INÍCIO

09 setembro 2021

RISOTO DE FRANGO E FUNGUI

RECEITA RISOTO DE FUNGHI


Risoto de funghi (1)


INGREDIENTES PARA O RISOTO

2 xícaras (chá) de arroz para risoto (arroz arbóreo) (eu uso arroz comum exceto parboilizado) 
¾ xícara (chá) de funghi seco (40 g)
ou funghi in natura (também dá)
1,5 litro de caldo de legumes
½ cebola
1 dente de alho
½ xícara (chá) de vinho branco
4 colheres (sopa) de manteiga
⅓ de xícara (chá) de queijo parmesão ralado
4 ramos de salsinha
sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto


CALDO DE LEGUMES CASEIRO
Se vc quiser usar frango para preparar o caldo (no lugar de legumes) ou usar o frango e os legumes para preparar o caldo também é possível.

Ingredientes

2 cenouras
2 talos de salsão (as folhas de 1)
1 cebola grande
2 litros de água
2 folhas de louro
3 cravos-da-índia
5 grãos de pimenta-do-reino

MODO DE PREPARO DO CALDO DE LEGUMES

1. Lave bem todos os legumes, especialmente as folhas de salsão. 

2. Descasque a cebola e corte em quatro partes. Corte a cenoura em fatias grossas e o salsão, em pedaços de cerca de 5 cm. 

3. Numa panela, junte os legumes, as folhas de salsão e os temperos. Adicione a água e leve ao fogo alto. Quando começar a ferver, abaixe o fogo e deixe cozinhar por 30 minutos. 

4. Desligue o fogo e, com uma peneira fina, coe o caldo. Utilize o caldo a seguir em sopas e risotos ou deixe amornar antes de armazenar.

Ou 

3 cenouras cortadas em rodelas
3 cebolas bem picadas
3 xícaras (chá) de salsão picado
3 alhos porós cortados em rodelas
6 cebolinhas verdes

Lave bem todos os vegetais.
Numa panela, coloque todos os ingredientes e leve em fogo alto.
Assim que começar a ferver, abaixe o fogo e deixe cozinhando por meia hora.
Depois, desligue o fogo e coe o caldo.

Como armazenar o caldo

Transfira o caldo para potes de vidro com fechamento hermético e mantenha na geladeira por até 5 dias. Se preferir, distribua em forminhas de gelo e leve para o congelador. Quando firmar, coloque em sacos plásticos e conserve congelado por até 3 meses.


MODO DE PREPARO DO RISOTO

1) Numa tigela coloque o funghi, cubra com 1 xícara de chá de água fervente e deixe hidratar por alguns minutos enquanto separa os outros ingredientes.

2) Descasque e pique a cebola bem fino e o alho. Lave, seque e pique a salsinha bem miudinho (fino).

3) Sobre a jarra medidora, escorra o funghi hidratado numa peneira. 
Pressione delicadamente com a colher para extrair todo o líquido. Acrescente o caldo de legumes ao líquido do funghi até completar 1,5 litro (1.500 ml), ele vai ser usado para o cozimento do risoto. Transfira os cogumelos para uma tábua e corte em pedaços médios.

3) Coloque 2 colheres de sopa de manteiga numa panela média e leve ao fogo médio. Quando derreter, adicione a cebola, tempere com uma pitada de sal e refogue por 4 minutos até murchar. Acrescente o funghi e o alho e mexa por 1 minuto. Junte o arroz e refogue por 2 minutos para envolver os grãos com a manteiga. Tempere com sal e pimenta a gosto, lembre-se que o caldo caseiro não leva sal.

4) Regue com o vinho e mexa bem até secar. Adicione 2 conchas do caldo e misture bem. Deixe cozinhar, mexendo de vez em quando, até secar. Repita o procedimento, adicionando o caldo, de concha em concha, mexendo, até o risoto ficar no ponto, o grão deve estar cozido mas ainda durinho no centro (al dente), se você quiser, eu gosto do arroz cozido.

5) Atenção: na última adição de caldo, mexa e desligue o fogo. Não deixe secar completamente, o risoto deve ficar bem úmido. Acrescente a manteiga restante, o parmesão e misture bem. Sirva a seguir com a salsinha picada.


Outra receita tb usada 

Receita para 2 pessoas, para mais aumente a quantidade na proporção
200 g de arroz arbóreo
700 ml de caldo de galinha (pode fazer o seu caldo ou dissolver 1 caldo de galinha em 700 ml de água quente 
15 g de funghi secchi (um punhado)
25g (ou 4 colheres de sopa) de manteiga
70 g de queijo parmesão ralado na hora
60 ml de vinho branco de boa qualidade
1 cebola pequena picada
1 colher de sopa de salsinha


Observação  
Como fonte opcional de proteína eu uso frango. Todavia, o risoto não necessita de frango. E pode ser feito apenas com o funghi. 


Frango 
Eu preparo o frango anteriormente. 
Deixo-o marinando no molho de temperos para frango (use o tempero que você mais gosta). 
Coloco o frango na panela com manteiga e frito bem até que fique dourado e reservo. 
Faço o arroz e antes do arroz ficar pronto, coloco o frango misturo bem coloco mais caldo e deixo ferver. O arroz deve estar pronto ou quase para se colocar o frango. 
No momento de servir coloco o queijo ralado na hora.  











07 setembro 2021

MEMÓRIAS

LEMBRANÇAS 

“O mundo se torna lembrança, a lembrança se torna mundo” 















































TEXTOS DA IMAGEM

 TEXTOS DA IMAGEM 


A imagem 
O que havia antes dela? 
Antes da luz?
intenção  
Havia a luta
o desejo e
Escuridão 
as trevas gasosas-líquidas
 prenhes 
de possibilidades 
ostrakínda
nyx e heméra 
branco e preto.
Composição 
Ação 
Revelação 
Imaginação 











CÂMERA OBSCURA





Busto de Aristóteles de Estagira
Ἀριστοτέλης  Στάγειρα
(Αρχαία Στάγειρος, 384 π.Χ. - Αρχαία Χαλκίδα, 322 π.Χ.)





E as coisas concernentes à alma estão em situação parecida àquela das figuras; pois tanto no caso das figuras como no caso dos seres animados, o anterior sempre subsiste em potência naquilo que o sucede: por exemplo, o triângulo no quadrado, o poder nutrir-se no de perceber. (DA II, 414b, 28-34)

Utiliza-se o termo “sensação” como tradução para aísthesis, a faculdade, e para aísthema, o produto dessa faculdade.

E deve ser examinada a causa de serem dispostas assim, em sucessão. Pois, sem a nutritiva, não existe a capacidade perceptiva, embora nas plantas a nutritiva exista separada da perceptiva. E, novamente, sem o tato, nenhum dos outros sentidos subsiste, embora o tato subsista sem os outros, pois diversos animais não têm visão, nem audição, nem sensação de odor. E, dentre os que têm a capacidade perceptiva, uns têm a locomotiva e outros não. Por fim, pouquíssimos tem cálculo e raciocínio. Pois, entre os seres perecíveis, naqueles em que subsiste cálculo também subsistem todas as demais capacidades. Mas entre aqueles em que subsiste cada uma das outras, nem todos têm cálculo (e alguns nem sequer imaginação, ao passo que outros vivem unicamente por meio dela). (DA II, 414b33-415a11).

“Se também o pensar é um tipo de imaginação ou se ele não pode ocorrer sem a imaginação, então nem mesmo o pensar poderia existir sem o corpo” (DA I, 403a, 9-10).

A observação etimológica no final do terceiro capítulo do livro III9, que vincula o termo “imaginação” a “pháos” (luz), e, por conseguinte, à sensação visual, remete a uma tendência que até os dias atuais subsiste: 
Ainda que seja possível formar imagens mentais em qualquer uma das modalidades sensórias, a maior parte da discussão, tanto nos contextos psicológicos quanto nos filosóficos, focou na formação de imagens visuais. (Gendler, 2013, cap. 2, seção 2.1).

“Já que a visão é, por excelência, sensação, também o nome ‘imaginação’ deriva da palavra ‘luz’, porque sem luz não há o ato de ver.” (DA III, 429a, 3-4, tradução de Maria Cecília G. dos Reis). 

10 Diz o filósofo a respeito das imaginações: “E porque perduram e são semelhantes às sensações, os animais fazem muitas coisas de acordo com elas.” (DA III, 429a, 5-6). É pertinente ressaltar o uso do plural “sensações” (aisthésesi) e a ausência de especificação relativa a uma em particular. 
Segundo Frede, “os phantásmata não precisam estar limitados a imagens visuais: qualquer tipo de impressão sensorial retida seria um phántasma, segundo Aristóteles; a visão é meramente o sentido que recebe mais atenção.” (Frede, 1999, p.286).

Em seu De Ente et Essentia, Tomás de Aquino discorre acerca da impossibilidade de se tomar o animal como não sendo o todo do homem e da inexistência de qualquer oposição entre animal e racional, tudo o que está na essência da espécie já se encontra na essência do gênero: “Tal determinação ou designação, existente na espécie em relação ao gênero, não se faz por algo existente na essência da espécie que já não esteja, de algum modo, na essência do gênero. Digo mais: tudo o que esteja na espécie está também como indeterminado no gênero. Se, pois, animal não fosse o todo que é homem, mas apenas parte deste, então não se predicaria de homem, visto que nenhuma parte integral pode-se predicar do todo.” (De Ente, 19).

No De Anima, não é feita menção a deus32. Bem conhecida é a ideia aristotélica do primeiro motor, o qual, sob a condição ontológica de ato puro, contempla a si mesmo em um eterno estado de imobilidade. Contemplação, supõe-se, é uma atividade intelectual, do que decorreria a posse, por parte de deus, do intelecto, e seria absurdo negar-lhe a mais nobre das capacidades, que é a de inteligir.

“A Empédocles apresenta-se pelo menos também a dificuldade de ser deus o ser mais carente de discernimento: pois somente ele não conhecerá um dos elementos, o ódio, enquanto os mortais conhecerão todos, uma vez que cada mortal é composto de todos os elementos.” 
(DA I, 410b, 5-8).



“O mundo se torna sonho, o sonho se torna mundo” (Novalis, Heinrich von Ofterdingen).

A filosofia, que, juntamente com a mitologia, a religião e a arte, representa uma manifestação daquele desejo primitivo, é uma das produções humanas mais genuínas. A capacidade de conhecer, novamente expressa por meio da etimologia da palavra, é característica daquele que ama ou deseja a sabedoria: o filósofo4 . A admiração, a dúvida e o questionamento acerca do mundo são imanentes ao filosofar, que também pergunta pelo próprio conhecer. Anaxágoras, inclusive, definiu o princípio da constituição da realidade por meio do Nous (νοῦς), termo grego de difícil tradução para a língua portuguesa, mas que compreenderia, em última instância, a noção de inteligência, a qual se desdobrou em inúmeras formas mediante pensadores diversos, de Platão a Aristóteles, e deste último para filósofos modernos como Descartes, Hume e Kant.

4De acordo com o exposto por Diógenes Laércio em sua obra “Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres” (2008, p. 15), Pitágoras teria instituído o termo. No diálogo “O Banquete” de Platão, encontramos uma primorosa definição do filósofo como aquele que não detém a sabedoria, um gênio entre o sábio e o ignorante, que permanece nessa eterna busca pelo conhecimento, mediante a ideia do belo e do bom. Associada com a condição de Eros, essa concepção nos é apresentada no belíssimo discurso proferido pela sacerdotisa Diotima a Sócrates: “Com efeito, uma das coisas mais belas é a sabedoria, e o Amor é amor pelo belo, de modo que é forçoso o Amor ser filósofo e, sendo filósofo, estar entre o sábio e o ignorante” (PLATÃO, O banquete, p. 36).

[…]
As musas, ele (Marsilio Ficino) justifica no mesmo texto, não argumentam com Apolo, mas simplesmente cantam; e até mesmo Hermes, artesão do argumento, quando se trata de referir-se a Apolo sobre coisas divinas, não argumenta, mas joga. 

Selecionamos do corpus ficiniano, para a análise que nos propomos fazer, as obras em que o tema da luz adquire maior relevância: os opúsculos “Quid sit lumen” 3 e “De Sole” 4 , além do “De Amore”5 e do “De Vita” 6 .

Nos onze pequenos capítulos, precedidos por uma dedicatória, abordam-se as seguintes considerações sobre a luz: o papel dos sentidos na recepção da luz, com destaque para a visão; a descrição da luz visível ou racional; a definição da luz inteligível ou divina.

A palavra luz certamente ocupa lugar de destaque na trajetória do discurso acerca do homem e do mundo. Cotidianamente usamos expressões como "dar a luz", diante do surgimento de um ser ou ideia; "vir à luz", quando nos referimos a alguma coisa que, anteriormente obscura, se tornou evidente; Fulano "perdeu a luz da razão quando alguém parece enlouquecido; ou ainda "à luz de", ao nos referirmos aos princípios de determinado pensador ou teoria. 

Etimologicamente, os dicionários indicam para essa palavra as seguintes raÌzes indo-européias: dei/dev, dyut, leuk e bha, além de estabelecerem algumas comparações que vale citar aqui. A primeira raiz, dei ou dev (brilhar), originou diva (o céu), deva (deus), referindo-se, então à iluminação divina. Quanto à luz diurna, dyu (dia), teria sua origem da raiz dyut (brilhar/resplender), tendo seu poético uso na nomenclatura dos dias da semana, em alguns idiomas latinos. Importante notar aqui a presença da analogia entre a claridade do sol/dia e a proveniente da atividade divina, tão marcante nos textos de Marsilio Ficino. … importante atentar também para a ambivalência de sentido dessa raiz: abrigando sob uma mesma origem os vocábulos deva (deus) e daeva (demÙnio) ou, ainda, a claridade diurna ou solar (Zeus/Júpiter, de jour) e a claridade noturna ou lunar (Diana). PoderÌamos dizer, com isso, que nesse jogo de sentidos há muito mais intercâmbio do que propriamente oposição.

A segunda raiz, leuk, mais citada nos dicionários etimológicos que as outras duas, está associada ao brilho (leuk) e à brilhante/branco (Λεῦκος), dando origem, por exemplo, à palavra leucemia (Λεῦκος/branco e  αἷμα/sangue). 
A ela também corresponde a raiz latina lux/lucis, dando origem ao grande número de vocábulos referentes ‡ luz, tais como luminosidade, iluminado, lua, lunático, elucidação e lucidez. A relação entre luz e deus também seria expressa por essa raiz, através do emprego do termo Lugh, para designar um poderoso deus solar celta. Além disso, da mesma raiz, teria provindo o termo lustrar (clarear), utilizado inclusive em cerimônias de purificação, com o místico significado de transformar o obscuro em claridade. 

Outra importante observação a respeito da raiz leuk pode ser observada na formação da palavra Lúcifer. Considerado inicialmente um anjo "portador de luz", teria se transformado em príncipe das trevas, ao tombar do céu. Aqui novamente exposto o paradoxo entre luz e sombra. Uma sombra que, nesse caso, teve sua origem na luz e que, de alguma forma, ainda a conserva, apesar do envolvimento com a obscuridade. 

Diana: oriunda da raiz dei. Diana, na simbologia do Renascimento, faz referência à lua que reflete a luz solar, do mesmo modo como o mundo reflete o conhecimento divino. Apesar de seu aspecto aparentemente insignificativo, é através desse reflexo que podemos vislumbrar a luz ou conhecimento originais, resultando daí sua enorme importância.   

A outra raiz, bha, (proto indo-europeu: brilhar) tem seu correspondente grego phaïnein (vir à luz, aparecer) e deu origem a palavras importantes no estudo da luz, tais como fantasma, fantasia e diáfano. Em Aristóteles, que adota a origem grega de luz (fa ,oj/ph·os), tambÈm encontramos a associaÁ„o entre luz e fantasia33. Teria relaÁ„o, ainda com essa raiz, a associaÁ„o entre divindade e luz, atravÈs do culto a Amitaba (em s‚nscrito: luz infinita), que os adeptos crÍem poder purific·-los de forma plena e instant‚nea.  

phainesthai aparecer, φανερός [phaneros] "visible, manifest", 'phainein' meaning 'bring to light' and 'phainesthai' meaning 'to appear'. phantazesthai "picture to oneself," from phantos "visible," from phainesthai "appear," in late Greek "to imagine, have visions," related to phaos, phōs "light," phainein "to show, to bring to ligh, phantazein "make visible, display;
φύσις
phan-, base of phaínomai, phaínesthai "to become visible, come to light, appear" φῶς/phôs;

Greek φαντασία (phantasía, 'imagination') in its basic meaning is connected with φαίνεσθαι (phaínesthai, 'to come to light, to appear'). The concept therefore refers to what appears, what shows itself and becomes visible (φαντάζεσθαι/phantázesthai) - independently of whether it is true or false; hence also its etymological derivation from 'light' (φῶς/phôs; Aristot. An. 3,3,429a 2; Chrysippus in Aetius 4,12-15 Diels). 
φαίνεσθαι, φαίνω, to appear, bring to light; I show, uncover, reveal 

Na maioria das fontes pesquisadas existe a referência à origem latina lux, lucis, da raiz leuk. Lux é, de fato, a expressão mais amplamente empregada pela tradição filosófica ao descrever os fenômenos luminosos, ao lado de lumen e, mais raramente, numen. A diferenciação entre os usos serve apenas para indicar a luz em seu estado original (lux), a luz propagada (lumen) e o sinal divino que ela representa (numem). Será esta também a terminologia escolhida por Ficino, na sua teoria da luz.


Platão, na República (508c), comparando o poder da visão ao Sol — este, chamado «filho do Bem» — reconhece que na luz se conhece mais facilmente do que nas trevas; mais adiante, aludirá (521c), precisamente em contraste, ao jogo do caco (ostrakínda), o nosso conhecido «cara ou coroa», em grego dito porém, nyx e heméra (= noite ou dia, branco ou preto); assim concluirá que, elevar-se até aos deuses ou à verdadeira realidade/filosofia, não é tão fácil como jogar o cara ou coroa! Por isso [2.º], e dada também a mesma raiz de phantasía (imaginação/apresentação) e de phaós (luz), Crisipo (SVF II 54) teorizará um mútuo páthos, dito (em linguagem mais moderna) do sujeito e o do objeto, mas mais daquele do que deste:

..."A apresentação, imaginação (phantasía) é uma afecção (páthos) produzida dentro da alma e que se manifesta ao mesmo tempo a si própria e ao objeto que a provocou. Quando por exemplo percebemos o branco através da vista, a afeção é o que se produz dentro da alma, em consequência da visão…"

A monoteologização da luz — patente em ditos como «Deus é luz e nele não há obscuridade» (o theós phos estin kaì skotía en auto ouk éstin oudemía) — devém indissociável da ação/conversão — política ou soteriológica, para nós aqui é o mesmo — que sobre o ser humano a Luz deve exercer: «Vós sois a luz do mundo [tò phos tou kósmou] […] brilhe a vossa luz [lampsáto tò phos] diante dos homens…» (Mt 5, 14–16); ou: «… escrevo-vos um mandamento novo […] porque as trevas passaram e já resplandece a verdadeira luz [tò phos tò alethinón… phaínei]. Aquele que diz que está na luz [to photì] e odeia seu irmão ainda está na obscuridade [skotía estín].» (1Jo 2, 8–11). 

(...)
A maior ou menor aproximação do Homem à Luz é fundamental, dado o investimento na intersubjetividade, fundadora do político, e a acentuação na produtividade, geradora da técnica. Ambas podem radicar na metamorfose da luz que encontramos nos inesperados termos grego e latino (lógos e verbum, respetivamente).


Em Balada das Descobertas, Sérgio Godinho canta que «o lugar mais escuro é sempre debaixo da luz». Por outras palavras, sob o seu excesso tudo é escuro, nada se vê.

É algo assim como se o amor da evidência — o amor inscrito na evidência, como sublinhava Fernando Gil — se esgotasse, experimentando a sua cegueira de míticas origens humanas, demasiadamente humanas. Mesmo que este amor não seja alheio às raízes arcaicas e regressivas próprias do «modelo mágico da evidência» que é a evidência do amor, também lemos o tempo que vivemos neste século XXI como o resultado da coincidência entre o excesso de luz e a alucinação.

Esta última é a privação do entendimento ou da razão, o próprio desvario de um ser que o excesso de luz cegou. Sem também aqui termos espaço de aprofundamento, fiquemo-nos pela alusão à obscenidade inerente a toda e qualquer declinação ética/humana, qual a da decisão política criminosa fundada no interesse de uma ideologia que se imagina baseada na ciência; qual a de um qualquer totalitarismo assente numa ideia desenvolvida em coerência e sentido lógico estritos, após a redução da verdade à coerência, ou o rompimento da lógica com as condições da realidade, do perdão ou da contingência humana. 

(...)
Entre Sócrates e Nicolau de Cusa, este desafio recebeu o nome de «douta ignorância». Recorrendo à imagem do «artista que esculpe uma estátua ao natural, desbastando todas as excrescências que entravam a contemplação pura da figura oculta», o pensador sírio soube enunciar o trabalho sempre inacabado da «verdadeira observação e conhecimento». Eis a sua palavra programática, à luz da filosofia: com a disciplina do poder crítico e construtor da negação (aphairesis), com a qual a «treva (gnóphon) mais que luminosa (hyperphoton) […] faz aparecer a beleza escondida» (Carvalho, 1996), poderá o ser humano calcorrear, enfim, o palco da vida. Não ébrio de luz, mas vigilante, permanentemente no seu encalço, de pé… sabendo-se incapaz de a exaurir.

(Calcorrear:percorrer a pé, esp. um caminho longo; andar muito a pé.)

(...)

Na cerimónia de abertura do Ano Internacional da Luz, a 19 e 20 de janeiro do ano 2015, em Paris, o cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Conselho Pontifício da Cultura, falou sobre essa transcendência referindo-se à «luz, como um símbolo religioso, entre a imanência e a transcendência». 
Impossível repetir aqui o teor de quanto disse. Tentaremos abordar o mesmo assunto, sem tentar sequer seguir o mesmo rumo. No domínio da Física, a essência da Luz é ser uma radiação eletromagnética, cujo comprimento de onda se situa na região do visível do espectro eletromagnético da radiação, a chamada «luz visível», e também nas regiões do infravermelho e do ultravioleta do mesmo espectro para a assim chamada «luz invisível» (de Broglie, 1940). 
Mas que há nela para além desta realidade física? Que há nela para além de toda a experiência possível?

Não queremos confinar-nos aqui ao «Transcendente» como a visão aristotélica de Deus, princípio criador de todas as coisas, o motor-primeiro de tudo quanto se move, uma autoconsciência externa ao mundo; nem tão pouco ao conceito judaico-cristão de Deus como um ser externo ao mundo e que ele próprio criou a partir do nada (creatio ex nihilo). Fazê-lo seria simplificar por completo uma questão que é demasiado complexa para poder ser confinada em tão afirmativos, mas redundantes, parâmetros (de Broglie, 1940). Afirmar a sua transcendência, o transfenomenal que há na luz, aquilo que nela está para além do escopo da razão e da experiência, seja no campo da religião, seja na esfera do idealismo subjetivo, será afirmar com René Descartes (1596–1650), o progenitor da filosofia moderna e um dos filósofos naturais que mais se preocuparam com a caracterização física e metafísica da luz (Descartes, 1632–1633), que ela é um arquétipo cognitivo que é possível percecionar de mil e um modos.
Um destes mil e um modos possíveis de percecionar o arquétipo cognitivo da luz é a visão da luz afirmada e aceite por grande número de alquimistas. Sem ignorar que a alquimia está muito associada à práticas obscuras e muitas vezes altamente interesseiras e falaciosas na tentativa de transmutar os metais vis em ouro e prata, por um lado, e encontrar um remédio para todas as doenças que seja simultaneamente, um elixir de longa vida e eternize o ser humano, tinha como filosofia básica que para conseguir o seu objetivo o homem teria de se transformar um pouco no próprio Deus que só Ele possui o poder necessário para o fazer. Para cumprir tal objetivo, nem a filosofia em que se apoiava, nem muitas das práticas a que recorria se ficavam pelo que é puramente material. Transformar o homem em Deus ultrapassa o mundo material e entra no domínio do espiritual, negando todos os cânones da ciência positivista. Daí, que mais que uma ciência, a alquimia deva ser tida como uma filosofia de vida, tornada verdadeiro ascetismo. Nem por isso se pode negar que muitas das práticas laboratoriais, mesmo quando não inteiramente ortodoxas, a que para tanto recorreu ao longo da história foram um grande contributo para o desenvolvimento da ciência, em particular a ciência química e a medicina.

Neste particular, se devem considerar a visão da luz consagrada em grande número dos escritos e afirmações da autoria de alguns dos mais notados alquimistas. Como exemplo deixaremos aqui uma breve reflexão sobre os ensinamentos de Robert Fludd (1574–1637) no seu Os Dois Mundos (Fludd, 1617, 1619), escrevendo sobre as forças criativas e as forças salvadoras da luz, e também, algumas reflexões da autoria de Salomon Trismosin (segunda metade do século XV), mítico alquimista, alegadamente um dos mais influentes mestres de Paracelso, quando escreveu explicitamente sobre o «trabalhador da luz», o alquimista, umas décadas antes do aparecimento de Os Dois Mundos, no famoso tratado Splendor Solis, publicado em 1582, cuja autoria lhe é atribuida.
Comecemos por Robert Fludd sobre as forças criativas e as forças salvadoras da luz. Para Fludd, estas forças são, umas e outras, os grandes princípios da luz e da escuridão, e podem ser representadas por dois cones ou pirâmides que se intersectam: um, a pirâmide «formal» dos raios da luz divina, um cone em posição invertida, com a base assente no «Empíreo Divino» e o vértice, em baixo, na Terra; o outro, a pirâmide «material», a pirâmide da luz material, com a base na Terra, apontando para Deus, com o vértice tocando o empíreo celeste (Figura 3.1.). Robert Fludd diz ter sido ele próprio quem inventou estas formas diagramáticas das pirâmides ou cones da luz. Todavia, não há dúvidas que elas se baseiam em diversas teorias óticas da Antiguidade e da Idade Média. Na zona de interseção destes dois cones ou pirâmides da luz, com um formato losangular, bem no centro, está o próprio Sol, uma esfera cuja natureza balança entre os opostos, o espírito e a matéria, o masculino e o feminino, o enxofre e o mercúrio.

Com o Sol no centro das pirâmides da luz, a luz que emana do poder criador de Deus é a luz que tudo puxa para o mesmo Deus, com o Universo nela totalmente mergulhado na sua dupla centralidade, a Terra rodeada pelo Sol, a lua, os planetas, e o próprio Sol situado a meio caminho entre a Terra e o empíreo celeste, a região do divino onde se encontram as estrelas fixas, a região da harmonia matemática e musical. 
É a consagração da doutrina de Platão (427–347 a.C.) na sua «Metáfora do Sol»: o Sol é a própria Luz da verdade, ao qual todos nós, prisioneiros numa caverna onde o que contemplamos não passa de meras sombras da verdadeira realidade, devemos expor-nos se queremos libertar-nos das correntes da escuridão e do mundo que é apenas o mundo das aparências.

O Sol é a fonte de toda a iluminação, a Forma do Bem, metáfora da natureza da realidade última (Platão, 387–367 a.C.). O Fogo que o constitui, como já Heráclito (~535–475 a.C.) o afirmara, é como o elemento unificador da diversidade e revelador da inteligibilidade das coisas.
Fonte de luz, o Sol é fonte de vida. Assim o considerou e assim o usou Fludd ao pô-lo no centro da área de interseção dos cones da luz, o descendente e o ascendente. Na posição central dos dois mundos que pormenorizadamente descreveu na sua obra “Os Dois Mundos”, o sol é a fonte donde emana a luz e o espírito da vida. O seu movimento circular é a causa do movimento de circulação contínua que se observa no sangue, levando o espírito a todas as partes do organismo. Levado por esta sua crença mística na circulação do sangue que leva a todas as partes do organismo vivo o espírito da vida que jorra da luz, como o afirmou na sua “Anatomiae amphitheatrum” (Fludd, 1623), anos antes de Harvey a descobrir e descrever pormenorizadamente, com base nas minuciosas dissecações que realizou e publicou em 1628, no seu “De motu cordis” (Harvey, 1628).

A mesma crença mística, levou Robert Fludd a criticar constantemente Aristóteles, Galeno e o ensino Escolástico das Universidades. 
No seu misticismo, acreditava profundamente que a Biblia sagrada era o grande recetáculo das verdades eternas e dos grandes mistérios que não conseguimos detectar através dos nossos sentidos. Grande admirador de Paracelso (Debus, 1977), ele procurou compreender as verdades divinas que encontrava nas Sagradas Escrituras através da analogia entre o Macrocosmo e o Microcosmo, e as relações de simpatia e antipatia que entre ambos existe, devotando especial interesse aos elementos que entram na constituição de todas as coisas. Tomando à letra a narração do primeiro capítulo do livro do Génesis, nela encontrou evidência para a existência original apenas da Escuridão, da Luz e da Água que para ele seriam os verdadeiros elementos de que todas as coisas seriam feitas. Os tria elementa da Natureza não seriam o Mercúrio, o Enxofre e o Sal da doutrina de Paracelso.
Muito menos os quatro elementos da filosofia de Aristóteles, a Terra, o Ar, o Fogo e a Água. Todos estes poderiam, quando muito, ser tidos como elementos secundários. Nestes, Fludd tinha por demasiado evidente que as duas qualidades sensoriais que justificam, respetivamente, o Fogo e a Água, o calor e o frio, não teriam outra causa que não fosse a Luz e a Escuridão. 
E relativamente ao tria prima de Paracelso, a Escuridão seria a matéria-prima do Sal; a Luz, a matéria-prima do Enxofre; e a Água, a matéria-prima do Mercúrio. Por sua vez, seriam estes, numa lógica oposta à defendida pelos aristotélicos, que produziriam as quatro qualidades sensoriais justificativas dos quatro elementos, o calor, o seco, o húmido e o frio.  
ESCURIDÃO, LUZ E ÁGUA

(...)

Sobre estas forças criativas da luz e o seu espírito vivificador referidos por Robert Fludd num contexto de ardente misticismo, merece citar-se aqui um texto da autoria de Vicente Coelho de Seabra (1764–1804), o químico português autor dos Elementos de Chimica (de Seabra, 1788, 1790). Na sua Dissertação sobre o Calor (de Seabra, 1788), tratando da natureza do Calor, do Fogo e da Luz, seguindo Macquer, Fourcroy e Lavoisier, no âmbito da Filosofia Natural, numa nota introdutória ao assunto, referiu-se Vicente de Seabra à luz como a «Alma do Universo», concretizando: "a observação mostra a grande influência da luz em todos os Reinos da Natureza: de sorte que chego a pensar que os Reinos organizados não poderiam existir, faltando-lhes a luz. O Reino mineral seria muito limitado (…) e ninguém ignora a espécie de sensibilidade, ou atração, que as plantas têm com ela; procurando-a com suas folhas, extremidades e flores. Todos sabem que as plantas sem o contacto da luz não vegetam, nem produzem, e todas morrem: sem ela, elas não produzem substância alguma combustível, não dão óleo, nem resinas, não são odoríferas. O contrário sucede àquelas que são expostas à ação da luz, e fazem-se tanto mais fructíferas, odoríferas e balsâmicas, quanto mais expostas nascem aos ardores do Sol (de Seabra, 1788, p. 9)".

O alquimista é um Trabalhador da Luz: inicia a sua caminhada da sombra para a luz perfeita. Num primeiro estágio, pela chamada operação negra, o Nigredo, a matéria-prima dissolvida e putrefacta, tratada pelo calor e pelo fogo, numa operação tida por operação branca, o albedo, é purificada por ablução com a aqua vitae, tornando-se na luz da lua, associada à prata e ao poder feminino. Depois, através da chamada operação amarela, a Citrinitas, os metais transmutam-se em prata e ouro, ou da luz da lua, passiva, em luz solar e ativa. Num último estágio, a operação vermelha, a Rubedo, produz-se a Pedra Filosofal.
É o culminar da Obra ou do Casamento Alquímico (Josten, 1949), onde a luz é plena, um estado de total autoconhecimento e pura transcendência. Em cada etapa, o operador da obra resgata uma parte da sua sombra, que nele habita inconsciente e oculta. 
No culminar da Obra, o homem e a mulher atingem todo o seu esplendor. Em total autoconhecimento, a luz jorra de um e de outro, por graça de Lúcifer, o portador da luz, o mais poderoso, belo e sábio ser criado por Deus logo no primeiro dia da criação, mas que renegou o seu Criador, a quem tentou usurpar o trono, tendo sido por Ele exilado para as entranhas e os abismos das trevas. Dele fala Isaías referindo-o como a estrela da manhã, filha da alva, que debilitava as nações até ter sido lançada por Deus para as profundezas da terra (Isaías, XIV, pp. 12–15). Reabilitado, retornou à sua pristina natureza de Anjo da sabedoria e portador de luz, como o seu próprio nome o diz. Ele é a própria regeneração do homem caído no Jardim Terreal.

Em termos alquímicos, a luz é a vida de Deus na alma do homem. Assim o poderemos concluir com o autor do Splendor Solis, o «Esplendor do sol» (Figura 3.2.), editado nos anos de 1532–1535 e cujo autor se crê ter sido o lendário Salomon Trismosin, alegadamente mestre de Paracelso. Considerado o mais magnificente tratado de alquimia de sempre, Thomas Hofmeier rotulou-o como a quinta-essência de todo o procedimento alquímico. O volume contém 22 figuras rodeadas de motivos florais e animais que são devida e pormenorizadamente descritos e explicados no texto, relatando os diversos passos de todo o processo alquímico. Passo a passo, todo este é dominado pelo esplendor do sol, «a luz das luzes», até se chegar à Pedra Filosofal, o símbolo da iluminação divina e a obra mestra de todo o trabalho operativo que regenera por completo a alma, conferindo-lhe a vida eterna, em comunhão com a vida do próprio Deus (Hedesan, 2015).

E o Homem formado por Deus do pó da terra, insuflando-lhe pelas narinas o sopro da Vida (Gen. II, 7), criando-o à Sua imagem (Gen. I, 27), é também ele, na sua essência, feito de luz, com um mecanismo que a torna, em cada instante, Vida. Como o diz a mesma Bíblia, agora pela boca do evangelista S. João, no princípio existia o Verbo; por Ele é que tudo começou a existir, e sem Ele nada foi criado. N´Ele estava a Vida e a Vida era a luz dos homens (Jo. I, 1–4). Quando a luz se apaga, a vida acaba; o homem morre.
Numa palavra, a luz é o poder criador de Deus. Esta é a sua transcendência. Parafraseando uns versos de Guerra Junqueiro na sua Oração à Luz, podemos concluir: tudo é o que é porque o que é o deve à luz, «esta carne, este sangue, esta miséria e este ideal imortal que nos conduz» (1904, p. 47).


Para alcançar o seu propósito, a representação se decompõe em três níveis distintos. O primeiro nível é a rememoração [Erinnerung], que opera o contato inaugural com o material da intuição, interiorizando-o. A inteligência recorda a intuição, utilizando-se da rememoração para trazê-la novamente à consciência. O conteúdo, que na intuição era proveniente das sensações, é agora transformado em imagem. A imagem forma o suporte que fixa o conteúdo da percepção, antes passageiro e ligado ao objeto intuído, para imortalizá-lo como material próprio da inteligência. Em outras palavras, a rememoração se apodera do resultado da apreensão realizada pela intuição, armazenando-o em uma espécie de reservatório pertencente ao domínio do inconsciente. Por fim, as imagens, que permanecem à disposição da inteligência, são trazidas à consciência sem intermédio da vontade, e em conjunto com a intuição, por meio do rememorar.

O primeiro desses graus chamamos rememoração [Erinnerung] no sentido próprio da palavra segundo o qual consiste no evocar involuntário de um conteúdo que já é nosso. A rememoração forma o grau mais abstrato da inteligência que se ativa em representações. Aqui, o conteúdo representado ainda está, ele próprio, como na intuição; nela recebe sua confirmação, como, vice-versa, o conteúdo da intuição se confirma na minha representação. Temos, por conseguinte, desse ponto de vista, um conteúdo que não é só intuído como essente, mas ao mesmo tempo rememorado, posto como o meu. Assim determinado, o conteúdo é o que chamamos “imagem”123 .

O segundo nível da representação é a imaginação. A imaginação [Einbildungskraft] é a atividade da razão que se eleva, em primeiro grau, do mero rememorar, revivendo as imagens que foram interiorizadas no reservatório da inteligência, na imaginação reprodutiva, vinculando-as em combinação com outras imagens, na imaginação associativa e, por fim, assumindo-se como imaginação produtiva, é responsável pela criação de representações universais. A imaginação, caracterizada como uma intuição interior, é a faculdade que revive e relaciona as inúmeras imagens determinadas no decorrer de sua atividade, da fantasia simbolizante, que institui a figura do símbolo, até a fantasia significante, que gera a configuração do signo e, em último grau, faz a passagem para a memória, a última forma do silogismo da representação.

"O segundo grau nessa esfera é a imaginação. Aqui entra em cena a oposição entre meu conteúdo subjetivo ou representado e o conteúdo intuído da Coisa. A imaginação elabora para si um conteúdo que lhe é próprio, ao comportar-se [como] pensante em relação ao objeto intuído: desprende o universal do mesmo e dá-lhe determinações que competem ao Eu. Dessa maneira deixa a imaginação de ser uma rememoração simplesmente formal e torna-se a rememoração que diz respeito ao conteúdo, que o universaliza, e, portanto, cria representações universais."124


Por fim, a terceira forma da representação assume-se como memória. A memória [Gedächtnis] se constitui com uma espécie de segunda rememoração, a qual não necessita da imagem ou presença do objeto, uma vez que lida exclusivamente com o nome produzido pela imaginação. O trabalho da memória é realizar a rememoração do nome, que enquanto produção da imaginação, é extremamente fugaz. A memória retém o nome e executa um duplo movimento, ao reconhecer na configuração do nome o objeto representado, e a partir da coisa, o signo a ele correlacionado. Para isso, a memória interioriza a criação do nome, o exterior, na interioridade da inteligência, tornando-o, assim, sua propriedade. Contudo, ao interiorizar o exterior e ser preenchida por esse conteúdo, a inteligência opera sua própria extrusão125, assumindo-se como o mecanismo, a linguagem, que retém e impulsiona as representações para a mediação do pensamento. 


"A memória é o terceiro grau da representação. Aqui, de um lado, o signo é rememorado, acolhido na inteligência; de outro lado, justamente por isso, dá-se à inteligência a forma de algo exterior, mecânico, e por esse caminho se produz uma unidade do subjetivo e do objetivo, que forma a passagem ao pensar como tal."126

O momento do representar é, portanto, determinante para com a atividade da inteligência, especialmente quando relacionado ao pensar, uma vez que as produções da representação, a saber, o nome e a estrutura da linguagem, formam a base do seu desenvolvimento e possibilitam a expressão do conhecimento especulativo. A partir destas observações preliminares acerca do desenvolvimento da representação, cabe agora seguir com a consideração particular de cada um dos seus estágios, tomando como ponto de partida a faculdade da rememoração.

 (...)

A imaginação136 [Einbildungskraft] 137, o segundo estágio da representação, é inteligência ativa que, por sua potência criadora, reproduz imagens, produz significações e constrói uma nova representação da realidade: “Ela é, em geral, o determinante das imagens”138 . É, com efeito, a força que demonstra a capacidade criadora da subjetividade do indivíduo, ao mesmo tempo que é relacionada com o elemento de autenticação objetiva na construção da linguagem139 . Constituída como o termo médio da representação, associa-se com a rememoração para mediar o conteúdo anteriormente interiorizado:

A rememoração, a primeira forma do representar, eleva-se à imaginação porque a inteligência saindo do seu abstrato ser-dentro-de-si para a determinidade, dissipa a escuridão noturna que envolvia o tesouro de suas imagens, e a afugenta pela luminosa clareza da presença. 140


136. O termo correspondente à imaginação na língua alemã é formado por duas palavras distintas: a primeira, o verbo einbilden, proveniente de Bild, pintura e imagem, e bilden, moldar e formar, significou originalmente o processo de estampar ou imprimir ou gravar algo à alma, assumindo posteriormente, o significado de “imaginar”. Einbilden, portanto, é a imaginação. Em Hegel, associado com a palavra Einbildungskraft, o poder da imaginação, relaciona-se comumente com a imaginação reprodutiva e a associativa. Einbildungskraft pode significar ainda a imaginação como momento central da representação, e a compreensão de seus três níveis: reprodutiva, associativa e produtiva. Já Phantasie, originária do grego phantasia, como fantasia, imaginação, a capacidade de perceber aparências, demonstra a faculdade superior da imaginação, em sua fase criativa, poética e artística, relacionando-se com a imaginação produtiva ou criativa (INWOOD, Dicionário Hegel).

No primeiro momento de seu elevar, a imaginação é assumida, exclusivamente, em sua forma reprodutiva. Nessa configuração, a reprodução das imagens ocorre de maneira arbitrária, em um agir espontâneo, o qual não necessita da ajuda de uma intuição imediata, diferenciando-se, deste modo, da simples rememoração. A imaginação, enquanto reprodutiva, torna-se, em oposição àquele momento anterior, apta para rememorar a imagem, sem, com isso, necessitar da presença do objeto contraposto à consciência, dado que as intuições acerca deste outro já foram interiorizadas no reservatório particular da inteligência. Neste estágio, a imaginação, portanto, promove “[…] o surgir das imagens para fora da interioridade própria do Eu, que agora é potência [dominadora] delas”141 . 



η φαντασία προέρχεται από τη λέξη «φως»


(203) Epicuro afirma que há duas coisas estreitamente unidas entre si, a imagem (φαντασία) e a opinião (δόξα), das quais a imagem, que ele denomina também evidência (ἐνάργεια), é sempre verdadeira. Pois assim como as afecções (πάθη) primeiras, o prazer e a dor, são produzidas por certos agentes e em conformidade com estes agentes, a saber o prazer para as coisas agradáveis e a dor para as coisas dolorosas, e como o agente do prazer não pode jamais não ser agradável nem o agente da dor não ser doloroso, mas necessariamente aquilo que causa prazer seja, quanto a sua natureza, agradável, e o que faz sofrer, doloroso, assim também no caso das imagens, que são afecções em nós, o agente que produz cada uma delas é sempre inteiramente dado na imagem (ϕανταστόν); e, como sendo dado na imagem, não lhe é possível ser isto que produz a imagem se não é na realidade tal qual aparece. (204) É necessário raciocinar de uma maneira análoga a propósito das imagens particulares. Pois o objeto visível não apenas se manifesta de modo visível, mas é tal como se manifesta, e o objeto sonoro não apenas se manifesta como sonoro mas ele é tal como se manifesta, e assim para todos os outros. Portanto, todas as imagens que se produzem são verdadeiras e conforme a razão; (205) Pois, afirmam os epicuristas, se a imagem é afirmada como “verdadeira” todas as vezes que provém de um objeto real e em conformidade com este objeto real, já que toda imagem provém de um real objeto da imagem (ϕανταστόν) e é conforme a este objeto, toda imagem é necessariamente verdadeira. (206) Mas ocorre que alguns são completamente enganados pela diferença de imagens que parecem vir de um mesmo objeto sensível, por exemplo um objeto visível, segundo a qual o objeto (ὑποκείμενον) hypokeimenon (objeto material, coisa subjacente) parece de uma outra cor ou de uma outra forma, ou modificado de uma outra maneira. Pois supõem que de imagens diferentes ou mesmo opostas é necessário que algumas sejam verdadeiras e outras falsas. Ora, isto é ingênuo e característico de homens que não são capazes de ver as coisas como elas são realmente. (207) Pois – para raciocinar apenas sobre os objetos visíveis – não é o sólido (τὸ στερέμνιον) inteiro que é visto mas apenas a cor do sólido. E quanto à cor, existe aquela que está sobre o sólido mesmo (como no caso das coisas vistas de perto ou de uma distância moderada), e aquela que se encontra no exterior do sólido e nos lugares vizinhos (como no caso das coisas vistas a uma grande distância). Esta, sendo modificada no intervalo, e recebendo uma forma particular, fornece uma imagem tal que corresponde ao que ela é efetivamente. (208) Assim, do mesmo modo que não se escuta nem o som produzido no interior do vaso de bronze que é golpeado, nem o som na boca daquele que grita, mas sim aquele que impressiona os nossos sentidos, do mesmo modo que ninguém afirma que ao ouvir um som longínquo ouve um som falso, na medida em que, aproximando-se, ouve-o mais forte, não poderei afirmar que a visão nos engana porque, à grande distância, ela vê a torre pequena e redonda, enquanto de perto ela é grande e quadrada, (209) mas antes deverei afirmar que é verdadeira, pois quando o objeto sensível aparece pequeno e de tal forma, ele é realmente pequeno e de tal forma, na medida em que as extremidades dos simulacros (εἴδωλον) são quebradas por causa de sua passagem através do ar, e quando ele aparece grande e de uma outra forma é por que assim ele é, não sendo pois o mesmo objeto nos dois casos. (210) De fato, é próprio da sensação captar apenas o que está presente e o que a move – a cor por exemplo – mas não discernir que o objeto (ὑποκείμενον) é um aqui e outro ali. Por estas razões as imagens são todas verdadeiras. <As opiniões não são todas verdadeiras>, mas apresentam uma certa diferença. Entre elas, umas são verdadeiras, outras falsas, posto que são nossos julgamentos sobre as imagens, e julgamos tais coisas corretamente, tais outras incorretamente, seja adicionando e atribuindo alguma coisa às imagens, seja subtraindo alguma coisa delas, e, de modo geral, interpretando falsamente a sensação irracional (ἄλογος). (211) Então, entre as opiniões, segundo Epicuro, umas são verdadeiras, outras são falsas, sendo que as verdadeiras são confirmadas e <aquelas que> não são infirmadas pela evidência (ἐνάργεια), ao passo que as falsas são aquelas que são infirmadas e <aquelas que> não são confirmadas pela evidência. (212) A confirmação (έπιματύρεσις) é o ato de compreender com evidência que o que é opinado (τὸ δοξαζόμενον) é tal como foi opinado. Por exemplo, enquanto Platão vem de longe, eu conjeturo e opino, em razão da distância, que é Platão; à medida que se aproxima torna-se mais claro que é ele; e quando reduz-se a distância, a confirmação é feita pela evidência mesma. (213) A não-infirmação (οὐκ αντιμαρτὑρεσις), de outra parte, é o liame de conseqüência (άκολουθιία) que conecta o invisível (τὸ ἄδηλον) suposto e opinado ao fenômeno (τὸ φαινόμενον); por exemplo, quando Epicuro afirma que o vazio, que é invisível (ἄδηλον) ( unseen, not manifest, not obvious, inconspicuous, indistinct), existe, isto é confirmado por uma coisa evidente, a saber, o movimento: pois, não existindo o vazio, também o movimento não poderia existir, já que os corpos em movimento não teriam lugar no qual pudessem estar colocados, posto que todas as coisas seriam plenas e compactas, (214) de modo que, uma vez que existe movimento, o fenômeno (τὸ φαινόμενον) não desmente aquilo que foi opinado acerca do invisível. Mas a infirmação (αντιμαρτὑρεσις) é em alguma medida oposta à não-infirmação; pois consiste na refutação, com o invisível suposto, do fenômeno - como quando, por exemplo, o Estóico, sustentando algo em relação ao que não é invisível, afirma que o vazio não é, o fenômeno, ou seja o movimento, é necessariamente refutado segundo o que é assim suposto: pois não existindo o vazio, o movimento não se produz, conforme já se mostrou. (215) Do mesmo modo, a não-confirmação (οὐκ έπιμαρτὑρεσις) opõe-se à confirmação. Com efeito, ela consiste na constatação, por meio da evidência, que aquilo de que algo foi afirmado não corresponde ao que foi afirmado; como quando, por exemplo, alguém distante se aproxima, conjeturamos, em virtude da distância, que é Platão, mas, reduzida a distância, passamos a saber que não é Platão. Tal coisa é uma não-confirmação, pois aquilo que foi inicialmente afirmado não foi confirmado pelo fenômeno. (216) Por conseguinte a confirmação e a nãoinfirmação são critérios segundo os quais alguma coisa é verdadeira, mas a não confirmação e a infirmação os critérios segundo os quais alguma coisa é falsa. Assim a evidência é a base e o fundamento de tudo.19.

Ver Aristóteles, Metafísica, A 4 985 b 4: “[...] assim como aqueles que consideram o substrato como uno fazem derivar todas as outras coisas das suas modificações, vendo no denso e no rarefeito as origens dessas modificações, também estes filósofos dizem que as diferenças nos elementos são as causas de todas as outras qualidades. Essas diferenças, acrescentam eles, são três: forma, ordem e posição. Pois, no seu modo de ver, o real só se diferencia pelo ‘ritmo’ (rhusmos), pelo ‘contato mútuo’ (trope) e pelo ‘girar sobre si’ (diathige); e, destes, o ritmo é a forma (schema), o contato mútuo é a ordem (taxis), e o girar sobre si é a posição (thesis); com efeito, A difere de N pela forma, AN de NA pela ordem, e de H pela posição. O problema do movimento – de onde e como vem ele encontrar-se nas coisas – esses filósofos, como os outros, negligentemente puderam de parte”. Aristóteles, tanto quanto Simplício, mais tarde, faz uma transposição dos termos democriteanos rhusmos, trope, e diathige por schema, taxis e thesis, respectivamente.

From the Hellenistic period on, ἐνάργεια/enargeia, which is defined by LSJ as “clearness, distinctness, vividness”,1 plays an important role as a philosophical, rhetorical, and literary concept. These three aspects often blend with one another and overlap in their uses, as the term refers to: 1) clarity [perspicuitas] of physical sensation as well as verbal expression, which is sufficiently lifelike so as to render the subject “before the eyes” of the reader/listener; 2) (self-) evidence [evidentia] of truth both direct to the senses and indirect through signs, reports, and reasoning; and 3) the epistemological basis for knowledge itself [scientia].

In order to observe how enargeia plays a role in Roman literature—philosophically, rhetorically, and poetically—it is helpful to start at the beginning by considering the origin of the word. Ἐναργεία comes from ἐναργής, an adjective that is derived from the Indo-European root, “ar(e)-ĝ- (arĝ-?), rgi-”, meaning “shining, whitish”.11 In Greek, ἐναργής,-ές was formed from the simplex adjective ἀργής,-ῆτος (Attic ἀργός,-ή,-όν), meaning “shining, glistening; white; bright”, which Cunliffe notes is intensified by the prefix -ἐν. 12 More specifically, Strömberg argues that whereas ἀργής is often applied to brightness particularly of “vivid lightning”, the likeliest explanation for the origin of ἐναργής is that it is “a possessive compound ...meaning that ‘in which light is’”.13 This observation helps to account for the earliest uses of the adjective in Homer, where it is employed in sublime contexts, applied especially to divinities when appearing in dreams or epiphanies. 

In Latin, a variety of expressions convey the same concept, including “demonstratio, evidentia, illustratio, repraesentatio, and sub oculos subiectio”.15 What is common to all of these terms—from their earliest origin to the later specialized instances—is a stress on brightness or clarity in relation to the sensation of vision.

Recall that another synonym for enargeia in Latin is sub oculos subiectio. The ability to create images before the eyes (ante oculos) of the reader/listener is the defining feature of poetic/rhetorical enargeia. Cf. Zanker (1981) 298-9, particularly in reference to Ad Heren. 4.55.68 (Demonstratio [i.e. enargeia] est cum ita uerbis res exprimitur ut geri negotium et res ante oculos esse uideatur) and Cicero, Part. Or. 6.20 (Est enim haec pars orationis, quae rem constituat paene ante oculos; is enim maxime sensus attingitur, sed et ceteri tamen et maxime mens ipsa moueri potest). 


ΙΙ. I shall outline and explore the notion of phantasia, which is described by the Stageirite philosopher as: (a) the faculty/power (δύναμις) by which a phantasma is presented to us («εἰ δή ἐστιν ἡ φαντασία καθ᾽ ἣν λέγομεν φάντασμά τι ἡμῖν γίγνεσθαι»)2 , (b) the faculty/power which is not sensation (αἴσθησις), or opinion (δόξα), or knowledge (ἐπιστήμη), or intellect (νοῦς), and (c) the type of motion (κίνησις), which is generated by actual perception («ἡ φαντασία ἂν εἴη κίνησις ὑπὸ τῆς αἰσθήσεως τῆς κατ᾽ ἐνέργειαν γιγνομένη»)3 . Furthermore, I shall argue that we need to be very careful about how we interpret the word «φάντασμα» in the Aristotelian texts. ΙΙΙ. Finally, I shall try to demonstrate that when we study in depth the notion of phantasia (φαντασία), as it is described in Book III of De Anima, we can realize that Aristotle speaks about three and not two kinds or grades of phantasia. I. Parts (Μόρια) or Faculties/Powers (Δυνάμεις) of the Soul  In Book II, Chapter 1 of De Anima Aristotle describes the soul as «ἐντελέχεια ἡ πρώτη σώματος φυσικοῦ ὀργανικοῦ» («the first actuality of a natural organic body»)4 .

The soul is organically connected with the body. The soul is the form (μορφή or εἶδος) of the body, while the body is the matter (ὕλη) of the soul (hylomorphism). According to Aristotle, the soul is inseparable from the body. The soul and body are not two separate entities but one composite substance. In addition, the philosopher distinguishes different parts (μόρια) or faculties/powers (δυνάμεις) of the soul corresponding to different kinds of living beings. These parts perform, as we shall see later in the present paper, specific functions; however they form a unified whole. 

O nome "Estoicismo" deriva do Stoa Poikile (do grego: ἡ ποικίλη στοά), ou "alpendre pintado", uma colunata decorada com cenas de batalha míticas e históricas, no lado norte da Ágora em Atenas, onde Zenão e seus seguidores se reuniram para discutir suas idéias.


Decerto que em Sêneca a busca por uma vida reta e de acordo com a natureza só pode ser alcançada a partir da negação das coisas fúteis, do apego aos bens materiais, da libertação do espírito, em razão de buscar-se a sabedoria.




Hino a Zeus 

Ó glorioso, mais que todos os outros, 
Ó suma potência eterna. 
Deus dos muitos nomes, 
Ó Zeus, guia e senhor da Natureza, 
Que governas com Lei o universo, Salve! 
Todos os mortais devem louvar-te, 
Pois somos da tua estirpe, e possuímos a palavra 
Como reflexo da tua mente, 
Únicos entre todos os viventes 
Que sobre a nossa terra têm vida e movimento. 
A Ti se eleve dos meus lábios o hino, 
E que eu cante sempre o teu poder! 
A Ti todo o admirável universo. 
Girando sempre em torno dessa terra. 
Obedece, deixando-se guiar por Ti, 
Fazendo do Teu comando o seu querer: 
Como instrumento, nas invencíveis mãos, 
Tens em teu poder o raio de duplo fio, 
Ígneo, sempre aceso e vivo, 
Sob cujos golpes toda a Natureza 
Cumpre todas as suas obras. 
Com ele diriges a Razão comum, 
Que tudo penetra, tocando igualmente 
Os grandes e os pequenos luzeiros; Por isso. 
Tu, ó grande Senhor, Dominas tudo em todo tempo. 
Sem ti, nada se cumpre sobre a terra, 
O espírito divino; nem na sagrada esfera celeste, 
Nem entre os abismos marinhos; 
Salvo o que fazem os espíritos perversos 
Seguindo estultos conselhos. 
Mas até os excessos tu sabes nivelar, 
E dar ordem à desordem [...] 
(Cleanto de Assos)

Cleantes de Assos (ca. 330 - 320 a.C) Κλέανθης, Kléanthēs, filósofo estóico, discípulo e continuador da filosofia de Zenon de Citio (Cício) Ζήνων ὁ Κιτιεύς; Zēnōn ho Kitieŭs (333 - 233 a. C) como segundo escolarca (líder da academia) da escola estoica de Athenas. Cleantos era atleta de grande porte físico que desembarcou em Atenas possuindo apenas quatro dracmas, por volta de 282, e logo começou a seguir os ensinamentos de Zenão.

Tendo iniciado o estudo da filosofia aos 50 anos de idade, depois de ter sido atleta e apesar de viver na pobreza, seguiu as lições de Zenão de Cítio e após a morte deste, cerca do ano 262 a.C., assumiu a liderança da escola, cargo que manteria por 32 anos, preservando e aprofundando as doutrinas do seu mestre e antecessor. Desenvolveu novas ideias no campo da física estóica e desenvolveu o estoicismo de acordo com os princípios do materialismo e do panteismo. Entre os fragmentos existentes dos seus escritos, o mais significativo é um Hino a Zeus. Teve como pupilo e sucessor Crisipo de Solis, que se revelaria um dos mais importantes pensadores estoicos.

É a harmonia com a natureza que irá culminar a origem daquilo que os estoicos denominaram de Summum Bonum (o supremo bem). Trata-se de aprender a viver em harmonia com a natureza, visando ao pleno alcance da felicidade que tem como objetivo a virtude, de fato “a virtude é o bem supremo, aliás, é o único bem


Os tratados sobre o sono e os sonhos de Aristóteles, os assim intitulados: Sobre o Sono e a Vigília, Περὶ ὕπνου καὶ ἐγρηγόρσεως (De Somno et Vigilia), e Sobre os Sonhos, Περὶ ἐνυπνίων (De Insomniis), são dois opúsculos de caráter relativamente monotemático que, juntamente com o Sobre a Adivinhação durante o Sono, Περὶ τῆς καθ’ὕπνου μαντικῆς (De Divinatione per Somnum), e com outras seis breves obras, compõem a coleção de tratados para os quais a posteridade deu o nome de Parva Naturalia, ou seja, Breves Escritos relativos à Natureza. Sob este título encontramos reunidos, na seguinte ordenação corrente com as respectivas páginas, colunas e linhas que ocupam na clássica edição de Immanuel Bekker (1831-1836), a primeira edição crítica das obras de Aristóteles: o Sobre a Sensação e os Sensíveis, Περὶ αἰσθήσεως καὶ αἰσθητῶν (De Sensu et Sensibilibus), em 436a 1 – 449b 4, antecedendo o Sobre a Memória e a Rememoração, Περὶ μνήμης καὶ ἀναμνήσεως, (De Memoria et Reminiscentia), em 449b 4 – 453b 10, que é sucessivamente seguido pelos três tratados sobre o sono e os sonhos, em 453b 11 – 464b 18, na supradita ordem, e depois pelo Sobre a Longevidade e a Brevidade da Vida, Περὶ μακροβιότητος καὶ βραχυβιότητος, (De Longitudine et Brevitate Vitae), em 464b 19 – 467b 9, que, por seu turno, antecede os três últimos opúsculos por vezes agrupados sob o mesmo título: Sobre a Juventude e a Velhice, Sobre a Vida e a Morte e Sobre a Respiração, Περὶ νεότητος καὶ γήρως, Περὶ ζωῆς καὶ θανάτου e Περὶ ἀναπνοῆς (De Juventute et Senectute, De Vita et Morte e De Respiratione), os quais se encontram em 467b 10 – 480b 30. (Palmieri, 2015

Conforme Mugnier (2002, p. 6), os principais editores de Aristóteles cindem o De Vita et Morte e, tomando seus dois primeiros capítulos à parte, os intitulam de De Juventute et Senectute. Bekker divide os três últimos opúsculos em dois, precisamente em 470b 6. Siwek (1963), por sua vez, edita o De Vita et Morte separadamente, em 478b 22 – 480b 30. 1. Morel (2000, p.11) aponta para o fato de muitos editores modernos apresentarem o De Juventute et Senectute, De Vita et Morte e o De Respiratione como um único, notadamente tomando como base as indicações presentes no próprio texto e os títulos dos manuscritos.2 Em alguns códices ainda figura, depois do De Divinatione per Somnum (DivSomn.), o tratado Sobre o Movimento dos Animais, Περὶ ζῴων κινήσεως (De Motu Animalium), mas tem sido unânime entre os editores não o incluir no grupo dos Parva Naturalia.3



Nas primeiras linhas de Juv., em 467b. 10-13, é anunciada a necessidade de se tratar da questão da juventude e da velhice e da vida e da morte, bem como, igualmente, da respiração: “Περὶ δὲ νεότητος καὶ γήρως καὶ περὶ ζωῆς καὶ θανάτου λεκτέον νῦν· ἅμα δὲ καὶ περὶ ἀναπνοῆς ἀναγκαῖον ἴσως τὰς αἰτίας εἰπεῖν· ἐνίοις γὰρ τῶν ζῴων διὰ τοῦτο συμβαίνει τὸ ζῆν καὶ τὸ μὴ ζῆν.”, “E agora é preciso discorrer sobre a juventude e a velhice e sobre a vida e a morte; e também, simultaneamente, é igualmente necessário discorrer sobre as causas da respiração, pois para alguns dos seres vivos é através desta que se realiza o viver e o não viver.” (Palmieri, 2015


A utilização do título latino para se referir à coletânea tornou-se usual sobretudo devido à ausência de um título em grego. Ao que tudo indica, nem Aristóteles, nem seus primeiros editores teriam dado um título comum a essa série de opúsculos.4 Morel (2000, p.10) menciona que os comentadores mais antigos de Aristóteles abordavam os opúsculos separadamente ou em grupos. Para citar alguns exemplos: dispomos de um comentário ao De Sensu et Sensibilibus (Sens.) de Alexandre de Afrodísia (séculos II-III de nossa era); Temístio, no século IV, traçou comentários ao De Memoria et Reminiscentia (Mem.), ao De Somno et Vigilia (SomnVig.), ao De Insomniis (Insomn.) e ao De Divinatione per Somnum (DivSomn.); Michel de Éfeso, no século XII, comentou todo o conjunto, exceto o Sens.; além deles, Averróis, também no século XII, teceu comentários aos primeiros seis tratados da coleção (na ordem supramencionada); e Tomás de Aquino, no século XIII, foi autor de comentários ao Sens. e ao Mem. Segundo Ross (2001, p.1), a denominação Parva Naturalia foi primeiramente utilizada no do século XIII, por Aegidius Romanus – Egídio (ou Gil) de Roma (1247-1316), filósofo italiano, tradutor e comentador de Aristóteles, então discípulo de Tomás de Aquino – para nomear a reunião de pequenos textos sobre a natureza cuja autoria se atribuía a Aristóteles. No fim do século XV, esta designação passou a ser usada em alguns manuscritos da Vetus Translatio Latina. (Palmieri, 2015



Átomo, τὰ ἄτομα, que se traduz, simplesmente por incortáveis ou insecáveis, um tipo de corpo mínimo, indivisível e eterno que funcionaria como elemento concreto de todas as coisas que existem. (Demócrito e Leucipo).


Pressupostos metafísicos associados a certas reflexões pertinentes à esfera da ciência óptica era um recurso bastante usado pelos novatores para pensar o novo mundo e as descobertas científicas. A. Koyré diz no clássico Do mundo fechado ao universo infinito, por exemplo, que Kepler recorre a razões metafísicas para negar a doutrina da infinitude do mundo bem como à óptica porque em se tratando do mundo que nós vemos, segue que “a Astronomia está estreitamente relacionada com a visão, ou seja, com a óptica, [e] não pode admitir coisas que contradigam as leis da óptica.”
(...)
A teoria da intromissão da luz de Al-Hazen (isto é, a idéia que vemos através de raios de luz que entram nos olhos a partir do exterior) substitui gradativamente a teoria da emissão da luz dos antigos (isto é, a idéia que vemos através de raios visuais emitidos pelo olho). Vitelo continua os estudos de Al-Hazen e acrescenta que o raio de luz deve ser definido como um feixe de linhas matemáticas10. A explicação física da luz recebe com Vitelo um “tratamento puramente geométrico” de forma que o fenômeno óptico passa a ser explicado em termos de “pontos e linhas”11. Prins sugere que os estudos desenvolvidos pelos ópticos medievais reduzem a óptica à geometria de forma que a natureza da luz é por eles formulada a partir de um tratamento puramente geométrico de problemas físicos justificado pelo conceito de raio de luz12. Em resumo, a forma geométrica como os antigos explicavam a visão através da noção de raio visual sofre uma readequação com os medievais de forma a conduzir a uma explicação física da luz justificada pela geometrização do raio de luz.

De fato, Dherbey sugere que a identificação de fantasia e luz em Aristóteles serve para dissipar o erro de não se diferenciar a sensação da imaginação. “A confusão feita por Protágoras entre sentir e imaginar se explica se atentamos à etimologia de phantasia que, nos diz Aristóteles, vem de phaos, a luz.”



(Leivas, C.R. Princípios, Natal, v. 14, n. 21, jan./jun. 2007, p. 39-53)




“A importância de René Descartes (1596-1650) como filósofo que inaugura o pensamento moderno nos coloca antes de qualquer coisa a questão de saber o que nele existe de continuidade e de ruptura em relação à tradição anterior (medieval). A ruptura com a tradição não significa que Descartes a ignora, mas sim que ele a critica. A crítica feita por Descartes à teoria do conhecimento anterior a ele foi bem sintetizada em sua obra Discurso do Método onde apresenta o caminho que a razão deve percorrer para alcançar o conhecimento verdadeiro: a primeira era a de não aceitar nenhuma coisa como verdadeira se não soubesse com evidência que ela era assim – isto é, consistia em evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e compreender em meus juízos apenas aquilo que se apresentava tão clara e distintamente a meu espírito que eu não tivesse nenhuma oportunidade de duvidar; a segunda era a de dividir cada dificuldade que examinasse em tantas parcelas que fosse possível e que fosse requerido para resolvê-la melhor; a terceira, de conduzir meus pensamentos em ordem, começando pelos objetos mais simples e mais propícios ao conhecimento, para construir, pouco a pouco, como que por degraus, o conhecimento dos objetos mais compostos – supondo, até mesmo, uma ordem entre os objetos que não precedem naturalmente uns aos outros. E, por fim, de fazer, em todos os casos, enumerações tão completas e revisões tão gerais que estivesse assegurado de não omitir nada”. (Descartes, Discurso do Método. In: FIGUEIREDO, Vinícius de (Org.). Seis filósofos na sala de aula. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2006. p.92-93).





“No século XIX, a Alemanha ainda se encontra dividida em diversos Estados. A unificação dar-se-á apenas em 1871, sob o comando de Bismarck, primeiro-ministro da Prússia, após três guerras e muitas táticas de unificação econômica. Foi, então, numa Alemanha agitada e cheia de problemas que surgiu o marxismo. A teoria marxista é fruto não só de Karl Marx (1818-1883) mas também de seu amigo Friedrich Engels (1820-1895), que, além da colaboração ideológica, era industrial e pôde, por diversas vezes, ajudar Marx financeiramente nos momentos mais críticos de sua vida pessoal. Marx e Engels formularam suas ideias a partir da realidade social por eles observada: de um lado, o avanço técnico, o aumento do poder humano sobre a natureza, o enriquecimento e o progresso; de outro, e contraditoriamente, a escravização crescente da classe operária, cada vez mais empobrecida. Para a elaboração de sua teoria, partem da leitura dos economistas ingleses Adam Smith e David Ricardo, da filosofia de Hegel (o conceito de dialética e uma nova concepção da história), dos filósofos do socialismo utópico e de Feuerbach. A teoria marxista compõe-se de uma filosofia, o materialismo dialético, e de uma teoria científica, o materialismo histórico”. (ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 3 ed. revista. São Paulo: Moderna, 2003. p.263-264) (ifes).


A luz é um símbolo antigo de Conhecimento, de Ciência. Assim como Dionísio o é para a Comédia, Apolo, deus da Tragédia, também é símbolo da Luz. No nosso mundo, completamente povoado de telas de cristal líquido que ocultam a escuridão, o Rei Olho vive e reina como mestre soberano.
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“Quem são os verdadeiros filósofos?”, perguntou de modo incisivo o irmão mais velho de Platão, Glauco, em A República. “Aqueles para quem a verdade é o espetáculo pelo qual estão apaixonados”, respondeu Sócrates (Plato et al., 1914, V, 475e). Os filósofos procuram apreender a verdade de maneira imaginativa, enquanto os mágicos se voltam para a natureza imaginária da verdade. E os artistas? O talento artístico deve resistir como um espaço de liberdade para que a imaginação continue engraçada, louca ou tola, sem que, desse modo, deixe de conectar o perecível e o sublime. 
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A imaginação poética não pode ser considerada à risca como capaz de trazer o não-ser ao ser como se a poiese fosse feitiçaria; mesmo a famosa declaração em O Banquete (205c) não era de Sócrates, mas de Diotima, profetiza do amor. Fertilidade, guerra e amor estão associados à mágica imaginativa feminina conforme múltiplas perspectivas (Pollock; Turvey Sauron, 2007). Circe, Afrodite, Tanit, Isthar, Inanna, Ísis e remontando à Vênus neolítica, as deidades femininas representadas pela estrela d’alva também estão relacionadas com os descensus ad infernos e a vida após a morte. A faculdade criativa da alma pode comprometer todo o sistema lógico se for considerada mágica: pode-se soprar as velas do bolo como se cada dia fosse seu próprio desaniversário.
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De acordo com Porfírio, o Fenício, na língua persa magus se refere a “divinorum interpres et cultor” (apud Pico della Mirandola et al., 2012 [1486], p. 419). Magi na tradição oriental, sacerdos em latim, eram adoradores e intérpretes do divino. Por analogia, os mágicos conseguem reconhecer aquilo que, sendo visível, só é enxergado por iniciados – sonhos, espelhos e corpos celestiais através dos quais a ordem natural se auto manifesta – , e por meio da ressonância, podem exercer sua influência sobre o ordenamento. A imaginação não é apenas um mecanismo produtivo, também constitui a essência natural de tudo que existe em transformação, ou, nas palavras de Aristóteles sobre a alma, a “imaginação deve ser um movimento resultante de um exercício real de um poder do sentido” (Aristotle, 1908, 3: III, 428b-429a). Além disso, esta famosa leitura sobre produzir e tornar-se recorre à metáfora da luz para explicar como a potência irradia sobre o real “como um tipo de dispositivo (ἕξις)” (Aristotle, 1993, p. 60), e o dispositivo é uma chave para as teorias não-essencialistas sobre o binômio identidade-performance. A poiese é mimética e produz fenômenos, enquanto a mágica é analógica e traz conhecimento de uma realidade geométrica, recursiva e incessantemente transformadora; ambas, mágica e poiese, se reúnem para a dança sagrada de Shiva, irradiador de poder cósmico. De acordo com Plotino (1918), mestre de Porfírio, a imaginação é a natureza da arquitetura cósmica, e um mago é o ministro da natureza e não meramente seu hábil imitador (Pico della Mirandola et al. apud Pico, 2012 [1486]). A estética rejeita zombaria, as falsas formas, enquanto a epistemologia tenta anular a mágica de uma vez por todas, não apenas a falaciosa, mas totalmente, porque todo tipo de mágica compromete o fluxo cronológico e a continuidade do espaço, levando a consciência rumo a um impulso suspenso.








Moholy-Nagy discutia a fotografia como um meio que não apenas se afirmava a partir da reprodução, mas que também tinha uma performance produtiva, ou ainda, segundo ele, os fotogramas de Man Ray tinham por objetivo "compreender o enigmático, sinistro (Unheimlich), não cotidiano do cotidiano, criar uma aura para o habitual, trazer à consciência o invisível (metafísico, oculto) daquilo que parecia desapercebido".* Essa tese, para além de introduzir o conceito de aura, deixa entrever O conceito de "inconsciente ótico" de Benjamin.






Nota


Empédocles de Agrigento (421 -481 a.C.) foi um filósofo pré-socrático que tentou conciliar a filosofia de Parmênides com as doutrinas cosmológicas que explicam a multiplicidade da natureza. Fazia parte dos filósofos pluralistas, chamados assim porque buscaram na pluralidade de princípios a solução para as questões da Escola Eleática. Empédocles é o criador da teoria dos quatro elementos — fogo, água, terra e ar. Esses elementos se manteriam unidos ou separados graças a duas forças denominadas pelo filósofo de “amor” e “ódio”.

Os princípios a partir dos quais surgem todas as coisas são o fogo, a água, o ar e a terra. São chamados de quatro raízes e, segundo Empédocles, permanecem inalteráveis apesar das suas interações. Elas jamais deixam de ser o que são ou perdem a identidade. Apenas se unem ou se separam, possibilitando assim o surgimento e o desaparecimento de todos os seres.

Como ser verdadeiro, as quatro raízes permanecem sempre e, assim, é mantida a afirmação de Parmênides de que nada pode surgir do que não é, ou algo que é deixe de ser. Para Empédocles essas raízes são divinas e existem causas que levam à sua união e separação.

Estas causas são chamadas de “amor” e “ódio” e devem ser entendidas como forças que atuam na separação e na união das raízes. O ódio e o amor são eternos, como o fogo, a terra, a água e o ar. Quando o amor predomina, as raízes permanecem unidas, quando predomina o ódio, separam-se. Quando há equilíbrio entre o amor e o ódio, nasce o cosmo, embora haja predomínio do ódio sobre o amor na formação do cosmo.

Com a doutrina do amor e do ódio, mais uma vez surge no pensamento grego a ideia de que o cosmo só pode existir em função da interação de determinadas dualidades. 

A vida do cosmo é cíclica, pois há contínua passagem do estado de unidade (quando o amor predomina) para o estado de multiplicidade (representado pelo equilíbrio do cosmo). Quando predomina o ódio, as raízes se encontram em total separação. O estado de unidade absoluta, no qual as raízes são indiscerníveis, é chamado de “esfera“. Este processo cíclico representa a passagem do uno para o múltiplo e vice-versa, sem que o ser verdadeiro sofra qualquer alteração.

Além da doutrina cosmológica e metafísica, Empédocles elaborou uma teoria do conhecimento. Segundo ele, é possível conhecermos os seres porque emitem eflúvios que atingem nossos órgãos sensoriais, e as partes semelhantes conhecem as semelhantes, já que tudo é formado pelas quatro raízes comuns.

Este célebre princípio reaparece em várias etapas da história da filosofia grega. Na sua obra PurificaçõesEmpédocles repete a doutrina pitagórica e órfica afirmando que a alma é um demônio (daimon) decaído da condição divina por causa de uma culpa originária.

Essa queda ocorre no momento em que o ódio se instaura na esfera: o instante em que se produz a ruptura na unidade que coincide com a queda da alma (daimon) no mundo da Discórdia.



Bibliografia 


https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/11459/11459_5.PDF

Hedrick, Robert Edward. Seeing the Unseeable: The Philosophical and Rhetorical Concept of Enargeia at Work in Latin Poetry. Electronic Theses, Treatises and Dissertations The Graduate School. Florida State University, 2015.