INÍCIO

04 novembro 2023

SUTRA DO CORAÇÃO

SUTRA DO CORAÇÃO 



Versão 1

Quando kanzeon bodisatva praticava
Em profunda sabedoria completa
Claramente observou
O vazio dos cinco agregados
Assim se libertando
De todas tristezas e sofrimentos.
Oh! Sariputra!
Forma não é mais que vazio.
Vazio não é mais que forma.
Forma é extamente vazio.
Vazio é exatamente forma.
Sensação, conceituação, diferenciação, conhecimento
Assim também o são.
Oh! Sariputra!
Todos os fenômenos são vazio-forma,
Não nascidos, não mortos,
Não puros, não impuros,
Não perdidos, não encontrados
Assim é tudo dentro do vazio.
Sem forma, sem sensação,
Conceituação, diferenciação, conhecimento;
Sem olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo, mente,
Sem cor, som, cheiro, sabor, tato, fenômeno.
Sem mundo de visão, sem mundo de consciência,
Sem ignorância, sem fim à ignorância,
Sem velhice e morte e sem fim à velhice e morte.
Sem sofrimento, sem causa, sem extinção e sem caminho.
Sem sabedoria e sem ganho.
Sem nenhum ganho.
Bodisatva
Devido à sabedoria completa.
Coração-mente sem obstáculos.
Sem obstáculos, logo sem medo.
Distante de todas delusões,
Isto é nirvana.
Todos Budas dos três mundos
Devido à sabedoria completa
Obtém anokutara san myaku san bodai.
Saiba que sabedoria completa
É expressão de grande divindade,
Expressão de grande claridade,
Expressão insuperável,
Expressão inigualável,
Com capacidade de remover
Todo o sofrimento.
Isto é verdade, não é mentira!
Assim, invoque e expresse a sabedoria completa,
Invoque e repita:
Gya-tei gya-tei
Ha-ra gya-tei
Hara so gya-tei
Bo-ji-sowa-ka
Sutra do coração da grande sabedoria completa



Versão 2

Sutra do coração 




OM, homenagem à venerável perfeição da sabedoria!

O bodhisattva Avalokiteshvara, em profunda meditação Prajna Paramita
viu claramente a vacuidade da natureza dos cinco agregados
e libertou-se da dor.

Ó Shariputra, forma não é senão vacuidade,
Vacuidade não é senão forma;

Forma é precisamente vacuidade,
vacuidade precisamente forma.
Sensação, percepção, reacção e consciência
são também assim.

Ó Shariputra, , todas as coisas são expressões da vacuidade.
Não nascidas, não destruídas; não maculadas, não puras,
Sem crescimento nem declínio.
Assim na vacuidade não há forma,
Sensação, percepção, reacção nem consciência;
Não há olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo, mente;
Não há cor, som, odor, sabor, tacto, objecto;
Não há campo de visão nem campo de consciência;
Não há ignorância nem fim da ignorância.
Não há velhice e morte nem cessação da velhice e da morte;
Não há sofrimento nem causa do sofrimento.
Não há caminho, não há sabedoria nem proveito.

Sem proveito – assim os Bodhisattvas vivem esta Prajna Paramita
Sem obstáculos na mente.
Sem obstáculos e por isso sem medo.
Muito para além das ilusões, Nirvana é aqui.
Todos os Budas passados, presentes e futuros vivem esta Prajna Paramita
E alcançam a suprema, perfeita iluminação.

Por isso deves saber que Prajna Paramita é o sagrado mantra;
o mantra de grande sabedoria, o melhor mantra.
O mantra luminoso, o mantra supremo,
O mantra incomparável
Que dissipa todo o sofrimento.
Isto é verdade.
Por isso pratica o mantra da Prajna Praramita
Pratica este mantra e proclama:

GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA!

Isto completa o Coração da Venerável Perfeição da Sabedoria.
















PROVA EM VERSO

CARLOS MARIGHELLA
PROVA EM VERSO (1929) 

Negro, nordestino e revolucionário. Fez de sua vida instrumento de luta contra todas as injustiças de seu tempo. Carlos Marighella inspira gerações a perseguir ideais de justiça e liberdade. Político, escritor, poeta e professor, sempre enfrentou com coragem os tiranos e estendeu sua luta por décadas, até o dia em que foi emboscado e assassinado por militares da ditadura brasileira, há 54 anos atrás.



Carlos Marighella (1911-1969)

Carlos Marighella (Salvador, 5 de dezembro de 1911; São Paulo, 4 de novembro de 1969) foi político, escritor e guerrilheiro comunista marxista-leninista brasileiro.

País de Carlos Marighella 
Carlos Marighella foi um dos sete filhos de uma família pobre de Salvador. Seu pai era o imigrante italiano Augusto Marighella, operário metalúrgico, mecânico e ex-motorista de caminhão de lixo que chegara a São Paulo e se transladara à Bahia. Sua mãe era a baiana e ex-empregada doméstica Maria Rita do Nascimento, negra e filha livre de escravos africanos trazidos do Sudão (negros hauçás). Nasceu em Salvador no dia 5 de dezembro de 1911, residindo na Rua do Desterro 9, Baixa do Sapateiro, onde concluiu o seu curso primário e o secundário.


Marighella sustentava com orgulho a alcunha de “inimigo público número um”, dada pelos próprios militares que comandaram o Brasil durante a ditadura. 

O baiano, nascido em 5 de dezembro de 1911, filho de uma negra e um imigrante italiano anarquista, foi o principal articulador político e ideológico da luta contra o regime autoritário no país. 

Defensor e incentivador da guerrilha como forma de resistência à repressão militar, Marighella não se contentava apenas em escrever manifestos e insuflar a luta armada através de seus textos. 

Aos dezoito anos (1929), enquanto cursava Engenharia na Escola Politécnica da Bahia, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro. Em pouco tempo, o jovem militante tornou-se um dos principais líderes do partido, e fundou, na clandestinidade, a Ação Libertadora Nacional (ALN). Participou de inúmeros protestos com enfrentamento direto com a polícia militar. Sua primeira prisão ocorreu em 1932, por conta de críticas pesadas feitas em forma de versos ao então governador da Bahia, Juracy Magalhães. 

A poesia é uma forte vertente da obra do guerrilheiro, e o acompanhou durante toda a trajetória política.

Marighella começou a escrever poemas durante o curso de Engenharia. Colegas e professores ficavam impressionados com a capacidade do jovem de transformar complexas teorias e explicações científicas em versos líricos. 

A seguir, um exemplo da perspicácia do jovem estudante do Ginásio da Bahia:




Carlos Marighella e o filme 

Respostas em versos ao ponto sorteado "Catóptrica, leis de reflexão e sua demonstração, espelhos, construções de imagens e equações catóptricas", da cadeira de Física do 5º ano, no Ginásio da Bahia.


Ginásio da Bahia aos 23
De 29 deste oitavo mês.
.........................(1)

Doutor, a sério falo, me permita,
Em versos rabiscar a prova escrita.

Espelho é a superfície que produz,
Quando polida, a reflexão da luz.

Há nos espelhos a considerar
Dois casos, quando a imagem se formar.

Caso primeiro: um ponto é que se tem;
Ao segundo objeto é que convém.

Seja figura abaixo que se vê,
O espelho seja a linha beta cê.

O ponto P um ponto dado seja,
Como raio incidente R (2), se veja.

O raio refletido vem depois
E o raio luminoso ao ponto 2.

Foi traçada em seguida uma normal,
O ângulo I de incidência a R igual.

Olhando em direção de R segundo,
A imagem vê-se nítida no fundo,

No prolongado, luminoso raio,
Que o refletido encontra de soslaio.

Dois triângulos então no espelho faz,
Retângulos os dois, ambos iguais.

Iguais porque um cateto têm em comum,
Dois ângulos iguais formando um.

Iguais também, porque seus complementos
Iguais serão, conforme os argumentos.

Quanto a graus, A + I possui noventa,
B + J outros tantos apresenta.

Por vértices opostos R e J
São iguais assim como R e I.

Mostrado e demonstrado o que é mister,
I é igual a J como se quer.

Os triângulos iguais viram-se acima,
L2, P2, iguais isso se exprima.

IMAGEM DE UM PONTO

Atrás do espelho plano então se forma
A imagem, que é simétrica por norma.

IMAGEM DE UM OBJETO

Simétrica, direita e virtual,
E da mesma grandeza por final.

Melhor explicação ou mais segura
Encontra-se debaixo na figura.


(1) Os espaços pontilhados foram preenchidos pelo enunciado das questões e a assinatura, além da figura desenhada, que também faz parte da prova escrita. 

(2) Conforme é uso na Bahia, R pronuncia-se "rrê" e não "érre"; J pronuncia-se "ji" e não "jota"; L pronuncia-se "lê" e não “éle”


Doutor, o
Espelho é a superfície que produz, 
Quando polida, a reflexão da luz.
Há nos espelhos a considerar
Dois casos, quando a imagem se formar.

Caso primeiro: um ponto é que se tem;
Ao segundo um objeto é que convém.

Seja a figura abaixo que se vê,
o espelho seja a linha betacê.

O ponto P um ponto dado seja,
Como raio incidente R se veja.

O raio refletido vem depois
E o raio luminoso ao ponto 2.
Foi traçada em seguida uma normal
o ângulo I de incidência a R igual.

Olhando em direção de R segundo,
A imagem vê-se nítida no fundo,
No prolongado, lu minoso raio,
Que o refletido encontra de soslaio.

Dois triângulos então o espelho faz,
Retângulos os dois, ambos iguais.

Iguais porque um cateto têm comum,
Dois ângulos iguais formando um.

Iguais também, porque seus complementos
Iguais serão, conforme uns argumentos.

Quanto a graus, A+I possui noventa,
B+J outros tantos apresenta.

Por vértice opostos R e J
São iguais assim como R e I.

Mostrado e demonstrado o que é mister,
I é igual a J como se quer.
Os triângulos iguais viram-se acima,
L2, P2, iguais, isto se exprima.


IMAGEM DE UM PONTO

Atrás do espelho plano então se forma
A imagem, que é simétrica por norma.


IMAGEM DE UM OBJETO

Simétrica, direita e virtual,
E da mesma grandeza por final.

Melhor explicação ou mais segura
Encontra-se debaixo na figura.


Obra poética 

A obra poética de Carlos Marighella possui temática predominantemente patriota e libertária. O baiano transmitia em versos seu amor pelo Brasil, as paisagens naturais de nosso país, a alegria de seu povo, seus ideais de liberdade, seu descontentamento com a repressão. Esses poemas foram compilados sob o título ‘Rondó da Liberdade’, mesmo nome do poema abaixo:


Rondó da Liberdade


É preciso não ter medo,

é preciso ter a coragem de dizer.

Há os que têm vocação para escravo,

mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.

Não ficar de joelhos,

que não é racional renunciar a ser livre.

Mesmo os escravos por vocação

devem ser obrigados a ser livres,

quando as algemas forem quebradas.

É preciso não ter medo,

é preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre…

O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,

e pode mesmo existir quando não se é livre.

E no entanto ele é em si mesmo

a expressão mais elevada do que houver de mais livre

em todas as gamas do humano sentimento.

É preciso não ter medo,

é preciso ter a coragem de dizer.



A obra de Marighella pelo mundo

Carlos Marighella sempre esteve na mira dos poderosos. Preso e torturado diversas vezes, nunca abandonou seus ideais nem se deixou desanimar com as ameaças e violência física. Após enfrentar a ditadura varguista, em 1945, foi anistiado, e participou do processo de redemocratização do país e da reestruturação legal do Partido Comunista. Em 1946, escreveu o tratado “A Religião, o Estado, a Família”, no qual contestava a estrutura social vigente. 

Nas primeiras eleições diretas após a redemocratização, foi eleito deputado federal pelo estado da Bahia. Durante o governo Dutra, em 1948, teve o mandato cassado e viu-se obrigado a voltar para a clandestinidade, sempre ativo na militância e oposição aos governos autoritários. 

Perseguido pelos sucessivos governos, sofreu um atentado em 1964, foi novamente preso, e conseguiu ser liberto, através de um habeas-corpus. Seguiu lutando e participando de protestos e manifestações de repúdio à ditadura, sendo novamente caçado pelos militares, até a noite de 4 de novembro de 1969, quando foi pego numa emboscada por agentes do DOPS, e executado.

O Manual do Guerrilheiro Urbano, escrito por Marighella em 1969 e publicado pela primeira vez em forma de panfleto, percorreu o mundo e inspirou grupos revolucionários de quase todos os continentes, durante as décadas de 60 e 70. 

O guerrilheiro baiano ainda abordou em sua obra a questão da reforma agrária, na publicação “Alguns Aspectos da Renda da Terra no Brasil”, de 1958, na qual faz considerações que se mostram ainda pertinentes na atualidade.

Em 1970, o Ministro do Interior da França vetou a venda do livro Pour la libération du Brésil (Pela Libertação do Brasil). Contrário à decisão, e no intuito de defender e garantir o direito de livre expressão, formou-se um grupo composto por 24 editores franceses para publicar a obra.

Os ideais de Marighella não morreram com ele. A experiência acumulada em quarenta anos de luta e resistência foi mantida viva em seus textos teóricos e líricos. Traduzido em vários idiomas, Marighella foi lido na América Latina, Europa, Ásia e África, e sua obra ainda inspira leitores por todo o mundo, até os dias de hoje.

Liberdade

Não ficarei tão só no campo da arte,

e, ânimo firme, sobranceiro e forte,

tudo farei por ti para exaltar-te,

serenamente, alheio à própria sorte. 

Para que eu possa um dia contemplar-te

dominadora, em férvido transporte,

direi que és bela e pura em toda parte,

por maior risco em que essa audácia importe. 

Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,

que não exista força humana alguma

que esta paixão embriagadora dome. 

E que eu por ti, se torturado for,

possa feliz, indiferente à dor,

morrer sorrindo a murmurar teu nome” 

São Paulo, Presídio Especial, 1939.



Fonte 











03 novembro 2023

PIRÂMIDES

AS  PIRÂMIDES DO EGITO


A imagem mostra a aparência de uma das 123 pirâmides existentes no Egito. Esta é a aparência da Pirâmide de Quéfren (Pyramid of Khafre) logo após ter sido concluída em 2560 aC. 

Localização das três grandes pirâmides mais famosas do Egito. 

Originalmente a pirâmide de Khafre era revestida externamente com calcário branco e a ponta era feita de ouro maciço ou electro, uma liga de ouro e prata e cobre. Poucos piramidions chegaram até nossos dias, mas sua grande maioria era feita em pedra de basalto negro (chamado de granito negro) ou calcário e revestida com ouro ou electro, uma liga metálica de ouro, prata e eventualmente cobre, de ocorrência natural que era polida para refletir os primeiros raios do Sol. 

A grande Pirâmide do Egito (archdaily)


Pirâmide se Khafre ou Quéfrem. É a segunda mais alta pirâmide já construída com 136 m, e levou entre 14 e 20 anos para ser concluída.

Já a pirâmide de Quéops (Khufu), também conhecida como a Grande Pirâmide de Gizé é a maior e mais conhecida pirâmide do Egito. Tem cerca de 147 metros de altura e com o passar dos séculos perdeu 9 metros de sua altura devido a erosão do revestimento externo no topo. 
A Pirâmide de Quéops é considerada a maior e mais pesada obra criada pelo homem, com quase 6 milhões de toneladas distribuídas em mais de 2 milhões de rochas que sustentam e formam a pirâmide.
Esta pirâmide foi constituída com 2,3 milhões de blocos de pedra que pesam entre 2,5 a 60 toneladas cada. O trabalho de construção teria durado 20 anos e contou com a força de 100 mil homens. (viagensecaminhos)

Durante milhares de anos, a pirâmide permaneceu quase inalterada. No entanto, em 1303, um poderoso terremoto atingiu a área, desalojando grande parte do calcário. Este terremoto também desencadeou tsunamis que causaram graves danos e perda de vidas em Creta e Alexandria.

Os habitantes locais usaram as suas ferramentas rudimentares para desmontar os calcários, que agora eram mais fáceis de retirar devido aos danos sofridos pelo terramoto.

Os calcários retirados da pirâmide foram usados ​​para construir mesquitas e fortificações por ordem de um sultão local. O piramidion dourado no topo da grande pirâmide também foi retirado, para nunca mais ser visto.

Com a ausência do revestimento de calcário branco, a pirâmide já não era capaz de refletir o sol. Quando possuía seu revestimento era visível a quilómetros de distância de qualquer direção.

Pyramid of Khafre



A PIRÂMIDE MAIS ANTIGA

Pirâmide escalonada de Djoser


Pirâmide de Khafre (viagensecaminhos)

Pirâmide (WP)

The image below is what the Pyramid of Khafre looked like right after it was completed in 2560 BCE. The original was encased in white limestone, and the peak was made of solid gold or electrum.


For thousands of years, the pyramid stood nearly unchanged. However, in 1303, a powerful earthquake struck the area, dislodging much of the limestone. This earthquake also triggered tsunamis that caused severe damage and loss of life in Crete and Alexandria.

The local inhabitants used their rudimentary tools to take apart the limestones, which were now easier to pull out due to the damage they had sustained from the earthquake.

The limestones that were stripped from the pyramid were used to build mosques and fortifications on the order of a local Sultan. The gold cap at the peak of the pyramid was also taken away, never to be seen again.

With the absence of its white limestone shell, the pyramid was no longer able to reflect the sun, making it visible from miles away.



(Continuará…)



Fonte







01 novembro 2023

GUY DEBORD

DATAS DE NOVEMBRO 




"Quem conquista sempre rouba
Quem cobiça nunca dá
Quem oprime tiraniza
Naufraga mil vezes
Bonita eu sei lá" - Navegar, Navegar 

(Fausto Bordalo Dias)







Neste dia, a 30 de Novembro de 1994, Guy Debord cometeu suicido. Debord foi um intelectual marxista e um dos fundadores da Internacional Situacionista, os seus textos foram a base das manifestações de Maio de 68 em França. 

Guy Debord

A sua obra mais conhecida "A sociedade do espetáculo" é uma critica ao capitalismo e ao consumismo.

Debord afirmava que "tudo o que antes era vivido, passou a ser apenas representação" e que a vida social "degenerou de “ser” para “ter” e de “ter” para simplesmente “parecer”. 

Disse ainda que este espetáculo promovido pela classe dominante ofuscava o passado histórico e implodia o futuro, criando a sensação de um presente infinito, impedindo as pessoas de perceber que a sociedade do espetáculo em que vivem é apenas uma fase limitada do processo histórico e que pode, a qualquer momento, ser derrubada através de uma revolução.

Parafraseando, "O objetivo é acordar o espectador alienado pelo espetáculo através da prática revolucionária e disruptiva para combater a hegemonia cultural do capitalismo




Como o Gabriel Garcia Marques diz no seu discurso do Nobel, em relação aos episódios narrados e o seu significado histórico: "não é tarde para a criação de uma utopia contrária. (...) uma utopia da vida, onde ninguém pode decidir por ninguém até a forma de morrer, onde seja certo o amor e possível a felicidade, e onde as estirpes condenadas a cem anos de solidão tenham por fim e para sempre uma segunda oportunidade na terra. 




Nosso tempo, sem dúvida... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... O que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado. 

(Feuerbach - Prefácio à segunda edição de A Essência do Cristianismo).



1
Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação.

2
As imagens fluem desligadas de cada aspecto comum da vida, e fundem-se num curso comum, de forma que a unidade da vida não mais pode ser restabelecida. A realidade considerada parcialmente reflete em sua própria unidade geral um pseudo mundo à parte, objeto de pura contemplação. A especialização das imagens do mundo acaba numa imagem autonomizada, onde o mentiroso mente a si próprio. O espetáculo em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do não-vivo.

3
O espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade, a própria sociedade e seu instrumento de unificação. Enquanto parte da sociedade, o espetáculo concentra todo o olhar e toda a consciência. Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido e da falsa consciência; a unificação que realiza não é outra coisa senão a linguagem oficial da separação generalizada. 

4
O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por imagens.

5
O espetáculo não pode ser compreendido como abuso do mundo da visão ou produto de técnicas de difusão massiva de imagens. Ele é a expressão de uma Weltanschauung, materialmente traduzida. É uma visão cristalizada do mundo.









29 outubro 2023

HOMENAGEM A ANTINOUS

ÉPOCA DA PASSAGEM DE ANTINOUS 
AO MUNDO DOS DEUSES

Antínoo ou Antinous (110 - 30/X/130 d.C.). Historicamente, por diversas razões, incluído, machismo, preconceito entre elas, não se tem muitos registros do jovem Antínoo. Mas sabe-se que ele nasceu na Bitínia, na atual Turkye, por volta de 110 d.C. Ainda na adolescência, ele se tornou amante e companheiro do imperador romano Hadriano (24/I/76 - 10/VII/138 d.C) (Públio Élio Adriano; Publius Aelius Hadrianus).

Não se sabe ao certo, exatamente quando o jovem Antinous, com idade entre 19 e 20 anos, caiu no rio Nilo morrendo afogado. Ao entregar sua vida ao Rio Nilo, foi transformado em um Deus imediatamente, segundo uma crença egípcia antiga.
 
Vinte dias após a morte de seu grande amor, Hadriano deificou Antínoo e fundou um culto organizado dedicado à sua adoração que se espalhou por todo o Império romano. Além disso, Hadriano fundou uma cidade, Antinoópolis ou Antinoé perto do local da trágica morte de Antínoo, que se tornou um centro de culto para a adoração de Osíris-Antínoo. 

Hadriano também fundou jogos em sua comemoração para acontecer tanto em Antinoópolis quanto em Atenas, com Antínoo tornando-se um símbolo dos sonhos do pan-helenismo de Hadriano. 

Acredita-se que essas festas tinham como objetivo lembrar da pessoa do jovem Antinous, agradá-lo, para que ela protegesse os rapazes de todo o império e o próprio império na figura do imperador. Durante a cerimônia de abertura dos jogos como nas panateneias, jogos que eram realizados em honra a deusa Athená, passava no Nilo um navio ornado com flores e instrumentos de caça, um busto do jovem Antinous. As mulheres carregavam cestos com seus utensílios para serem abençoados; os rapazes, carregavam vasos com óleo e vinho; e os velhos, ramos de oliveira. Reverenciavam ao homem tornado Deus, Antinous, símbolo da humanidade e do humanismo, símbolo da perseverança, inteligência, jovialidade e busca pela felicidade. 

A adoração a Antínoo provou ser um dos cultos mais duradouros e populares de humanos divinizados no império romano em toda sua história e os rituais continuaram a ser realizados em sua homenagem, muito depois da morte de Hadriano, extinguindo-se com o advento de outra religião que cultuava um outro homem-deus. Com o imperador Constantino, em 313, concedendo liberdade de culto aos cristãos e, em 380, com o Edito Tessalônico, do Imperador Teodósio, proclamando o cristianismo religião oficial do Estado, diminuiu muito o culto a Antinous. A extinção total ocorreu em 391, com o Edito de Milão, de Teodósio, que colocou todo culto pagão fora da lei.

O culto do Deus Antinous-Osíris ou Osíris-Antinous foi o último culto pagão da antiguidade clássica que alcançou todo o império romano. 

Tratava-se de um culto humanista, baseado nos mistérios órficos e nos mistérios de Eleusis, que se preocupavam em tranquilizar o homem em relação a morte e o bom cumprimento do propósito do homem na Terra, i.e., ser feliz, viver com justica, igualdade, liberdade, fraternidade e sabedoria.

Antínoo ou Antinous, se tornou símbolo do amor homoafetivo masculino na cultura ocidental, aparecendo em obras de diversos artistas, tais como Oscar Wilde e Fernando Pessoa. Apesar de ter sido extinto o culto, existe até hoje. 



Salve! Óh Antinous Homem-Deus de beleza incomparável, força e suavidade jovial! 
Salve! Óh Antinous Homem-Deus, herói, vitalidade plena, cheio de desejos, e de amor.
Salve! Óh Antinous Homem tornado Deus, protetor dos jovens LGBTQIAP+ e dispensador de todo tipo de amor, pleno de alegria, bondade, fraternidade e igualdade.
Salve! Ó Antinous o Deus-homem que veio para nos mostrar o caminho para os campos Elíseos.

































Notas do “Pensar na História” 

O Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro conserva uma das mais importantes obras da Antiguidade Clássica existentes no país. Trata-se do busto de Antínoo — o amante do imperador Adriano, que foi elevado ao status de deus do Império Romano após sua morte trágica.

Antínoo nasceu por volta do ano 110 d.C. em Claudiópolis, na província romana da Bitínia, norte do atual território da Turquia. Descendia de uma família de origem grega, provavelmente dedicada à lavoura ou ao comércio.

Antínoo conheceu Adriano durante uma viagem do imperador à Ásia Menor em meados da década de 120. Por determinação de Adriano, Antínoo foi enviado para a Itália, a fim de estudar no Pedagógio Imperial da Colina Célio.

Não se sabe que idade Antínoo tinha quando se tornou o favorito de Adriano, mas é provável que o relacionamento tenha se iniciado por volta do ano 126 ou 127, depois que o imperador retornou a Roma e se fixou na Vila Adriana em Tibur.

Adriano era casado com Víbia Sabina, sobrinha-neta de Trajano, mas o casamento era infeliz e não resultou em filhos. Antínoo se tornaria o verdadeiro companheiro amoroso do imperador, estando mais presente em seu cotidiano do que a imperatriz.

Conforme relatado por Royston Lambert, Antínoo foi "a única pessoa com quem Adriano se conectou mais profundamente ao longo de toda a sua vida". O imperador chegou a escrever textos exaltando a beleza e as habilidades atléticas e intelectuais de Antínoo.

O jovem acompanhou Adriano em inúmeras viagens, cerimônias, festas e eventos. Excursionaram pelo norte da África e participaram das celebrações dos Grandes Mistérios de Elêusis em Atenas. Em seguida, viajaram pela Ásia Menor e visitaram o sarcófago de Alexandre no Egito.

Na Líbia, Alexandre e Antínoo caçaram um leão que estaria afligindo a população local. Durante a caçada, o imperador alegadamente salvou a vida de Antínoo. Para celebrar o feito, mandou esculpir um tondo reproduzindo a cena e o colocou no Arco de Constantino em Roma.

Antínoo faleceu em outubro do ano 130, quando acompanhava Adriano e sua comitiva em uma viagem ao Egito. O jovem tinha por volta de 20 anos de idade. As circunstâncias de sua morte são obscuras, envolvendo diversas hipóteses.

O relato mais difundido é o de que Antínoo teria se afogado após cair de uma embarcação que navegava no Rio Nilo. Boatos da época diziam que Antínoo teria sido assassinado por uma conspiração de burocratas incomodados com o relacionamento entre o rapaz e o imperador.

Outra hipótese aventada é a de que Antínoo teria se suicidado por preocupação com a saúde de Adriano, que há anos estava doente. Havia uma crença generalizada no Império Romano de que a morte de uma pessoa poderia ajudar a revitalizar a saúde de outra.

Seja qual for a causa, a morte de Antínoo abalou profundamente Adriano. O imperador ficou devastado com a perda e buscou homenagear a memória de seu favorito de todas as maneiras possíveis. Adriano mandou esculpir estátuas e cunhar moedas com a efígie de Antínoo.

Batizou uma estrela com o nome de seu amante e renomeou uma espécie de lótus que crescia às margens do Nilo como "flor de Antínoo". Ainda em outubro de 130, Adriano emitiu um decreto elevando Antínoo ao status de deus e ordenou a criação de um culto em sua honra.

O imperador também ordenou a construção de uma cidade no local onde Antínoo havia falecido. Intitulada Antinoópolis, a cidade seguia o modelo urbano helênico de planta ortogonal. Era embelezada com colunas e inúmeras estátuas de Antínoo.

Para facilitar a assimilação do culto pelos egípcios, forjou-se a divindade de Osíris-Antínoo, adorada no templo da cidade. O culto a Antínoo se espalhou por todo o Império Romano, do Egito ao Noroeste da Europa, passando por Grécia e Ásia Menor.

Antínoo era frequentemente sincretizado com as figuras de Mercúrio e Baco. Vestígios de adoração a Antínoo foram encontrados em mais de 70 cidades da Antiguidade e ao menos 28 templos foram erguidos em sua homenagem.

Especula-se que a popularidade do culto de Antínoo devia-se ao fato de ser uma divindade que era originalmente um ser humano comum, o que o tornava mais relacionável, mais fácil de se identificar.

Os paralelos com os personagens jovens e belos da mitologia greco-romana, presentes no imaginário erótico da Antiguidade Clássica, também fomentaram o interesse pela nova divindade entre os mais jovens. Antínoo inspirou artistas e escritores por séculos. 

Também se tornou um dos personagens mais representados da Antiguidade Clássica. Mais de uma centena de estátuas antigas retratando-o chegaram aos nossos dias, o que o torna a terceira figura mais retratada do Império Romano, atrás apenas dos imperadores Augusto e Adriano.

O culto a Antínoo entrou em declínio a partir do século IV d.C., em meio à consolidação do cristianismo no Império Romano. O influente poeta cristão Prudêncio denunciou sua adoração como blasfêmia em 384.

Outros ideólogos cristãos passaram a atacá-lo, criticando as origens mundanas de seu culto e condenando-o como uma divindade ligada a comportamentos alegadamente imorais. Ao longo da Idade Média, parte substancial das estátuas de Antínoo foram destruídas pelos cristãos.

A obra é um dos raros bustos de Antínoo apresentando características do helenismo fictício da época de Adriano. No busto, Antínoo é retratado com atributos do deus Baco, ostentando uma coroa de folhas de parreiras e uvas.

O busto pertence a um conjunto de artefatos que foram encontrados em um sítio arqueológico em Veios, em uma escavação patrocinada pela imperatriz Teresa Cristina. Parte substancial desse conjunto foi remetido para o Brasil em meados do século XIX, incluindo-se o busto.

Em 1880, Teresa Cristina doou o busto para a Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 1937, a peça foi transferida para o acervo do Museu Nacional de Belas Artes, onde permanece até hoje.






































































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