INÍCIO

29 março 2025

TALBÓTIPO: HISTÓRIA, TÉCNICA E ARTE

TALBÓTIPO: PIONEIRISMO NA FOTOGRAFIA


Se a fotografia parece um meio extremamente complexo hoje, talvez haja algum conforto no fato de que ela foi igualmente difícil de ser dominada e reproduzida por seus inventores. Coube ao erudito cavalheiro William Henry Fox Talbot (1800–1877) a invenção processo negativo-positivo (em oposição ao processo direto-positivo de Daguerre), essa técnica oscila entre arte e ciência, estética e documentação, o mágico e o empírico. (artforum).

William Henry Fox Talbot (1800-1877) (1)

O "calótipo", ou "talbótipo", era um processo de “revelação”, a melhoria de Talbot em seu processo anterior de desenho fotogênico pelo uso de um sal de prata diferente (iodeto de prata em vez de cloreto de prata) e um agente de revelação (ácido gálico e nitrato de prata) para trazer uma imagem “latente” invisivelmente leve no papel exposto. Isso reduziu o tempo de exposição necessário na câmera para apenas um ou dois minutos para assuntos sob luz solar intensa. O negativo translúcido do calótipo tornou possível produzir quantas impressões positivas fossem desejadas por impressão de contato simples, enquanto o daguerreótipo era um positivo direto opaco que só poderia ser reproduzido sendo copiado com uma câmera. Por outro lado, o calótipo, apesar do encerado do negativo para tornar a imagem mais clara, ainda não era extremamente nítido como o daguerreótipo metálico, porque as fibras do papel borravam a imagem impressa. O processo mais simples de papel salgado era normalmente usado ao fazer impressões de negativos de calótipo.

Talbot reproduzia imagens de seus espécimes botânicos no seu “Early Album of Photogenic Drawing Specimens” (compilado nas décadas de 1830 e 1840) representam o domínio da ciência, que Talbot abraçou.  
Talbot foi além, há também há muitas imagens com uma inclinação mais artística: naturezas-mortas, exteriores arquitetônicos, paisagens e estudos de figuras. 
Em sua obra histórica, “The Pencil of Nature” (1844), o primeiro livro ilustrado com fotografias da história da humanidade (comparado por Beaumont Newhall, primeiro curador de fotografia do MoMA, à Bíblia de Gutenberg) (artforum).  

Segundo Schwendener (s/d), com muitos artistas contemporâneos explorando métodos e processos históricos (alternativos) e imagens feitas com câmeras obscuras, as fotos de Talbot não parecem tão antiquadas quanto se poderia imaginar. Seus negativos em papel ou calótipo iluminados por espelhos por trás, os “desenhos fotogênicos” de plantas (à la “rayografias” de “Man Ray”) e obras em sépia de tom misterioso tornam o trabalho de Talbot visualmente rico e estranhamente contemporâneo para alguém que trabalhou no alvorecer do meio.  

WILLIAM HENRY FOX TALBOT, nasceu em 11 de fevereiro de 1800 em Melbury Sampford (Dorset, UK) e morreu em 17 de setembro de 1877 em Lacock Abbey, (próximo a Chipenham, Wiltshire, UK). 

William Henry Fox Talbot e possivelmente Antoine Claudet, Nicolaas Henneman dormindo em Lacock ou Reading, Inglaterra, 1844/45.

Talbot era um proprietário de terras, erudito e cientista, além de químico e pioneiro da fotografia. A talbotipia ou talbótipo é um processo fotográfico inicial (early photographic technique) inventado por William Henry Fox Talbot em 1830. Nesta técnica, uma folha de papel coberta com cloreto de prata (AgCl, composto químico sólido, cristalino cúbico, branco, pouco solúvel em água (nearly insoluble in water) mas solúvel em uma solução de água e amônia, ou tiosulfato de sódio (hipo)), é exposta a luz em uma câmara escura. Aquelas áreas tocadas pela luz tornam-se negras, produzindo uma imagem negativa. O aspecto revolucionário desse processo esta baseado na descoberta de Talbot de um composto químico (Ácido gálico = substância que ocorre em muitas plantas em ambos estados: livre ou combinado com ácido galotânico, em plantas do gênero Caesalpina sp) que pode ser usado para “desenvolver” a imagem no papel, i.e., acelerar a reação química do cloreto de prata que foi exposto a luz. O processo desenvolvido permitiu um tempo de exposição muito mais curto, caindo de uma hora (Daquerreótipo) para um minuto (talbótipo = talbotype).
Em 1839, o mesmo ano que Louis M. Daguerre anunciou seu método de fixação de imagens em uma placa de cobre tratada com prata, (silvered copper plate) William Henry Fox Talbot, publicou “The Art of Photogenic Drawing” (A arte do desenho fotogênico), uma descrição de como ele procedeu para capturar imagens permanentemente em papel. Quatro anos antes, Talbot produziu minúsculas vistas fotográficas de Lacock Abbey sua casa em Wiltshire. Pelo tratamento dessas pequenas imagens (pictures) com cera (de abelha), Talbot foi capaz de usá-las como negativos e posteriormente imprimir cópias. Embora ele tivesse inventado o processo fotográfico negativo/positivo, as primeiras imagens de Talbot eram pequenas, requeriam um tempo de exposição muito longo e eram desprovidas de detalhamento e brilho do daguerreótipo (lacked the sharpness of detail and brilliance of the daguerreotype).

Fotomicrografia de asas de insetos por Talbot usando um microscópio solar (1)

Talbot continuou seus experimentos e melhorou a qualidade de sua fotografias
Cobrindo o papel com iodeto de prata (AgI = silver iodide) e desenvolvendo as imagens com uma solução de galo-nitrato de prata (ácido gálico + prata). 
Talbot patenteou seu novo processo em fevereiro de 1841 descrevendo suas imagens como “Calotypes”.

Em 1835 ele publicou seu primeiro artigo documentando suas descoberta fotográfica, do papel negativo. Sua obra: The Pencil of Nature (1844-46) foi o primeiro livro com ilustrações fotográficas. Talbot também publicou muitos artigos sobre matemática, astronomia e física. Sob pressão da Royal Academy e da Royal Society, Talbot teve que relaxar seu controle sobre a produção das calotipias (calotypes) em agosto de 1852, permitindo que amadores e artistas usassem o processo, mas ele insistiu que todo o fotógrafo profissional que queria usar seu processo de calotipia para tirar retratos (for taking portraits) tinha que comprar uma licença que geralmente envolvia uma quantidade anual de 100 a 150 libras.

Janela de treliça nada casa de Talbot (Lacock Abbey), agosto de 1835. Um positivo do que pode ser do negativo de câmera mais antigo existente.(1)

Há polêmica em torno da paternidade da fotografia principalmente em torno da paternidade da ideia. Os ingleses, que reivindicam como sua a invenção da máquina fotográfica, argumentam que o processo “negativo-positivo” criado por Talbot foi único, e tornou-se a base da fotografia como a conhecemos. 
Foi de Talbot a primeira foto reproduzida em papel (talbótipo), e o primeiro livro com fotos. 


Resumo
Como vimos, o talbótipo, também conhecido como calótipo, foi um dos primeiros processos fotográficos desenvolvidos na história, esse processo fotográfico foi criado por William Henry Fox Talbot em 1841. Essa técnica revolucionária permitia a produção de múltiplas cópias a partir de um único negativo, diferentemente do daguerreótipo, que gerava imagens únicas e não reproduzíveis.


Processo histórico do Talbótipo

1. Preparação do Papel: O papel é sensibilizado com nitrato de prata e ácido gálico (atualmente usa-se ácido) cítrico, tornando-o fotossensível. 

2. Exposição: O papel era colocado em uma câmera escura e exposto à luz por alguns minutos, capturando a imagem em negativo. 

3. Revelação: O negativo era revelado quimicamente, realçando os tons escuros e claros. 

4. Fixação: A imagem era então fixada com hipossulfito de sódio para evitar o escurecimento contínuo. 

5. Positivo: O negativo era usado para criar cópias positivas em papel sensibilizado, permitindo reproduções. 

Vantagens e Limitações

Vantagens
Possibilidade de múltiplas cópias. 
Uso de papel, mais barato e flexível que placas metálicas. 


Limitações
Imagens menos nítidas que o daguerreótipo. 
Maior tempo de exposição. 


TALBÓTIPO OU CALÓTIPO
(TALBOTYPE)


MATERIAL NECESSÁRIO

Sal de cozinha (NaCl)
Nitrato de prata (AgNO3)
Papel de desenho de boa qualidade (para uso nas provas e trabalhos)
Fixador (tiosulfito de sódio)
Luz ultra-violeta ou luz do sol
Chassis com vidro para colocar o negativo
Negativo bem contrastado
No mínimo três bacias: duas para lavagem, outra para o fixador

Salga do papel

1 litro de água
20 g de sal de cozinha ou 20 g de cloreto de amônio (NH4)Cl
Dissolver bem o sal na água deixar um tempo (5 min) descansando
Colocar a solução numa bacia e mergulhar a folha de papel por 5 minutos
Resultados melhores se obtém preparando os papéis anteriormente com alguns dias de antecedência. 


Soluções 

Solução A
50 ml de água destilada
12 g de Nitrato de prata

Solução B
50 ml de água destilada
6 g de ácido cítrico

Misturar a solução A e B (depois de dissolvidos)
Guarde a solução num vidro fosco com tampa de rosca (ao abrigo da luz)
Fazer as solução A em um ambiente com luz atenuada (luz vermelha).
Aplicar no papel com pincel
Secar o papel (pendurando-o em um varal, no escuro)
Fazer uma marca no lado em que a solução não foi aplicada.


Impressão (cópia) 

Tendo feito um negativo bem contrastado,
Coloque o lado da emulsão do negativo em contato com a emulsão do papel
Colocar no chassi (prensar com o vidro)
Levar ao sol ou na mesa de luz (que pode ser ultra-violeta UV) 
Sol: 2 a 3 minutos 
Luz UV: 5 a 7 minutos 

Tratamento 

lavar bem em água corrente (da torneira) por pelo menos 20 minutos para tirar o excesso de nitrato de prata, isto evita que os sais continuem se alterando mudando de cor a imagem.


Fixação 

Solução do Fixador

500 ml de água 
25 ml de hipossulfito de sódio anidro (Tiosulfito de sódio)
2 g de carbonato de sódio
Dissolver bem 
Mergulhe o papel com a imagem (foto) deixando o fixador agir de 2 a 5 minutos 

P.S. : se voce decidir usar o fixador comercial (fixador Kodak) use uma diluição de 10 vezes (por ex.: 1ml de fixador para 9 ml de água) 
Pendure a folha para secar 

Lavagem final 

Lavar novamente por no mínimo 30 minutos. 


Encolagem a gelatina

Para tornar o papel menos poroso, pode-se usar uma solução de gelatina (o que faz com que as fibras do papel fiquem mais juntas) e evita que os sais de prata penetrem para o interior das fibras do papel tornando a imagem menos nítida. 
Para isso voce vai precisar: 

300 ml de água
2 g de gelatina comestível incolor e sem sabor
6 g de sal de cozinha

Pese 2 g de gelatina e mergulhe em 100 ml de água (deixar descansar por 15 minutos), quando a gelatina inchar complete com
200 ml de água quente (45°C) e misture até dissolver bem, por fim dissolva o sal. 

Com a solução ainda líquida pincele ou mergulhe a folha de papel e deixe por 30 segundos, retire e deixe secar. 

P.S.: tenha o cuidado de impregnar toda a superfície do papel. 
Cuidando sempre para evitar as bolhas, que impedem a gelatina de percolar no papel.
Depois que as folhas secarem pincele o nitrato de prata (no escuro ou sob luz vermelha)
Siga normalmente os passos como do papel salgado.

Atenção: 
Segundo alguns autores o papel impregnado com gelatina dura em torno de 2 semanas, todavia eu já usei o papel com mais de duas semanas, e produziu imagens nítidas. 

VANTAGENS E LIMITAÇÕES 

Vantagens 

Esta técnica produz cópias estáveis com as altas luzes delicadas e é considerada a técnica mais antiga de cópia fotográfica existente (talbótipo). 

Inconvenientes

Cloreto de prata é muito sensível a sujeira e poluição, por isso manter o atelier bem limpo, livre de contaminantes.

Características

A primeira fotografia que podia ser copiada de um negativo, em um papel com gelatina e prata, tinha suas qualidades próprias: um aspecto atraente, macio e rico, parcialmente resultante das fibras de papel do qual o negativo era feito. 
As linhas, no entanto, não eram bem definidas, o que tornava os detalhes apagados e enevoados. O aspecto do calótipo lembra um desenho artístico a carvão e muitos fotógrafos usaram-no deliberadamente para obter um resultado pictórico, em particular em cenas de arquitetura, paisagens e naturezas-mortas.

Legado

O talbótipo estabeleceu as bases para a fotografia moderna, introduzindo o conceito de negativo-positivo, ainda utilizado até hoje. Sua influência é evidente nos processos fotográficos posteriores, como a impressão em albumina e o filme flexível. 

O talbótipo marcou a transição da fotografia como curiosidade científica para uma forma de arte e documentação acessível, consolidando seu lugar na história da imagem.



Bibliografia

Webb, Randall & Reed, Martin. Alternative photographic process. A working guide for image makers. NY, Silver Pixel Press, 2000. 

James, Christopher and James, C. P. The Book of Alternative Photographic Processes. s/l, Delmar Thomson Learning, 2002. 

Talbot, W. H. F. The Pencil of Nature. London: Longman, Brown, Green & Longmans, 1844. 

Newhall, B. The History of Photography. New York: Museum of Modern Art, 1982. 

Laverdrine, B. Photographs of the Past: Process and Preservation. Los Angeles: Getty Publications, 2009.
















DESENHOS ASSISTIDOS

 DESENHO DESEJOS DE MEMÓRIA 

Desenhos assistidos são desenhos que fiz e passar por alguns app onde renderizar e coloquei cores.
















































LUA NOVA: NOUMÊNIA

A FESTA DA LUA NOVA NO CALENDÁRIO RELIGIOSO ATENIENSE

ΝΟΥΜΗΝΙΑΣ
Νούμηνια
LUA NOVA: NOUMÊNIA

A Noumenia, νούμηνια, noumēnia, termo derivado do grego antigo noumênia: que era usado para designar o primeiro dia da NOVA LUA, era a celebração do primeiro dia de cada mês lunar no calendário ático, marcado pelo aparecimento da lua nova, o mais sagrado dos dias. 


Venus, Moon and Saturn in Blue Hour Sky.
(Betul Turksoy)

Earthshine. (Roger Hyman)

A. Paim


Lua registrada Hoje, 27/3/2025, às 05h57min, quase no final de sua fase quarto minguante.

Fases da lua (1)

A festa da Lua Nova: A Sagrada Noumenia em Atenas

No dia 29 de março, (hoje), de 2025, celebra-se a NOUMÊNIA, o dia da Lua nova, e nesse dia em especial, a terceira Lua nova do ano, conhecida como Luna Negra Sazonal.

Calendário Lunar de 2025.

Sob o manto prateado da primeira lua nova de cada mês, Atenas inteira respirava em harmonia com os deuses e com o cosmos. A Noumenia chegara, trazendo consigo o frescor do sagrado e a união do homem com a natureza, um dia que nem mesmo os assuntos de Estado ousavam perturbar. Plutarco a chama de “o mais sagrado dos dias”, e assim era: um tempo em que o celestial e o terreno dançavam entrelaçados, festejavam com carne, vinho e pão, oferendas de pão de cevada e mel era feito sob o olhar benevolente de Selene, Atenas Polias, Possêidon, Apolo, Hermes e Hécate, mas a mais importante oferenda era feito para a serpente guardiã da cidade, chamado de "Epimenia" por Heródoto e Hesíquio. A cobra era mantida no Erecteion, um templo que abriga a estátua de culto de Atena Polias. Em toda cidade celebravas Selene, cuja luz da lua nova banhava os lares atenienses em promessa de renovação e prosperidade. Nesse dia o aroma doce do incenso ou olíbano era sentido em todas as ruas.
Nenhuma assembleia se reunia, nenhum tribunal deliberava. As ruas, normalmente pulsantes com o burburinho da ágora, cediam espaço ao silêncio reverente, quebrado apenas pelo riso dos festejos domésticos e pelo tilintar das taças erguidas em honra dos deuses, Selene, Apolo, Hermes, Hécate. Em cada lar, as famílias ofereciam grãos, mel e ramos de oliveira aos altares domésticos, invocando a proteção de Apolo Noumenios e dos deuses ancestrais.  

Mas para alguns, a Noumenia era também um convite à fraternidade. Homens reuniam-se em simpósios secretos, não apenas para beber e filosofar, mas para celebrar a irmandade sob o signo da lua nova. Eram os neomeniastas, como os descrevera Lísias, companheiros de vinho e devoção, que viam naquele dia não apenas um rito, mas um laço indissolúvel entre o humano e o divino.  

As doze Noumenias do ano eram como pérolas em um colar sagrado, cada uma guardando a mesma essência: pureza, renovação e alegria controlada. Nenhuma outra festa religiosa podia atravessar seu limiar, pois este era o dia em que o tempo parava, e os atenienses lembravam-se de que, antes de cidadãos, eram filhos dos deuses e do cosmos.  

E assim, enquanto a lua nova ascendia no céu, Atenas mergulhava no êxtase do sagrado, onde cada lar era um templo, cada refeição uma oferenda, e cada riso uma prece. Porque a Noumenia não era apenas um dia no calendário, era um sopro dos deuses na alma da cidade.

Era celebrado por meio de um ritual público na Acrópole e por oferendas privadas de incenso, guirlandas de flores, vinho e bolos de cevada colocados em altares e santuários domésticos para Hécate e Hermes, que haviam sido limpos no dia anterior como parte do Deipnon. O Deipnon de Hécate era a refeição da deusa que era ofertada na primeiro dia da lua nova. No dia anterior seus altar era limpo e ornamentado com flores. No primeiro dia da lua nova pão de cevada e mel, vinho, e pão eram oferecidos a deusa. 

frankinsence, também conhecido como olíbano é uma resina aromática usada em incenso e perfumes, obtida de árvores do gênero Boswellia na família Burseraceae. A palavra vem do francês antigo “franc encens” (incenso de alta qualidade). Existem várias espécies de Boswellia que produzem olíbano verdadeiro: Boswellia sacra (sin. B. bhaw-dajiana, sin. B. carteri), B. frereana, B. serrata (B. thurifera) e B. papyrifera. A resina de cada uma é misturada em vários graus, o que depende da época da colheita.(1).

As árvores de olíbano, encontradas no norte da África e na Índia, Omã e Iêmen, estão cada vez mais sob pressão, em grande parte devido à exploração excessiva de sua resina aromática.(Fobar, 2019).

Incenso (1)

A Noumenia, Numênia ou Neomênia, em grego clássico: Νουμηνία, lua nova é o primeiro dia do mês lunar e também uma observância religiosa na Atenas Antiga e em grande parte da Grécia.

Definição e Contexto Histórico

A Noumenia, νούμηνια, noumēnia, termo derivado do grego antigo noumenia: nova lua, era a celebração do primeiro dia de cada mês lunar no calendário ático, marcado pelo aparecimento da lua nova. 
Considerada por Plutarco Moralia 828a como “o mais sagrado dos dias”, a Noumenia ocupava um lugar central na religiosidade ateniense, sendo rigidamente preservada de interferências profanas, nenhuma assembleia política ou evento cívico era realizado nessa data.  

Características Ritualísticas

1. Culto Doméstico e Público
As famílias atenienses realizavam oferendas caseiras a divindades protetoras, como Zeus Herkeios, guardião do lar, Héstia deusa do fogo sagrado e Apolo Noumenios, Deus associado associado ao ciclo lunar. Oferendas comuns incluíam bolos de cevada (popana), frutas, mel e incenso, simbolizando prosperidade e renovação. Em âmbito público, templos eram adornados, e sacrifícios menores ocorriam em santuários dedicados a Apolo e Ártemis, divindades lunares.  

2. Proibição de Atividades Profanas
Fontes como Lísias (em fragmentos de discursos) e Xenofonte (Helênica) confirmam que nenhuma assembleia da Bulé ou da Eclésia se reunia na Noumenia, reforçando seu caráter sagrado.  

Eventos judiciais e negócios públicos eram suspensos, seguindo a máxima religiosa de evitar miasma (contaminação ritual).  

3. Fraternidades Ritualísticas (Neomeniastas)
Grupos de homens, denominados νουμηνιασταί, noumēniastaí, noumeniaste, reuniam-se em simpósios privados para libações e banquetes em honra aos deuses, conforme atestado por Lísias. Essas confrarias reforçavam laços sociais sob auspícios divinos.  

Significado Religioso e Cosmológico

A Noumenia representava para os gregos a:
1) Renovação temporal: O recomeço do mês lunar, alinhando a vida cívica aos ciclos celestes.  
2) Purificação: Um dia de afastamento de impurezas, preparando a comunidade para o mês seguinte.  
3) Hierarquia do Sagrado: Sua inviolabilidade demonstrava a primazia do religioso sobre o político na estrutura social ateniense.  

Comparação com Outras Festividades

Diferentemente das Panatenaias ou Dionísias, a Noumenia não envolvia procissões grandiosas, mas sim rituais íntimos e descentralizados. Sua repetição mensal a tornava um eixo ritualístico perene, em contraste com festivais anuais.  
 

História

As palavras gregas ὁ μήν, o mês e ἡ μήνη, a lua são ambas tradicionalmente construídas da raiz proto-indo-européia: meH-, que significa “mensurar, medir”. 
Em alguns calendários antigos, o novo mês: ὁ νέος μήν, começava com a lua nova (ἡ νέα μήνη, e néa méne), expressões que fornecem a etimologia do termo noumenia ou neomênia, significando simultaneamente o dia da lua nova e primeiro dia do mês.

A Noumenia era marcada quando a primeira lasca da lua estava visível, e realizada em homenagem a Selene, Apolo Numênio, Héstia e os outros deuses domésticos helênicos. A Noumenia também era o segundo dia de uma celebração familiar de três dias realizada em cada mês lunar; O Deipnon de Hécate ocorre no último dia antes da primeira lasca da lua visível e é o último dia de um mês lunar, e então a Noumenia marca o primeiro dia de um mês lunar, seguido pelo Άγαθός Δαίμων Agathos Daimon, Bons Espíritos, no segundo dia do mês lunar.

A celebração em Atenas

A Noumenia foi considerada, nas palavras de Plutarco, “o mais sagrado dos dias” e nenhuma outra festa religiosa era permitida a infringir este dia, nem reunião governamental alguma era marcada para ocorrer na Noumenia. As dozes numênias do ano formavam um grupo homogêneo em sua identidade e observância estrita. Era um dia de relaxamento e festa para os cidadãos atenienses, em casa, ou para os homens, como com a fraternidade simposiasta relatada por Lísias (neomeniastas, νουμηνιασταί)Teofrasto alude a um banquete com a expressão "partilhar/participar da Noumenia" (Caracteres, 4.12) e Píndaro na Quarta Nemeia afirma: “meu coração é transportado como se pelo mágico deleite da Noumenia”. Uma das práticas religiosas particularmente associada era a colocação de incenso em estátuas de deuses. Aristófanes associa também o dia com as competições de luta livre da palestra. Uma feira mensal de caráter secular ocorria no dia com venda de animais e escravos (conforme relato de Aristófanes), pois no dia anterior dívidas eram coletadas, e um escravo comprado nesse dia poderia ser chamado de Numênio (Noumenios).

Era celebrada por um ritual público na Acrópole e por ofertas privadas de olíbano, guirlandas de flores, vinho e bolos de cevada colocados em altares domésticos e santuários domésticos de Hécate e Hermes, que haviam sido limpos no dia anterior como parte do Deipnon.

Os rituais oficiais de Estado para esse dia incluíam pequenas oferendas a deuses e deusas tidos como protetores de Atenas, como Atenas Polias e Posídon, mas o mais importante era feito para a serpente guardiã da cidade, chamado de "Epimenia" por Heródoto e Hesíquio. A cobra era mantida no Erecteion, um templo que abriga a estátua de culto de Atena Polias, a marca do Tridente de Posídon Erecteu e a fonte salgada, a oliveira sagrada que brotou quando Atena atingiu a rocha com sua lança e os locais de enterro dos dois primeiros reis de Atenas, Cécrops e Erecteu. A cobra era considerada o espírito vivo do Rei Cécrops.

Marino, em Vida de Proclo, relata que seu mestre Proclo tinha grande devoção pela Noumenia no século V: "Durante o primeiro dia do mês lunar, ele ficava sem comer, mesmo sem ter comido na noite anterior; e ele também celebrava a Lua Nova em grande solenidade e com muita santidade". É relatado também que Siriano celebrava a deusa-lua em seu aparecer, surpreendendo-se ao se deparar que o jovem Proclo também o fazia, quando do primeiro encontro entre eles em Atenas:

“Embora [Proclo] tenha sido ansiosamente convidado pelos professores de eloquência, como se tivesse vindo com esse propósito, ele desprezou as teorias e métodos oratórios. O acaso o levou a ouvir primeiro Siriano, filho de Filoxeno, em cuja palestra esteve presente Lacares, que era profundamente versado nas doutrinas dos filósofos, e na época era um assíduo ouvinte do filósofo, embora sua arte em sofística tanto excitasse admiração como Homero na poesia. Aconteceu que era tarde do crepúsculo, e o sol estava se pondo durante a conversa, e a lua tinha acabado de fazer sua primeira aparição, após partir de sua conjunção com o sol. Para poderem adorar a deusa sós e vagarosamente, procuraram despedir o jovem que para eles era um estranho. Mas, após ter dado apenas alguns passos da casa, Proclo―ele também vendo a lua deixando sua casa celestial―parou em seu caminho, desamarrou seus sapatos, e à vista deles adorou a deusa. Atingido pela ação livre e arrojada do jovem, Lacares disse então a Siriano esta admirável expressão de Platão sobre os gênios: “Eis aqui um homem que será um grande bem, ou o contrário!”. Tais são os presságios, para mencionar apenas alguns deles, que os deuses enviaram ao nosso filósofo assim que ele chegou a Atenas.”

Hoje ainda há quem  reviva as antigas religiões da Grécia antiga, onde se realizam muitas das mesmas práticas religiosas domésticas e consideram a Noumenia tão importante quanto suas contrapartes antigas. Nesse dia são feitas oferendas como incenso ou bolos de mel para Selene, Apolo, Héstia e seus deuses domésticos em seu altar familiar. 
Outras maneiras pelas quais esses dias são marcados, incluem decorar a casa ou a altar doméstico com buquês de flores recém colhidas, comer uma refeição familiar especial, fazer bolos de mel e substituir os ingredientes no kathiskos por água fresca, óleo e frutas e porções de comida. A Noumenia também é considerado um dia auspicioso para começar novos projetos.

Outras cidades gregas

De acordo com Heródoto, em Esparta, carne, farinha de cevada e vinho eram distribuídos aos cidadãos pelos reis na Noumenia.

Em Ólbia Pôntica, uma associação de neomeniastas honrava a Apolo Numênio no dia, conforme atesta um fragmento com o termo Νεομηνιαστέων.

Um dos ritos mais importantes, celebrado mensalmente durante a lua nova (pode ser que esse festival ocorra numa !ua Negra, que é o termo usado para se referir a uma segunda lua nova em um mesmo mês ou a um mês sem lua nova ou cheia. Ocorre devido à diferença entre o ciclo lunar (29,5 dias) e o calendário gregoriano (meses de 28, 30 e 31 dias). A Lua negra menos previsível do que a Lua Azul, que é a segunda lua cheia de um mês. Ocorre aproximadamente uma vez a cada 2 anos e 8 meses.  Existe também a Lua Negra Sazonal: que é a terceira lua nova em uma temporada de quatro luas novas. Ocorre cerca de uma vez a cada 33 meses). Na noite da Lua nova, é a noite em que não vemos a lua pois está em conjunção com o Sol, nesse dia celebra-se o Deipnon de Hécate (a refeição/oferenda de Hécate), um momento para aplacar as forças fantasmagóricas do submundo que, sob o comando de Hécate, vagavam pelo mundo dos vivos (Johnston, 1990). Essa refeição-oferenda também representava uma purificação ritualística que antecedia o início do novo mês lunar (Parker, 1983). Tradicionalmente, eram oferecidos à deusa alimentos como queijo, pães, mel, leite, ovos, alho e vinho (Burkert, 1985). Na antiguidade, pessoas em situação de extrema pobreza alimentavam-se dessas oferendas, deixadas em altares domésticos nos jardins das casas (Graf, 1985). No neopaganismo contemporâneo, esse rito transformou-se em uma oportunidade mensal para doações aos mais necessitados (Adler, 1986). Embora Hécate seja frequentemente associada às bruxas e às práticas mágicas no neopaganismo moderno, ela também desempenhava um papel fundamental como deusa doméstica, protegendo o lar contra forças nocivas (Johnston, 1990). As mulheres, ao saírem de casa, invocavam sua proteção, e seu altar era comumente localizado no pátio da residência, contendo uma imagem sua (Ogden, 2002). Hesíodo, em sua Teogonia (vv. 411-452), descreve Hécate como uma divindade de grande influência, com domínio sobre a terra, o céu e o mar, capaz de conceder prosperidade e vitória, mas também ruína e pobreza. 
No mito de Deméter e Perséfone, foi Hécate, portando suas tochas, quem guiou a deusa dos grãos através da escuridão em sua busca pela filha perdida (Hino Homérico a Deméter, vv. 51-61). Essa narrativa reforça o papel de Hécate como guia em momentos de desespero e escuridão. Animais como cadelas, cães negros, doninhas e outras criaturas noturnas ou de pelagem escura são tradicionalmente associados a ela (Johnston, 1990).  

Conclusão
A Noumenia era, portanto, um fenômeno religioso estruturante no calendário ático, equilibrando devoção privada, tabus sagrados e coesão social. Sua rigidez normativa, atestada por historiadores e oradores, reflete a profunda integração entre cosmovisão religiosa e ordem cívica na Atenas clássica. 

Hécate (Google image)


Referências

Adler, M. (1986). *Drawing Down the Moon: Witches, Druids, Goddess-Worshippers, and Other Pagans in America Today*. Beacon Press.  

Burkert, W. (1985). *Greek Religion*. Harvard University Press.  

Graf, F. (1985). *Nordionische Kulte: Religionsgeschichtliche und epigraphische Untersuchungen zu den Kulten von Chios, Erythrai, Klazomenai und Phokaia*. Verlag.  

Hesíodo. Teogonia. Tradução de Jaa Torrano.  

Hino Homérico a Deméter. Tradução de Gregory Nagy.  

Johnston, S. I. (1990). Hekate Soteira: A Study of Hekate’s Roles in the Chaldean Oracles and Related Literature. Scholars Press.  

Ogden, D. (2002). *Magic, Witchcraft, and Ghosts in the Greek and Roman Worlds. Oxford University Press.  

Parker, R. (1983). *Miasma: Pollution and Purification in Early Greek Religion*. Clarendon Press.  





Fonte

Plutarco, Moralia  
Lísias, Discursos (fragmentos)  
Xenofonte, Helênica

Mikalson, J. D. (1975). The Sacred and Civil Calendar of the Athenian Year.
Parker, R. (2005). Polytheism and Society at Athens.

Hesíodo. Teogonia. Tradução de Jaa Torrano.