TALBÓTIPO: PIONEIRISMO NA FOTOGRAFIA
Se a fotografia parece um meio extremamente complexo hoje, talvez haja algum conforto no fato de que ela foi igualmente difícil de ser dominada e reproduzida por seus inventores. Coube ao erudito cavalheiro William Henry Fox Talbot (1800–1877) a invenção processo negativo-positivo (em oposição ao processo direto-positivo de Daguerre), essa técnica oscila entre arte e ciência, estética e documentação, o mágico e o empírico. (artforum).
William Henry Fox Talbot (1800-1877) (1)
O "calótipo", ou "talbótipo", era um processo de “revelação”, a melhoria de Talbot em seu processo anterior de desenho fotogênico pelo uso de um sal de prata diferente (iodeto de prata em vez de cloreto de prata) e um agente de revelação (ácido gálico e nitrato de prata) para trazer uma imagem “latente” invisivelmente leve no papel exposto. Isso reduziu o tempo de exposição necessário na câmera para apenas um ou dois minutos para assuntos sob luz solar intensa. O negativo translúcido do calótipo tornou possível produzir quantas impressões positivas fossem desejadas por impressão de contato simples, enquanto o daguerreótipo era um positivo direto opaco que só poderia ser reproduzido sendo copiado com uma câmera. Por outro lado, o calótipo, apesar do encerado do negativo para tornar a imagem mais clara, ainda não era extremamente nítido como o daguerreótipo metálico, porque as fibras do papel borravam a imagem impressa. O processo mais simples de papel salgado era normalmente usado ao fazer impressões de negativos de calótipo.
Talbot reproduzia imagens de seus espécimes botânicos no seu “Early Album of Photogenic Drawing Specimens” (compilado nas décadas de 1830 e 1840) representam o domínio da ciência, que Talbot abraçou.
Talbot foi além, há também há muitas imagens com uma inclinação mais artística: naturezas-mortas, exteriores arquitetônicos, paisagens e estudos de figuras.
Em sua obra histórica, “The Pencil of Nature” (1844), o primeiro livro ilustrado com fotografias da história da humanidade (comparado por Beaumont Newhall, primeiro curador de fotografia do MoMA, à Bíblia de Gutenberg) (artforum).
Segundo Schwendener (s/d), com muitos artistas contemporâneos explorando métodos e processos históricos (alternativos) e imagens feitas com câmeras obscuras, as fotos de Talbot não parecem tão antiquadas quanto se poderia imaginar. Seus negativos em papel ou calótipo iluminados por espelhos por trás, os “desenhos fotogênicos” de plantas (à la “rayografias” de “Man Ray”) e obras em sépia de tom misterioso tornam o trabalho de Talbot visualmente rico e estranhamente contemporâneo para alguém que trabalhou no alvorecer do meio.
WILLIAM HENRY FOX TALBOT, nasceu em 11 de fevereiro de 1800 em Melbury Sampford (Dorset, UK) e morreu em 17 de setembro de 1877 em Lacock Abbey, (próximo a Chipenham, Wiltshire, UK).
William Henry Fox Talbot e possivelmente Antoine Claudet, Nicolaas Henneman dormindo em Lacock ou Reading, Inglaterra, 1844/45.
Talbot era um proprietário de terras, erudito e cientista, além de químico e pioneiro da fotografia. A talbotipia ou talbótipo é um processo fotográfico inicial (early photographic technique) inventado por William Henry Fox Talbot em 1830. Nesta técnica, uma folha de papel coberta com cloreto de prata (AgCl, composto químico sólido, cristalino cúbico, branco, pouco solúvel em água (nearly insoluble in water) mas solúvel em uma solução de água e amônia, ou tiosulfato de sódio (hipo)), é exposta a luz em uma câmara escura. Aquelas áreas tocadas pela luz tornam-se negras, produzindo uma imagem negativa. O aspecto revolucionário desse processo esta baseado na descoberta de Talbot de um composto químico (Ácido gálico = substância que ocorre em muitas plantas em ambos estados: livre ou combinado com ácido galotânico, em plantas do gênero Caesalpina sp) que pode ser usado para “desenvolver” a imagem no papel, i.e., acelerar a reação química do cloreto de prata que foi exposto a luz. O processo desenvolvido permitiu um tempo de exposição muito mais curto, caindo de uma hora (Daquerreótipo) para um minuto (talbótipo = talbotype).
Em 1839, o mesmo ano que Louis M. Daguerre anunciou seu método de fixação de imagens em uma placa de cobre tratada com prata, (silvered copper plate) William Henry Fox Talbot, publicou “The Art of Photogenic Drawing” (A arte do desenho fotogênico), uma descrição de como ele procedeu para capturar imagens permanentemente em papel. Quatro anos antes, Talbot produziu minúsculas vistas fotográficas de Lacock Abbey sua casa em Wiltshire. Pelo tratamento dessas pequenas imagens (pictures) com cera (de abelha), Talbot foi capaz de usá-las como negativos e posteriormente imprimir cópias. Embora ele tivesse inventado o processo fotográfico negativo/positivo, as primeiras imagens de Talbot eram pequenas, requeriam um tempo de exposição muito longo e eram desprovidas de detalhamento e brilho do daguerreótipo (lacked the sharpness of detail and brilliance of the daguerreotype).
Fotomicrografia de asas de insetos por Talbot usando um microscópio solar (1)
Talbot continuou seus experimentos e melhorou a qualidade de sua fotografias
Cobrindo o papel com iodeto de prata (AgI = silver iodide) e desenvolvendo as imagens com uma solução de galo-nitrato de prata (ácido gálico + prata).
Talbot patenteou seu novo processo em fevereiro de 1841 descrevendo suas imagens como “Calotypes”.
Em 1835 ele publicou seu primeiro artigo documentando suas descoberta fotográfica, do papel negativo. Sua obra: The Pencil of Nature (1844-46) foi o primeiro livro com ilustrações fotográficas. Talbot também publicou muitos artigos sobre matemática, astronomia e física. Sob pressão da Royal Academy e da Royal Society, Talbot teve que relaxar seu controle sobre a produção das calotipias (calotypes) em agosto de 1852, permitindo que amadores e artistas usassem o processo, mas ele insistiu que todo o fotógrafo profissional que queria usar seu processo de calotipia para tirar retratos (for taking portraits) tinha que comprar uma licença que geralmente envolvia uma quantidade anual de 100 a 150 libras.
Janela de treliça nada casa de Talbot (Lacock Abbey), agosto de 1835. Um positivo do que pode ser do negativo de câmera mais antigo existente.(1)
Há polêmica em torno da paternidade da fotografia principalmente em torno da paternidade da ideia. Os ingleses, que reivindicam como sua a invenção da máquina fotográfica, argumentam que o processo “negativo-positivo” criado por Talbot foi único, e tornou-se a base da fotografia como a conhecemos.
Foi de Talbot a primeira foto reproduzida em papel (talbótipo), e o primeiro livro com fotos.
Resumo
Como vimos, o talbótipo, também conhecido como calótipo, foi um dos primeiros processos fotográficos desenvolvidos na história, esse processo fotográfico foi criado por William Henry Fox Talbot em 1841. Essa técnica revolucionária permitia a produção de múltiplas cópias a partir de um único negativo, diferentemente do daguerreótipo, que gerava imagens únicas e não reproduzíveis.
Processo histórico do Talbótipo
1. Preparação do Papel: O papel é sensibilizado com nitrato de prata e ácido gálico (atualmente usa-se ácido) cítrico, tornando-o fotossensível.
2. Exposição: O papel era colocado em uma câmera escura e exposto à luz por alguns minutos, capturando a imagem em negativo.
3. Revelação: O negativo era revelado quimicamente, realçando os tons escuros e claros.
4. Fixação: A imagem era então fixada com hipossulfito de sódio para evitar o escurecimento contínuo.
5. Positivo: O negativo era usado para criar cópias positivas em papel sensibilizado, permitindo reproduções.
Vantagens e Limitações
Vantagens
Possibilidade de múltiplas cópias.
Uso de papel, mais barato e flexível que placas metálicas.
Limitações
Imagens menos nítidas que o daguerreótipo.
Maior tempo de exposição.
TALBÓTIPO OU CALÓTIPO
(TALBOTYPE)
MATERIAL NECESSÁRIO
Sal de cozinha (NaCl)
Nitrato de prata (AgNO3)
Papel de desenho de boa qualidade (para uso nas provas e trabalhos)
Fixador (tiosulfito de sódio)
Luz ultra-violeta ou luz do sol
Chassis com vidro para colocar o negativo
Negativo bem contrastado
No mínimo três bacias: duas para lavagem, outra para o fixador
Salga do papel
1 litro de água
20 g de sal de cozinha ou 20 g de cloreto de amônio (NH4)Cl
Dissolver bem o sal na água deixar um tempo (5 min) descansando
Colocar a solução numa bacia e mergulhar a folha de papel por 5 minutos
Resultados melhores se obtém preparando os papéis anteriormente com alguns dias de antecedência.
Soluções
Solução A
50 ml de água destilada
12 g de Nitrato de prata
Solução B
50 ml de água destilada
6 g de ácido cítrico
Misturar a solução A e B (depois de dissolvidos)
Guarde a solução num vidro fosco com tampa de rosca (ao abrigo da luz)
Fazer as solução A em um ambiente com luz atenuada (luz vermelha).
Aplicar no papel com pincel
Secar o papel (pendurando-o em um varal, no escuro)
Fazer uma marca no lado em que a solução não foi aplicada.
Impressão (cópia)
Tendo feito um negativo bem contrastado,
Coloque o lado da emulsão do negativo em contato com a emulsão do papel
Colocar no chassi (prensar com o vidro)
Levar ao sol ou na mesa de luz (que pode ser ultra-violeta UV)
Sol: 2 a 3 minutos
Luz UV: 5 a 7 minutos
Tratamento
lavar bem em água corrente (da torneira) por pelo menos 20 minutos para tirar o excesso de nitrato de prata, isto evita que os sais continuem se alterando mudando de cor a imagem.
Fixação
Solução do Fixador
500 ml de água
25 ml de hipossulfito de sódio anidro (Tiosulfito de sódio)
2 g de carbonato de sódio
Dissolver bem
Mergulhe o papel com a imagem (foto) deixando o fixador agir de 2 a 5 minutos
P.S. : se voce decidir usar o fixador comercial (fixador Kodak) use uma diluição de 10 vezes (por ex.: 1ml de fixador para 9 ml de água)
Pendure a folha para secar
Lavagem final
Lavar novamente por no mínimo 30 minutos.
Encolagem a gelatina
Para tornar o papel menos poroso, pode-se usar uma solução de gelatina (o que faz com que as fibras do papel fiquem mais juntas) e evita que os sais de prata penetrem para o interior das fibras do papel tornando a imagem menos nítida.
Para isso voce vai precisar:
300 ml de água
2 g de gelatina comestível incolor e sem sabor
6 g de sal de cozinha
Pese 2 g de gelatina e mergulhe em 100 ml de água (deixar descansar por 15 minutos), quando a gelatina inchar complete com
200 ml de água quente (45°C) e misture até dissolver bem, por fim dissolva o sal.
Com a solução ainda líquida pincele ou mergulhe a folha de papel e deixe por 30 segundos, retire e deixe secar.
P.S.: tenha o cuidado de impregnar toda a superfície do papel.
Cuidando sempre para evitar as bolhas, que impedem a gelatina de percolar no papel.
Depois que as folhas secarem pincele o nitrato de prata (no escuro ou sob luz vermelha)
Siga normalmente os passos como do papel salgado.
Atenção:
Segundo alguns autores o papel impregnado com gelatina dura em torno de 2 semanas, todavia eu já usei o papel com mais de duas semanas, e produziu imagens nítidas.
VANTAGENS E LIMITAÇÕES
Vantagens
Esta técnica produz cópias estáveis com as altas luzes delicadas e é considerada a técnica mais antiga de cópia fotográfica existente (talbótipo).
Inconvenientes
Cloreto de prata é muito sensível a sujeira e poluição, por isso manter o atelier bem limpo, livre de contaminantes.
Características
A primeira fotografia que podia ser copiada de um negativo, em um papel com gelatina e prata, tinha suas qualidades próprias: um aspecto atraente, macio e rico, parcialmente resultante das fibras de papel do qual o negativo era feito.
As linhas, no entanto, não eram bem definidas, o que tornava os detalhes apagados e enevoados. O aspecto do calótipo lembra um desenho artístico a carvão e muitos fotógrafos usaram-no deliberadamente para obter um resultado pictórico, em particular em cenas de arquitetura, paisagens e naturezas-mortas.
Legado
O talbótipo estabeleceu as bases para a fotografia moderna, introduzindo o conceito de negativo-positivo, ainda utilizado até hoje. Sua influência é evidente nos processos fotográficos posteriores, como a impressão em albumina e o filme flexível.
O talbótipo marcou a transição da fotografia como curiosidade científica para uma forma de arte e documentação acessível, consolidando seu lugar na história da imagem.
Bibliografia
Webb, Randall & Reed, Martin. Alternative photographic process. A working guide for image makers. NY, Silver Pixel Press, 2000.
James, Christopher and James, C. P. The Book of Alternative Photographic Processes. s/l, Delmar Thomson Learning, 2002.
Talbot, W. H. F. The Pencil of Nature. London: Longman, Brown, Green & Longmans, 1844.
Newhall, B. The History of Photography. New York: Museum of Modern Art, 1982.
Laverdrine, B. Photographs of the Past: Process and Preservation. Los Angeles: Getty Publications, 2009.