(...)
Na cerimónia de abertura do Ano Internacional da Luz, a 19 e 20 de janeiro do ano 2015, em Paris, o cardeal Gianfranco
Ravasi, Presidente do Conselho Pontifício da Cultura, falou sobre essa transcendência referindo-se à «luz, como um símbolo religioso, entre a imanência e
a transcendência».
Impossível repetir aqui o teor de quanto disse. Tentaremos
abordar o mesmo assunto, sem tentar sequer seguir o mesmo rumo.
No domínio da Física, a essência da Luz é ser uma radiação eletromagnética, cujo comprimento de onda se situa na região do visível do espectro
eletromagnético da radiação, a chamada «luz visível», e também nas regiões do
infravermelho e do ultravioleta do mesmo espectro para a assim chamada «luz
invisível» (de Broglie, 1940).
Mas que há nela para além desta realidade física?
Que há nela para além de toda a experiência possível?
Não queremos confinar-nos aqui ao «Transcendente» como a visão aristotélica de Deus, princípio criador de todas as coisas, o motor-primeiro de tudo
quanto se move, uma autoconsciência externa ao mundo; nem tão pouco ao
conceito judaico-cristão de Deus como um ser externo ao mundo e que ele
próprio criou a partir do nada (creatio ex nihilo). Fazê-lo seria simplificar por
completo uma questão que é demasiado complexa para poder ser confinada
em tão afirmativos, mas redundantes, parâmetros (de Broglie, 1940).
Afirmar a sua transcendência, o transfenomenal que há na luz, aquilo que
nela está para além do escopo da razão e da experiência, seja no campo da
religião, seja na esfera do idealismo subjetivo, será afirmar com René Descartes (1596–1650), o progenitor da filosofia moderna e um dos filósofos
naturais que mais se preocuparam com a caracterização física e metafísica da
luz (Descartes, 1632–1633), que ela é um arquétipo cognitivo que é possível
percecionar de mil e um modos.
Um destes mil e um modos possíveis de percecionar o arquétipo cognitivo
da luz é a visão da luz afirmada e aceite por grande número de alquimistas.
Sem ignorar que a alquimia está muito associada à práticas obscuras e muitas vezes altamente interesseiras e falaciosas na tentativa de transmutar os
metais vis em ouro e prata, por um lado, e encontrar um remédio para todas as doenças que seja simultaneamente, um elixir de longa vida e eternize o
ser humano, tinha como filosofia básica que para conseguir o seu objetivo o
homem teria de se transformar um pouco no próprio Deus que só Ele possui
o poder necessário para o fazer. Para cumprir tal objetivo, nem a filosofia em
que se apoiava, nem muitas das práticas a que recorria se ficavam pelo que
é puramente material. Transformar o homem em Deus ultrapassa o mundo
material e entra no domínio do espiritual, negando todos os cânones da ciência positivista. Daí, que mais que uma ciência, a alquimia deva ser tida como
uma filosofia de vida, tornada verdadeiro ascetismo. Nem por isso se pode
negar que muitas das práticas laboratoriais, mesmo quando não inteiramente
ortodoxas, a que para tanto recorreu ao longo da história foram um grande
contributo para o desenvolvimento da ciência, em particular a ciência química
e a medicina.
Neste particular, se devem considerar a visão da luz consagrada em grande
número dos escritos e afirmações da autoria de alguns dos mais notados
alquimistas. Como exemplo deixaremos aqui uma breve reflexão sobre os
ensinamentos de Robert Fludd (1574–1637) no seu Os Dois Mundos (Fludd,
1617, 1619), escrevendo sobre as forças criativas e as forças salvadoras da
luz, e também, algumas reflexões da autoria de Salomon Trismosin (segunda
metade do século XV), mítico alquimista, alegadamente um dos mais influentes
mestres de Paracelso, quando escreveu explicitamente sobre o «trabalhador
da luz», o alquimista, umas décadas antes do aparecimento de Os Dois Mundos, no famoso tratado Splendor Solis, publicado em 1582, cuja autoria lhe é
atribuida.
Comecemos por Robert Fludd sobre as forças criativas e as forças salvadoras da luz. Para Fludd, estas forças são, umas e outras, os grandes princípios
da luz e da escuridão, e podem ser representadas por dois cones ou pirâmides
que se intersectam: um, a pirâmide «formal» dos raios da luz divina, um cone
em posição invertida, com a base assente no «Empíreo Divino» e o vértice,
em baixo, na Terra; o outro, a pirâmide «material», a pirâmide da luz material,
com a base na Terra, apontando para Deus, com o vértice tocando o empíreo
celeste (Figura 3.1.).
Robert Fludd diz ter sido ele próprio quem inventou estas formas diagramáticas das pirâmides ou cones da luz. Todavia, não há dúvidas que elas se baseiam em diversas teorias óticas da Antiguidade e da Idade Média. Na zona
de interseção destes dois cones ou pirâmides da luz, com um formato losangular, bem no centro, está o próprio Sol, uma esfera cuja natureza balança
entre os opostos, o espírito e a matéria, o masculino e o feminino, o enxofre
e o mercúrio.
Com o Sol no centro das pirâmides da luz, a luz que emana do poder
criador de Deus é a luz que tudo puxa para o mesmo Deus, com o Universo
nela totalmente mergulhado na sua dupla centralidade, a Terra rodeada pelo
Sol, a lua, os planetas, e o próprio Sol situado a meio caminho entre a Terra
e o empíreo celeste, a região do divino onde se encontram as estrelas fixas,
a região da harmonia matemática e musical.
É a consagração da doutrina de
Platão (427–347 a.C.) na sua «Metáfora do Sol»: o Sol é a própria Luz da verdade, ao qual todos nós, prisioneiros numa caverna onde o que contemplamos não passa de meras sombras da verdadeira realidade, devemos expor-nos
se queremos libertar-nos das correntes da escuridão e do mundo que é apenas o mundo das aparências.
O Sol é a fonte de toda a iluminação, a Forma
do Bem, metáfora da natureza da realidade última (Platão, 387–367 a.C.).
O Fogo que o constitui, como já Heráclito (~535–475 a.C.) o afirmara, é como o
elemento unificador da diversidade e revelador da inteligibilidade das coisas.
Fonte de luz, o Sol é fonte de vida. Assim o considerou e assim o usou
Fludd ao pô-lo no centro da área de interseção dos cones da luz, o descendente e o ascendente. Na posição central dos dois mundos que pormenorizadamente descreveu na sua obra “Os Dois Mundos”, o sol é a fonte donde emana
a luz e o espírito da vida. O seu movimento circular é a causa do movimento
de circulação contínua que se observa no sangue, levando o espírito a todas
as partes do organismo. Levado por esta sua crença mística na circulação do
sangue que leva a todas as partes do organismo vivo o espírito da vida que
jorra da luz, como o afirmou na sua “Anatomiae amphitheatrum” (Fludd, 1623),
anos antes de Harvey a descobrir e descrever pormenorizadamente, com base
nas minuciosas dissecações que realizou e publicou em 1628, no seu “De motu
cordis” (Harvey, 1628).
A mesma crença mística, levou Robert Fludd a criticar constantemente
Aristóteles, Galeno e o ensino Escolástico das Universidades.
No seu misticismo, acreditava profundamente que a Biblia sagrada era o grande recetáculo
das verdades eternas e dos grandes mistérios que não conseguimos detectar
através dos nossos sentidos. Grande admirador de Paracelso (Debus, 1977),
ele procurou compreender as verdades divinas que encontrava nas Sagradas Escrituras através da analogia entre o Macrocosmo e o Microcosmo, e as
relações de simpatia e antipatia que entre ambos existe, devotando especial
interesse aos elementos que entram na constituição de todas as coisas.
Tomando à letra a narração do primeiro capítulo do livro do Génesis, nela
encontrou evidência para a existência original apenas da Escuridão, da Luz
e da Água que para ele seriam os verdadeiros elementos de que todas as
coisas seriam feitas. Os tria elementa da Natureza não seriam o Mercúrio, o
Enxofre e o Sal da doutrina de Paracelso.
Muito menos os quatro elementos
da filosofia de Aristóteles, a Terra, o Ar, o Fogo e a Água. Todos estes poderiam, quando muito, ser tidos como elementos secundários. Nestes, Fludd
tinha por demasiado evidente que as duas qualidades sensoriais que justificam, respetivamente, o Fogo e a Água, o calor e o frio, não teriam outra
causa que não fosse a Luz e a Escuridão.
E relativamente ao tria prima de
Paracelso, a Escuridão seria a matéria-prima do Sal; a Luz, a matéria-prima
do Enxofre; e a Água, a matéria-prima do Mercúrio. Por sua vez, seriam estes,
numa lógica oposta à defendida pelos aristotélicos, que produziriam as quatro qualidades sensoriais justificativas dos quatro elementos, o calor, o seco,
o húmido e o frio.
ESCURIDÃO, LUZ E ÁGUA
(...)
Sobre estas forças criativas da luz e o seu espírito vivificador referidos
por Robert Fludd num contexto de ardente misticismo, merece citar-se aqui
um texto da autoria de Vicente Coelho de Seabra (1764–1804), o químico
português autor dos Elementos de Chimica (de Seabra, 1788, 1790). Na sua
Dissertação sobre o Calor (de Seabra, 1788), tratando da natureza do Calor, do
Fogo e da Luz, seguindo Macquer, Fourcroy e Lavoisier, no âmbito da Filosofia
Natural, numa nota introdutória ao assunto, referiu-se Vicente de Seabra à luz
como a «Alma do Universo», concretizando: "a observação mostra a grande influência da luz em todos os Reinos da Natureza:
de sorte que chego a pensar que os Reinos organizados não poderiam existir,
faltando-lhes a luz. O Reino mineral seria muito limitado (…) e ninguém ignora
a espécie de sensibilidade, ou atração, que as plantas têm com ela; procurando-a
com suas folhas, extremidades e flores. Todos sabem que as plantas sem o contacto
da luz não vegetam, nem produzem, e todas morrem: sem ela, elas não produzem
substância alguma combustível, não dão óleo, nem resinas, não são odoríferas. O
contrário sucede àquelas que são expostas à ação da luz, e fazem-se tanto mais
fructíferas, odoríferas e balsâmicas, quanto mais expostas nascem aos ardores do
Sol (de Seabra, 1788, p. 9)".
O alquimista é um Trabalhador da Luz: inicia a sua caminhada da sombra para a luz perfeita. Num primeiro estágio, pela chamada operação negra,
o Nigredo, a matéria-prima dissolvida e putrefacta, tratada pelo calor e pelo
fogo, numa operação tida por operação branca, o albedo, é purificada por
ablução com a aqua vitae, tornando-se na luz da lua, associada à prata e ao
poder feminino. Depois, através da chamada operação amarela, a Citrinitas,
os metais transmutam-se em prata e ouro, ou da luz da lua, passiva, em luz
solar e ativa. Num último estágio, a operação vermelha, a Rubedo, produz-se
a Pedra Filosofal.
É o culminar da Obra ou do Casamento Alquímico (Josten, 1949), onde a luz é plena, um estado de total autoconhecimento e pura
transcendência. Em cada etapa, o operador da obra resgata uma parte da sua
sombra, que nele habita inconsciente e oculta.
No culminar da Obra, o homem e a mulher atingem todo o seu esplendor.
Em total autoconhecimento, a luz jorra de um e de outro, por graça de Lúcifer,
o portador da luz, o mais poderoso, belo e sábio ser criado por Deus logo
no primeiro dia da criação, mas que renegou o seu Criador, a quem tentou
usurpar o trono, tendo sido por Ele exilado para as entranhas e os abismos das trevas. Dele fala Isaías referindo-o como a estrela da manhã, filha da alva,
que debilitava as nações até ter sido lançada por Deus para as profundezas da
terra (Isaías, XIV, pp. 12–15). Reabilitado, retornou à sua pristina natureza de
Anjo da sabedoria e portador de luz, como o seu próprio nome o diz. Ele é a
própria regeneração do homem caído no Jardim Terreal.
Em termos alquímicos, a luz é a vida de Deus na alma do homem. Assim
o poderemos concluir com o autor do Splendor Solis, o «Esplendor do sol»
(Figura 3.2.), editado nos anos de 1532–1535 e cujo autor se crê ter sido o
lendário Salomon Trismosin, alegadamente mestre de Paracelso. Considerado
o mais magnificente tratado de alquimia de sempre, Thomas Hofmeier rotulou-o como a quinta-essência de todo o procedimento alquímico. O volume
contém 22 figuras rodeadas de motivos florais e animais que são devida e
pormenorizadamente descritos e explicados no texto, relatando os diversos
passos de todo o processo alquímico. Passo a passo, todo este é dominado
pelo esplendor do sol, «a luz das luzes», até se chegar à Pedra Filosofal, o símbolo da iluminação divina e a obra mestra de todo o trabalho operativo que
regenera por completo a alma, conferindo-lhe a vida eterna, em comunhão
com a vida do próprio Deus (Hedesan, 2015).
E o Homem formado por Deus do pó da terra, insuflando-lhe pelas narinas
o sopro da Vida (Gen. II, 7), criando-o à Sua imagem (Gen. I, 27), é também
ele, na sua essência, feito de luz, com um mecanismo que a torna, em cada
instante, Vida. Como o diz a mesma Bíblia, agora pela boca do evangelista S.
João, no princípio existia o Verbo; por Ele é que tudo começou a existir, e sem
Ele nada foi criado. N´Ele estava a Vida e a Vida era a luz dos homens (Jo. I,
1–4). Quando a luz se apaga, a vida acaba; o homem morre.
Numa palavra, a luz é o poder criador de Deus. Esta é a sua transcendência. Parafraseando uns versos de Guerra Junqueiro na sua Oração à Luz,
podemos concluir: tudo é o que é porque o que é o deve à luz, «esta carne,
este sangue, esta miséria e este ideal imortal que nos conduz» (1904, p. 47).
Para alcançar o seu propósito, a representação se decompõe em
três níveis distintos. O primeiro nível é a rememoração [Erinnerung], que
opera o contato inaugural com o material da intuição, interiorizando-o. A
inteligência recorda a intuição, utilizando-se da rememoração para trazê-la novamente à consciência. O conteúdo, que na intuição era proveniente
das sensações, é agora transformado em imagem. A imagem forma o
suporte que fixa o conteúdo da percepção, antes passageiro e ligado ao
objeto intuído, para imortalizá-lo como material próprio da inteligência.
Em outras palavras, a rememoração se apodera do resultado da apreensão
realizada pela intuição, armazenando-o em uma espécie de reservatório
pertencente ao domínio do inconsciente. Por fim, as imagens, que
permanecem à disposição da inteligência, são trazidas à consciência sem
intermédio da vontade, e em conjunto com a intuição, por meio do
rememorar.
O primeiro desses graus chamamos rememoração
[Erinnerung] no sentido próprio da palavra
segundo o qual consiste no evocar involuntário de
um conteúdo que já é nosso. A rememoração forma
o grau mais abstrato da inteligência que se ativa em
representações. Aqui, o conteúdo representado
ainda está, ele próprio, como na intuição; nela
recebe sua confirmação, como, vice-versa, o
conteúdo da intuição se confirma na minha
representação. Temos, por conseguinte, desse
ponto de vista, um conteúdo que não é só intuído
como essente, mas ao mesmo tempo rememorado,
posto como o meu. Assim determinado, o conteúdo
é o que chamamos “imagem”123
.
O segundo nível da representação é a imaginação. A imaginação
[Einbildungskraft] é a atividade da razão que se eleva, em primeiro grau,
do mero rememorar, revivendo as imagens que foram interiorizadas no
reservatório da inteligência, na imaginação reprodutiva, vinculando-as
em combinação com outras imagens, na imaginação associativa e, por
fim, assumindo-se como imaginação produtiva, é responsável pela
criação de representações universais. A imaginação, caracterizada como uma intuição interior, é a faculdade que revive e relaciona as inúmeras
imagens determinadas no decorrer de sua atividade, da fantasia
simbolizante, que institui a figura do símbolo, até a fantasia significante,
que gera a configuração do signo e, em último grau, faz a passagem para
a memória, a última forma do silogismo da representação.
"O segundo grau nessa esfera é a imaginação. Aqui
entra em cena a oposição entre meu conteúdo
subjetivo ou representado e o conteúdo intuído da
Coisa. A imaginação elabora para si um conteúdo
que lhe é próprio, ao comportar-se [como]
pensante em relação ao objeto intuído: desprende o
universal do mesmo e dá-lhe determinações que
competem ao Eu. Dessa maneira deixa a
imaginação de ser uma rememoração
simplesmente formal e torna-se a rememoração que
diz respeito ao conteúdo, que o universaliza, e,
portanto, cria representações universais."124
Por fim, a terceira forma da representação assume-se como
memória. A memória [Gedächtnis] se constitui com uma espécie de
segunda rememoração, a qual não necessita da imagem ou presença do
objeto, uma vez que lida exclusivamente com o nome produzido pela
imaginação. O trabalho da memória é realizar a rememoração do nome,
que enquanto produção da imaginação, é extremamente fugaz. A memória
retém o nome e executa um duplo movimento, ao reconhecer na
configuração do nome o objeto representado, e a partir da coisa, o signo
a ele correlacionado. Para isso, a memória interioriza a criação do nome,
o exterior, na interioridade da inteligência, tornando-o, assim, sua
propriedade. Contudo, ao interiorizar o exterior e ser preenchida por esse
conteúdo, a inteligência opera sua própria extrusão125, assumindo-se como o mecanismo, a linguagem, que retém e impulsiona as
representações para a mediação do pensamento.
"A memória é o terceiro grau da representação.
Aqui, de um lado, o signo é rememorado, acolhido
na inteligência; de outro lado, justamente por isso,
dá-se à inteligência a forma de algo exterior,
mecânico, e por esse caminho se produz uma
unidade do subjetivo e do objetivo, que forma a
passagem ao pensar como tal."126
O momento do representar é, portanto, determinante para com a
atividade da inteligência, especialmente quando relacionado ao pensar,
uma vez que as produções da representação, a saber, o nome e a estrutura
da linguagem, formam a base do seu desenvolvimento e possibilitam a
expressão do conhecimento especulativo. A partir destas observações
preliminares acerca do desenvolvimento da representação, cabe agora
seguir com a consideração particular de cada um dos seus estágios,
tomando como ponto de partida a faculdade da rememoração.
(...)
A imaginação136 [Einbildungskraft]
137, o segundo estágio da
representação, é inteligência ativa que, por sua potência criadora,
reproduz imagens, produz significações e constrói uma nova
representação da realidade: “Ela é, em geral, o determinante das
imagens”138
. É, com efeito, a força que demonstra a capacidade criadora
da subjetividade do indivíduo, ao mesmo tempo que é relacionada com o
elemento de autenticação objetiva na construção da linguagem139
.
Constituída como o termo médio da representação, associa-se com a
rememoração para mediar o conteúdo anteriormente interiorizado:
A rememoração, a primeira forma do representar,
eleva-se à imaginação porque a inteligência saindo
do seu abstrato ser-dentro-de-si para a determinidade, dissipa a escuridão noturna que
envolvia o tesouro de suas imagens, e a afugenta
pela luminosa clareza da presença. 140
136. O termo correspondente à imaginação na língua alemã é formado por duas palavras distintas: a primeira, o verbo einbilden, proveniente de Bild, pintura e imagem, e bilden, moldar e formar, significou originalmente o processo de estampar ou imprimir ou gravar algo à alma, assumindo posteriormente, o significado de “imaginar”. Einbilden, portanto, é a imaginação. Em Hegel, associado com a palavra Einbildungskraft, o poder da imaginação, relaciona-se comumente com a imaginação reprodutiva e a associativa. Einbildungskraft pode significar ainda a imaginação como momento central da representação, e a compreensão de seus três níveis: reprodutiva, associativa e produtiva. Já Phantasie, originária do grego phantasia, como fantasia, imaginação, a capacidade de perceber aparências, demonstra a faculdade superior da imaginação, em sua fase criativa, poética e artística, relacionando-se com a imaginação produtiva ou criativa (INWOOD, Dicionário Hegel).
No primeiro momento de seu elevar, a imaginação é assumida,
exclusivamente, em sua forma reprodutiva. Nessa configuração, a
reprodução das imagens ocorre de maneira arbitrária, em um agir
espontâneo, o qual não necessita da ajuda de uma intuição imediata,
diferenciando-se, deste modo, da simples rememoração. A imaginação,
enquanto reprodutiva, torna-se, em oposição àquele momento anterior,
apta para rememorar a imagem, sem, com isso, necessitar da presença do
objeto contraposto à consciência, dado que as intuições acerca deste outro
já foram interiorizadas no reservatório particular da inteligência. Neste
estágio, a imaginação, portanto, promove “[…] o surgir das imagens para
fora da interioridade própria do Eu, que agora é potência [dominadora]
delas”141
.
η φαντασία προέρχεται από τη λέξη «φως»