aquilegia, Archiclematis, Asteropyrum, Barneoudia, Beesia, Calathodes, Callianthemum, Caltha, Ceratocephala, Cimicifuga, Clematis, Clematopsis, Consolida, Coptis, Delphinium, Dichocarpum, Enemion, Eranthis, Hamadryas, Helleborus, Hepatica, Isopyrum, Knowltonia, Komaroffia, Krapfia, Kumlienia, Laccopetalum, Leptopyrum, Megaleranthis, Metanomone, Miyakea, Myosurus, Naravelia, Nigella, Oreithales, Paraquilegia, Paroxygraphis, Pulsatilla, Ranunculus, Semiaquilegia, Souliea, Thalictrum, Trautvetteria, Trollius, Urophysa, Xanthorhiza.

Aconitum napellus L. 1753 (WP).

Apresenta caules e folhas glabros (sem pelos), e pode atingir até 1,0m de altura. As folhas são arredondadas, de 5 a 10 cm de diâmetro, divididas em cinco a sete segmentos profundamente lobados (recortados). As flores são roxas escuras a roxo-azuladas, estreitas e oblongas em forma de capacete ou capuz, com 1 a 2 cm de altura. São plantas nativas da Ásia e Europa central. 
Essa planta é extremamente venenosa tanto  pela ingestão, quanto pelo contato com a pele.

Aconitum napellus L. 1753

Tende a crescer principalmente em solo rochoso de encostas e não em terra fofa e humosa. É uma planta extremamente venenosa e é exatamente para isso que os gregos antigos o usavam, como veneno! 

Mata-lobos recebeu esse nome por ser o veneno usado para matar carnívoros como lobos e panteras, até o século XVIII (Aggrawal, 2009). O estrato dessa planta era colocado na carne crua para atrair os animais (Blaisdell 1995). Alguns acreditavam que era o acônito que causava a raiva em animais devido aos seus terríveis efeitos colaterais (because of its horrifying side affects”. Blaisdell, 1995). No Japão a espécie A. lycoctonum L. 1753, apresenta uma grande quantidade do alcaloide pseudaconitina, o estrato dessa planta era usado na ponta de flechas pelo povo Ainu para caçar. 

O acônito aparece ao logo de toda a história humana. Na Grécia antiga foi um dos primeiros venenos já criados pelo homem e em Roma era usado para envenenar inimigos, foi até empregado por Shakespeare como uma arma mortal em uma lâmina coberta de acônito em “Hamlet” (Aggrawal, 2009). Na cultura chinesa antiga, o acônito, junto com outras plantas venenosas, era usado para envenenar flechas (Chakravarty e D. Chakravarti, 1954). 
É sugerido que os poderes mortais do acônito foram usados ​​pelos cientistas nazistas para envenenar balas (Stewart, 2009). 

Uma planta encontrada no Nepal pertencente à mesma família é uma das plantas mais venenosas do mundo (Elpel, 1998). Aconitum lycoctonum, muitas vezes tinha os mesmos usos, como A.napellus, já mencionado (Been, 1992).

Estes são apenas alguns dos eventos horríveis que povoam a história passada do acônito.


Alcaloide Aconitina, 
(Chemical drawing: Tashina Kimble).

Quando ingerido desencadeia imediatamente sintomas como queimação e formigamento na pele, tontura, diarreia, logo depois da ingestão de partes da planta. Com grandes doses, a morte é quase instantânea. A morte geralmente ocorre dentro de duas a seis horas em envenenamento fatal (20 a 40 mL de tintura podem ser fatais).

Os sinais iniciais de envenenamento por essa planta, são gastrointestinais, incluindo náuseas, vômitos e diarreia. Segue-se depois uma sensação de queimação, formigamento e dormência na boca, no rosto, e de queimação no abdômen. Em intoxicações graves ocorre fraqueza motora pronunciada e sensações cutâneas de formigamento e dormência que se espalham para os membros. Os  sintomas cardiovasculares incluem hipotensão, bradicardia sinusal e arritmias ventriculares. Outras características podem incluir sudorese, tontura, dificuldade em respirar, dor de cabeça e confusão. As principais causas de morte são arritmias ventriculares e assistolia, paralisia do coração ou do centro respiratório levando a asfixia. Não existe antídoto por envenenamento com acônito, mas é possível tratar os sintomas até a desintoxicação, caso a quantidade ingerida tenha sido pouca.

Na mitologia grega, diz-se que a deusa ou bruxa, Hécate, inventou o veneno, o acônito, que Atena usou para transformar Aracne, uma mortal, em aranha.

René-Antoine Houasse, 1706. Athena (Minerva) e Arachne. 

Aracne, filha de um pastor, desafiou Atena, deusa da sabedoria e dos ofícios, para um concurso de tecelagem, uma vez que Atena viu que o talento de Aracne era muito superior ao dela, ela ficou consumida pela raiva e pelo ciúme e bateu na cabeça de Aracne. Envergonhada, Aracne se enforcou, ao ver isso, Atena, declarou:

"Live on then and yet hang, condemned one, but, lest you are careless in the future, this same condition is declared, in punishment, against your descendants, to the last generation!"

"Viva então e ainda pendure, condenada, mas, para que você não seja descuidada no futuro, esta mesma condição é declarada, em punição, contra seus descendentes, até a  última geração!” 

Pegou então a poção de acônito que Hécate havia feito e a borrifou com com ele.

Instantaneamente, assim que o veneno tocou Aracne, seu cabelo caiu, seu nariz e orelhas caíram, sua cabeça encolheu e todo o seu corpo ficou minúsculo. Seus dedos grudados nos lados como pernas, o resto dela era uma barriga redonda, da qual ela ainda tece um fio. Havia sido transformada em uma aranha. 

(Instantly, as soon the poison touched Arachne, her hair fell out, her nose and ears dropped off, her head shrank, and her whole body became tiny. Her fingers stuck to her sides as legs, the rest of her was one round belly, from which she still spins a thread.)

William Blake ca 1795. Hecate or the Three Fates (ca 1795).

As (três) moiras, em grego: Μοῖραι, na mitologia grega, eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Durante o trabalho, as moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios. As voltas da roda posicionam o fio do indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou em sua parte menos desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos. As três deusas decidiam o destino individual dos antigos gregos, e criaram Têmis, Nêmesis e as erínias. Pertenciam à primeira geração divina (os deuses primordiais), e assim como Nix, eram domadoras de deusas e homens.

Arachne e seu encontro com a Deusa Athená

Segundo a mitologia grega, Aracne era uma jovem tecelã que vivia na Lídia, em uma região da Ásia Menor chamada Meônia. Seu trabalho era tão perfeito que, em todas as cidades da Lídia, Aracne ganhou fama de ser a melhor na arte de fiar e tecer a lã.

Segundo crença unânime eram os deuses, com sua generosidade, que concediam às criaturas seus talentos e habilidades, mas os mortais, com sua capacidade natural de esquecer as coisas, às vezes cometiam a tolice de gabar-se de seus próprios feitos.

Assim aconteceu a Aracne, que deixou-se dominar pela sua capacidade e habilidade em tecer. Sua vaidade a tornou apostasia, i.e., esqueceu dos deus e sua religião, abandonando o patronato da deusa sobre o seu ofício de tecelã. Assim, passou a vangloriar-se de sua habilidade como tecelã. Até que um dia alguém veio lembrá-la de que ela era discípula de Atena. Atena (Minerva) era filha de Zeus, e além de ser a deusa da Sabedoria, era a deusa que presidia as artes e os trabalhos manuais, inclusive a tecelagem. Aracne ficou extremamente ofendida e, querendo provar sua independência e autossuficiência, caiu na fraqueza de afirmar que podia competir com Atena e seria capaz de derrotá-la na arte da tecelagem.

Atena disfarçada procura Aracne

Ao saber da presunção de Aracne, Atenas foi procurá-la disfarçada como uma anciã e pediu-lhe que a escutasse, devido à experiência de sua idade avançada: "Busque entre os mortais toda fama que desejar, mas reconheça a posição da deusa". Porém, a famosa Aracne não percebeu que se tratava da deusa Atena e, além de zombar da anciã, reafirmou seu desafio: "Por qual motivo sua que deusa está evitando competir comigo?"

Ao ouvir isto, Atenas apareceu em sua forma verdadeira, e todos se puseram a reverenciá-la, exceto Aracne, que permaneceu impassível, pois o senso de poder que sua habilidade lhe dava tornava-a ousada em excesso.

A competição

Atenas desafiou Aracne a provar que seria capaz de vencê-la e as duas deram início à competição. Sentaram-se e começaram a tecer, cada qual procurando produzir a obra prima absoluta que venceria qualquer outra na competição, a obra vencedora.

Atena retratou a cidade de Atenas e os deuses em seus tronos, e entre os deuses a oliveira que ela havia criado durante uma disputa com Posseidon graças à qual foi proclamada a protetora da cidade. Retratou também a deusa Niké, o símbolo da Vitória e nos quatro cantos da tela, representou cenas com o que havia acontecido a alguns mortais que desafiaram os deuses e no que eles acabaram sendo transformados. Coroando o trabalho, Atena teceu uma grinalda de folhas de oliveira, que é até hoje um símbolo de paz.

Aracne, a perfeita tecelã, retratou em sua obra o maior de todos os deuses, Zeus por ocasião de suas conquistas amorosas. E então foi tecendo diversas cenas em que ele aparece disfarçado ou toma a forma de um animal: Zeus, sob a forma de touro, arrebatando Europa; sob a forma de águia, abordando Astéria; sob a forma de cisne, conquistando Leda; sob a forma de sátiro, fazendo amor com Antíope; Zeus fazendo-se passar por Anfitríon para seduzir Alcmene, mãe de Heraclés (Hércules); Zeus, o pastor, que fez amor com Mnemosine, mulher-titã; e, ainda, Zeus conquistando Egina, Deméter e Danae, disfarçado, respectivamente, de chama, serpente e chuva de ouro. No afã de "tricotear" sua espantosa obra, Aracne incluiu ainda os amores de Poseidon, Apolo, Dionísio e Cronos. E ao redor de todas as cenas, teceu uma graciosa moldura uma orla de hera e flores entrelaçadas.

Tão perfeita foi a obra de Aracne que Atena não conseguiu encontrar nela a mínima falha. Irritada, Atena rasgou a tecelagem em pedaços e golpeou Aracne na cabeça. Aracne ficou profundamente envergonhada e muito triste e, em seu desespero, terminou se enforcando. Atena, ao saber o que sua cólera havia provocado, compadeceu-se de Aracne e transformou a corda que ela usara para se enforcar em uma teia. Em seguida, derramou sobre Aracne fluidos retirados das plantas de acônito da deusa Hecate e transformou-a em uma aranha. Dessa forma, Aracne foi salva da morte e, embora condenada a ficar dependurada em sua teia, a beleza de sua arte não ficaria perdida para sempre neste mundo.(fashion).
No Rio Grande do Sul há uma espécie conhecida como Lupinus magnistipulatus Burkart ex Planchuelo & D.B. Dunn, (tremoço) (Fabaceae) que lembra muito a flor do acônito. Todavia, essa planta é extensivaente cultivada para alimentação de animais. 
Distribuição da espécie Lupinus magnistipulatus Burkart ex Planchuelo & D.B. Dunn, no Brasil. (Floradobrasil)

Lupinus spp. (WPnps)


2. Anêmona

As anêmonas são plantas herbáceas perenes com um caule tuberoso subterrâneo consideravelmente extenso.
As folhas são simples ou compostas com lâminas lobadas, divididas ou indivisas. As margens das folhas podem ser dentadas ou inteiras, com pecíolos longos que podem ser eretos ou prostrados. Suas flores são brancas, vermelhas, azuis ou raramente amarelas.

Anemone coronaria L. 1753
Anemone, um gênero com 200 espécies de plantas com flores da família  Ranunculaceae. (Foto: Zachi Evenor, WP)

Anemone coronaria
(Foto: Jim Evans, WP)

Floração de Anemonas (A. coronaria) no norte de Israel (WP).

Anemone coronaria em Troodos mountains, Chipre.
(Foto: Michal Klajban, WP)

Anemone coronaria azul
(Foto: Michal Klajban, WP)

Flores com 4 a 27 sépalas são produzidas, em cimos de 2 a 9 flores, ou em umbelas, acima de um conjunto de folhas ou sépala semelhantes a brácteas. 
O pistilo (gineceu) possui um óvulo. (O pistilo corresponde ao conjunto de órgãos femininos das flores das Angiospermas: o estigma, o estilete, e o ovário. O pistilo é formado por uma ou mais folhas modificadas, que se fundem dando origem a uma porção basal dilatada, denominada ovário onde esta o óvulo). A polinização é feita por insetos (entomofilia).

Os frutos são aquênios de forma ovóide a obovóide. Os aquênios são bicudos e algumas espécies têm pêlos semelhante a penas ligados a eles para auxiliar na dispersão.

Gênero Anemone Linnaus, 1753. Ervas perenes, pubescentes ou glabras; rizoma pouco tuberoso, às vezes recoberto por escamas folheares conspícuas; raízes fibrosas. Folhas longo-pecioladas, divididas. Cimeira pauciflora ou uniflora, com invólucro formado por 3(-4) brácteas parcialmente unidas. Flores vistosas; sépalas 5-16, petalóides, imbricadas; pétalas ausentes; estames numerosos; pistilos numerosos, glabros ou pubescentes. Aquênios numerosos, estiletes não alongados ou plumosos. Ocorre nas regiões frias ou temperadas; possui cerca de 150 espécies, cosmopolitas. Distingue-se do gênero Ranunculus por apresentar no pedúnculo da inflorescência brácteas parcialmente unidas, geralmente amplexicaules, e flor monoclamídea (infraestrutura)

Familia com 50 gêneros conhecidos:
Aconitum, Actaea, Adonis, Anemone, Anemonopsis, Aquilegia, Archiclematis, Asteropyrum, Barneoudia, Beesia, Calathodes, Callianthemum, Caltha, Ceratocephala, Cimicifuga, Clematis, Clematopsis, Consolida, Coptis, Delphinium, Dichocarpum, Enemion, Eranthis, Hamadryas, Helleborus, Hepatica, Isopyrum, Knowltonia, Komaroffia, Krapfia, Kumlienia, Laccopetalum, Leptopyrum, Megaleranthis, Metanomone, Miyakea, Myosurus, Naravelia, Nigella, Oreithales, Paraquilegia, Paroxygraphis, Pulsatilla, Ranunculus, Semiaquilegia, Souliea, Thalictrum, Trautvetteria, Trollius, Urophysa, Xanthorhiza.

Anemone hupehensis var. japonica

Em grego Anêmona, ἀνεμώνη, anemōnē,  ανεμώνη, anemóni, significa "filha do vento", de ἄνεμος, ánemos, vento. Aparentemente de ἄνεμος, ánemos, vento +‎ -ώνη, -ṓnē, feminino (sufixo patronymico).

Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Ranunculales
Família: Ranunculaceae
Subfamília: Ranunculoideae
Género: Anemone L. 1753

A mitologia grega liga a anêmona, às vezes chamada de flor do vento, à morte de Adonis, um jovem bonito, que era amado por duas mulheres, Perséfone, rainha do submundo, e Afrodite, Vênus, deusa do amor. Um dia, enquanto caçava sozinho, Adonis foi ferido por um javali. Afrodite, ao ouvir os gritos de seu amante, correu para o lado dele, apenas para testemunhar Adonis sangrando até a morrer.

John-William-Waterhouse, 1903. Windflowers

Anêmonas vermelhas surgiram da terra onde as gotas do sangue de Adonis caíram. Em outra versão da história, as anêmonas eram brancas antes da morte de Adonis, cujo sangue as tornou vermelhas, quando gotas de sangue do jovem cairam sobre a flor. Diz-se que traz sorte e protege contra o mal, diz a lenda que quando a anêmona fecha suas pétalas, é sinal de que a chuva se aproxima.

O nome Adonis também pode ter vindo de "Nea'man", o nome fenício de Adonis. Adonis é mencionado em mitos sírios e fenícios antigos. Ele era o deus da vegetação e, assim como o Adonis greco-romano, foi morto em uma das versões por um javali.

Anêmona coronaria está associada à Trindade, tristeza e morte. Nesse contexto, eles podem ser um símbolo de preocupação. No cristianismo, eles também podem ser símbolo do sangue que Jesus Cristo derramou na cruz. Anêmonas ocorreram no Gólgota, onde Jesus deveria ser crucificado.

Essas flores são frequentemente retratadas em imagens da Crucificação, ao lado da Virgem Maria. O vermelho é o símbolo do amor eterno. Também pode ser símbolo de amor abandonado. Quando branca, esta flor é um símbolo de sinceridade, e quando roxa é um símbolo de proteção contra o mal.


3. Áster

Aster. Um gênero de plantas perenes, com flores (Angiospermae) da familia Asteraceae.

O nome Aster vem de uma palavra do grego antigo, ἀστήρ, astḗr, que significa estrela. O áster é uma flor silvestre em forma de estrela, parecida com uma margarida.

Quando Zeus, inundou a terra para matar os homens que estavam em guerra, a deusa, Astraea, Ἀστραίᾱ, Astraíā, "donzela das estrelas" ou "noite estrelada", a "donzela" do signo de Virgem, filha do titã Astraeus (pai dos quatro ventos) e Eos, Ἠώς, Êôs, a aurora. Outras forntes dizem que ela era filha de Zeus e Themis Θέμις. Como deusa virgem da justiça, inocência, pureza e precisão, ela estava tão entristecida com o sofrimento da humanidade, que tudo o que ela desejava era se tornar uma estrela.  
Seu desejo se tornou realidade, mas ao ver a destruição à medida que as águas do dilúvio recuavam, ela chorou pela perda das vidas. A medida que suas lágrimas caíam na Terra, a bela flor de áster ia aparecendo.

Salvator Rosa. Astrea, a deusa virgem da inocência e pureza.

Outro mito afirma que quando Teseu, o filho do rei Egeu, partiu para matar o Minotauro, ele disse ao pai que mudaria sua vela preta para branca, quando voltasse para Atenas, para anunciar sua vitória. Teseu esqueceu de trocar de vela e entrou em Atenas com uma vela preta. Acreditando que seu filho estava morto, o rei Egeu cometeu suicídio. 

Acredita-se que as flores ásteres floresceram onde seu sangue de Egeu embebeu a terra. Outra lenda é que os ásteres foram formados quando a Virgem (da constelação zodiacal de Virgem) espalhou poeira estelar sobre a Terra, onde quer que a poeira estelar pousasse, flores de áster desabrochavam. Os ásteres eram sagrados para os antigos gregos e eram usados ​​em coroas colocadas em altares. eles também queimavam as folhas de aster para afastar cobras e espíritos malignos. O áster também é um símbolo de Afrodite, Vênus, a deusa do amor.


4. Campânula ou Flor de sino (bellflower)

Popularmente conhecidas como campânula, campanula ou flor-de-sino, e as vezes também chamada de "flor de vidro", porque a forma da flor se assemelha a um copo. As plantas do gênero Campanula têm como característica marcante suas flores campanuladas, ou seja, apresentam a forma de um sino.

A espécie Campanula medium L. 1753, conhecida como Canterbury bells, ou flor-sino, é uma planta com floração anual ou bienal do gênero Campanula, pertencente à família Campanulaceae. 

As mais de 430 espécies de campânula ocorrem de forma nativa em diversos países do Hemisfério Norte, nos continentes europeu, americano e asiático, havendo também registro de ocorrência de espécies em boa parte do continente africano (escoladebotanica).

Suas flores estão dispostas em uma inflorescência racemosa de flores extremamente duradouras. Estas atraentes flores em forma de sino são de caule curto, grandes e hermafroditas, com diferentes tons de azul violeta ou raramente branco. A corola tem cinco pétalas fundidas com lóbulos levemente dobrados.

O período de floração se estende de maio a julho no Hemisfério Norte. As flores são autofecundadas (autogamia) ou polinizadas por insetos como abelhas e borboletas (entomocoria). As sementes amadurecem de agosto a setembro e são dispersas apenas pela gravidade (barocoria).

A espécie mais conhecida é a Campanula medium, pode alcançar até 1,0 metro de altura quando sua inflorescência está completamente desenvolvida.  
Suas numerosas flores são relativamente grandes com cores que variam de roxo à azulada, havendo híbridos de cor rosa e branca, que são as mais comercializadas. O período de floração é relativamente longo, dura toda a primavera. Na floriografia, representa gratidão, fé e constância. 

Reino: Plantae
Clado: Tracheophytes
Clado: Angiosperms
Clado: Eudicots
Clado: Asterids
Ordem: Asterales
Familia: Campanulaceae
Gênero: Campanula
Espécie: Campanula medium L. 1753


Campanula or bellflower - one of several genera in the family CampanulaceaeCampânula, um dos muitos gêneros na famiia Campanulaceae.
A deusa Afrodite, a mulher arquetípica habita o imaginário universal desde tempos imemoriais, associando à sua figura conceitos imateriais como “fertilidade”, “beleza”, “abundância”, “graça”, “amor”, “paixão” e inúmeros outros.

Sua existência engloba a personificação de todos estes e muitos outros elementos
que compõem a vasta gama de correlações da deusa, e para acessar cada um destes elementos usava-se na Grécia a noção de epíteto, que seriam títulos e atributos dados às divindades, entre elas Afrodite. Contudo, de acordo com Giuliana Ragusa (2005), tais epítetos eram empregados de forma verbal e textual na liturgia grega, não sendo tão constantes se expressos em forma de imagem, ainda mais sem a presença de alguma espécie de legenda que denotaria aquela figura como “Afrodite Anadiomene” ou “Afrodite Citereia”, por exemplo (Gonçalves s/d). Determinados epítetos relacionam a deusa com atributos físicos ou descritivos das suas habilidades, como os citados por Ragusa (2005), “Anadiomene” (erguida do mar), “Komaetho” (dos cabelos de fogo), “Bradínan” (esguia), “Morpho” (de belas formas), “Khrusion” (dourada), Antheia (das flores, da primavera), “Afrodite Meleia” (Afrodite das Maçãs) entre outros. No que se refere à relação da deusa com os mares, diversos epítetos são citados na literatura. Dentre eles está o já citado “Anadiômene”, e outros se acrescem, como “Euploia” (dos viajantes), “Limenitis” (dos portos), ”Pontia” (do mar) e “Dionaia” (filha de Dione), por exemplo.

Um destes textos é o Hino Órfico 54 “À Afrodite”, como deusa da fertilidade, possuidora do poder sobre todas as pessoas, já que ela intercederia por todas as relações afetivas que permeiam a experiência humana; este hino traz uma descrição ampla dos tópicos relacionados à deidade.

Ilustração da flor de Campanula médium L.,1753
Favourite flowers of garden and greenhouse
London and New York.
Frederick Warne & co.,1896-97.

“Celeste, ilustre rainha de risada amorosa, nascida do mar, amante da noite [...] senhora produtora e noturna, dama que a todos conecta; teu é este mundo para se unir com harmonia, pois todas as coisas brotam de ti, ó poder divino. [...] toda a produção dos frutos da terra, e o alto-mar tempestuoso, a ti o balanço confessa e obedece a teu aceno [...]: Deusa do casamento, charmosa à visão, mãe dos Amores, que se delicia em banquetes; fonte de persuasão, secreta, rainha favorável, ilustremente nascida, [...] a mais desejada, doadora de vida, gentil [...].” (Hino Órfico 54)


Afrodite, quando associada às flores e a prinavera, engloba novos conceitos que estariam profundamente relacionados à renovação, juventude, energia e vida. Um de seus epítetos primaveris é “Antheia” (Afrodite das flores). 

As flores, relacionadas ao útero e à receptividade, são frequentemente fundidas a noção de primavera, período em que geralmente brotam. Estas também estão ligadas à feminilidade e à forma vulvar. (Chevalier, 1982, p. 438)

O mito ainda cita que por onde Afrodite passava flores nasciam e a vida vicejava ao redor dela, reforçando ainda mais a associação da deusa às flores e à vida, unindo ambas à natureza.

Segundo Gonçalves (s/d) onstantemente vemos, em quadros principalmente, Afrodite representada com espelhos. Esta ligação associa a beleza à vaidade e as conecta a deusa, dando a ela mais um símbolo: o espelho. 

Porém, mais do que emblema da estética, o espelho é dito como o objeto que reflete os verdadeiros desejos da alma e revela o oculto. (CHEVALIER, 1982, p 396). 

Aliado à Afrodite, o item seria um constante lembrete de que a deusa sabe o que há no coração e na alma dos humanos. O espelho ainda é o principal símbolo da deusa, o “Espelho de Vênus” (♀) que representa o sexo feminino, a mulher, o planeta Vênus, a deusa Afrodite. 

Na temática do espelho a flor Campanula também é conhecida como espelho de Vênus e recebe o nome de um mito grego em que Vênus, Afrodite, deusa do amor, da beleza, do desejo, da fertilidade, da prosperidade e da vitória, extravia seu estimado espelho mágico. 

Qualquer um que olhasse nele veria nada além de da verdade, beleza e aquilo que esta oculto. Um pobre menino pastor o encontrou, mas não conseguiu devolvê-lo porque havia ficado em transe observando sua própria imagem refletida. 

Afrodite, chama seu filho Eros (Cupido) que vá procurá-lo, o que ele faz imediatamente. Todavia, em sua pressa, Eros atingiu a mão do pastor que segurava em transe o espelho mágico. O espelho cai da mão do pastor e ao cair se quebrar estilhaçando-se em mil pedaços. Em todos os lugares que um pedaço do espelho caiu, uma flor de câmpanula começou a crescer.

Vênus de biquíni, retrata Afrodite quando ela está prestes a desamarrar sua sandália, com seu filho o pequeno Eros.
(Venus in a bikini, depicts Aphrodite as she is about to untie her sandal, with a small Eros. Foto Berthold Werner)

Diego Velazquez (1599-1660). Vênus ao espelho ou Vênus olhando-se ao espelho. National Gallery, London.

A Vênus ao espelho representa a deusa romana do amor, da beleza, e da fertilidade reclinada languidamente na sua cama, com as costas para o espectador, na Antiguidade, o retrato de Vênus de costas foi um visual erótico e literário comum, e com os seus joelhos dobrados. Assim, Vênus é apresentada sem a parafernália mitológica que normalmente é incluída em representações da cena; são ausentes as joias, as rosas e a murta. Ao contrário da maior parte dos retratos prévios da deusa, que a mostram com cabeleira loura, a Vênus de Velázquez é morena. Quando a obra foi inventariada pela primeira vez, foi descrita como uma mulher nua, provavelmente devido à sua natureza controversa (WP).

A figura feminina pode ser identificada com Vênus devido à presença do seu filho, Cupido. Este aparece sem arco e setas. Cupido, gordinho e ingenuamente respeitoso, até mesmo vulgar, tem nas suas mãos uma fita rosa de seda que está fixada acima do espelho e se dobra sobre a sua moldura. Sua função foi objeto de debate pelos historiadores da arte. Em geral, acredita-se ser uma espécie de atadura, um símbolo do amor vencido pela beleza. Esta interpretação foi dada pelo crítico Julián Gállego, que entendeu que a expressão facial de Cupido era melancólica, de maneira que as fitas seriam uns grilhões que uniam este deus com a imagem da beleza, assim deu à pintura o título de Amor conquistado pela Beleza. Foi sugerido também que podia ser uma alusão aos grilhões usados por Cupido para atar os amantes, também que serviu para pendurar o espelho, e igualmente que se empregara para vendar os olhos de Cupido uns momentos antes (WP).

O elemento mais original da composição é o espelho segurado por Cupido, no qual a deusa olha para fora, e através da sua imagem refletida, interage com o espectador da obra(WP).

O fato de Vênus estar vendo o espectador através do espelho representa a ideia da consciência da representação, muito característica de Velázquez. E o espectador, por sua vez, pode ver no espelho o rosto da deusa, esfumado pelo efeito da distância, que apenas revela um vago reflexo das suas características faciais. A imagem desbotada é uma contradição barroca, pois Vênus é a deusa da beleza mas esta não se distingue bem. O aspecto desbotado do rosto levou a crer que seja apenas uma mulher feia ou vulgar, uma aldeã em vez de uma deusa, pelo que alguns críticos fizeram alusão à capacidade enganosa da beleza. A crítica Natasha Wallace aludiu à possibilidade da face não distinguida de Vênus ser a chave do significado oculto da pintura, no sentido de que não visa ser um nu feminino concreto, nem apenas um retrato de Vênus, mas uma imagem da beleza absorta em si mesma Segundo Wallace, Não há nada espiritual no rosto ou na pintura. O ambiente clássico é uma escusa para uma sexualidade estética muito material, não do sexo em si, mas uma apreciação da beleza que implica atração.

As pregas dos lençóis da cama difundem a forma física da deusa, e apresentam-se para enfatizar as dramáticas curvas do seu corpo.A composição usa nomeadamente tons de vermelho, branco e cinza, empregados até mesmo na pele de Vênus; embora o efeito deste simples esquema cromático tenha sido muito elogiado, recentes análises técnicas demonstraram que o lençol cinza era originalmente um malva intenso, que acabou por desaparecer.

As cores luminescentes usadas na pele de Vênus são aplicadas com um tratamento suave e cremoso, fundente,[37] que contrasta com os cinzas obscuros e o preto da seda ou cetim sobre a qual ela repousa, e com o castanho da parede atrás do seu rosto (WP).

Velázquez é capaz de criar a noção de profundidade graças à composição. Coloca objetos e corpos uns atrás de outros: os diferentes lençóis, corpo da Vênus, o espelho, o Cupido, a cortina em diagonal, e a parede do fundo, transmitem a ideia de profundidade (WP).


5. Crocus, o açafrão 

O açafrão é um gênero da família Iridaceae que compreende cerca de 80 espécies. Muitos são cultivados por suas flores no outono, inverno ou primavera e também pelo seu sabor (spice). Os açafrões são nativos de florestas, e prados desde o nível do mar até a tundra alpina no centro e sul da Europa, norte da África e Oriente Médio, nas ilhas do Mar Egeu e em toda a Ásia Central até o oeste da China (David-toms, 2011).

Açafrão. Crocus sativus L.1753. (1)

As espécies Crocus (Iridaceae) tem sido associada a muitos mitos e rituais em diversas culturas. (Glenn, 2021).
Planta nativa da ilha de Creta, as rotas comerciais levaram-na para a Índia, onde, antes de se tornar sinônimo das vestes de monges e freiras budistas, a flor foi associada a várias deusas, incluindo Khamedenu, Sarasvati e Gauri.

Várias interpretações aparecem nos mitos de Krokos e Smilax, cujo nome foi dado a um gênero vegetal que inclui a planta de salsaparrilha sempre verde. Um relato fala que Smilax, apaixonou-se perdidamente pelo jovem e belo Krokos. Ela passou a  perseguí-lo incasavelmelnte, mas o espartano não estava interessado nela. Como Echo, Smilax vai definhando pelo amor não correspondido. Afrodite, notando seu estado lastimável, comoveu-se ao vê-la nesse estado, e transforma-a em uma sarça cujas flores têm cheiro de carniça e bagas que são tão escuras quanto a noite (Glenn, 2021). 

Em outra versão, Krokos, era quem se apaixonou por Smilax. Ele ficou com o coração partido quando sua amada Smilax definhou e morreu. Os olímpicos deuses tiveram pena dele, transformaram-no na flor de açafrão e Smilax em um teixo perene, cujas folhas são muito venenosas se consumidas (ingeridas). 

Taxus bacata L. 1753 

Reino:  Plantae
Clade:  Tracheophytes
Divisão antiga:  Gymnosperms
Divisão:  Pinophyta
Classe:  Pinopsida
Ordem:  Pinales
Familia:  Taxaceae
Gênero:  Taxus
Especie:  T. baccata L. 1753

Taxus bacata L. 1753

Outra versão tem Krokos definhando desprezado em suas afeições por Smilax e sendo transformando pelos deusses olímpicos na flor de mesmo nome Crocus, enquanto a punição de Smilax foi ser transformada na trepadeira salsaparrilha. Tanto o açafrão quanto a salsaparrilha verde foram associados a tendências afrodisíacas, e a salsaparrilha foi usada para tratar doenças venéreas.

Crocus sativus L. 1753 (plantamundo)

O açafrão (Crocus sativus L. 1753) é uma planta que produz uma bela flor de cor lilás com longos estigmas vermelhos cujas diversas qualidades são valorizadas desde tempos imemoriais.
A sua origem está situada na larga zona das civilizações mais antigas do mediterrâneo oriental, estendendo-se desde o próximo oriente até à Índia. 

A utilização mais antiga comprovada por esta planta, manifesta-se como pigmento empregado na coloração de pinturas rupestres, tendo estas propriedades corantes sido, desde há muito, largamente utilizadas na coloração de tecidos muitas vezes de uso cerimonial. 

Porém, as propriedades desta substância amarela proveniente dos longos filamentos da flor revelaram-se, também, de elevado valor terapêutico, afrodisíaco e gastronómico. Como tal, a reunião de todas estas qualidades associadas à extrema beleza floral conduziu ao valor simbólico que ela despertou desde o alvorecer das civilizações da antiguidade. 

A designação vulgar “açafrão” deriva do latim safranum que por sua vez deriva do árabe za’fram (amarelo), embora a origem da designação científica do género Crocus se refira a uma das histórias mitológicas gregas associada à sua simbologia.

Estudos botânicos consideram que o açafrão teve origem nos solos rochosos e pedregosos da ilha de Creta a partir de uma espécie selvagem que lhe deu origem, Crocus cartwrightianus, perdendo depois a capacidade de se reproduzir naturalmente, sendo apenas obtida por multiplicação vegetativa.
Desse passado minoico são encontradas algumas pinturas murais na ilha vulcânica de Thera (Santorini) com várias imagens decorativas de flores de açafrão sendo colhidas por jovens, fazendo referência ao seu cultivo e sagração no culto de Ariadne, deusa cretense da vegetação, como símbolo da renovação primaveril da natureza e da bem-aventurança celeste. Há, também, provas de que os hititas (2000 aC) celebravam uma festa da primavera utilizando o açafrão, como o comprova uma pequena laje encontrada em Hattusa, e cuja tradição ainda permanece hoje, na Turquia. 

Todas as culturas do ocidente até ao longínquo oriente, onde ela foi introduzida, citam a importância dada a esta planta, referenciando não só a sua utilização prática como, também, um valor transcendente, sutil e poético, tais como se podem entrever neste texto Sique:

Se eu tivesse um palácio feito de pérolas, embutido com jóias, perfumado com almíscar, açafrão e sândalo, um puro prazer, ao ver isso, eu poderia perder-me e esquecer-Te, o Teu Nome não entraria na minha mente.
Sur Guru Granth Sahib (floradivina)

O Sri Guru Granth Sahib (Punjabi, Gurmukhi), Guru Granth Sahib, é o texto religioso central do siquismo, considerado pelos siques como sendo o definitivo texto, soberano e eterno Guru, finalizando a sequência dos Gurus da religião (WP).


Açafrão (By Serpico, 1)





Crocus sativus (Kew)

Açafrão. Crocus sativus e C. vernus L. 1753 (WP)


Açafrão. Crocus sativus e C. vernus L. 1753 (WP)

Crocus (Kew)

Crocus, Crocus sativus, Iridaceae


CrocusCrocus sativus, L., 1753. Iridaceae
A flor do açafrão, em grego ζαφορά, cujos estigmas são usados desde a antiguidade clássica na fabricação de perfumes, tinturas e condimentos, constituiu importante fonte de riqueza durante a Idade Média e ainda nos dias de hoje. De origem oriental, a planta era utilizada como matéria-prima de perfumes na antiga Grécia e na Roma imperial. Seu cultivo foi introduzido na Espanha no século X, de onde migrou para os demais países mediterrâneos. Para que o cultivo do açafrão se dê em condições satisfatórias, o solo deve ser poroso e bem ventilado e a temperatura, amena. A coleta das flores se realiza no outono, ocasião em que os estigmas com as anteras são separados e torrados. A obtenção de meio quilo de açafrão demanda a colheita de setenta mil a oitenta mil flores, o que determina seu alto custo. Atualmente plantio do açafrão é generalizado na Espanha, França, Itália e Irã.

Este mito grego é o mesmo que o mito do Jacinto (Hyacinth), apenas diferindo nos personagens.

No mundo helenístico Krokos, era um jovem mortal espartano de grande beleza, e daemon da fertilidade, que aparece como amante tanto do deus Hermes quanto da ninfa Smilax (Glenn, 2021). 

Nos mitos de Hermes, é relatado que ele teve muitos amores. O mito explica que Κρόκος, Krókos era um jovem espartano de grande beleza fisica. Um mortal que estava loucamente apaixonado pelo deus mensageiro Hermes, e era correspondido. Ambos eram muito atléticos e passavam muitas manhãs e tardes juntos, aproveitando os jogos mais populares da época, incluindo corrida, salto, boxe, luta livre e corrida a cavalo. Em um dia trágico, eles estavam jogando disco, quando Hermes acidentalmente atingiu Krokos na cabeça, acertanto-o com um golpe fatal. Hermes abalado pela dor e sofrendo pela culpa de ter ferido de morte seu grande amor, transformou o jovem espartano em uma flor com o mesmo nome. Crocus o açafrão. Onde as três gotas do sangue caiu, a flor de açafrão possui três estigmas/estiletes vermelhos contendo seu sangue. 


Discóbolo de Myron, cópia romana em bronze sec. II.
(Glyptothek Munich).


Discobolus figura vermelha, Louvre.


Vila Arianna. Pintura romana lançador de disco romano 
 de Stabiae, Villa Arianna, sec. I, AD (WP)

Discobolo Townley Vista lateral

Discóbulo de Myron (Copia romana) Palazzo Massimo
Discóbulo de Castelporziano

O Discobolus: estátua de mármore de um atleta que se abaixa para lançar o disco. Uma das várias cópias romanas feitas de um original de um bronze perdido feito no século V aC pelo escultor Myron. A cabeça foi restaurada erroneamente e deve estar virada para observar o disco (britishmuseum).


Arremesso de disco moderno

Gerd kanter (2008) (globo)

Lawrence Okoye medalha de ouro em 2012 no lançamento de disco.
(nyt)

Outra história mítica, novamente unindo o mortal Krokos com Hermes, o deus mensageiro dos deuses do Olimpo, coloca os dois apaixonados, na margem de um rio, perdicos em caricias amorosas que as margens gramadas literalmente explodiram com açafrão. A partir desse momento, as delicadas flores da primavera foram associadas ao poder de criar amor. Vale a pena notar: nesta versão ninguém morreu. E finais felizes são bastante raros na mitologia grega. 

krokos e Hermes (David-toms, 2011)

Releitura

Dominado pela tristeza e atormentado pela culpa, Hermes transformou seu amado Krókos, em uma planta com o mesmo nome Krokos (Crocus o açafrão), uma linda flor com pétalas e sépalas de cor liláz. As três gotas de sangue, que haviam caído da cabeça de Krókos, tornaram-se nos três estigmas da flor que coincidentemente são vermelho escuro como o sangue, e as anteras mais abaixo tem uma cor amarelho dourada.

Salsaparrilha. Gênero Smilax Linnaeus, 1753. 
Familia Smilacaceae.

Smilax aspera L.1753.
(Foto de  BY-SA 3.0WP)

Crocus aspera L.1753. 
(Foto: © Hans Hillewaert, CC BY-SA 3.0; WP)


Crocus e a ninfa Smilax

Os olímpicos transformaram Crocus na flor de açafrão para que ele não sentisse mais sua saudade. 
Pintura: Natureza morta de flores silvestres, incluindo ciclâmen, açafrão, delphinium, com uma cobra e borboletas por Otto Marseus van Schrieck (1678)

Crocus e a ninfa Smilax

Sebastian Mabre-Cramoisy, 1676. Gravura de Crocus e Smilax. 



Outra variante do mito de  Crocus diz que o mortal Crocus estava apaixonado perdidamente por uma ninfa chamada Smilax. O fato de que Crocus, um mero mortal, ter se paixonado e depois se desencantado com seu amor por Similax, enfureceu os deuses, que o transformaram em uma flor do mesmo nome, Krokos. Smilax, também não escapou da ira dos deuses, recebeu um destino semelhante e foi transformada em uma trepadeira.

Outra variante do mito de Smilax

Outra versão do mito bem conhecida relata a metamorfose do jovem espartano Krocus em uma flor após a perseguição e jogo amoroso com a sua amada, a ninfa Smilax, nos bosques próximo de Atenas.  Inicialmente Smilax fica lisonjeada com seus avanços amorosos, mas logo fica entediada com a atenções exagerada do belo Crocus. A ninfa vai, desta forma perdendo o interesse por Krokus, fato que intensifica o seu ardor por ela. Depois ele continua a persegui-la contra seus desejos. Neste desvario passional em que o amor de um mortal não pode ter continuidade, e está destinado a fenecer, ele é, pela vontade dos deuses olímpicos, transformado na flor de açafrão, cujas radiosas cores simbolizam a força do desejo pela bela ninfa Smilax. Deste mito advém a tradição greco-latina de colocar flores de açafrão sobre a sepultura dos amantes que morrem por amor.

Uma outra versão ela recorre aos deuses que transformando Krokus em uma flor de açafrão, com seus estigmas vervelhos alaranjados radiantes permanecendo como um símbolo de sua paixão eterna por Smilax. A tragédia e a especiaria seriam lembradas mais tarde por Ovídio:

“Crocus and Smilax may be turn'd to flow'rs,
And the Curetes (Κουρῆτες Kourễtes) spring from bounteous show'rs
I pass a hundred legends stale, as these,
And with sweet novelty your taste to please”


6. Dianthus, cravo, flor dos deuses

Dianthus é um gênero de cerca de 340 espécies de plantas com flores na família Caryophyllaceae, nativas principalmente da Europa e Ásia, com algumas espécies no norte da África e no sul da África, e uma espécie Dianthus repens na América do Norte ártica. Os nomes comuns incluem cravo Dianthus caryophyllus L., rosa D. plumarius e espécies relacionadas e doce william D. barbatus. (WP)

Dianthus, flores dos deuses, nomes comuns: cravos (carnations), 
sweet William and pinks. 

Dianthus caryophyllus L. 1753

O epiteto genérico Dianthus vem de duas palavras gregas: δῖος dios, "de Zeus" e ἄνθος anthos, "flor", e foi citado pelo primeira vez na literatura ocidental pelo botânico grego 

O botânico grego, Theophrastus, considerou esta a combinação perfeita de palavras para o nome desta flor.

Dianthus pode ter se originado do mito de Artemis (Diana), mas como em quase todos os mitos gregos, existem algumas variações dessa história.


Artemis (Diana) caçando, Guillaume Seignac

Uma interpretação é que Ártemis, ou Diana, deusa da caça, estava a caminho de casa depois de uma decepcionante viagem de caça, quando ela encontrou um pastor tocando flauta, ela imediatamente culpou sua música pelo fracasso de sua caça.

Em um acesso de raiva, Artemis arrancou os olhos do pastor que tocava, mas assim que sua raiva passou, ela sentiu um profundo remorso pelo seu ato, que onde os olhos caíram, cravos vermelhos cresceram como sinal de sangue inocente.

Outros sugerem que o nome cravo vem da palavra corona (guirlandas de flores) ou coroação, pois os cravos eram usados ​​abundantemente nas coroas cerimoniais gregas.

Cravo (cascadeflora)


7. Delphinium ou Larkspur


Delphinium L., 1753, ou Larkspur, um gênero de cerca de 300 espécies de plantas perenes da família Ranunculaceae.

Afirma-se que essa planta conseguiu seu nome δελφίνιον, delphínion, que significa golfinho, devido a semelhança de suas flores com os golfinhos do mediterrâneo.  

Na mitologia grega, após a morte de Aquiles, depois da Batalha de Tróia, Ajax e Ulisses lutaram entre si, pelo corpo de Aquiles, cada um deles teria partes do corpo do morto, decidiram, mas não chegaram a um acordo sobre quem deveria ter os braços de Aquiles. 

In Greek mythology, after the death of Achilles, after the Battle of Troy, Ajax and Ulysses fought with each other, over the body of Achilles, they would each have parts of him, they decided, but could not agree on who should have the arms.


Detalhe da ânfora de figuras negras de Exekias, mostrando Achilles a esquerda  e Ajax a direita, Grécia, 540 BCE.

Achilles a esquerda  e Ajax a direita, ânfora de figuras negras, Grécia, 540 BCE

Nesta ânfora ambos soldados descansaram seus escudos e lanças, e Ajax tirou o capacete. Observe a maneira habilidosa com que Exekias desenhou as lanças para criar uma linha triangular que leva o olho às alças. Veja também como essa linha se completa com as formas dos escudos, trazendo nosso olhar de volta para a composição. Esses dois guerreiros são mostrados fazendo uma pausa em suas batalhas e jogando um jogo de damas (damas) em um tabuleiro. Eles se concentram atentamente no jogo, movendo suas peças pelo tabuleiro. Observe o olho frontal, que parece olhar para o espectador, mesmo que esteja olhando para o tabuleiro do jogo. Embora as proporções do corpo ainda não sejam anatomicamente corretas, Exekias indica volume e forma usando esgrafito, esculpindo detalhes lineares nas formas pretas das figuras. Em vez de se concentrar nas batalhas que estão por vir, Exekias aqui captura o momento mais humano de dois guerreiros em repouso, tentando tirar suas mentes de suas preocupações com o que está por vir. Um friso de madressilva duplo envolve o navio acima da ação. A população nessa época era majoritariamente analfabeta, mas a ação aqui retratada teria sido reconhecida pela maioria das pessoas. A história aqui ilustrada é de uma guerra que ocorreu mais de 600 anos antes que este vaso fosse pintado e, juntamente com os escritos de Homero, esses vasos ilustram vividamente a história dessa época.

Depois de alguma deliberação, os gregos decidiram que Ulisses deveria tê-los, Ajax em acesso de raiva, pegou sua espada e cometeu suicídio, resultando em seu sangue derramando no chão.

A planta delfinium ou espora de cotovia, também conhecida como espora de cavaleiro, floresceu onde o sangue de Ajax havia caído.

Acredita-se que as letras A I A, as iniciais de Ajax, apareçam nas pétalas das flores como uma lembrança de Ajax.


8. Heléboro ou rosa de Natal


Oi
Heléboro ou rosa de Natal. Helleborus o gênero eurasiano de plantas com flores consiste em aproximadamente 20 espécies de plantas perenes herbáceas ou perenes na família Ranunculaceae

Na mitologia grega, o heléboro era usado pelos antigos para uma variedade de fins medicinais, incluindo o tratamento de paralisia, gota e até insanidade.

Anel do primeiro século (sec. I c. A.D.) Melampus purificando as filhas de Proetus. Lysippe, Iphinoe e Iphianassa. (Médailles et Antiques de la Bibliothèque Nationale de France).o


Melampus, adivinho e curandeiro e seu irmão Bias, usaram o heléboro para curar a loucura das três filhas do rei Proetus de Argos, Lisippe, Ifinoe e Ifianassa e outras mulheres gregas, que, depois de serem amaldiçoadas por Dionísio, deus do vinho, perderam a cabeça e sairam em fúria pelas montanhas e deserto de Tiryns, acreditando serem vacas!

Como pagamento, Melampus e seu irmão Bias, acumularam um terço da riqueza de Argos, quando se casaram com as princesas que haviam curado, reivindicando assim seu dote. (Dionysus, god of wine).
 


9. Jacinto ou Hyacintho

Hyacinthus é um pequeno gênero de plantas perenes bulbosas que florescem na primavera. São plantas perfumadas da família Asparagaceae, subfamília Scilloideae e são comumente chamadas de jacintos. O gênero é nativo da área do Mediterrâneo oriental desde o sul da Turquia até a parte norte de Israel, embora mais tarde tornou-se amplamente naturalizado.






Jacinto ou Hyacinth, um pequeno gênero de plantas  com flores  perfumadas da família Asparagaceae, subfamília Scilloideae.

Este mito grego, em essência, é o mesmo que o mito do açafrão, apenas diferindo nos personagens.

Apolo, modelo da beleza masculina, foi também o ícone para o amor homoerótico grego. Teve muitos amantes, vários deles transformados em plantas, assim como
Dafne.
 
Quando Apolo viu o jovem espartano, apaixonou-se a primeira vista. O deus Sol acompanhava o belo jovem a qualquer lugar que fosse, conduzia os cães na caçada, levava a rede para a pescaria, seguia-o pelas montanhas, jogava com ele, e treinava jogos olimpicos com ele, chegando a esquecer-se do seu arco e de sua lira por causa do belo e jovem espartano. 

Certa vez, os dois se divertiam jogando disco numa campina. Zéfiro, o Vento Oeste, também amava perdidamente Jacinto, e ostentava o seu ciúme esperando uma hora para poder vingar-se da dupla de apaixonados.

Esperou até que tocasse a vez de Apolo arremessar o disco. Apolo então lançou o disco com tamanha habilidade para os céus que Jacinto, olhando admirado e muito excitado com o jogo, correu para apanhá-lo.

Nesse momento então Zérfiro, decidiu vingar-se. Soprou com toda a força, desviando o pesado objeto metálico de seu rumo, e levou-o direto para a fronte do jovem espartano, que caiu morto instantaneamente. 

Desesperado, Apolo correu até o corpo ja sem vida de Jacinto e com toda sua habilidade médica tentou curá-lo, mas os ferimentos  na cabeça do jovem estavam além de qualquer habilidade, além de qualquer cura possível. Apolo sentiu-se tão culpado pela morte de Jacinto que viveria para sempre com ele em sua memória. 

Assim que o sangue de Jacinto, que escorria do ferimento, encharcou o solo, a relva se transforma numa flor colorida tão bela quanto a púrpura tíria, uma flor semelhante ao lírio, mas roxa, sanguínea. Ela possui o nome Jacinto e renasceria em toda primavera murchando infalivelmente no princípio do inverno, relembrando assim, seu trágico destino. 

A maioria das estátuas e pinturas de Apolo nos mostram um homem jovem, no auge de sua força e beleza, muitas vezes nu ou vestindo um manto, também podendo estar com uma coroa de louros na cabeça, com o arco e flechas, ou uma cítara ou lira nas mãos. De Tebas e Delfos encontram-se estátuas datadas do inicio do sec. VII. Do século VI uma das mais célebres entre todas as obras é a de Praxíteles, cujas feições o artista modelou nos traços selecionados de sete belos atenienses. Tornou-se famosa a estátua do Apolo do Belvedere, conservada até hoje em Roma, no Museu do Vaticano. Em Roma, onde pelo menos desde os inícios do século IV a.C, já se cultuava o filho de Leto, Apolo acabou por tornar-se o protetor pessoal de Augusto, o primeiro imperador romano, este mandou-lhe construir um templo no monte Palatino bem ao lado do palácio imperial (Brandão:1991,94). Cristo é representado em mosaicos dos primeiros séculos como deus solar, num profundo sincretismo com a figura luminosa e pura de Apolo. 

“A lira tocada por minha mão, e minhas verdadeiras canções
sempre vai te celebrar. Uma nova flor
você se levantará, com marcas em suas pétalas,
imitação próxima dos meus gemidos constantes:
e virá outro a ser ligado
com esta nova flor, um herói valente deve
ser conhecido pelas mesmas marcas em suas pétalas”.

E enquanto Febo, Apolo, cantava estas palavras
com seus lábios que dizem a verdade, contemple o sangue
de Jacinto, que se derramou sobre
o chão ao lado dele e ali manchou a grama,
foi mudado de sangue; e em seu lugar surgiu uma flor,
mais bonita que a tintura de Tyro.
Quase parecia um lírio, não fosse
aquele roxo e o outro branco.

Mas Febo não ficou satisfeito com isso.
Pois foi ele quem operou o milagre
de suas tristes palavras inscritas em folhas de flores.
Estas letras AI, AI, estão inscritas neles. 
E Esparta certamente se orgulha
por honrar Hyacinthus como seu filho;
e sua amada fama perdura; e todos os anos
eles celebram seu festival solene. 

Assim, o sangue de Hyacinth tornou-se a flor roxa de jacinto, e foi comemorado no festival de Hyacinthia, em Esparta e por toda a Grécia.


Giovanni Battista Tiepolo (1696–1770), A morte de Hyacinthus, c .1752-53, óleo sobre tela, 287 × 232 cm, Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid, Espanha. (Wikimedia Commons).

Alexander Kiselyov. A morte de Jacinto

Eutimides, 490 a.C. Zéfiro e Jacinto

Jean Broc, A morte de Hyacinthos, 1801.

Peter Paul Rubens (1577–1640), A morte de Hyacinth, 1636, óleo sobre painel, 14.4 × 13.8 cm, Museo Nacional del Prado, Madrid, Espanha. 

Jan Cossiers (1600-1671). Death of Hyakinth


Apolo e Jacinto

Domenichino, Apollo e Hyacinth., 1771. Engraving and Etching. 
197mm X 375mm (Foto: Royal Academy of Arts. London)

Outra versão do mito, conta que uma tarde, quando Apollo e Hyacinth estavam treinando lançamento de disco. Apolo faz um lançamento para o alto e querendo  exibir-se para seu amante Apolo, Hyacinth correu para pegar o disco, Zephyrus viu sua chance de se vingar dos dois amantes e tirou o disco do curso soprando uma rajada forte de vento, fazendo com que o disco acertasse Jacinto, ferindo-o mortalmente na fronte. Apolo correu em socorro de seu amado, mas nada mais podia fazer. Até para os deuses existe um limite. Apolo pôs-se chorar pela for da perda de uma vida e por ter sido ele a jogar o disco, acertando Hyacinth, suas lágrimas, que caíam no chão, iam se transformaram em flores lindamente coloridas e perfumadas, os jacintos, que celebram o amor de Apolo e sua tristeza pela perda do amante.

Apolo, o deus Sol, modelo masculino grego, foi apaixonado e muito amado por mortais e imortais, homens e mulheres. segundo Apolodoro (III, 10, 3, 2016, p. 185). Apolo era apaixonado pelo jovem Jacinto, filho de Amiclas e Diomede. Verdade seja dita, que Jacinto também era amado por muitos, graças a sua beleza e juventude, e um espírito sempre generoso e cortês para com todos. Nas brincadeiras ao ar livre, Zéfiro, o deus vento do oeste, sempre estava por perto de Jacinto, a soprar favoravelmente, na esperança de dividir a atenção do menino, escoltado continuamente pelo deus Sol Apolo. 

O imortal arqueiro, por sua vez, acompanhava o menino em todos as atividades, fossem de trabalho, de diversão ou de caça. Nunca se tinha visto um deus segurando a guia de um cão ou um mortal pregando peças num deus. Quando junto ao amigo, Apolo esquecia das armas, da lira, do Parnaso e das Musas. Certo final da tarde, ambos se divertiam junto ao promontório desprovido de árvores, nas proximidades de Esparta, quando resolveram lançar o amplo disco que carregavam.

Foi Febo quem, balançando-o, primeiro o arremessou
para o alto, rasgando, com o peso, as nuvens
que encontrou pela frente. Bom tempo depois, de novo
cai a pesada massa na terra dura, deixando entrever
a perícia aliada à força. Logo, movido pela paixão
do jogo, o imprudente jovem de Tênero
se precipita a apanhar o disco, mas a dura terra, Jacinto,
repelindo o peso, projeta-o contra o teu rosto. Empalidece
o deus da mesma forma que o jovem e recolhe o corpo caído.
(OVÍDIO, X, 178-186, 2017, p. 539-540).

“The lyre struck by my hand, and my true songs
will always celebrate you. A new flower
you shall arise, with markings on your petals,
close imitation of my constant moans:
and there shall come another to be linked
with this new flower, a valiant hero shall
be known by the same marks upon its petals.”
And while Phoebus, Apollo, sang these words
with his truth-telling lips, behold the blood
of Hyacinthus, which had poured out on
the ground beside him and there stained the grass,
was changed from blood; and in its place a flower,
more beautiful than Tyrian dye, sprang up.
It almost seemed a lily, were it not
that one was purple and the other white.
But Phoebus was not satisfied with this.
For it was he who worked the miracle
of his sad words inscribed on flower leaves.
These letters AI, AI, are inscribed
on them. And Sparta certainly is proud
to honor Hyacinthus as her son;
and his loved fame endures; and every year
they celebrate his solemn festival.”


O deus Sol, de belos cachos dourados, do Oráculo de Delfos, das previsões, da música, da poesia e da cura, tudo faz para salvar a vida do seu amigo e amante, tudo em vão. O frágil e delicado corpo do belo espartano se inclina, a cabeça de Jacinto dobra-se sobre o ombro, tal como um lírio se dobra antes de desabrochar, ou se dobra sobre à haste quando sua flor fenece. E Apolo, incapaz de lutar contra o destino, culpando-se por tanto amar, desabafa: “Pudesse eu dar minha vida em vez da tua ou dar a vida contigo! Visto que, pela lei do destino, sou neste ponto impedido, hás de sempre estar comigo, hei de sempre ter-te na minha boca” (Ovídio, X, 202-204, 2017, p. 541)

No mesmo instante em que a dor no peito parece romper as entranhas de Apolo, o sangue que escorre do ferimento mancha uma erva ali plantada, da qual nasce uma flor. Um lírio, antes branco, de pureza primordial, cor de prata, agora, cor de púrpura. Uma linda flor que sempre brota quando a primavera retorna, renovando a lembrança do grande amor de Apolo por Jacinto. Dizem que Zéfiro se arrependeu de ter ventado mais forte naquela tarde, e que ele também se lembra de Jacinto. Quando os campos se tingem de púrpura, ele passa, quente e delicado, afagando as pequenas pétalas.



Stefano Ricci. Apollo e Hyacinthus 

10. Iris

Iris L. 1753, é um género de plantas com rizoma, da família Iridaceae, com mais de 300 espécies. Esse gênero apresenta espécies com flores muito apreciadas pelas suas variadas e vívidas cores, muito usadas em paisagismo e jardinagem.

A palavra íris vem do grego: ἶρις, îris. Linnaeus, observando a ampla cor das flores dessa espécie, nomeou o gênero em homenagem à deusa grega que personifica o arco-íris, Íris, a mensageira dos deuses.

Guy Head, c. 1793. Iris Carregando a Água do Rio Styx para o Olimpo para que os Deuses pudessem fazer seus juramentos. (Guy Head, c. 1793. Iris Carrying the Water of the River Styx to Olympus for the Gods to Swear(WP).

Os membros deste gênero são plantas perenes herbáceas que crescem a partir de rizomas rastejantes (íris rizomatosas) ou, em climas mais secos, de bulbos (íris bulbosas). 

Uma flor da planta do gênero Íris. (WP)

Íris (WP)

Possuem hastes florais longas e eretas, que podem ser simples ou ramificadas, sólidas ou ocas e achatadas ou com seções transversais circulares. As folhas, em número de 3 a 10, em forma de espada, formam uma massa densa na parte basal da planta. As espécies bulbosas têm folhas basais cilíndricas. O fruto é uma cápsula com numerosas sementes que se abre em três partes quando seca (ovário trilocular). No sul do Brasil temos o gênero Herberthia e a espécie Herbertia lahue (Molina) Goldblatt, popularmente chamada de “bibi” dessa mesma família cujos bulbos são comestíveis.  

Herbertia lahue (Molina) Goldblatt, popularmente conhecida como “bibi”. 



Iris, o maior gênero da família Iridaceae com 300 espécies.

A íris tomou seu nome da palavra grega para arco-íris, ίριδ-irida, que também é o nome da deusa grega do arco-íris, Íris.

Íris significa olho do céu, e recebeu esse nome da deusa grega do arco-íris, da fertilidade, das cores, do mar, da heráldica, céu, deusa da verdade e dos juramentos. Diziam os antigos que ela era a portadora das mensagens entre a Terra e Zeus, a mensageira entre a Terra e os céus.  Levava mensagens da Terra para o casal divino no Monte Olimpo; Zeus e a deusa Hera. (goddess Hera.)

Era dito que Iris, usava o arco-íris como uma ponte entre o céu e a terra, alguns dizem que os gregos antigos acreditavam que o arco-íris era o manto multicolorido de Iris, enquanto outros acreditavam que as flores de íris multicoloridas eram parte de seu manto ou o véu esvoaçante de Iris.

As cores mais comuns encontrdas nas flores de íris são roxo ou azul, embora sejam encontradas em amarelo, rosa e vermelho, os antigos gregos plantavam flores de íris roxas nos túmulos das mulheres, acreditando que atrairiam a Deusa Íris para levar seus entes queridos em sua jornada para o além, para os campos Elísios.

Íris é a mensageira dos deuses para os seres humanos; neste contexto ela é frequentemente mencionada na Ilíada, mas jamais na Odisseia, onde Hermes toma o seu lugar (WP)

O casamento de Íris com Zéfiro (Deus do vento) foi entrelaçado com muita paixão. Íris e Hermes eram rivais em tudo, depois de terem se amado por muito tempo e ele a trair com Afrodite. Então Íris e Hermes se separaram e ela foi seduzida por Zéfiro. Embora casada, Íris é considerada uma virgem. A divindade do arco-íris não somente seguia as ordens de Hera, tanto quanto focava em ligar o mundano com o celeste do Monte Olimpo, acabando por não ter tempo para uma relação amorosa (WP).

Íris é representada como uma virgem com asas de ouro, que se move com a leveza do vento de um lado para outro do mundo, nas profundezas dos oceanos e ao Submundo de Hades. Ela é especialmente a mensageira da deusa Hera, e é associada com Hermes. Íris era frequentemente descrita como a dama de companhia e mensageira pessoal de Hera. Nos vasos gregos, é representada como uma bela moça com asas douradas, um kerykeion (bastão de mensageiro) e, às vezes, um oinichoe (jarro de vinho). Geralmente aparecia ao lado de Zeus ou de Hera, às vezes servindo o néctar do seu jarro. Como a copeira dos Deuses do Olimpo, Íris é frequentemente indistinguível de Hebe na arte. Para os gregos, que na maioria viviam perto do mar, o arco-íris era mais frequentemente visto cobrindo a distância entre as nuvens e o mar e por isso imaginavam que a Deusa reabastecia as nuvens de chuva com água do mar. (WP)

Não era uma deusa considerada maléfica, apesar de, nas histórias, ter ajudado Hera junto de Lyssa (A Loucura) a acabar com a família de Hércules.


11. Lírio

O gênero Lilium é um gênero de plantas herbáceas que crescem a partir de bulbos, todos com grandes e proeminentes flores. São os verdadeiros lírios. Os lírios são um grupo de plantas com flores que são importantes na cultura e na literatura em grande parte do mundo. A maioria das espécies é nativa do hemisfério norte temperado, embora seu alcance se estenda até os subtrópicos do norte. Muitas outras plantas têm “lírio” em seus nomes comuns, mas não pertencem ao mesmo gênero e, portanto, não são lírios verdadeiros.

A espécie Lilium longiflorum e L. candidum L. 1753, é uma planta herbácea, de caule ereto, que se desenvolve de bulbos escamosos. Suas folhas longas e estreitas, que amarelecem e secam depois da floração. Os frutos são cápsulas com numerosas sementes. As flores, às vezes perfumadas, ora são totalmente brancas, ora matizadas, ora salpicadas de manchas que parecem pingos de tinta, numa ampla combinação de cores que vai do rosa ao marrom-avermelhado (modif. biomania).

Lilium candidum L. 1753

Dentre as espécies mais conhecidas no Brasil destacam-se o lírio-branco (L. longiflorum), a açucena (L. candidum), o lírio-real (L. regale), o lírio-tigrino (L. tigrinum) e o lírio-martagão (L. martagon). Todas essas espécies apresentam porte de cerca de um metro (1,0m) de altura. A propagação é feita pela separação dos “filhotes” que os bulbos velhos produzem, pelo plantio das escamas que os constituem, pelos bulbilhos que às vezes se formam e por sementes. Esse plantio é feito em areia. 

Lírio. Lilium candidum L. 1753  
Um gênero de planta herbácea com bulbos e 
flores brancas grandes vistosas.

Reino: Plantae
Clado: Angiospermas
Clado: lilliopsidas
Ordem: Liliales
Família: Liliaceae
Subfamília: Lilioideae
Gênero: Lilium

Lírios brancos silvestres (Parchen)

O lírio foi dedicado à deusa Hera, a deusa das mulheres, do casamento, da família e do parto, e a esposa de Zeus, deus do céu, relâmpagos e trovões na Grécia Antiga, governante de todos os deuses no Monte Olimpo.






Lírio. Lilium candidum L. 1753  

Zeus, não o melhor dos maridos, estava tendo um caso com Alceme, uma mera mortal, o resultado final sendo que ele gerou o herói grego Hércules (the Ancient Greek hero Hercules.)


O nascimento da Via-Láctea. Peter Paul Rubens (1577–1640)

Zeus, como qualquer pai, queria apenas o melhor para seu filho bebê e sabia que nada superava o leite de Hera, sua esposa, quando se tratava de criar deuses gregos, mas como ele poderia persuadir Hera a nutrir o filho de um caso extra-conjugal e ilícito?  Havia apenas uma maneira de fazer isso sem que Hera soubesse. Zeus drogou Hera, esperou que ela caísse em um sono profundo e colocou Hércules em seu peito. Hera, porém, acordou sobressaltada e atirou longe o bebê que se amamentava nela. O leite, jorrando de seu peito, borrifado pelos céus, acabou formando a Via Láctea, as poucas gotas que caíram na Terra, brotaram como plantas que logo floresceram em brancas flores de lírio. O lírio simboliza pureza, beleza e dependendo da cor ou tipo, o lírio envia mensagens diferentes, o branco é de modéstia, pureza e virgindade, laranja é de paixão e amarelo de alegria.


12. Flor de Lotus

Nelumbo nucifera (Gaertn), também conhecido como lótus indiano, lótus sagrado, ou simplesmente lótus, é uma das duas espécies existentes de plantas aquáticas da família Nelumbonaceae. Às vezes é coloquialmente chamado de nenúfar, embora isso se refira mais frequentemente a membros da família Nymphaeaceae. As plantas de lótus são adaptadas para crescer nas planícies de inundação de rios lentos e áreas do delta de rios. Bancadas de lótus jogam centenas de milhares de sementes todos os anos no fundo do lago. Enquanto algumas brotam imediatamente, e a maioria é comida pela vida selvagem, as sementes restantes podem permanecer dormentes por um longo período de tempo, à medida que a lagoa se infiltra e seca. Durante as condições de inundação, os sedimentos contendo essas sementes são quebrados e as sementes dormentes se reidratam e começam uma nova colônia de lótus.

Nelumbo nuciphera (Gaertn)
(WP)

Nelumbo nuciphera (Gaertn)
(Foto: Shin, WP)

Sob circunstâncias favoráveis, as sementes desta planta aquática perene  podem permanecer viáveis por muitos anos, com a germinação de lótus mais antiga registrada a partir de sementes de 1.300 anos recuperadas de um leito seco de lago no nordeste da China. Portanto, os chineses consideram a planta como um símbolo de longevidade. 

Tem uma distribuição nativa muito ampla, variando do centro e norte da Índia (em altitudes de até 1.400 m ou 4.600 pés no sul do Himalaia), através do norte da Indochina e leste da Ásia (norte até a região de Amur; as populações russas têm por vezes referido como Nelumbo komarovii Grossh., com locais isolados no Mar Cáspio.(WP)

Reino: Plantae
Clado: Tracheophytes
Clado: Angiosperms
Clado: Eudicots
Ordem: Proteales
Familia: Nelumbonaceae
Genus: Nelumbo
Espécie: Nelumbo nucifera (Gaertn.)

Nelumbo nuciphera (Gaertner)
(Foto: T.Voekler)

O nome grego para lótus é λωτός, lotos.
Na mitologia grega, os comedores-de-lótus, λωτοφάγοι, lotofagoi, eram uma raça de humanos que viviam em uma ilha dominada pela árvore de lótus, os frutos e flores de lótus eram o principal alimento da ilha e estes eram um narcótico poderoso, fazendo com que os habitantes dormissem em apatia pacífica. 

Heródoto, o historiador grego do século V a.C., estava convencido de que os comedores de lótus não eram um mito, mas uma realidade e existiam em sua época, em uma ilha na costa da Líbia.

Na Odisseia de Homero, Odisseu e seus homens, depois de escapar da ilha da bruxa Circe, refugiam-se na terra dos Comedores de Lótus, cujos habitantes viviam exclusivamente de uma dieta de flores de lótus, que se acreditava ser o lírio aquático azul egípcio, Nymphaea nouchali var. caerulea (Savigny) Verdc., 1989) (WP), um tipo de lírio aquático do genêro Nymphaea; também foi especulado que eles podem ter comido papoulas. 

Odisseu, uma vez que ancoraram nesta ilha misteriosa, enviou alguns de seus homens para procurar suprimentos e verificar os habitantes locais.

Ulisses removendo seus homens da companhia dos comedores de lótus. Gravura francesa do século XVIII autoria desconhecida.

Os nativos, de índole generosa e descontraída, logo, ao conhecerem esses estranhos, ofereceram-lhes flores de lótus, que os marinheiros aceitaram alegremente, dez minutos depois, eles não tinham nenhuma preocupação com mais nada no mundo.

O tempo passou, Odisseu ficou cada vez mais preocupado com seus homens e despachou outro grupo de homens, para ver o que estava acontecendo com o primeiro grupo, o tempo, novamente, passou e Odisseu pensou consigo mesmo se você quer que um trabalho seja feito direito, faça você mesmo, e partiu para encontrar seus homens.

Encontrou-os divertindo-se com os nativos, logo percebeu o que havia acontecido e, recusando a oferta dos nativos dessas flores de lótus mágicas e inebriantes, reuniu seus homens e os conduziu de volta ao navio.

Uma vez a bordo do navio, os homens começaram a recuperar os sentidos, lembraram-se do povo amigável da ilha e quiseram voltar, Odisseu, que já estava farto dessas coisas, amarrou seus homens e partiu imediatamente, para nunca mais voltar.
Flor de lótus sagrada (significados)

A simbologia da flor de lotus. Uma de suas virtudes mais apreciadas é o que ela representa como símbolo. Sua flor esta associada à pureza do corpo e da mente, à pureza espiritual e ao renascimento. Uma das flores mais belas, nasce em meio à lama, inspirando um caminho de purificação e de transcendência em relação a tudo que é considerado impuro no mundo. 
A água lodosa que acolhe a planta é associada ao apego aos bens materias e aos desejos carnais, e a flor imaculada que desabrocha sobre a água em busca da luz e abre suas pétalas para a fecundação e produção de sementes,  é a promessa de pureza e elevação espiritual.

No budismo, Buda é simbolizado em estátuas sobre uma flor de lótus, remetendo justamente a essa ideia da transcendência do mundo comum (representado pela lama, pelo lodo), ou seja, a iluminação perante a confusão mental (dualidade da mente).

Simbolismo da flor de lotus e suas cores

Lótus Azul
Remete para o triunfo do espírito em relação aos sentidos, significa sabedoria e conhecimento. Esta flor nunca revela o seu interior, porque está quase sempre totalmente fechada.

Lótus Branca
Está relacionada com a perfeição do espírito e da mente, estado de pureza total e natureza imaculada. Normalmente é representada com 8 pétalas.

Lótus Vermelha
Revela a candura e a natureza original do coração. Esta flor corresponde às qualidades do coração, como o amor, paixão e compaixão. É também conhecida como a flor do Buda da Compaixão, Avalokitesvara.

Lótus Rosa
Apesar de muitas vezes ser confundida com a flor de lótus branca, a lótus rosa é a mais importante e especial de todas as lótus, estando relacionada com personagens divinas, como é o caso do Grande Buda.

A flor de Lótus fechada ou em botão é um simbolismo das infinitas possibilidades do Homem, enquanto que a flor de lótus aberta representa a criação do Universo.


13. Narcissus, narciso

Narcisus do grego Νάρκισσος, Narkissos, é um gênero de plantas perenes que floresce predominantemente na primavera da família das Amaryllis, família Amaryllidaceae. Vários nomes comuns, incluindo narciso, narciso e junquilho (daffodil, narcissus and jonquil) são usados ​​para descrever todos ou alguns membros do gênero. 



Narcissus (culturamix)

Narcisus tem flores conspícuas com seis tépalas semelhantes a pétalas encimadas por uma corola em forma de taça ou trombeta. As flores são geralmente brancas e amarelas, também ocorrem cores laranja ou rosa em variedades de jardim, com tépalas e corola de cores uniformes ou contrastantes.

Os Narcissus eram bem conhecidos na civilização antiga, tanto medicinal quanto botanicamente, mas formalmente descritos por Linnaeus em seu Species Plantarum de 1753. O gênero é geralmente considerado como tendo cerca de dez seções com aproximadamente 50 espécies. O número de espécies tem variado, dependendo de como são classificadas, devido à semelhança entre as espécies e à hibridização. O gênero surgiu algum tempo no final do Oligoceno ao início do Mioceno, na Península Ibérica e áreas adjacentes do sudoeste da Europa. 

A origem exata do nome Narcissus é desconhecida, mas muitas vezes está ligada a uma palavra grega para embriagado (narcóticos) e ao mito do jovem grego com esse nome que se apaixonou por seu próprio reflexo. A palavra inglesa "daffodil" parece ser derivada de "asphodel", com a qual era comumente comparada. Entretanto Asphodelus L. 1753, é um gênero de plantas com flores principalmente perenes na família Asphodelaceae.

Narcissus pseudonarcissus L. 1753
(foto: Lukas Kaffer, S.lukas) 

As espécies são nativas de prados e bosques no sul da Europa e norte da África, com um centro de diversidade no Mediterrâneo Ocidental, particularmente na Península Ibérica. Tanto as plantas selvagens quanto as cultivadas se naturalizaram amplamente e foram introduzidas no Extremo Oriente antes do século X. Os narcisos tendem a possuir bulbos de vida longa, que se propagam por divisão. Suas flores são polinizadas por insetos e produzem sementes. 

Relatos históricos sugerem que os narcissos foram cultivados desde os primeiros tempos da civilização humana ocidental, mas tornaram-se cada vez mais populares na Europa após o século XVI e no final do século XIX eram uma importante cultura comercial centrada principalmente na Holanda.


Narcissus 
Narcissus, um gênero de plantas perenes que floresce na primavera da família  das Amaryllidaceae.(Foto: texas_mustang - Flickr)

Nicolas Poussin (ca. 1629-1630) Eco e Narciso, Museu do Louvre, Paris.


O mito grego sobre a flor de narcissos é um conto de advertência sobre o excesso de admiração a si mesmo.

Narcissos ou “o auto admirador”, em grego clássico: Νάρκισσος, Narkissos, na mitologia grega, era filho da ninfa Liriope, Λιριόπη ou Leiriope em grego antigo: Λειριόπη; é uma náiade beócia de Thespiae, que provavelmente era filha de um dos deuses rio da Beócia ou Fócio. 
Liriope foi estuprada pelo deus rio Cephissus, que era filho de Pontus e Thalassa, e deu à luz a um filho chamado Narcissos.

O nome de Liriope significa "rosto do narcissos" das palavras gregas leirion "narcissos" e ops "rosto". 
Seu filho também recebeu o nome da flor  narkissos. Leiron e narkissos podem ser a mesma planta ou podem representar duas espécies diferentes de narcissos.

Liriope foi provavelmente identificada com Lilaia, a ninfa Náiade das nascentes do rio Kephisos.

Narcissos era um herói do território de Téspias, famoso por sua grande beleza física e seu orgulho e indiferença.  No dia do seu nascimento, seus pais consultaram o adivinho cego, Tirésias de Tebas, que vaticinou que Narcissos seria muito feliz e teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura. 

Segundo Ovídio, Narcissos era um rapaz plenamente dotado de beleza. Seus pais eram o deus do rio Cefiso e a ninfa Liríope. Dias antes de seu nascimento, seus pais resolveram consultar o oráculo Tirésias de Tebas, para saber qual seria o destino do menino. E a revelação do oráculo foi que ele teria uma vida feliz e longa, desde que nunca visse seu próprio rosto.

Jan Roos. Narciso na Primavera.
Narciso olhando para seu próprio reflexo.
(WP)

Narcissos cresceu, e se transformou um jovem bonito de Beócia, que despertava amor tanto em homens quanto em mulheres, mas era muito orgulhoso e tinha uma arrogância que ninguém conseguia quebrar. 

Até as ninfas se apaixonaram por ele, incluindo uma chamada Eco, uma oréade, uma espécie de ninfa ligada às montanhas que foi criada pelas musas e de quem se dizia que sua voz era capaz de falar as vozes mais bonitas e doces do mundo.

Eco se apaixona assim que vê o rapaz. Mas o jovem a menosprezou imediatamente como fazia com todos que dele se aproximasse. 

Narcissos, não tinha tempo para meninas, nem para os meninos. Ele estava muito ocupado consigo mesmo e desprezava os avanços de todos seus pretendentes, sejam eles quem fossem. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las. 

Para dar uma lição ao rapaz frívolo, a deusa Némesis, a justiça divina, neste caso um aspecto de Afrodite, o condenou a apaixonar-se pelo seu próprio reflexo em uma fonte. Encantado pela sua própria beleza, Narcissos deitou-se no barranco do rio e definhou, olhando-se na água e se embelezando. Depois da sua morte, Afrodite o transformou numa flor, o Narcisso.

Numa outra versão do mito, um contemporâneo de Ovídio, também termina em suicídio (Narrações, 24). Nele, um jovem chamado Amínias apaixonou-se por Narcissos, que já havia rejeitado seus pretendentes anteriores. Narcissos também rejeitou-o e presenteou-lhe com uma espada. Amínias suicidou-se à porta de Narcissos. Ele tinha rogado aos deuses para dar a Narcissos uma lição por toda a dor e sofrimento que provocou. 
Narcisso passou por uma remanso do rio e decidiu beber um pouco. Nesse momento ele viu seu reflexo e tornou-se fascinado por ele mesmo e se matou porque ele não poderia ter seu objeto de desejo.

Como Pausânias também nota, outra história conta que a flor narciso foi criada para atrair Perséfone, que era filha de Deméter, para longe das suas companheiras e permitir que Hades a raptasse.

Pausânias acha incrível que alguém não conseguisse distinguir um reflexo na água, de uma pessoa verdadeira, e cita uma variante menos conhecida do mito, na qual Narcissos tinha uma irmã gémea. Ambos se vestiam da mesma forma e usavam o mesmo tipo de roupas e caçavam juntos. Narcissos apaixonou-se por ela. Quando ela morreu, Narcissos consumiu-se de desgosto pela perda de sua companheira diária, e fingiu que o reflexo que via na água era sua irmã e foi ao encontro dela  suicidando-se nas água escuras e profundas do rio. Onde o seu corpo se encontrava, apenas restou uma flor: o narcisso.

Segundo Frazer, a origem do mito pode ser muito antiga, compartilhada pelos indo-europeus, e relacionada a lendas de outros povos, como os zulus da África, segundo os quais o reflexo representa a alma, que é roubada por bestas da água.

Alexandre Cabanel. A ninfa Echo.

A ninfa Echo tentou o seu melhor para chamar a atenção de Narcissus, sem sucesso. Em uma última tentativa vendo-o sozinho na floresta um dia, Echo criou coragem e jogou os braços em volta dele. Narciso, apanhado de surpresa, exclamou "Tira suas as mãos de mim! Eu preferiria morrer do que ficar com voce!"

Mortificada de vergonha, Eco correu para se esconder na floresta e, a partir de então, viveu em uma caverna, seu corpo definhando de tristeza; seus ossos se transformaram em rochas, não restava nada além de sua voz, com a qual ela repetia tudo o que ouvia ser chamado pelos transeuntes, ela se tornara o seu próprio homônimo, um Eco.

John William Waterhouse, 1903. Narcissus e a ninfa Echo.

Quando, Nêmesis, a deusa da vingança e da justiça divina, ouviu falar do comportamento abominável de Narcissus em relação a Eco, ela queria retribuição, ela atraiu Narcissos para uma lagoa, onde ele viu seu próprio reflexo e instantaneamente se apaixonou loucamente por ele. Totalmente absorto em seu reflexo na água, Narcissus perdeu o equilíbrio e caiu na lagoa, onde se afogou.

No local onde Narcissus estava sentado olhando para seu reflexo na água, apareceu uma flor, o narcisso, uma flor que simboliza o egoísmo e a frieza de quem se tem a visão única e completa de si mesmo não se importando com mais ninguém.

Νάρκισσος, Narkissos, ναρκῶ, narkō

O narcisismo tem o seu nome derivado de Narcissos e ambos derivam da palavra grega ναρκῶ, narkō, ναρκε, narke "entorpecido, para entorpecer", de onde também vem a palavra narcótico.

Desta forma, para os gregos, Narcissos simbolizava a vaidade e a insensibilidade, visto que ele era emocionalmente entorpecido por si mesmo, entorpecido às solicitações daqueles lhe dirigiam sua atenção, carinho e afeto; aqueles que se apaixonaram pela sua beleza.

Entre os múltiplos fenômenos que compõem nossa existência, talvez nenhum outro tenha adquirido um caráter tão negativo, tão patológico e indesejável quanto o narcisismo. Ser narcisista significa estar no outro extremo do ideal cristão de amor ao próximo, do desprendimento e da humildade, em favor do amor a si mesmo. Daí porque o narcisismo gera tanta repulsa. Ninguém quer ser qualificado como narcisista. Narcisistas são os outros. A sociedade é narcisista, perversa.

Mas, afinal, se o narcisismo está em toda parte, qual a sua origem e o que significa? (Araujo, 2010)

O termo “narcisismo” entra definitivamente para o discurso psicanalítico, quando Freud no seu ensaio: "Sobre o Narcisimo: Uma Introdução", publicado pela primeira vez em 1914, abre caminho para o entendimento do narcisismo como elemento constitutivo do amor-próprio e da autoestima sendo portanto, destinado à autopreservação do sujeito (formação de um Ideal do Eu) e formação dos laços sociais.

Esse aspecto intrínseco à personalidade (narcisismo primário e secundário) e, inclusive, o seu caráter positivo, tem sido pouco explorado desde então (Greco, 2008).

Por isso Narcissos não simboliza apenas mera negatividade: o mito de Narciso representa o drama da individualidade. Ele mostra, isto sim, a profundidade de um indivíduo que toma consciência de si mesmo, em si mesmo e perante a si mesmo, ou seja, no lugar onde experimenta os seus dramas humanos.


14. Orquídea

A família Orchidaceae abrange cerca de 7% das angiospermas, sendo considerada uma das maiores famílias desse grupo. A família apresenta cerca de 850 gêneros e 20.000 espécies distribuídas por todo o mundo, mas apresentando sua maior diversidade nos trópicos. No Brasil ocorrem cerca de 2.300 espécies distribuídas em 191 gêneros. A maioria das orquídeas é epífita, porém, existem espécies rupícolas, terrícolas, palustres e mico-heterotróficas. Essa diversidade de formas de vida possibilita a ocupação de diferentes tipos de ambientes, uma vez que orquídeas podem ser encontradas em formações vegetais diversas (USP, s/d). 

As flores em Orchidaceae são geralmente zigomorfas e possuem três sépalas e três pétalas, sendo que uma delas é diferenciada em labelo. Os órgãos reprodutivos são fundidos em uma estrutura, a coluna, com uma ou mais raramente duas ou três anteras e uma região estigmática formada pela fusão dos três estigmas. Na maioria das orquídeas os grãos de pólen são reunidos em duas a oito polínias, e estas, em conjunto com o viscídio (e estipe, em alguns gêneros), que é a extremidade adesiva responsável pela fixação ao polinizador, formam o polinário. O polinário é separado do estigma por uma região denominada rostelo. Em orquídeas vanilóides, em representantes da subfamília Aspostasioideae, e em algumas Epidendroideae basais, o polinário é formado por mônades ou tétrades livres e estruturas como viscídio e estipe estão ausentes (USP, s/d).

A família Orchidaceae está dividida em 70 subtribos, 22 tribos e cinco subfamílias baseadas principalmente no número e na posição da antera. Essas subfamílias, de acordo com a classificação de Dressler (1993) são: Apostasioidae, Cypripedioideae, Epidendroideae, Spiranthoideae e Orchidoideae. Em tratamentos mais recentes, baseados na análise de regiões de DNA e caracteres morfológicos, o número de subfamílias é mantido, porém, Spiranthoideae e Orchidoideae foram consideradas como uma única subfamília (Orchidoideae), e Epidendroideae tem sido dividida, sendo criada a subfamília Vanilloideae. (USP, s/d).

As orquídeas são facilmente distinguidas de outras plantas, pois compartilham algumas características derivadas muito evidentes ou sinapomorfias. Entre eles estão: flor zigomorfa ou zigomorfismo, flor com simetria bilateral, muitas flores ressupinadas, uma pétala quase sempre altamente modificada chamada labellum, estames e carpelos fundidos e sementes extremamente pequenas.

Θεόφραστος Ἐρέσιος. THeophrastos de Eresos (371- 287 aC) (WP)
Estátua de Theophrastos no Jardim Botânico de Palermo, Itália.

O nome Orquídea vem do grego antigo, ὄρχις, orchis, que significa testículo.  A palavra "orchis" foi usada a primeira vez por Teofrasto (372 – 287 a. C.), em sua obra "De historia plantarum" (A história natural das Plantas). Ele atribuiu o nome aos dois tubérculos arredondados, que pareciam semelhantes aos testículos humanos, o que conferiu uma crença aceita por milénios de que as orquídeas eram afrodisíacas e fez com que as mulheres gregas usassem as raízes das orquídeas para determinar o sexo de seus bebês; Se o pai comesse tubérculos grandes e novos, a criança seria do sexo masculino; se a mãe comesse tubérculos pequenos, a criança seria do sexo feminino.

Teofrastro foi discípulo de Aristóteles e é considerado o Pai da Botânica e da Ecologia.

Domínio: Eukarya
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Asparagales
Família: Orchidaceae
Subfamília: Orchidoideae
Tribo: Orchideae
Subtribo: Orchidinae
Género: Orchis Tourn. ex L. 1753

Cattleya labiata Lindl. 1821
(foto: CC BY-SA 2.5, WP1, 2 )

Cattleya labiata rubra Schuller
(Foto: Dalton Holland Baptista, WP)

Laeliocattleya 
(Foto: D Ramey Logan, WP)

Phalaenopsis (WP)

Como o gênero Orchis foi o primeiro gênero de orquídeas a ser formalmente descrito, dele derivou o nome de toda a família.  O botânico francês Joseph Pitton de Tournefort (1656-1708) nomeou o gênero Orchis em 1719 e Lineu manteve o nome, em 1753. A espécie-tipo é a orquídea-soldado, Orchis militaris Tourn. ex L. 1753, que poderia ser traduzido como "testículo de soldado."

Em sua Matéria Médica (Περὶ ὕλης ἰατρικῆς, Peri Hyle Iátices, Lat. De Maria Medica), o médico grego do primeiro século d.C. Dioscorides (Πεδάνιος Διοσκουρίδης, Pedánios Dioskourídēs, c. 40–90 AD), considerado o pai da famacognosia, levantou a hipótese de que as orquídeas influenciavam a sexualidade. Desde então, as pessoas associam a planta à virilidade, fertilidade, determinação do sexo e outros aspectos da reprodução, inspirados talvez pela aparência exótica, fragrância e aspecto francamente erótico das partes sexuais de sua flor. O inglês vitoriano John Ruskin chamou as flores de “aparições lascivas”.

Durante a era vitoriana, as orquídeas eram encontradas apenas nos trópicos e eram extremamente raras. Portanto, os vitorianos colecionavam orquídeas exóticas como sinal de luxo e gosto refinado. Quando dado como um presente, quanto mais rara a orquídea, mais profundo seu amor e paixão eram pelo receptor.

Estudiosos europeus antigos acreditavam que as orquídeas brotavam do solo em que os animais se reproduziam. Eles acreditavam que as orquídeas eram o alimento de sátiros e por isso eram afrodisíacos poderosos. Na China e no Japão antigos eram reverenciados por seu valor estético e artístico, além de serem  consideradas emblemas de integridade, elegância e amizade. Confúcio comparou a flor da orquídea ao homem superior e seu perfume aos prazeres da amizade. 
Confúcio tambem incluiu a orqídea em seus ensinamentos:

“As orquídeas crescem nas matas e exalam sua fragrância mesmo que não haja ninguém por perto para apreciá-la. Da mesma forma, homens de caráter nobre não permitirão que a pobreza impeça sua vontade de serem guiados por altos princípios e moral.” (Confúcio)

“The orchids grow in the woods and they let out their fragrance even if there is no one around to appreciate it. Likewise, men of noble character will not let poverty deter their will to be guided by high principles and morals.” (Confucius)(ftd)

Nos tempos modernos, o gênero Paphiopedilum foi nomeado para Phaphos, um templo onde a deusa do amor Afrodite era adorada.

As orquídeas têm sido usadas como fonte de alimentos, remédios, amuletos religiosos, adesivos, perfumes, palha e aromatizantes, a baunilha sendo a mais difundida, além de afrodisíacos. Acredita-se que curem febre, artrite, disenteria, tosse, dores de cabeça e feridas em muitas partes do mundo. Eles são transformados em um remédio para elefantes doentes na Malásia e uma espécie de sorvete na Turquia (onde seu nome significa “testículos de raposa”) que dizem prevenir a cólera, curar o baço e facilitar o parto (orchidshade).

Embora as orquídeas tenham a reputação de serem símbolos de fertilidade e elegância, as orquídeas de cores diferentes têm uma gama diversificada de simbolismos.

As orquídeas brancas simbolizam inocência e pureza, bem como elegância e reverência.
Orquídeas cor de rosa simbolizam feminilidade, graça e alegria.
Orquídeas amarelas simbolizam amizade e novos começos. Eles são grandes presentes para um amigo comemorar uma conquista.
As orquídeas roxas simbolizam realeza e admiração, e são tradicionalmente dadas como sinal de respeito.
As orquídeas laranja simbolizam orgulho, entusiasmo e ousadia.



Mito de Orkheos ou Orkhis

Órquis era um semideus muito lindo, filho de um sátiro com uma ninfa. Com sua beleza, ele conseguia todas as mulheres que desejava. Durante um festival em honra ao deus Dioniso, ao receber um não de uma sacerdotisa, Órquisse embebedou e tentou possuí-la à força. Como punição, o semideus foi atacado por feras enviadas pelas moiras (entidades que determinam o destino dos humanos e dos deuses). Bela na superfície, mas com dois "testículos" subterrâneos para lembrar o pecado cometido. Orchis, um semideus, era filho de uma ninfa e de um sátiro, que, durante as loucas e selvagens celebrações dionisíacas, cometeu o ato indescritível de tentar estuprar uma sacerdotisa. 

Sua punição era ser arrancado membro a membro por animais selvagens. Onde as partes de seu corpo caíram, uma planta carnuda extraordinária lançava raízes; as flores retratavam a beleza de Orchis, enquanto os dois tubérculos bulbosos simbolizavam o pecado que ocasionou seu infortúnio.


15. Peônia

Peônias são plantas herbáceas com flores no gênero Paeonia, criado por Linnaeus em 1753, o único da família Paeoniaceae criada pelo naturalista Constantine Samuel Rafinesque. 

O gênero tem ampla distribuição natural nas regiões temperadas do Hemisfério Norte, estando presente na Eurásia, Norte de África e oeste da América do Norte. 

Peônia segundo Mattioli (1501-1577) em: “Os herbários no século XVI. Algumas considerações sobre imagens. (Coltri, 2016)

As fronteiras entre espécies deste género são pouco claras faltando estudos para se delimitar o real número de espécies, razão pela qual as estimativas do número total de espécies variam de 25 a 40. São principalmente plantas herbáceas, perenes, com 0,5m a 1,5 m de altura, mas algumas são arbustivas, com 1,5 a 3 m de altura.

Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Saxifragales
Família: Paeoniaceae
Género: Paeonia L. 1753

Peônia (@OInscendence)

Buquet de Peônias

Peônia 

Peônia (@OInscendence)


O gênero Paeonia L. 1753, de planta com flores, o único gênero da família Paeoniaceae.

A palavra peônia vem do grego antigo, Paián, Παιάν, Παιήων, Paieon, ou Παιών, Paión  é o médico dos deuses gregos. 

Flor de uma beleza deslumbrante, a peônia, como um símbolo, possui dezenas de significados. Os significados mais notáveis e antigos da peônia são: riqueza e nobreza (de coração e material), romance, prosperidade, boa sorte, um casamento feliz, riquezas, honra e compaixão, mas peônias também podem significar timidez. Existem dois mitos comuns sobre a peônia. 

As peônias são nativas da China, onde são altamente valorizados e muitas vezes são chamados de “reis das flores” e “rainha do jardim”. Também um presente ofertado no décimo segundo aniversário, de casamento (12 anos juntos) porque a peônia simboliza honra, fortuna e um relacionamento feliz. Também na China, as peônias foram plantadas próximo das Cortes Imperiais durante as dinastias Sui e Tang. É por isso que eles simbolizam honra, nobreza e riqueza. Outros significados comuns para peônia são: prosperidade e boa sorte.

Numa versão do mito é dito que Paeon era um médico incrivelmente talentoso e observador, fazendo uso de tudo que aptendeu com seu professor o deus Asclepius e suas proprias observações das plantas, usou a raiz de uma planta chamada Peonia para curar o deus Plutão (Hades). 

Seu professor, o deus da medicina Asclepius (Esculaipus), desenvolveu uma raiva assassina alimentada pelo ciúme e tentou matá-lo. Como um discípulo poderia ter sido mais esperto, inteligente e observador que seu professor e deus da medicina?  

No memento que Paeon ia ser morto, Zeus, rei de todos os deuses, interveio e, mostrando sua compaixão, transformou o jovem médico numa flor de beleza deslumbrante e inigualável para que todos soubessem quem tinha sido Paeon em vida e para que fosse admirado.

Na Ilíada, Paieon cura os deuses Ares quando este foi ferido por Diomedes durante a Guerra de Tróia, e curou Hades, de um ferimento uma flecha disparada por Héracles em Pylos, com ervas medicinais. 

No Canto IV da Odisseia, Homero afirma sobre o Egito:

“... Lá a terra, doadora de grãos, tem o maior estoque de medicamentos, muitos dos quais são a cura quando misturados, e muitos que são perniciosos; lá cada homem é um médico, mais sábio que toda a espécie humana; pois eles pertencem à raça de Péon.

Hesíodo identifica Péon como divindade individual na seguinte passagem:

A menos que Febo Apolo o salve da morte, ou o próprio Péon, que conhece os remédios para todas as coisas.

Com o tempo, Péon tornou-se um epíteto de Apolo, em sua capacidade retirar a doença e, portanto, propiciado como um deus da cura. Com o passar do tempo, Péon tornou-se também um epíteto de Esculápio, o deus-curador.

Ajudou Hefesto a se livrar de uma doença que estava contagiando todos os deuses e que nem Apolo, o deus da cura, sabia o que era. Com isto, recebeu a benção de Hefesto e se tornou um deus menor da forja. Por ter ajudado os deuses numa horas dificil de doença, Zeus, tornou-o imortal e livre de qualquer tipo de morte. 

Por isso, um dos significados da peônia é a compaixão. 

Em outro mito, o nome da flor vem da ninfa Paeonia. Apollo foi atraído por ela e ela flertou com ele. Quando ela viu que Afrodite estava assistindo, ela ficou tímida. Afrodite a transformou em peônia vermelha. A peônia vermelha simboliza assim a timidez e a vergonha. 

O mito da ninfa Peônia 

O mito dessa flor maravilhosa, liga a planta a uma ninfa. A história descreve a bela ninfa sedutora de beleza indescritível e irresistível, chamada Paeonia. 

Peonia era muito amada pelos deuses pela sua beleza e formozura. Devido à sua beleza excepcional, Apollo, o deus Sol morria de amores por ela. Um dia Apolo, flertando com Peonia estava ajoelhado a seus pés, quando Afrodite pega os dois em flagrante. 

Dizem que Paeonia corou, envergonhada, quando Afrodite flagrou ela e Apolo flertando. Isso, infelizmente para Peonia, enfureceu ainda mais Afrodite.

Afrodite, deusa do amor, da beleza, do prazer, da paixão e da procriação, não era muito conhecida por sua lealdade ou fidelidade, e que na época mesmo casada com Hefesto, deus grego dos ferreiros, estava tendo um caso extraconjugal com Apolo, o deus sol. Enraivecida pela ninfa ter deixado Apolo se aproximar dela, desenvolveu uma raiva assassina alimentada pelo ciúmes. Por vingança transformou a bela ninfa Paeonia em uma peônia vermelha de mil pétalas.

A flor tornou-se símbolo de beleza, romantismo, feminilidade e também símbolo da timidez. 

Nos tempos antigos, acreditava-se que suas sementes eram capazes de curar vinte doenças, incluindo a epilepsia. Acredita-se que seja bom para as mulheres em TPM, contra cólicas, mas também era usado para desencadear aborto espontâneo. Também foi usado contra doenças respiratórias e dores de estômago.

Paeonia sufruticosa L. 1753
(Foto: 663highland, WP)

Paeon era um curandeiro, ou médico grego, que estudava sob a instrução de Asclépio, o deus da medicina.


16. Papoula

Papaver rhoeas L., 1753, a papoula selvagem, é uma espécie de planta herbácea anual com flores vermelho escarlate do gênero Papaver, pertencente à família Papaveraceae, nativa do norte da África e zonas temperadas da Ásia e Europa.  

Os três estágios em uma flor de papoula comum: botão, flor e cápsula.
(Foto: Alvesgaspar, WP)

Reino: Plantae 
Clado: Tracheophytes 
Clado: Angiospermas 
Clado: Eudicotiledoneae 
Ordem: Ranunculales 
Família: Papaveraceae 
Gênero: Papaver 
Espécie: Papaver rhoeas L. (1753)

Papaver rhoeas é uma planta anual ereta, formando um banco de sementes de longa duração que pode germinar quando o solo é perturbado. No hemisfério norte, geralmente floresce no final da primavera e inicio do verão (entre maio e outubro no Reino Unido), mas se o clima estiver quente o suficiente, as flores aparecem ainda florescer no início do outono. Ela cresce até cerca de 70 cm de altura. As hastes sustentam flores únicas, que são grandes e vistosas, com 5–10 cm de diâmetro,  com quatro pétalas que são vermelho vívidas, mais comumente com uma mancha preta em seu centro ou base. As pétalas estão ligeiramente  sobrepostas. A planta pode produzir até 400 flores em uma estação quente, que duram apenas um dia. O caule da flor é geralmente coberto com pêlos grossos que são mantidos em ângulo reto com a superfície, ajudando a distingui-la da espécie Papaver dubium, no qual os pêlos são mais comumente inclinados (ou seja, mantidos próximos ao caule). As cápsulas são glabras, obovóides (em forma de ovo). Como muitas outras espécies de Papaver, a planta exuda látex branco a amarelado quando os tecidos são injuriados ou cortados.

Campo de papoulas 
(Foto: Manuel Martín Vicente, WP)

Papoulas

Claude Monet, 1876. Campo de papoulas.

Claude Monet, 1885. Campo de papoulas em Giverny.

A palavra grega para papoula é παπαρούνα, paparouna.

Na Grécia Antiga, a papoula era um símbolo do sono e da morte, associada a Morfeu, deus do sono e dos sonhos, e Deméter, deusa da agricultura.

Morfeu dormiu em uma caverna cheia de sementes de papoula enquanto moldava sonhos e é por isso que o medicamento à base de ópio, usado para insônia, além de dor, é conhecido como morfina. 

Diz-se que Deméter, a deusa da colheita, criou a papoula para que ela pudesse dormir, Teócrito, poeta siciliano, c. 300 a.C, descreveu um dos papéis anteriores de Deméter como o de uma deusa das papoulas e em muitos mitos, as papoulas eram usadas como oferendas aos mortos, pois pensava-se que sua cor escarlate brilhante significava a promessa de ressurreição após a morte.

Em uma estátua de barro de Gazi, Creta, “A deusa minóica da papoula” usa sementes de papoula em sua coroa, consideradas fontes de nutrição e narcose.

Algumas fontes dizem que Rhea, a mãe da deusa e sua filha, Deméter, trouxeram a papoula de seu culto cretense para Elêusis e é quase certo que no círculo de culto cretense, o ópio era derivado das papoulas.

Deusa  Demeter e as papoulas.


17. Rosa

A rosa é uma das flores mais populares no mundo. Vem sendo cultivada pelo homem desde a Antiguidade. A primeira rosa cresceu nos jardins asiáticos há 5.000 anos. Na sua forma selvagem, a flor é ainda mais antiga. Celebrada ao longo dos séculos, a rosa, símbolo dos apaixonados, também marcou presença em eventos históricos importantes e decisivos. Fósseis dessas rosas datam de há 35 milhões de anos.

Rosa desabrochando

Rosa
(Foto: Benjamin D. Esham)

Biologicamente, as rosas pertencem à família Rosaceae, e ao gênero Rosa L. 1753. Apresenta mais de 100 espécies, e milhares de variedades, híbridos e cultivares. São arbustos ou trepadeiras, providos de acúleos (falsos espinhos). As folhas são simples, partidas em 5 ou 7 lóbulos de bordos denteados. As flores, na maioria das vezes, são solitárias. Apresentam originalmente 5 pétalas, muitos estames e um ovário ínfero. Os frutos são pequenos, normalmente vermelhos, algumas vezes comestíveis.

Reino: Plantae
Clado: angiospérmicas
Clado: eudicotiledóneas
Clado: rosídeas
Ordem: Rosales
Família: Rosaceae
Género: Rosa L. 1753

Na igrega Católica Romana a rosa é um componente simbólico do Santo Rosário. É relatado que o Beato Angélico enquanto rezava o rosário na rua viu a Santíssima Virgem com um grupo de anjos e eles estão oferecendo canções e louvores enquanto faziam uma coroa de rosas. Surpreso com a visão interrompeu sua oração e os anjos pararam; começando a rezar novamente, viu os anjos tambem reiniciaram a compor a coroa de rosas para oferecer a Maria. Ainda no cristianismo, o folclore cristão, vê a rosa vermelha como um símbolo do sofrimento de Cristo com as 5 pétalas de uma rosa simbolizando suas 5 chagas.
Fra Angelico, Giovanni da Fiesole, nascido: Guido di Pietro Trosini (WP), mais conhecido como Fra Angelico, Vicchio di Mugello, 1395, Roma, 18 de Fevereiro de 1455; foi um pintor italiano, beatificado pela Igreja Católica, considerado o artista mais importante na época do Gótico Tardio ao início do Renascimento. O Papa João Paulo II indicou sua festa liturgica para dia 18 de fevereiro e o declarou como padroeiro universal dos artistas) (WP).

Rosa rubiginosa L. 1753
(Foto: Stan Shebs)

Na Idade Média era tradição colocar uma rosa no teto da sala de reuniões como sinalização de que os assuntos a serem tratados deveriam ser mantidos em segredo. Com o tempo esse costume, foi modificado e ao invés de usar rosa de verdade, passou-se a pintá-la no teto das salas e, assim, esta flor começou a fazer parte da decoração de muitas casas de arquitetura clássica. No Cristianismo, a rosa simboliza a virgem Maria, por seu significado de pureza, castidade e virtude. No catolicismo, a rosa é um componente simbólico do Santo Rosário, segundo a devoção católica cada vez que se reza uma Ave Maria é entregue uma rosa a Maria Santíssima.
Na Alquimia, a rosa representa a Alma. No símbolo da Rosa Cruz, a Cruz representa o trabalho interno e o aperfeiçoamento e a Rosa, o desabrochar espiritual. 

A rosa representa doação e amor, por isso as pessoas costumam presentear quem amam com essa planta.

No cristianismo, a rosa é símbolo do coração de Cristo. A rosa é símbolo do segredo guardado, pois é uma flor que se fecha sobre seu coração.
Na Mitologia Egípcia, a rosa é consagrada a Ísís, que é retratada com uma coroa de rosas.

A Rosa na Mitologia Greco-Romana, estava associada à Afrodite ou Vênus (para os romanos), deusa do amor e da beleza. Segundo a Mitologia Grega, Afrodite nasceu das espumas do mar, e a espuma que caiu do corpo da deusa quando ela se levantava das água se transformaram em rosas brancas para saudar a deusa do amor.

Em outra história conta-se Afrodite correu entre a relva e arbustos para socorrer seu amado Adônis, que estava muito ferido, ela acabou se ferindo nos espinhos das roseiras, seu sangue começou a escorrer tingindo de vermelho, as rosas brancas.

O sangue respingado nas brancas rosas, resultou em rosas vermelhas. E estas se converteram no símbolo de paixão (sofrimento) e desejo.

Para os romanos as rosas eram uma criação da deusa da Primavera e das Flores chamada Flora. Segundo lenda da Mitologia Romana, quando uma das ninfas, da deusa Flora, morreu, ela a transformou em flor e pediu para os outros deuses ajudarem nessa transformação, então, Apolo deu vida à flor, Bacus o néctar, Pomona o fruto e, assim, surgiu a rosa.

As cores das rosas e seus significados:

Amarela: amor incondicional, lealdade, amizade e fraternidade
Azul: amor profundo e espiritual, sentimento de transcendência e harmonia
Branca: inocência, pureza, paz a a humildade
Champanhe: admiração, simpatia, elegância e graciosidade
Rosa: gratidão, delicadeza, afetividade e sensibilidade
Vermelha: paixão, energia, determinação e força
Laranja: entusiasmo, discernimento e foco
Verde: esperança, vitalidade e equilíbrio
Violeta: serenidade, autodomínio,dignidade, nobreza de caráter e conexão espiritual
Pretas: separação, tristeza e luto cinzentas: tristeza, passividade, frieza e racionalidade
Coral: imaginação e idealização. (greenme)


Rosa. Uma planta perene lenhosa do gênero Rosa L. 1753, da família Rosaceae.

 Dante Gabriel Rossetti (1868), Vênus Verticordia, mostrando a deusa Afrodite cercada por rosas vermelhas. (WP)

Emblema para “A Ordem Mundial dos Socialistas” (The World Order of Socialists) com uma rosa vermelha substituindo o escudo de armas (o vermelho significa a fraternidade entre os trabalhadores e entre os povos do mundo), mostrando um aperto de mão estendido sobre um globo racionalmente concebido e desenhado em azul, ao fundo um Sol nascente dourado, representando o nascer de um novo dia. Projetado por Walter Crane, c. 1915 (WP).

Desde a década de 1880, a rosa vermelha tem sido um símbolo do socialismo. A origem da rosa como símbolo do socialismo está relacionada à sua associação com a cor vermelha. Desde pelo menos 1848, na França, o vermelho tem sido associado ao socialismo. Após a Revolução Francesa de 1848, os socialistas pressionaram para que a bandeira vermelha da revolução fosse designada como bandeira nacional francesa. Os republicanos, porém, prevaleceram e a bandeira tricolor francesa permaneceu como bandeira nacional. O governo provisório, como compromisso, decretou que: “Como sinal de mobilização e como lembrança de reconhecimento pelo último ato da revolução popular, os membros do governo provisório e outras autoridades usarão a roseta vermelha, que também será colocada em o mastro.”
Durante a Comuna de Paris em 1871, a bandeira vermelha solidificou a sua ligação com o socialismo quando foi hasteada como a bandeira do governo dos Communards, de curta duração. Após o colapso da Comuna de Paris, o Chanceler alemão Bismarck, por medo da crescente força dos socialistas na Alemanha, fez com que o parlamento aprovasse leis anti-socialistas para suprimir as actividades do Partido Social Democrata. Como parte das leis anti-socialistas de 1878, a exibição de emblemas do Partido Social Democrata foi proibida. Para contornar a lei, os social-democratas usavam um pedaço de fita vermelhas nas casas dos botões, o que levou a detenções e a prisões de quem usasse esse símbolo. Posteriormente, os as fitas foram substituídas por botões de rosa vermelhos pelos social-democratas. Essas ações, no entanto, também resultaram em detenções e penas de prisão. A juistiça alemã decidiu que, em geral, todos têm o direito de usar qualquer flor que lhe agrade, mas quando os socialistas, como grupo, usam botões de rosa vermelhos, isso se torna um emblema do partido, e como tal podem ser punidos sob a lei vigente.

Moedas das Ilhas Carianas. Rodes. ca de 304-190 aC. Tetradracma. Representação de uma Rosa, magistrado acima da rosa, a palavra: ΘAPΣYTAΣ, à esquerda uma águia com as asas abertas segurando com as garras raios, e a direita um ramo com um botão de rosa.

A palavra grega para rosa é τριαντάφυλλο, triantáphyllo, ou ρόδο, rodo. Na mitologia grega, diz-se que a rosa, é a rainha das flores, e foi criada pela deusa das flores, Chloris, que dizia respirar rosas enquanto falava.
Um dia, enquanto Chloris estava vagando pela floresta, ela se deparou com o corpo sem vida de uma jovem ninfa linda de tirar o fôlego. Chloris ficou muito triste com a perda de tão requintada beleza e, sentindo compaixão pela pobre ninfa, transformou-a em uma flor, para que sua beleza continuasse viva. Chloris convocou os deuses, seus amigos, Afrodite (Vênus), deusa do amor, e Dionísio, o deus do vinho para ajudá-la. Como seu presente, Afrodite deu a beleza da flor, Dionísio ofereceu néctar para dar um perfume doce, Zéffiro, deus do Vento Oeste, soprou as nuvens, permitindo que o sol de Apolo, o deus do sol, brilhasse para ajudar a flor a florescer.

Chloris (Flora), primeiro século A.D. Fresco romano em Pompéia.

A rosa, a flor da paixão e do amor, também está associada a Afrodite, a deusa do amor. Quando as lágrimas de Afrodite caíram no chão, quando ela chorava por seu amor, Adônis, mortalmente ferido. Suas lágrimas se tornaram a flor que hoje chamamos de rosa. De acordo com o poeta Anacreon, rosas brancas surgiram da espuma do mar que caiam do corpo de Afrodite (Vênus) quando ela se levantou do mar. A cor branca simbolizava sua inocência e pureza, mais tarde em sua vida.


ROSA 
Letra e música 
Pixinguinha e Otávio de Souza 


Tu és divina e graciosa 
Estátua majestosa
Do amor, por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor 
De mais ativo olor
Que na vida é preferida 
Pelo beija-flor

Se Deus me fora tão clemente 
Aqui neste ambiente
De luz, formada numa tela 
Deslumbrante e bela
Teu coração, junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado 
Sobre a rósea cruz 
Do arfante peito teu

Tu és a forma ideal 
Estátua magistral
Oh alma perenal 
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor 
Em sândalos olentes 
Cheios de sabor
Em vozes tão dolentes 
Como um sonho em flor
És láctea estrela 
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor 
Da santa natureza

Perdão se ouso confessar-te 
Eu hei de sempreamar-te
Oh flor, meu peito não resiste
Oh meu Deus, o quanto é triste
A incerteza de um amor 
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia ao pé do altar
Jurar aos pés do Onipotente 
Em preces comoventes
De dor, e receber 
A unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos 
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer 
De todo fenecer


18. Girasol 

O girassol, espécie, Helianthus annuus  é uma planta anual da família das Asteraceae, gênero Heliantheae. Está situado na tribo Heliantheae, subtribo Helianthinae. É cultivada pelo seu óleo e frutos comestíveis. O nome é derivado do formato de sua inflorescência.

Reino: Plantae
Clado: angiospérmicas
Clado: eudicotiledóneas
Ordem: Asterales
Família: Asteraceae
Género: Helianthus L. 1753
Espécie: Helianthus annuus

Girassol ou Heliotrópio. Helianthus L. 1753, é um gênero de plantas que compreende cerca de 70 espécies. (Horticultureisawesome)

A palavra grega para girassol é ηλιάνθου, Helianthus, das palavras ηλιά, Helian,  Sol e άνθου, anthos, flor.

O mito grego, de como surgiu o Girassol ou Heliotrópio, conta a história da ninfa do mar, Clytie, um conto de amor não correspondido.

Clytie, filha do deus do mar titã Oceanos, estava loucamente apaixonada por Helios, que desenha o sol no céu todos os dias.

Infelizmente para Clytie, Helios estava de olho em Leucothoe, outra ninfa do mar e abandonou Clytie, que, magoada e irritada com a perda de seu amor, Helios, contou ao pai de Leucothea, Orchamus, o que sua filha estava fazendo.

Orchamus, um homem orgulhoso, não queria ser envergonhado por sua filha e, como era a norma naqueles dias, matou Leucothoe enterrando-a viva na areia.

Uma formosa ninfa das águas, filha de Oceano e de Tétis, Clície,  Κλυτίη, ou Clytia κλυτός, significa glorioso, renomando. Ela era uma dos 3.000 Oceanids, portanto irmã dos Potamoi (deuses dos rios). Se enamorou do deus Sol quando o viu caminhando pela extensão dos céus. Ela vivia só para olhar sua resplandecente luz. Ao tocar sua pele o calor de seus raios, a ninfa pensava que ele lhe enviava uma carícia, e isso a faziam sentir-se feliz. 
O deus Hélio também se enamorou de Clície, mas abandonou-a logo que conheceu outra mulher: Leucóthoe.

Com raiva e amargura, ela revelou o caso ao pai da menina, indiretamente causando sua condenação quando o rei a enterrou-a viva na areia. 

Isso não conseguiu trazer Helios de volta para Clythia, e ela ficou olhando amorosamente para ele do chão;

Hélio, ao ficar sabendo do que aconteceu, ficou cheio de ira, menosprezando Clíthya e deixando-a só. Ela por sua vez não deixou de amá-lo e a tentar conquistá-lo de novo. Quando ela foi sentar-se junto a um arroio, seus cabelos longos lhe caíam sobre suas costas e sobre seu rosto, como muitas gotas de água, puras e brilhantes. Esperou que o deus viesse acariciá-la novamente, mas depois do entardecer, quando a Noite se aproximava, o seu amado deus não apareceu. Ao invés, escondeu-se por detrás das nuvens, procurando ignorá-la.

Depois de nove dias de espera, sob o céu nebuloso, passou a chorar intensamente; coberta de lágrimas, com as quais se alimentava, surgiu o gélido orvalho, que desde então haveria de refrescar as flores. E os deuses, apiedados, se perguntaram:

Que faremos agora com a inconsolável ninfa Clythia?
Faremos dela uma flor que siga os passos de Hélio, com esperança.
E os deuses transformaram paulatinamente numa flor que até hoje, vive, girando em torno de si mesma, em busca dos raios do Sol: Heliotropium ou heliotrópio, girassol.

Clythia a se alimentar de suas próprias lágrimas e do orvalho, tornou-se uma linda flor que sempre segue o rumo do sol no céu e vive a espera de Hélio que há de vir toca-lá um dia novamente. Finalmente, seus pés criaram raízes no chão, o rosto transfigurou-se em uma flor  que move-se sobre seu caule de modo a estar sempre acompanhando seu amado Sol em seu curso diário, eternamente conservando o sentimento daquele amor não correspondido.

Sir Frederick Leighton, 1895. Clythia


19. Violeta

O aroma doce desta flor provou ser popular, particularmente no final do período vitoriano e, consequentemente, foi usado na produção de muitas fragrâncias e perfumes cosméticos. Os franceses também são conhecidos por seu xarope de violeta, mais comumente feito de um extrato de violetas. Nos Estados Unidos, este xarope de violeta francês é usado para fazer sobremesas de violeta e marshmallows. O cheiro das flores violetas é distinto, com apenas algumas poucas flores com um odor remotamente semelhante. 

As referências às violetas e à natureza desejável da fragrância remontam a fontes clássicas como Plínio e Horácio, quando o nome 'Ion' era usado para descrever esta flor da qual o nome dos constituintes químicos distintos da flor, as iononas, é derivado. Em 1923, Poucher escreveu que as flores eram amplamente cultivadas tanto na Europa quanto no Oriente por sua fragrância, com flores e folhas sendo coletadas separadamente e extraídas para produção da fragrância para perfumes, e flores também coletadas para uso em xarope galênico de confeitaria e na produção de medicamentos.

As folhas de Viola odorata são comestíveis. Extrato de flor violeta real está disponível para uso culinário, especialmente em países europeus, mas é caro.

Violeta. Viola odorata L. 1753 Viola é um gênero de plantas com flores da família Violaceae. É o maior gênero da família, contendo entre 525 e 600 espécies.

A palavra grega para violeta é βιολέτα, violeta, ou ιόχρους, iochrous.

Os gregos antigos adoravam esta flor delicadamente perfumada. A palavra grega para violeta é io, que também era o nome da filha de Inachos, o primeiro rei de Argos, Io era uma mortal e uma sacerdotisa da deusa Hera, deusa das mulheres, casamento, família e parto, e esposa de Zeus, rei dos deuses gregos.

Zeus, um namorador contumaz, amava Io profundamente, mas ficava preocupado com a lendária ira de sua esposa, Hera, e de forma alguma desejava que ela descobrisse seu caso extraconjugal.

Para iludir Hera, Zeus transformou Io em uma novilha branca (algumas versões do mito dizem que a própria Hera transformou Io).

Io usando chifres bovinos vigiados por Argos por ordem de Hera.

Zeus pelo menos pensou um pouco no bem-estar de Io, e das lágrimas dela criou as flores perfumadas, as violetas, para ela comer. O plano de Zeus, de manter o caso oculto da esposa cabaou saindo pela culatra, de alguma forma, provavelmente usando suas habilidades mágicas, Hera descobriu o que seu marido estava fazendo e implorou a Zeus que lhe desse a vaca como presente, não tendo desculpa para recusar, ele não tinha outra escolha, e Io, a vaca, tornou-se propriedade de Hera.
Hera impediu Zeus de visitar a vaca, mas, enviando Hermes, para distrair Argus Panoptes, um gigante de cem olhos, que Hera havia contratado para vigiar a vaca, Zeus libertou Io, ainda na forma de uma vaca.

Paris Bordone – Zeus and Io – Kunstmuseum, Göteborg

Hera então enviou uma mosca para picar Io, levando-a a vagar pelo mundo sem descanso. Durante suas andanças Io encontrou Prometeu, que aconselhou-a como ela seria restaurada à forma humana e se tornaria a ancestral do maior herói de todos os tempos, Héracles. Io escapou, foi restaurada à forma humana original por Zeus, e deu à luz ao seu filho, Epaphus, e uma filha Keroessa, casou-se com o rei egípcio Telegonus, seu neto, Danaus, acabou retornando à Grécia com suas cinquenta filhas, as Danaids. 
E todos eles viveram felizes para sempre.

Hermes e Io-como vaca.-Lado A de ânfora de figuras negras, datada de 540 a 530 a.C., encontrada na Itália.

Afrodite (Vênus) entrou em uma discussão com seu filho Eros (Cupido), sobre quem era mais bonito, ela ou um grupo próximo de meninas, Eros, sem pensar, respondeu: “as meninas”, o que deixou Afrodite com tanta raiva que ela asfixiou tanto as meninas até que elas ficassem azuis e roxas, e se tornassem violetas.

Átis, um pastor, filho da Mãe dos deuses, Cibele, foi chifrado até a morte por um javali enquanto descansava sob um pinheiro, ou, dependendo do mito que você lê, ele se emasculou e sangrou até a morte.

Dizem que as violetas surgiram de seu sangue e em memória de Átis, os sacerdotes de Cibele se automutilaram ritualmente da mesma maneira.

 Luca Giordano (Naples 1632 – Naples 1705). Cybele

Durante o festival da primavera de Cibele e Átis, um pinheiro foi derrubado, levado ao templo e coberto de violetas.

Durante o terceiro dia do festival, o "Dia do Sangue", o sumo sacerdote cortava seus braços e oferecia o sangue como sacrifício, enquanto seus acólitos se castravam sob a árvore coberta de violeta. Os antigos atenienses consideravam a violeta um símbolo da cidade de Atenas.

Íon, o fundador de Atenas, supostamente estava levando seu povo para Atenas, quando foi recebido por ninfas da água, que o presentearam com violetas como símbolo de seus bons votos. A violeta tornou-se o emblema da cidade e seria difícil encontrar uma casa ou templo ateniense que não fosse adornado com violetas. (the city of Athens).

Leo von Klenze, 1846. The Acropolis of Athens. 

Na mitologia, a flecha de Eros (Cupido), acidentalmente atingiu a violeta, transformando o suco da flor em uma poção de amor erótico.

Os gregos decoravam mesas de banquete com violetas, acreditando que as flores podiam evitar a embriaguez, e coroas de violetas eram usadas para curar ressacas, quando se consumia muito vinho tinto.

Violetas também foram colocadas em túmulos de crianças pequenas, pois a flor dava esperança de ressurreição de almas jovens.

Outro mito nos diz que as violetas apareceram pela primeira vez no local onde Orfeu colocou sua lira encantada.


20. Milefolium 

Achillea é uma planta perene herbáceas e arbustiva. Apresentam folhas alternadas, raramente inteiras, geralmente dentadas, às vezes vermiformes. Os capítulos são geralmente dispostos em corimbos densos, raramente solitários, pedunculados a subsésseis, radiados ou raramente discóides. Flores femininas liguladas, férteis, com limbo branco, amarelo ou rosa; tubo mais ou menos achatado. Flores hermafroditas, férteis; corola com cinco lóbulos, branca, amarela ou rosa. Aquênios obovóides, achatados dorsoventralmente, com duas laterais e raramente uma costela adaxial adicional; ápice marginalmente arredondado; pericarpo com células mixogênicas nas costelas, com ou sem sacos de resina longitudinais. Número básico de cromossomos é x = 9 (WP).

Achillea millefolium L. 1753 


Achillea millefolium L. 1753.
A planta de mil folhas de Aquiles, (Foto: WP)

A palavra grega para milefólio é μυριόφυλλο, myriofyllo.

Milefolium, a planta de mil folhas, na mitologia grega, é a planta que Tétis, ninfa do mar e deusa da água, teria adicionado à água do banho, ao banhar seu filho, o antigo herói grego, Aquiles, para que seus poderes de proteção, cubram sua pele e o tornem invencível, uma espécie de colete à prova de balas, por assim dizer.


Pintura de cerâmica policromática grega antiga (que data de c. 300 aC) de Aquiles durante a Guerra de Tróia.

Agora, o mito acima me confunde um pouco, mas nada parece ser tão direto quando se trata de mitologia grega, que, aliás, é interminável. Até onde se sabe, Tétis, mergulhou Aquiles, no rio Estige, cujas águas, dizia-se que traziam invulnerabilidade, mas quando ela o segurou com força pelo calcanhar, enquanto o mergulhava no rio, a água nunca tocou em seu calcanhar. Como resultado, Aquiles era invulnerável em todos os lugares, exceto no calcanhar, que provou ser sua queda; é daí que vem a expressão idiomática “calcanhar de Aquiles”.

Infelizmente, Aquiles não tinha seu cobiçado milefólio à mão, que ele usava para tratar seus soldados feridos, quando foi mortalmente ferido durante as guerras de Tróia, alguns o ouviram dizer: "oh, se eu tivesse um milefólio, certamente sobreviveria".

Aquiles cuidando de Pátroclo ferido por uma flecha, kylix ático de figuras vermelhas, c. 500 aC (Museu Altes, Berlim).

Folhas de milefólio foram usadas em muitos campos de batalha para tratar soldados feridos, o que trouxe nomes comumente usados ​​para milefólio; "ferida do soldado" ou "planta guerreira".

Achillea 
(Foto: André Karwath)

O milefólio, (Yarrow) tem sido usado para tratar feridas, especialmente feridas sangrentas de armas de ferro, desde a Idade Média, as folhas são eficazes em retardar o sangramento, para que o sangue coagule. O mielfólio também é rico em propriedades antibióticas.

O milefólio é um símbolo de amor duradouro, devido ao fato de que leva dois ou mais anos para se propagar através da semente antes de se estabelecer, mas uma vez estabelecido, é uma planta perene forte e duradoura que pode suportar condições e negligência que matariam muitas outras plantas .

Da próxima vez que você admirar um narciso, balançando a cabeça delicada ao vento, ou se curvar para sentir o aroma inebriante do jacinto, ou admirar aquela orquídea requintada, pense nos pobres jovens gregos da Grécia antiga, que deram suas vidas, para que hoje possamos desfrutar da beleza dessas flores.

Inspirado em artigo traduzido do site: Greeker than greek


Figueira 

À figueira, embora não  tenha sido dada um nome relativo a um Deus ou ninfa gregos, aparece em muitos episódios da mitologia grega. Conta-se que um gigante de nome Sycoeo foi transformado por Réia numa figueira, quando era perseguido por Júpiter. Daí o nome da espécie Ficus sycomorus L. ser também conhecido pelo nome de sicômoro, do grego sycon (figo) e do latim morus (amoreira). 

Ficus sycomorus, também chamada figueira dos faraós, é uma árvore de grande porte e fornecedora de boa madeira, originária do sul da Africa, muito comum no vale do Nilo. Os antigos egípcios a usaram na construção de sarcófagos para confinamento de múmias. 

O figo era tão apreciado na antiga Grécia como alimento, que uma ninfa grega era chamada Syke (figo), pela qual o deus Baco se apaixonou. Nas festas de Baco, de onde vem o nome bacanal, era indispensável o falo do grego (phallós), órgão masculino que simboliza a fecundidade, que era feito a partir do lenho de figueira.


(Artigo Inspirado em Greeker than greek

Bibliografia














































https://gruposaojudastadeu.com.br/flores-no-velorio-voce-conhece-o-significado/#:~:text=Fato%20%C3%A9%20que%20no%20vel%C3%B3rio,vida%20e%20seu%20car%C3%A1ter%20tempor%C3%A1rio.












Leitura complementar





(Mapa para encontrar as Três Graças no museu do Louvre)









Escólios

I

Curetes, ou courete (kouretes), meninos, adolescentes, jovens
Δάκτυλοι, Dáktyloi (WP1, ).

Na mitologia grega, os Dáctilos ou Daktyloi do grego antigo: Δάκτυλοι Dáktuloi "dedos") eram a raça mítica arcaica de seres masculinos associados à Grande Mãe, seja como Cibele ou Rhea. Seus números variam, mas muitas vezes eram dez homens-espíritos tão parecidos com os três Korybantes ou os Cabeiri que eram frequentemente intercambiáveis. Os Dáctilos eram  antigos ferreiros e magos curadores. Em alguns mitos, eles estão a serviço de Hefesto e ensinaram metalurgia, matemática e o alfabeto aos humanos.

Quando Ankhiale soube que a hora do parto havia chegado, ela foi para a Caverna Psychro no Monte cretense Ida. Enquanto ela estava de cócoras em trabalho de parto, ela cavou seus dedos na terra (Gaia), que produziu esses daktyloi Idaioi (Δάκτυλοι Ἰδαῖοι "dedos Idaean"), assim, muitas vezes em número de dez, ou às vezes multiplicado em uma raça de dez dezenas. Três é dado com a mesma frequência que seu número. Às vezes, eles são numerados como trinta e três. Quando os gregos ofereciam um juramento solene, muitas vezes eles pressionavam as mãos contra a terra enquanto o proferiam.

Os dáctilos do Monte Ida em Creta inventaram a arte de trabalhar metais em formas utilizáveis ​​com fogo; Burkert supõe que, como as sociedades de deuses menores espelhavam associações de culto reais, as guildas de ferreiros correspondiam aos daktyloi na vida real. De acordo com Hesíodo, eles também descobriram ferro em Creta. Três dáctilos frígios, a serviço da Grande Mãe como Adraste (Ἀδράστη), são geralmente chamados Acmon (a bigorna), Damnameneus (o martelo) e Celmis (fundição). De Celmis, Ovídio (em Metamorfoses IV) conta uma história que quando Rhea (Ῥέα, Rhéa) se ofendeu com um companheiro de infância de Zeus, ela pediu a Zeus que o transformasse em diamante duro como uma lâmina temperada. Zeus concordou obrigado. (Diamante, Adamant na mitologia clássica é uma forma arcaica de diamante. Na verdade, a palavra inglesa diamante é derivada de adamas, via latim tardio diamas e diamante francês antigo. Em grego antigo ἀδάμας (adamas), genitivo ἀδάμαντος (adamantos), literalmente 'inconquistável, indomável'. Naqueles dias, as qualidades do metal duro (provavelmente aço) eram atribuídas a ele e, como resultado, tornou-se inflexível um conceito independente).

As tentativas gregas posteriores de justificar e racionalizar as relações de Dáctilos, Curetas e Coribantes nunca foram totalmente bem-sucedidas. Strabo diz sobre os mitógrafos:

"E eles suspeitam que tanto os Kouretes quanto os Korybantes eram descendentes dos Daktyloi Idaioi; de qualquer forma, os primeiros cem homens nascidos em Creta foram chamados Idaian Daktyloi, eles dizem; e estes nasceram de nove Kouretes, pois cada um deles gerou dez crianças que foram chamadas Idaian Daktyloi."

Os Cabeiri (grego antigo: Κάβειροι), cujo lugar sagrado era na ilha de Samotrácia, foram entendidos por Diodorus Siculus como sendo Dáctilos Idaean que vieram para o oeste da Frígia e cujas práticas mágicas converteram os moradores locais ao seu culto secreto.

Um Dáctilo Idaean chamado Herakles (talvez a primeira encarnação do herói posterior) originou os Jogos Olímpicos instigando uma corrida entre seus quatro irmãos "Dáctilo". Este Hércules era o "polegar"; seus irmãos eram Aeonius (dedo indicador), Epimedes (dedo médio), Iasus (dedo anelar/dedo de cura) e Idas ou Acesidas (dedo mínimo).

Outras leituras

O açafrão era usado nos rituais de Elêusis onde os sacerdotes o utilizavam para preparar uma tintura chamada "crocin". A planta era, também, consagrada a deusas femininas, tais como a Ártemis (ou Artemisa) e Deméter, sendo usada como protectora do casamento e colocada na cama nupcial como auspício de um verdadeiro amor, daí a sua conotação às forças poderosas do amor, ponte intemporal entra a vida e a morte.(floradivina)

Pelas suas capacidades picantes, segundo a mitologia grega, Hermes usou o açafrão como afrodisíaco para despertar a energia e desejo sexual. É, também, uma flor particularmente útil para tratar problemas digestivos. 
Na astrologia essa flor esta associados aos signos de Câncer e Virgem, assim como aos signos de Gémeos e Peixes.

Na mitologia grega alem do mito do jovem espartano Krokos e Hermes e Krokos e Smilax o valor simbólico do açafrão está presente em outros mitos como o mito da sedução de Europa. 

Hesíodo nos conta que Zeus enamorado da princesa fenícia Europa espionava-a num prado verdejante, quando esta descuidada estava a colher flores. Nesse momento ele aproximou-se e, para não ser reconhecido e nem matar a linda jovem, ao ser visto em sua divina, transformou-se num magnífico e dócil touro, que assoprando uma flor de açafrão da sua boca a atraiu para perto de si permitindo o seu rapto.

Segundo a mitologia grega e pelas suas características picantes esta planta está consagrada a Hermes que a usava para despertar a energia e desejo sexual. Porém, a planta também é associada a deusas femininas, tais como Artemisa e Deméter, sendo usada como protetora do casamento e por isso, segundo a tradição, colocada no leito nupcial como auspício de um verdadeiro amor. 

O açafrão é por isso uma planta com um simbolismo duplo, manifesto na eterna dança dos opostos que sempre se reequilibram pelas forças da natureza, do amor e da sua perda, da vida e da morte, e da transformação, indissoluvelmente ligada às forças que regem os ciclos intemporais entre a vida e a morte.
(Fontes: Symbolism of plants, Hinos Homéricos)

As flores de açafrão também foram associadas aos mistérios de Elêusis. Deméter, vendo açafrões dourados flrescidos (possivelmente Crocus chrysantus) ficou com raiva porque esta planta floresceria enquanto sua filha estava no submundo, ao que os açafrões responderam: “A donzela está chegando.” Emocionada, Deméter se adornou com um manto de açafrão branco. Embora muitas versões do mito de Perséfone afirmam que ela tenham colhido narciso Νάρκισσος, Narkissos (Amaryllidaceae) ou um de seus primos, segundo Homero, a flor em questão era o açafrão, provavelmente C. cartwrightianus, que floresce no outono. 

Nas versões onde predomina o açafrão, a flor do açafrão simbolizaria tanto a morte (o açafrão que é a especiaria) quanto o renascimento (o açafrão dourado que anuncia a renovação e a alegria) (Glenn, 2021).

Eos, ou Aurora, é a deusa grega mais associada ao açafrão açafrão. Ovídio se referiu à deusa do amanhecer como “a Mãe Açafrão”. Outros escritores mencionaram seus dedos vermelho-rosados ​​(tingidos de açafrão). Suas vestes douradas foram bordadas com “tecido florido” de acordo com "A Odisséia". 

A Ilíada afirma que Eos coloca suas vestes de açafrão sobre a terra como medida de proteção. 

Eos é uma deusa liminar que existe entre a noite e o dia, então ela harmoniza o fogo (sol) e a água (orvalho). Eos também é uma deusa da guerra, sabedoria e desejo, que teve muitos amantes (Glenn, 2021). 

Interpretações patriarcalistas retratavam essas atividades amorosas como uma deusa fora de controle e uma sequestradora de homens mortais; no entanto, a qualidade afrodisíaca da especiaria com a qual ela está ligada demonstra as conexões entre desejo, amor e o feminino empoderado (Glenn, 2021).

Liminar: que constitui o começo, o início de alguma coisa, esp. que está colocado num livro, numa obra como prefácio; preambular. "notas l." Relativo a, situado em ou que constitui limite ou ponto de passagem (como entre dois locais, dois mundos, duas situações, atividades etc.).

II

Outra planta que ganha os espaços da culinária é o açafrão. Para começar, o verdadeiro e diferente do nosso conhecido por cúrcuma ou açafrão da terra ou ainda gengibre amarelo. Alias, são primos do gengibre, que tem flor branca.

O açafrão verdadeiro (Crocus sativus L. 1753) ou açafrão vermelho é de origem asiática e muito valorizado no mercado mundial. Para obter um quilo são precisos colher cerca de 250 mil flores de cor violeta, de onde são retiradas 3 estigmas avermelhado por flor. Um hectare pode produzir 25 quilos de açafrão. Toda a colheita e preparo é manual, sendo preciso cerca de 400 horas para obter um quilo. Os valores desta especiaria para os de primeira qualidade valem ouro no mercado. O iraniano chega a valer mil euros. O espanhol de melhor qualidade vai a três mil o quilo. No Brasil, a grama vale R$ 70,00 ou 70 mil reais o quilo. Para estabelecer o preço é levado em conta o grau de pureza, safranina, poder de corante, acidez e poder aromático. Rico em ferro, manganês, cálcio e magnésio seu maior valor está na “curcumina” polifenol antioxidante. Há segredos de como usar e é vendido em saquinhos em forma de filamentos e não em pó. O cultivo quer clima quente e seco, não tolerando frio e umidade. Aqui ele é cultivado como flor de jardim.

Os grandes produtores atualmente são Espanha, Irã, Grécia, Turquia e Índia. Na culinária faz parte de pratos típicos como paelhas, risotos, massas, bolos e outros. Mas são utilizados, no máximo, 10 filamentos por prato para colorir e perfumar. É usado em forma hidratada e não diretamente no prato. Tem lá seu segredo culinário para transmitir todo o sabor e cor. Mais do que isto amarga o prato.

Já a cúrcuma (Cúrcuma longa), conhecida também como açafrão da índia (daí a confusão), raiz do sol ou gengibre amarelo. O gengibre tradicional é da mesma família (Zingiberaceae). O pó é retirado da raiz da cúrcuma e, no mercado, tem preço bem mais em conta, para 100 gramas R$3,50 e o quilo puro R$25,00. De fácil plantio, basta pegar um pedaço da raiz e plantar. Mesma forma do gengibre tradicional. Exige solo com boa adubação orgânica e não tolera frio. Aqui deve ser plantado em local protegido do frio e com boa insolação. Ela se expande ao natural e deve ser colhida quando seca a parte aérea da planta, folhas, haste e flores. Retira-se parte do rizoma quando esta na cor amarela mais intensa. Os pedaços podem ser secos em local ventilado e guardados em vidros. Pode ser moído para uso culinário. Vendido em forma de pó para utilização, não é usado filamentos como o açafrão verdadeiro.Existem mais de 100 espécies da família cúrcuma e é usado há mais de quatro mil anos pelo Oriente médio e Ásia na sua medicina tradicional. Fitoterápico potente, tem ação antienvelhecimento e antioxidante, reduz o risco de Alzheimer, possui ação anti-inflamatória e protege diversos tipos de câncer e ajuda o coração. Na internet, tem várias indicações de uso da medicina popular, bem como receitas culinárias e para corantes.
Dica: Pelo valor, o açafrão verdadeiro pode vir adulterado. Uma forma de verificar se é o verdadeiro aqueça água e coloque alguns estigmas. Se ele expandir imediatamente e aparecer às cores é verdadeiro (Indep.2020).


Escólios gerais  

Na mitologia grega, as Graças ou Cárites (no singular Cáris, do grego antigo Χάρις; no plural, Χάριτες, translit. Cárites, 'Graças') são as deusas do encantamento, da beleza, da natureza, da criatividade humana e da fertilidade da dança. Eram filhas de Zeus e Hera, segundo umas versões, e de Zeus e da deusa Eurínome, segundo outras. (Normalmente, elas eram filhas de Zeus e a Oceanide Eurynome. A filiação alternativa pode ser Zeus e Eurydome, Eurymedousa ou Euanthe; Dionísio e Cronois; ou Helios e a Naiade Aegle).

Por sua condição de deusas da beleza, eram associadas a Afrodite, deusa do amor (ou a Vênus, na mitologia romana) e dançarinas do Olimpo. Também se identificavam com as primitivas musas, em virtude de sua predileção pelas danças corais e pela música. Ao que parece, seu culto se iniciou na Beócia, onde eram consideradas deusas da vegetação. O nome de cada uma delas varia nas diferentes lendas. Na Ilíada de Homero aparece uma só Cárite, esposa do deus Hefesto. Apesar das variações regionais, o trio mais freqüente é: Aglaia, a claridade; Tália, a que faz brotar flores; Eufrosina, o sentido da alegria (filosofia). 



Tália, a que faz brotar flores (1).
A palavra grega thalia é um adjetivo aplicado a banquetes, significando rico, abundante, luxuriante e abundante. 

Aglaia (2)


Musa Thalia foi retratada como uma jovem de ar alegre, coroada de hera, usando botas e segurando uma máscara cômica na mão. Muitas de suas estátuas também seguram uma corneta e uma trombeta (ambas usadas para apoiar as vozes dos atores na comédia antiga), ou ocasionalmente um cajado de pastor ou uma coroa de hera. 



Irmãs das Moûsai, sua residência é no Olimpo, ao lado das nove deliciosas filhas da deusa Mnemosýne, que marca seu parentesco luminoso; também nas proximidades é a morada de Deseo, o companheiro frequente de Afrodite. A proximidade é inscrita numa proximidade de identidade, além de geográfica. A referência feminina é tocada em uma constelação luminosa: as Moûsai, as Khárites e a própria Afrodite. A influência atribuída a elas nas tarefas do espírito e das obras de arte completa sua pertença a uma linhagem positiva e diurna. Constituem a personificação de valores positivos como o júbilo, personificada por Aglaya, prazer, por Eufrósina e felicidade, por Talía. Os atenienses só conhecem duas Khárites, ambas associadas à vegetação: Auxo, aquela que faz as plantas crescerem, e Hegemoné, aquela que guia as plantas para fora do solo. Na verdade, elas foram reverenciadas com a intenção de que as colheitas fossem abundantes. Orcómeno, cidade da Beócia, fundada pelo rei Minias, era o local de culto
mais famoso e seu templo era muito próximo ao destinado a Dioniso, perto de uma fonte consagrada à deusa Afrodite. Seu culto era a proliferação de ritos muito antigos, próprios de Orcómeno. O símbolo com o qual estão associados são três grandes pedras caídas do céu no tempo do rei Etéocles. As Caritesias eram as festividades dedicadas às divindades e as conhecemos por inscrições. Eles incluíam aspectos musicais e danças que ocorreriam durante a noite; compreendiam concursos de tragédia e comédia, onde os jogadores de flauta ou cítara rivalizavam entre si. Então, a associação com as artes também é clara. Mas além dessas notícias gerais, nossa intenção é colocá-las no contexto hesiódico e nas projeções que elas terão em outros autores, como por exemplo, Píndaro. Vamos ao texto para ver sua apresentação e sua linhagem matriz diurna a partir de de sua gloriosa mãe. 

τρεῖς δέ οἱ Εὐρυνομη Χάριτας τέκε καλλιπαρῄους,
Ὠκεανοῦ κούρη, πολυήρατον εἶδος ἔχουσα,
Ἀγλαΐην τε καὶ Εὐφροσύνην Θαλίην τ᾽ ἐρατεινήν:
910τῶν καὶ ἀπὸ βλεφάρων ἔρος εἴβετο δερκομενάων
λυσιμελής: καλὸν δέ θ᾽ ὑπ᾽ ὀφρύσι δερκιόωνται.

Tres Cárites le dio a luz Eurínome de hermosas mejillas,
hija de Océano de muy delicioso aspecto:
Aglya, Eufrósine y Talía agradable;
de sus ojos penetrantes se derrama el amor
que afloja miembros; bellamente bajo las cejas miran penetrante. (Teogonía, 907-911)

Como vemos, as Khárites são o fruto do amor entre Zeus e Eurynome. Uma marca remete ao encanto das três meninas, enfatizado pelo adjetivo καλλιπάρηος, belo, com lindas bochechas, relacionado a essa dimensão estética com as Musas que desfrutam do mesmo encanto de sua juventude e beleza. Sua mãe também é referida com um adjetivo de valoração positiva, πολυήρατον εἶδος, de aparência muito gostosa. A sucessão da linhagem entre mãe e filhas é, portanto, semelhante à linha que liga as musas hesiódicas com à sua Mãe gloriosa, Mnemosyne e pertença a um universo feminino de origem diurna. As Khárites estão diretamente ligadas ao Eros como força de coesão; são elas que derramam amor. O campo léxico do verbo εἴβω, derramar, verter, fala de sua generosa capacidade de prover amor, ἔρος. É ele quem solta os membros e o campo do adjetivo λυσιμελής, dá conta exatamente sessa condição. Finalmente, são elas que olham com olhos penetrantes, destacando sua beleza. Mas agora, a dimensão espacial das Khárites merece algumas considerações que afetam diretamente nosso projeto de leitura. É a contiguidade com as Musas que gera uma condição muito particular que começa sendo espacial e depois tem outras derivações.

Θάλεια; Tháleia; "a alegre, a florescente"

Cárites na mitologia grega, graças na mitologia romana eram três jovens de singular beleza, inicialmente deusas da vegetação, depois foram elevadas a deusas do júbilo, alegrica, felicidade, criatividade. Dependendo das versões do mito, eram filha de Zeus e Hera ou de Zeus e Eurínome. 
Eufrosina, do grego antigo, Ευφροσυνη, significa o sentido da alegria era uma das Cárites na mitologia grega. Era a personificação da alegria, era bela e graciosa. 

Na mitologia grega, Aglaia (em grego antigo Ἀγλαΐα, ‘a resplandecente’, ‘a que brilha’, ‘a esplendorosa’, ‘a esplêndida’) era a mais jovem e bela das três Cárites. Simbolizava a inteligência, o poder criativo e a intuição do intelecto.

Era filha, como suas irmãs Eufrosina e Tália (as Graças), de Zeus e da oceânide Eurínome.

Foi esposa de Hefesto, com quem segundo a tradição órfica foi mãe de:

Eucleia (Ευκλεια), deusa da boa reputação e a glória

Eufeme (Ευφημη), deusa do correto discurso

Eutenia (Ευθηνια), deusa da prosperidade e da plenitude

Filofrósine (Φιλοφροσυνη), deusa da amabilidade e a benvinda

Tália (em grego Θάλεια, "a aque traz flores") era uma das Cárites (Graças na mitologia romana). Deusa do brotar e das flores, era bela e graciosa. Dependendo das versões do mito, era filha de Zeus e Hera ou de Zeus e Eurínome, e irmã de Aglaia e Eufrosina.


Na mitologia grega, as flores eram consideradas sagradas e possuíam significados simbólicos. A rosa era associada à deusa Afrodite, a deusa do amor e da beleza. O lírio era associado à deusa Hera, a rainha dos deuses, e simbolizava pureza e inocência. A flor de lótus era associada à deusa Deméter, a deusa da agricultura, e representava renovação e ressurreição. O narciso era associado ao jovem Narciso, que se apaixonou por sua própria imagem refletida na água e acabou se transformando na flor. A flor de cerejeira era associada à deusa Perséfone, que passava seis meses do ano no mundo subterrâneo dos mortos e seis meses na superfície, simbolizando a renovação da vida. As flores também eram usadas em cerimônias religiosas e festivais, como o festival das flores em honra à deusa Deméter. 
Além disso, as flores eram frequentemente mencionadas na literatura grega, como nas obras de Homero e Hesíodo.