INÍCIO

11 novembro 2023

O SILENCIAMENTO DOS JUSTOS

O silêncio de Sâmia Bomfim

Por Moisés Mendes

Os milicianos conseguiram o que deputados da extrema direita tentaram durante todo o ano. Os bandidos calaram a deputada.

Diego, irmão da deputada Sâmia Bonfim, foi assassinado no início de outubro 
(Foto: Reprodução/Redes Sociais)


(7 de novembro de 2023)

O drama pessoal da deputada Sâmia Bomfim é único também pelo seu alcance político. Uma ativista dos direitos humanos e combatente de milícias, grileiros e do crime organizado é calada pelo assassinato do irmão por milicianos.

O Congresso perde com seu silêncio. Todos perdemos. Tiraram a voz de Sâmia, que decidiu pedir licença da atividade parlamentar por não conseguir falar. Mataram o médico irmão de Sâmia em circunstâncias que o mais cruel dos roteiristas de crueldades não conseguiria imaginar.

Matadores profissionais assassinaram Diego Bomfim por engano. E Sâmia, que tem na voz sem assombro a marca da imposição do que diz, foi finalmente calada.

Não há como esperar que a deputada pudesse retomar suas atividades políticas com a mesma vitalidade da combatente que sempre enfrentou os parlamentares cúmplices de bandidos do bolsonarismo.

Mataram o irmão de Sâmia quando pretendiam matar um deles, um dos milicianos. Poderiam ter matado um bandido da turma que corteja os Bolsonaros. Mesmo que fosse por engano, mas que fosse um bandido que está no jogo de guerra e morte que eles promovem.

Mataram o médico irmão da mulher que mete medo neles. Calaram Sâmia enquanto a ex-mulher do policial-miliciano Adriano da Nóbrega fala e conta, em documentário do GloboPlay, uma das últimas conversas que teve com o marido.

Júlia Lotufo diz com naturalidade, como se estivesse falando de algo banal, que o marido gostava mesmo de torturar. Foi o que Adriano disse a ela, quando perguntado sobre o que mais gostava de fazer como policial militar.

Adriano da Nóbrega, homenageado pelos Bolsonaros, com vínculos com a família, foi cercado e executado na Bahia em fevereiro de 2020. E a mulher fala do companheiro aparentemente sem traumas e filtros. Ele gostava de torturar.

A mulher do miliciano fala, e Sâmia não tem o que falar. Não agora. Calaram a deputada no ano da afirmação das vozes femininas, no mais fascista e machista de todos os Congressos, muito mais do que no tempo da ditadura.

Este é o ano de Eliziane Gama, Duda Salabert, Jandira Feghali, Erika Hilton, Fernanda Melchionna, Maria do Rosário, Talíria Petrone, Gleisi Hoffmann, Reginete Bispo. Seria o grande ano de Sâmia.

Ricardo Salles e Coronel Zucco tentaram calar Sâmia na CPI do MST. Outros machos bolsonaristas da mesma turma mandavam que ela ficasse quieta. E Sâmia não se calava.

E então os milicianos mataram o irmão de Sâmia. Calaram a deputada porque não há força capaz de fazê-la voltar a dizer o que dizia quando afrontava o fascismo. Não agora.

Sâmia não consegue falar dos grileiros, dos garimpeiros, dos golpistas, mas Salles e Zucco continuam falando em defesa dos seus.

No roteiro macabro do fascismo brasileiro, milicianos matam por engano o irmão de uma deputada que os combate. E Sâmia se cala, enquanto Michelle faz discursos em cultos neopentecostais.

Temos uma brava deputada sem forças e sem fala, enquanto a extrema direita fala sem parar. Falam, ameaçam, dizem que voltarão, desafiam o sistema de Justiça.

Mas em algum momento Sâmia Bomfim voltará a falar, quando muitos deles estarão na cadeia. Enquanto a deputada busca forças, nós estaremos com os que falam por ela.



























09 novembro 2023

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL É PLÁGIO DISFARÇADO









IA é a expropriação do trabalho intelectual, do saber produzido socialmente a fim de torná-lo mercadoria para reprodução e acumulação de capital de big techs e grande empresários da elite mundial.

Noam Chomsk sobre a “IA”: “Vamos chamá-la pelo que é: um “software de plágio”. Nada cria, copia obras existentes de artistas existentes alterando-as o suficiente pra escapar às leis de direito autoral. É o maior roubo de propriedade intelectual desde que os colonos europeus chegaram.”

Agora mesmo, em tempo real, uma IA, esta copiando nossas reações, palavras e pensamentos, está trabalhando para desvendar nossas almas, e vender suas descobertas.

Essa IA, está retirando de cada conta seja no X, Instagram, Facebook, tik-tok, discord, Meet, etc. 
Está nos plagiando. O modo como somos e reagimos frente a todas as realidades da vida. 
É isso que ela faz, roubo da nossa psiquê para enriquecer seu dono.
A IA é uma ASSALTANTE, seu dono ou seus donos são criminosos.  É tudo em nome do capital, por isso ninguém fala. Por isso todos silenciam. 
Era de se esperar que a burguesia ao oferecer “de graça” as redes sociais na internet, estava desenvolvendo um método de lucrar com isso. Só que ninguém pensou que fosse dessa maneira, pelo roubo de nossas almas, nossa produção, nossos sentimentos e pensamentos, nossas lutas e sofrimentos, transformados, edulcorados e vendidos de volta para quem estiver a fim de pagar. Plágio descarado a céu aberto e ninguém fala nada. A AI, não cria nada. Ela usa mimetiza nosso modo de entender e processar o mundo para lucrar com a nossa criação. 


JOE TILSON

Hoje partiu um artista que sempre admirei pelo trabalho, pela atuação na arte pop semdo um de seus fundadores junto com David Hockney, Eduardo Paolozzi, Richard Hamilton, entre outros. Hoje registro a partida de Joe Tilson (1928-2023), que sempre falei e mostrei obras nos meus cursos, e ainda nutria uma mínima esperança de vê-lo ainda em vida. Ele deixou um legado que transcende a arte e passa pela vida: foi um ser humano completo, defensor entusiasta do ativismo político, da libertação sexual do ser humano e da mudança social. Com ele aprendemos que o artista não é uma marca comercial e nem deve se acomodar com o status quo. Descanse em paz! 






The leading British artist Joe Tilson has died, today 9/nov/2023, aged 95. His death was confirmed in an online statement issued by Cristea Roberts Gallery, who co-represent the artist. The gallery said in a statement that Tilson was "one of the founding figures of British Pop [and] an enthusiastic proponent of political activism, sexual liberation and social change".

Earlier this year Tilson underwent a renaissance, showing work in two London shows-at Marlborough and Cristea Roberts Gallery-and was the subject of a new monograph by Marco Livingstone, published by Lund Humphries. In an Instagram & post, Livingstone said: "Tilson successfully avoided both the pitfalls of staying still-not wishing to create a brand-and of randomly changing direction, having no inclination to chase every new fad in a desperate bid to maintain visibility."

Tilson, who was born in 1928, grew up in south London and worked as a carpenter before serving in the Royal Air Force between 1946 and 1949. He later studied at St Martin’s School of Art, London, in the early 1950s where he met Peter Blake, Allen Jones, Patrick Caulfield and David Hockney, part of a group of emerging young British artists.

In an interview with The Art Newspaper earlier this year, Tilson said: “I arrived at St Martin’s and who also arrived? Frank Auerbach and Leon Kossoff. It’s like saying I was in Holland and I met this bloke called Rembrandt.” Some of his most celebrated Pop Art compositions include Secret (1963) and the A-Z Box of Friends and Family (1963), a quirky homage to colleagues and loved ones.

The dealer Alan Cristea also paid tribute, saying: “When I started my own gallery in 1995, he was the one constant reference point. We continued to publish his editions together, still as technically inventive and gloriously colourful and exuberant. His love of printmaking never ebbed and his generosity never waned. He was one of the most inventive printmakers with whom I ever had the privilege to work.”

This spring, Tilson told The Art Newspaper: “The best thing is to go to the gallery. What artists say about their work, I wouldn’t take any notice of that. A lot of people think: ‘There’s the meaning.’ No, no. The meaning’s in you. People don’t apply themselves to art. They take it superficially. But art is a lot of hard work. It takes training, it takes travel. People have got to work at it. To understand art is very, very difficult.”

Of posterity, he said: “No, no interest whatsoever. There’s nothing you can do about the meaning of your work. Life’s life. I just take it the way it comes. So much depends on chance."


Português

JOE TILSON 
Defensor entusiasta do ativismo político, da libertação sexual e da mudança social

O principal artista britânico Joe Tilson morreu aos 95 anos. Sua morte foi confirmada em um comunicado online divulgado pela Cristea Roberts Gallery, que co-representa o artista. A galeria afirmou em comunicado que Tilson foi “uma das figuras fundadoras do pop britânico [e] um defensor entusiasta do ativismo político, da libertação sexual e da mudança social”.

No início deste ano (2023), Tilson passou por um renascimento, exibindo trabalhos em duas exposições em Londres, na Marlborough e na Cristea Roberts Gallery, e foi tema de uma nova monografia de Marco Livingstone, publicada pela Lund Humphries. 
Num Instagram e num post, Livingstone disse: “Tilson evitou com sucesso as armadilhas de ficar parado, não querer criar uma marca, e de mudar de direção aleatoriamente, não tendo nenhuma inclinação para perseguir cada nova moda numa tentativa desesperada de manter a visibilidade.”

Tilson, que nasceu em 1928, cresceu no sul de Londres e trabalhou como carpinteiro antes de servir na Royal Air Force entre 1946 e 1949. Mais tarde, estudou na St Martin's School of Art, em Londres, no início dos anos 1950, onde conheceu Peter Blake, Allen Jones, Patrick Caulfield e David Hockney, parte de um grupo de jovens artistas britânicos emergentes.

Numa entrevista ao The Art Newspaper no início do ano de 2023, Tilson disse: “Cheguei ao St Martin’s e quem também chegou? Frank Auerbach e Leon Kossoff. É como dizer que estive na Holanda e conheci um cara chamado Rembrandt.” 

Algumas de suas composições de Pop Art mais célebres incluem Secret (1963) e A-Z Box of Friends and Family (1963), uma homenagem peculiar a colegas e entes queridos.

O marchand Alan Cristea também prestou homenagem, dizendo: “Quando comecei a minha própria galeria em 1995, ele era a única referência constante. Continuamos a publicar suas edições juntos, ainda tecnicamente inventivos e gloriosamente coloridos e exuberantes. Seu amor pela gravura nunca diminuiu e sua generosidade nunca diminuiu. Ele foi um dos gravadores mais inventivos com quem tive o privilégio de trabalhar.”

Nesta primavera, Tilson disse ao The Art Newspaper: “O melhor é ir à galeria. O que os artistas dizem sobre o seu trabalho, eu não prestaria atenção nisso. Muitas pessoas pensam: “Aí está o significado”. O significado está em você. As pessoas não se dedicam à arte. Eles encaram isso superficialmente. Mas a arte exige muito trabalho. É preciso treinamento, é preciso viajar. As pessoas têm que trabalhar nisso. Compreender a arte é muito, muito difícil.”

Sobre a posteridade, ele disse: “Não, nenhum interesse. Não há nada que você possa fazer sobre o significado do seu trabalho. A vida da vida. Eu apenas aceito do jeito que vem. Muita coisa depende do acaso."







08 novembro 2023

ANTIFA


 

SINAL DE CIVILIZAÇÃO MARGARETHE MEAD

SINAL DE CIVILIZAÇÃO

Ajudar alguém a passar pela dificuldade é o ponto de partida da civilização "
Margaret Mead


Uma estudante perguntou uma vez à antropóloga Margaret Mead qual considerava o primeiro sinal de civilização em uma cultura. A estudante esperava que a antropóloga falasse de anzóis, bacias de barro ou pedras para amolar, mas não. Mead disse que o primeiro sinal de civilização numa cultura antiga é a prova de uma pessoa com um fêmur quebrado e curado.

Mead explicou que no resto do reino animal, se você quebrar a perna, você morre. Você não pode fugir do perigo, ir para o rio beber água ou caçar para se alimentar. Você se torna carne fresca para predadores. 

Nenhum animal sobrevive a uma perna quebrada o tempo suficiente para que o osso cure. Um fêmur quebrado que se curou é a prova de que alguém tirou o tempo para ficar com o que caiu, curou a lesão, colocou a pessoa em segurança e cuidou dele até que ele se recuperasse.

“Ajudar alguém a passar pela dificuldade é o ponto de partida da civilização”, explicou Mead. “A civilização é uma ajuda comunitária.”


IMAGENS CARAS
















 

NEGACIONISMO CIENTÍFICO



Em 1904 o Brasil passou pela chamada “Revolta da vacina”, evento histórico em que a população da época acreditou na Fake News de que quem se vacinava ganhava FEIÇÕES BOVINAS. Depois disso, a população estudou, se instrui e o Brasil virou referência mundial em vacinação. Porém, mais de 100 anos depois a vacinação voltou a ser alvo da ignorância e da desinformação. Ao invés de "feições bovinas", o líder do negacionismo passou a assustar os seus seguidores com a Fake News de que eles virarão jacarés, caso se vacinem. Diante do surto de ignorância espalhado pela extrema direita, o governo Lula lançou a campanha "VACINA É VIDA". Vamos incentivar as pessoas a se vacinarem. É a hora de escolherem entre ficar ao lado da ciência ou ao lado da ignorância animalesca de acreditar em histórias bovinas ou de jacarés.

(Continuará)







05 novembro 2023

NARRATIVA EM ABISMO

EFEITO DROSTE OU “MISE EN ABYME
EFEITO DROSTE OU  NARRATIVA EM ABISMO 
NA ARTE


Efeito Droste ou “mise en abyme

Cacao Droste que dá nome ao efeito de “mise en abyme”, narrativa em abismo, composição ou construção em abismo. 
O efeito Droste, conhecido na arte como um exemplo de “mise en abyme”, é o efeito de uma imagem aparecendo recursivamente dentro de si mesma, no lugar onde seria realisticamente esperado que uma imagem semelhante aparecesse. 
A existência dessa imagem dentro da imagem produz um “loop” que em teoria poderia durar para sempre, mas na prática só continua até onde a resolução da imagem permitir. 

Podemos obeter efeito se colocando dois espelhos planos um de frente para o outro (associação de espelhos em paralelo). Quando colocamos espelhos planos em Associação em paralela (com a face refletora de um voltada para a face refletora do outro), o número de imagens do ponto A, formadas nos espelhos, é infinita. Cada imagem de um espelho faz o papel de um novo objeto para o outro espelho, e assim sucessivamente.

A imagem formada (observe a figura abaixo) de F em relação ao espelho E é o ponto I1. Essa imagem passa a ser o objeto para o espelho E’, produzindo então a imagem I2, a qual vai ser o objeto para o espelho E, e assim por diante. Da mesma forma, a imagem de F em relação ao espelho E’ é o ponto I3, o qual funcionará como objeto para E, produzindo a imagem I4, e assim por diante. Desse modo, são formadas infinitas imagens, como podemos ver na figura a seguir:

Formação da imagem em espelhos planos em associação paralela. 
(Fonte: brasilescola).

Efeito Droste ou “mise en abyme” (Fonte da imagem: gifer)


Acredita-se que, segundo Dallenbach, a primeira aplicação do termo tenha sido por A. Gide a partir da heráldica. Há algumas acepções do termo como: a importância do espelho da pintura e da ideia de “obra dentro da obra” na literatura. 
Segundo Alagôa (2016) Gide destaca três exemplos principais associados à ideia de en abyme, cada um remetendo para um âmbito distinto: 

1) o primeiro diz respeito ao reflexo do espelho do qual a pintura tira partido para criar jogos curiosos entre o interior e exterior da obra; 

2) em seguida, com a literatura, Gide refere obras que contêm outras obras dentro de si mesmas, ou fragmentos que se repetem uma ou mais vezes ao longo da história; 

3) e por último, aquele que parece ser mais eficiente para o autor, o exemplo da heráldica, a arte de composição dos escudos que representavam os diferentes reinos e famílias. 

(Em construção

Efeito Droste 

O efeito Droste apareceu pela primeira vez no design de uma marca holandesa de cacau, com uma imagem criada por Jan Misset em 1904. A partir daí começou a aparecer em outros campos desde essa época. Desde então, tem sido usado na embalagem de uma variedade de produtos. 

O efeito Droste ou “mise en abyme” foi antecipado em obras de arte medievais, como o tríptico Stefaneschi, de Giotto, de 1320. 
O efeito Droste, também é conhecido por mise en abyme,  que é a repetição em um tamanho menor dentro da imagem total.  Na fotografia provoca uma sensação de estranheza, transgressão da verdade sensível, da razão, ou que pertence ao domínio do sonho, da imaginação, do absurdo. 
Assim, o efeito surreal do “mise en abyme”, uma réplica narrativa dentro da imagem real, levanta questões e provoca sensações que não tem necessariamente a ver com a razão, mas com a dimensão do absurdo e do sonho do desejo. 
o efeito Droste cria uma repetição que teoricamente poderia continuar para sempre, até o infinito, já que a versão menor da imagem conteria uma réplica ainda menor, e assim por diante.

Giotto di Bondone Tríptico Stefaneschi, 1320.
Parte frontal. Têmpera sobre madeira. cm 178 × 89 (painel central); cm 168 × 83 c. (painéis laterais); cm 45 c. × 83 c. (cada seção da predela).

Predela: Parte inferior de um painel, retábulo ou afim, com pinturas ou esculturas relativas ao mesmo assunto da obra principal. Na arte sacra, uma predela (plural predelle) é a parte mais baixa de um retábulo, às vezes formando uma plataforma ou degrau, e a pintura ou escultura ao longo dela, na parte inferior de um retábulo, às vezes com uma única cena principal muito maior acima, mas muitas vezes, um políptico ou retábulo multipainel. Nos retábulos medievais tardios e renascentistas, onde o painel principal era constituído por uma cena com grandes figuras, era normal incluir abaixo uma predela com uma série de pinturas narrativas em pequena escala retratando acontecimentos da vida do consagrado, seja a Vida de Cristo, a Vida da Virgem ou de um santo. Normalmente haveria de três a cinco cenas pequenas, em formato horizontal. Às vezes, um único espaço mostra cenas diferentes em representação contínua. Nesse espaço o artística (WP). 
São significativos na história da arte, pois o artista teve mais liberdade das convenções iconográficas do que no painel principal, pois só podiam ser vistos de perto. À medida que os próprios painéis principais se tornaram maiores e mais dramáticos, as predelas caíram em desuso por volta de 1510-20 na Alta Renascença, embora pintores mais antigos ou mais conservadores continuassem a usá-las, por exemplo Luca Signorelli, então com 70 anos, por volta de 1521. Neste caso, acredita-se que ele tenha feito apenas o desenho inferior da cena principal, deixando a pintura para seus auxiliares de oficina. Mas acredita-se que ele mesmo tenha pintado as cenas da Predela (WP).

Giotto di Bondone Tríptico Stefaneschi, 1320.
Parte de trás. Têmpera sobre madeira. cm 178 × 89 (painel central); cm 168 × 83 c. (painéis laterais); cm 45 c. × 83 c. (cada seção da predela)

Back side. Tempera on wood. cm 178 × 89 (central panel); cm 168 × 83 c. (side panels); cm 45 c. × 83 c. (each section of the predella)





Frontal side 


Giotto di Bondone Tríptico Stefaneschi, 1320.
Detalhe do Retábulo Stefaneschi. Esse retábulo é um tríptico do pintor italiano Giotto, de c. 1320. Foi encomendado pelo Cardeal Jacopo Caetani de Stefaneschi, para servir de retábulo para um dos altares da Antiga Basílica de São Pedro, em Roma. Está agora na Pinacoteca Vaticana, em Roma. Neste retábulo há uma representação do efeito Droste na pintura. Giotto coloca o cardeal Stefaneschi, oferecendo o retábulo para o apóstolo Pedro, o primeiro Papa. 

Giotto di Bondone, foi discípulo de Cinni di Pepo, conhecido como Cimabue. Devido ao alto grau de inovação de seu trabalho, Giotto é considerado por Giovanni Boccaccio o precursor da pintura renascentista. Ele é considerado o elo entre o renascimento e a pintura medieval e a bizantina.
A característica principal do seu trabalho é a identificação da figura dos santos como seres humanos de aparência comum. Esses santos com ares humanizados eram os mais importantes nas cenas que pintava, ocupando sempre posição de destaque na pintura. Assim, a pintura de Giotto vem ao encontro de uma visão humanista do mundo, que foi cada vez mais se firmando até o Renascimento.
Giotto, forma diminutiva de Ambrogio ou Angiolo, não se sabe ao certo, adotou a linguagem visual dos escultores, procurando obter volume e altura realista nas figuras em suas obras. Comparando suas obras com as do seu mestre, elas são muito mais naturalistas, sendo Giotto o pioneiro na introdução do espaço tridimensional na pintura europeia. Em seus trabalhos pela península Itálica, Giotto fez amizades com o rei de Nápoles e com Boccaccio, que o menciona em seu livro, Decamerão.

O retábulo tem um simbolismo político porque é solicitado quando o papado estava em Avignon, na França, e começa a adornar a basílica de San Pedro para voltar a trazer o papado para Roma.

A grande particularidade da obra são duas: o cardeal Stefaneschi é representado rezando de joelhos em ambos os lados do retábulo na parte central e que o tríptico é pintado em ambos os lados, para não ser visto apenas pelos fiéis, mas também pelos sacerdotes. As cenas escolhidas falam principalmente dos apóstolos Pedro e Paulo. Respeitam o princípio não-gráfico dos polípticos, onde estão expostos os principais temas de santificação e a figura cardinal no centro das faces do tríptico e nos painéis laterais as figuras terrestres:

1) No painel frontal: Cristo aparece no centro de um trono, rodeado de anjos e os painéis laterais expõem episódios bíblicos do Novo Testamento, principalmente imagens de mártires e santos.

2) No verso: São Pedro no trono rodeado de anjos e dois oradores, enquanto os painéis laterais expõem os santos com seus atributos.

A representação de Stefaneschi segurando esta mesma pintura sugere que ela originalmente tinha uma moldura significativamente mais maior e mais elaborada, o que teria feito o retábulo relativamente pequeno se encaixar melhor no grande espaço que era a antiga Basílica de São Pedro. 

A característica de conter uma versão menor de da obra, sendo segurada pelo cardeal Stefaneschi fornece um dos primeiros exemplos renascentistas conhecidos do chamado “efeito Droste”, comum na arte medieval, onde quem encomendou a obra aparece nela segurando-a ou na frente dela (modif. WPtourblink)

O efeito Droste descreve um tipo específico de imagem recursiva em que uma versão menor da imagem maior é apresentada dentro da imagem maior.

Efeito Droste usando gif. 
Mise en abyme”, ou efeito Droste, em referência à embalagem de cacau Droste em pó, é um termo francês que costuma ser traduzido como “narrativa em abismo”, usado pela primeira vez por André Gide ao falar sobre as narrativas que contêm outras narrativas dentro de si. Mise en abyme pode aparecer na pintura, no cinema, na literatura, no design e em outras formas de arte.

História das imagens do efeito Droste

Efeito Droste é um termo holandês cunhado pelo poeta e colunista Nico Scheepmaker em referência ao design da embalagem do cacau em pó Droste. A caixa de cacau, desenhada por Jan Misset em 1904, mostra uma freira carregando uma bandeja onde está uma xícara de chocolate quente e uma caixa de cacau Droste. A caixa de cacau menor na bandeja mostra a mesma imagem da freira segurando a bandeja e a caixa. Outros exemplos desse efeito na cultura pop incluem uma versão anterior da embalagem de manteiga Land O’Lakes e a arte do álbum de 1969 do Pink Floyd para Ummagumma.

Esse é o primeiro exemplo de “mise en abyme” usado numa imagem. A narrativa em abismo, a imagem dentro da imagem, move nosso olho para o objeto na mão da figura que não por acaso é o mesmo objeto q seguramos. Essa estratégia joga com nossa percepção, quem está segurando a lata? Obriga nosso olhar a se dirigir para dentro da imagem. Ilustração da lata de cacau Droste, criada por Jan (Johannes) Musset, c. 1904.

USO DO EFEITO DROSTE NA ARTE COMERCIAL 

Efeito Droste em gif, em uma embalagem de manteiga (giphy). 

Para uma discussão sobre o uso de imagens de indígenas em anúncios e propaganda, veja o artigo de Cabe (2020).
Tem havido um esforço bastante significativo para acabar com as caricaturas de nativos americanos em logotipos e mascotes nas últimas duas décadas, com algumas medidas sendo tomadas melhor do que outras. Por exemplo, o time da MLB em Cleveland não mudará o nome do time, mas removerá gradativamente  a imagem racista do grande chefe vermelho Wahoo de seus uniformes. No entanto, a equipe da NFL em Washington continua a usar uma calúnia desagradável em seu nome, que muitos meios de comunicação nem sequer dizem quando discutem as falhas anuais da equipe em campo, junto com a representação de um homem nativo americano como logotipo. E, no entanto, há décadas que deixamos a senhora da manteiga de Land O'Lakes, chamada Mia, ficar quieta em suas embalagens. Então, aqui estamos em abril de 2020, e a Land O'Lakes divulgou um comunicado informando que Mia sairá das prateleiras de nossos supermercados. 
Em vez disso, a embalagem focará no fato realmente muito bom de que a empresa é uma cooperativa agrícola e, eventualmente, apresentará alguns desses agricultores (Cabe, 2020).


Efeito Droste na fotografia 

Segundo Sontag (2004), podemos compreender a fotografia enquanto sistema semiótico, que, como qualquer outro, pode assumir funções diferenciadas na sociedade. A respeito dos questionamentos sobre a fotografia enquanto arte, Sontag diz: 

(…) a própria questão de ser ou não a fotografia uma arte é essencialmente enganosa. Embora gere obras que podem ser chamadas de arte, requerem subjetividade, podem mentir, proporcionam prazer estético, a fotografia não é, antes de tudo, uma forma de arte. Como a língua, é um meio em que as obras de arte (entre outras coisas) são feitas. Com a língua, podem-se fazer discursos científicos, memorandos burocráticos, cartas de amor, listas de compras de mercado e a Paris de Balzac. Com a fotografia, podem-se fazer fotos de passaporte, fotos meteorológicas, fotos pornográficas, raios X, fotos de casamento e a Paris de Atget (p.164), (Agra 2016).

Dito isto, podemos perceber que além do desenho e da pintura a fotografia, sobretudo a fotografia sequencial, pode, também, abrigar a narrativa em abismo, especialmente gifs, onde são usados desenho, pintura e fotografia.


Arte sequencial

Segundo Agra, (2016), a arte sequencial é uma forma de expressão artística que faz uso de imagens visuais estáticas em sequência para narrar uma história ou expressar uma ideia, sendo patente, ou não, a utilização de mensagens verbais aliadas a essas imagens.

Ora, o efeito Droste, que compõem-se de uma única imagem com a mesma imagem inserida nesta imagem principal, e o gif que mostra com movimento o movimento do olho, podem ser também consideradas a meu ver, a primeira vista, como imagem sequencial. 

A arte sequencial por excelência, como podemos chamar, são as HQs que fizerem sua aparição no final do séc. XVIII, e permanecem aí até hoje. O termo foi definido por Will Eisner em 1999, como “uma forma artística e literária que lida com a disposição de figuras ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma ideia”. Considerando não só as histórias em quadrinhos, mas também outras formas de expressão que fazem uso de imagens sequenciadas, compreendemos que o termo pode adquirir uma abrangência maior do que a sugerida nesta definição, uma vez que percebemos que esse formato pode ser apresentado em suportes diversos, como desenho, pintura, escultura e fotografia. (Agra, 2016)

Então, a partir da definição dada por Eisner, incluiremos na categoria outros tipos de sequências e consideraremos a possibilidade de não ser usada a parte literária a que o autor faz referência, já que, como dissemos, o elemento indispensável nesse tipo de composição é o imagético, sendo o elemento verbal alternativo. (Agra, 2016)

As imagens que Eisner menciona são estáticas, o que exclui da nossa abordagem a animação, meio que tem um processo cinematográfico por oferecer ao espectador o que Deleuze (2004) chama de “imagens-movimento”, ou seja, planos, blocos com duração, ao invés de um “corte imóvel”. No cinema, cada quadro é projetado no mesmo espaço, na tela, mantendo uma relação direta com o tempo, enquanto que as imagens justapostas de que tratamos aqui são ordenadas espacialmente, de acordo com uma lógica na qual cada quadro ocupa um espaço diferente. Sendo assim, buscamos na arte sequencial referências ligadas, especialmente, aos seus métodos de composição visual e a seus elementos constituintes, uma vez que acreditamos que é um meio rico em possibilidades de criação e que essa linguagem apresenta modos de produção mais próximos ao nosso foco principal (já que a sequência fotográfica é arte sequencial). Feitas as devidas especificações, podemos chegar a nossa própria definição de arte sequencial: uma forma de expressão artística que faz uso de imagens visuais estáticas em sequência para narrar uma história ou expressar uma ideia, sendo patente, ou não, a utilização de mensagens verbais aliadas a essas imagens.(Agra, 2016).

No caso do retábulo Stefaneschi, a sequência está dentro da própria imagem, a imagem se repete dentro dela mesma. São duas imagens na qual, no caso de Giotto, uma antecipa a outra, i.e., a menor antecipa a imagem real. 


Narrativa

Segundo Reis e Lopes (1988) citado por (Agra, 2016), o termo narrativa pode ser entendido enquanto discurso, ou enunciado, mas é tratado pela narratologia, a partir de Gérard Genette, como um modo textual. A narrativa apresenta textos de caráter ficcional (ou não), que são estruturados por signos e códigos próprios de uma linguagem, podendo ser exposta por gêneros narrativos distintos, de acordo com as necessidades comunicacionais e artísticas de determinada época, cultura e sociedade. Sobre a conceituação de narrativa, Aumont (2012) diz que: 

(...) A narrativa é definida muito estritamente pela narratologia recente como conjunto organizado de significantes, cujos significados constituem uma história. Além disso, esse conjunto de significantes - que veicula um conteúdo, a história, que deve se desenrolar no tempo - tem, pelo menos na concepção tradicional, duração própria, uma vez que a narrativa também se desenrola no tempo (p. 255).

Voltemos um pouco à narrativa em abismo presente na obra de Giotto di Bondone, o Tríptico Stefaneschi, 1320. A narrativa em abismo pressupõe a passagem do tempo de modo velado, oculto, uma vez que o Cardeal, que está ajoelhado segura em suas mãos o retábulo, a imagem narra que o tempo passou desde a produção da obra pelo artista e o oferecimento desta à igreja, personificado no primeiro papa, i.e., o apóstolo Pedro, cujas Costa ou frente está a figura de Jesus. 


Duane Michals 







Pink Floyd 

Na época de “Ummagumma” os membros da banda Pink Floyd eram apenas estudantes. Storm era um amigo de infância deles. Para “Ummagumma” ele levou os membros da banda para a casa de sua namorada em Cambridge. Se você abrisse a porta dos fundos, teria uma bela vista do jardim. Storm tirou algumas fotos lá. Os membros da banda queriam passar uma mensagem de igualdade. Essa capa, segundo Cabe (2022), seria também a última capa do Pink Floyd com membros da banda). Storm teve a ideia do chamado “efeito Droste”, também conhecido como “mise en abyme”. É o efeito de uma imagem que aparece dentro de si mesma, num lugar onde seria realisticamente esperado que uma imagem semelhante aparecesse. Apenas os membros da banda mudaram de lugar. Além da igualdade, também simbolizava a música complexa do Pink Floyd, pois foi construída camada por camada (popodium, 2022).

Ummagumma é o quarto álbum da banda de rock inglesa Pink Floyd. É um álbum duplo e foi lançado em 7 de novembro de 1969 pela Harvest Records. O título do álbum supostamente vem da gíria usada em Cambridge para sexo casual, comumente usada pelo amigo do Pink Floyd e roadie ocasional, Iain "Emo" Moore, que dizia: "Vou voltar para casa para um pouco de ummagumma" . De acordo com Moore, ele mesmo teria criado o termo. O baterista Nick Mason disse mais tarde que o álbum foi intitulado “Ummagumma” porque a palavra tem um som interessante e legal.


DESCRIÇÃO DO EFEITO DROSTE OU MISE EN ABYME 
 
Uma imagem na qual o efeito Droste está presente possui uma pequena imagem de si mesma, localizada onde deveria estar se fosse uma imagem real. Essa imagem pequena também contém uma versão ainda menor e assim por diante. Tecnicamente, não há limite para o número de iterações, mas, na prática, continua enquanto a resolução da obra permitir distinguir essa imagem menor.

O artista e fotógrafo contemporâneo, Josh Sommers, é especialista no efeito Droste. “Um exemplo do efeito Droste no mundo real acontece se você segurasse dois espelhos um contra o outro”, explica ele. “Você olharia no espelho e veria um túnel infinito de reflexos dos dois espelhos indo e voltando. Isso é uma espécie de efeito Droste.”

Na heráldica também encontramos uma característica com esse nome: 

(...) the abyme or fess-point is the exact centre of an escutcheon. To place something en abyme simply means to depict it in the middle of the shield. The term was usually reserved however for the practice of placing at that central spot a smaller shield with its own bearings, which in some way modified the meaning of the bearings on the main shield. (WHATLING, 2009, p.01)

(…) O abyme ou fess-point é o centro exato de um escudo. Colocar algo en abyme significa simplesmente representá-lo no meio do escudo. O termo era geralmente reservado, no entanto, para a prática de colocar naquele centro, um escudo menor com componentes heráldicos próprios, que de alguma forma modifica o significado dos elementos no escudo principal. (Whatling, 2009, citado em Diener, 2010).

Além da repetição do tema apresentado, a repetição em abismo, coloca o expectador como uma parte ideal do quadro, da cena, estaria eu ali também? Aguçamos nossa visão como cúmplice, pela repetição no espaço e no tempo. 


Exemplos do Efeito Droste em imagens gif

Uma imagem GIF (Graphics Interchange Format) é um formato de imagem que foi lançado pela empresa CompuServe no ano de 1987. Traduzindo para o português, a sigla gif significa: Formato de Intercâmbio de Gráficos, e este formato possibilita a compactação de várias cenas, que são passadas em sequência dando ideia de movimento. Os GIFs não possuem som, as próprias imagens transmitem a mensagem desejada. Um gif na realidade produz um loop, onde indefinidamente a mesma cena está ocorrendo. No caso de um gif Doste, o movimento reproduz o movimento que nosso olho faria caso a imagem fosse estática. 

produzir uma imagem gif ou criar um GIF é mais simples do que se pode pensar. Existem diversos aplicativos e ferramentas online na internet que produzem imagens em GIF a partir de vídeos. 

Além disso, o próprio WhatsApp possui a opção de criar um GIF em vídeos que possuem até 6 segundos, ou se você usa iPhone é possível criar gifs a partir das live fotos, no próprio WhatsApp.  

Veja a seguir alguns sites e aplicativos onde podemos encontrar e criar GIFs:


Para criar gifs usando o iPhone: 

Passo 1. No WhatsApp, abra uma conversa individual ou grupo. Em seguida, selecione o botão de "+", no canto esquerdo da tela. Escolha a opção de "Fotos e Vídeos".

Passo 2. Será exibida sua galeria com imagens e vídeos salvos no celular. Escolha umas das suas Live Photos, que são indicadas por um pequeno ícone circular no canto da miniatura. Em seguida, pressione até que a imagem seja exibida na tela e arraste para cima. Será exibido um menu na base da tela. Escolha a opção "Selecionar como GIF".

Abra uma Live Photo e selecione enviar como GIF no iPhone 

Passo 3. O WhatsApp vai exibir a pré-visualização do GIF animado com a Live Photo. Note que há um marcador no topo direito no qual o usuário pode enviar como GIF ou vídeo (ícone de câmera). Adicione uma legenda, caso queira, e toque no botão de seta para enviar.(Mannara, 2018)

Você pediu por isso, nossas propagandas agora disponíveis em posteres. 





(Continuará) 


Fonte



EISNER, Will. Quadrinhos e arte seqüencial. 3ª.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 

EISNER, Will. Narrativas Gráficas: Princípios e práticas da lenda dos quadrinhos. 2ª ed. São Paulo: Devir, 2008.


Diener, 2010. Mise-en-abyme e Repetição. O efeito da repetição em videoclipes.