INÍCIO

23 novembro 2019

A IMAGEM DO APRENDIZ

O Aprendiz

Venerável Mestre
Demais queridos e amados irmãos

A GLÓRIA DO GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO 



"Todo rito, mesmo o mais elementar, é uma ontologia: ele revela o ser das coisas sagradas e das Figuras divinas, ele mostra aquilo que realmente é. E, ao fazê-lo, funda um Mundo que não é mais evanescente e incompreensível como ele é nos pesadelos, como ele se torna cada vez que a existência é ameaçada de afundar no 'Caos' da relatividade total, quando nenhum 'Centro' emerge para assegurar uma orientação." (Mirecea Eliade, Mitos, sonhos e mistérios).
Recebi feliz e com o coração aberto do nosso Vem.: Mest.: a primeira instrução. Ele iniciou dizendo que nossa Ordem, teve sua origem nas Antigas Fraternidades Iniciáticas do Egito, das quais recebeu a sua tradição, que guarda intacta, com o maior cuidado, a fim de poder transmiti-la aos seus Iniciados. Assim, como faziam os antigos filósofos egípcios, nossa Ordem secretamente guarda, fielmente explica, e legitimamente transmite esse manancial de conhecimento através de emblemas e alegorias, afim de subtrair e ocultar do mundo profano a verdade contida em seus segredos e mistérios. 
Para que possamos beber dessa rica e inextinguível fonte é necessário ingressar no Templo. Essa tarefa ele, em sua sabedoria, transmitiu-a a mim como competência primeira do Aprendiz Maçom, através da primeira instrução intitulada “Explicação do Painel da Loja de Aprendiz” (Fig 1). No lugar em que me encontro, nesse primeiro grau está alicerçado toda a filosofia simbólica, que resume toda a moral maçônica, através do trabalho de desbastar a Pedra Bruta, i.e., desvencilhar-me dos defeitos e paixões profanos, afim de concorrer na construção moral da humanidade. Relatou-me ele com voz segura, que o Painel que tenho diante de mim representa o meio e a via que eu devo trilhar para atingir o domínio do eu, pelo trabalho e pela observação. Explicou-me a orientação Leste/Oeste de todas as Lojas Maçônicas representando simbolicamente o Grande Templo de Salomão e suas três razões: O sol, a glória do Senhor, nasce a Leste, a ciência que surge no oriente e se espalha para o ocidente, e a doutrina do amor e da fraternidade e exemplo do cumprimento da lei que surge no oriente. Três grandes pilares sustentam nossa Ordem e nossa Loja: a saber SABEDORIA, FORÇA e BELEZA. A Sabedoria inventa e cria, orientando nosso caminho, a Força sustenta e anima nas dificuldades e a Beleza adorna nossas ações, nosso caráter e nosso espírito. O Universo é o Templo da Divindade a quem servimos; a Sabedoria, a Forca e a Beleza estão em volta do Seu Trono como pilares de suas obras; porque Sua Sabedoria é infinita, Sua Forca Onipotente e a Sua Beleza se manifestam, em toda a Sua criação, pela simetria e pela ordem.

Figura 1. Painel da Loja de Aprendiz onde vemos os elementos simbólicos do primeiro grau.


Representam ainda os três pilares de uma Loja Maçônica, SALOMÃO, rei de Israel, pela sua Sabedoria em construir, completar e dedicar o Templo de Jerusalém ao Serviço de Deus.; HIRAM, rei de Tiro, pela Força que deu aos trabalhos do Templo, fornecendo homens e material; e HIRAM-ABIFF pelo seu trabalho primoroso em adorna-lo, dando-lhe uma Beleza sem par. Três ordens arquitetônicas foram usadas na construção do Templo e, por analogia, diz-se que: a ordem Dórica, a Forca (relacionada a deusa grega Athena ou Minerva, romana), a Jônica representa a Sabedoria (relacionada a Herácles), a e a Coríntia relacionada a Beleza (representada pela deusa grega Afrodite) (Fig. 2). Nossa Loja tem o teto representando a abóbada celeste, o céu e o infinito. E o caminho que almejamos atingir o empíreo é expresso simbolicamente pela escada de Jacob, que nossa ordem como fiel guardiã da antiga tradição, conserva vivo no centro do painel. Esta escada é constituída de muitos degraus, todos eles representativos das virtudes exigidas do Maçom, no seu caminho para a perfeição. Na sua base está a Fé, no centro a Esperança e no topo, a Caridade. Estas são as principais Virtudes Morais que devem ornar o espirito de qualquer ser humano: Fé no G.:A.:D.:U.:. Esperança no Aperfeiçoamento Moral; e Caridade para com o Género Humano. Por analogia, estas são explicadas como: Fé: a Sabedoria do espirito, sem a qual o homem nada levará a termo; Esperança: a Força do espirito, amparando-o e animando-o nas dificuldades; e pôr fim a Caridade é a Beleza que adorna o espirito e os corações bem formados.


Figura 2. As ordens arquitetônicas associadas a deuses e heróis. A ordem Dórica está associada a força e deusa Athena, a ordem Jônica está associada a sabedoria e a Hércles e a ordem Coríntia esta associada a beleza e a deusa Afrodite.


O interior de uma Loja Maçônica contém Ornamentos, Paramentos e Joias. OS ORNAMENTOS são: O 1) Pavimento Mosaico, com seus quadrados brancos e pretos, nos mostra que, apesar da diversidade, do antagonismo de todas as coisas que adornam a Natureza, em tudo reside a mais perfeita Harmonia. A 2) Estrela Flamígera representa a principal Luz da Loja. Simboliza o Sol, Glória do Criador e nos dá o exemplo da maior e da melhor virtude que deve ornar um coração de Maçom: A Caridade. 3) A Orla Dentada, enfim, mostra-nos o princípio de atração universal, simbolizada no Amor. 
OS PARAMENTOS são constituídos pelo 1) Livro da Lei representa o Código de Moral que cada um de nós respeita e segue. 2) O Compasso: símbolo do Espírito, do pensamento, do infinito, e da justiça pela equidistância do pondo de central. 2) O Esquadro: símbolo da equidade e da matéria, pela união do horizontal e do vertical. É o equilíbrio resultante da união do princípio ativo (vertical) e do princípio passivo (horizontal). Já as JOIAS DA LOJA são três móveis e três fixas: As móveis são o Esquadro, o Nível e o Prumo: Assim as chamamos porque cada ano são transferidas aos novos VVen.: e VVig.:. As fixas são a Prancheta da Loja, para desenhar e traçar; a Pedra Bruta (P.: B.:) serve para nela trabalharem os AAp.: e a Pedra Polida (P.: P.:) ou Pedra Cúbica (C.:), para os OObr.: experimentados ajustarem e experimentarem suas joias. Neste trabalho eu desejo apresentar algumas reflexões sobre os ORNAMENTOS da nossa loja: O Pavimento mosaico e a Orla dentada. 
Os Ornamentos: Pavimento Mosaico, e Orla Dentada. 
A palavra “mosaico” é uma palavra de origem grega (µουσαικόν, mousaikón) e significa: “obra das musas”. Segundo Torrano (1995), Hesíodo, em sua Teogonia, afrima que as musas representam a força das coisas e a própria coisa em si, em sua essência, sua diversidade e sua singularidade, presentes em seu nome. Como as Deusas o tem por habitação, elas o mantém na grandeza e sacralidade em que ele se mostra. É pela presença delas que ele, o Hélicon, se dá em sua presença imponente e sagrada. Assim, ocorre com a técnica do mosaico, que retrata uma cena particular ou um padrão geométrico, o uso desta técnica mantém seu nome e sua presença, (da coisa representada) no horizonte da existência. O mosaico é uma técnica muito antiga, sendo seu mais antigo representante o “Estandarte de UR”, datado dos anos 3.000 a 2600 a.C., fabricado pelos Sumérios, povo da Mesopotâmia (Fig. 3), que são uma das mais antigas civilizações humanas, junto com o Egito Antigo e o Vale do Indo. Habitaram a região do sul da Mesopotâmia, no sul do atual Iraque, durante as idades do cobre (calcolítico ) e da idade do bronze (cuja duração vai de 3300 a 700 a.C. A técnica empregada para fabricar esse estandarte foi a técnica do mosaico, que usa pequenos ladrilhos feito de rochas coloridas (arenito e lápis lazúli, e ouro). Segundo Snyder e colaboradores (2016) a técnica empregada para a pavimentação do Templo de Salomão não foi o mosaico mas sim uma técnica de corte de pedra e seu posterior polimento, chamada “Opus sectile”. 

Ambas as técnicas: mosaico e “opus sectile” usam fragmentos de materiais diversos como rochas: mármore, granito, quartzo, seixos, vidro ou conchas (nácar) podendo formar uma imagem ou um padrão geométrico. Todavia, a técnica “opus sectile” empregada no monte do templo (Snyder 2016), usa ladrilhos maiores os quais como o mosaico são incrustrados numa matriz de betume ou argamassa. Em ambas as técnicas as peças ou ladrilhos são chamadas de tesselas ou tésseras. O objetivo do desenho é preencher algum tipo de plano (geralmente, piso ou parede), dando um significado ao ambiente. O “Opus sectile” é uma técnica de arte muito popularizada e apreciada no mundo romano, onde as peças são cortadas para criar uma imagem (em paredes ou no piso). Diferentemente das técnicas de mosaico, onde a colocação de peças de tamanho uniforme, muito pequenas, forma uma imagem, nas de “opus sectile” as peças são muito maiores e podem ser modeladas para definir uma grande parte do design.



Figura 3. Estandarte de UR, procedente da Suméria, Mesopotâmia (atual sul do Iraque). Este artefato foi produzido para comemorar uma vitória de um rei Sumério e datado por volta de 2600 a. C. Note que ele também apresenta uma orla dentada. 


O Opus sectile, palavra latina para "trabalho de corte", é uma técnica para pavimentar pisos e paredes em padrões geométricos ou cenas figurativas, usando azulejos ou ladrilhos de pedra policromada meticulosamente cortados, desbastados e polidos de tamanho grande. Esses ladrilhos, segundo Flavius Josephus, foram criados, cortados, desbastados, colocados e polidos com tanta precisão no templo de Salomão, que dificilmente havia espaço para inserir uma lâmina de faca entre eles. Os pisos “opus sectile” eram mais prestigiados que os mosaicos e eram tipicamente usados em áreas mais importantes dos edifícios. 

O rei Herodes, o Grande (37–4 B.C.E.) introduziu esta técnica de pavimentação em Israel para decorar muitos de seus palácios, incluindo o palácio de Massada, Herodium, Jericho, bem como o templo de Salomão (Snider, 2016). Voltando à história, os edifícios romanos na Judéia e os palácios de Herodes usavam tanto a arte musiva (mosaicos) como a técnica de “pedras cortadas ou opus sectile” para pavimentação. Lemos no livro de João, capítulo 19, versículo 13, onde ele relata que Pilatos encontrou Jesus, levado pelas autoridades judaicas a um local chamado pelo termo grego de “Litóstrotos”, e em hebraico: “Gabatah”, Pilatos teria saído de seu gabinete para atender aos juízes judeus iniciando ali mesmo o julgamento de Cristo. Litóstrotos significa calçado por pedras, e Gabatah significa pavimento. Plínio (Gaius Plinius Secundus 23 - 79 d.C.) utiliza o termo Litóstrotos para se referir a um Pavimento mosaico finamente construído com a técnica de “opus sectile”. Flavius Josephus (Titus Flavius Josephus 38-100 d.C.), comenta sobre as calçadas (pavimento) no Palácio de Herodes, em Jerusalém, da seguinte maneira: “Os acessórios internos são indescritíveis, a variedade de pedras (espécies raras em todos os outros países foram aqui usadas em abundância).” Da mesma forma, sobre o Monte do Templo, ele escreve: “O pátio (open court), do Monte do Templo, era de ponta a ponta variegada com pavimentação de todos os tipos de pedras”. Através de um estudo criterioso de peneiramento do Monte do Templo em Jerusalém uma equipe de arqueólogos recuperou mais de 600 peças que outrora revestiam o pavimento do Templo de Salomão, todos eles datados do primeiro século da era cristã. Após décadas de estudo, com esse achado e recorrendo a fontes históricas como o Talmude, a Bíblia e relatos dos antigos historiadores já citados, puderam reconstruir com grande probabilidade e alta precisão as feições do piso desse edifício icônico, tido como a construção mais luxuosa de todo mundo antigo. Este mesmo estilo de decoração de pisos foi encontrado em outras construções de Herodes o Grande e visto nas ruínas dos palácios erguidos por ele. Uma característica chave desses mosaicos herodianos é o seu tamanho, que corresponde à medida de um pé romano: 29,6 centímetros. O resultado é mostrado na figura 4 e 5. Segundo os arqueólogos, os modelos foram provavelmente utilizados nos prédios da esplanada e muito provavelmente no interior do templo. Os pisos de pedra são semelhantes aos encontrados em mansões e palácios de luxo da mesma época em toda Roma, os materiais foram importados da Itália, Tunísia, Turquia, Egito, Irã e Grécia.










Figura 4. Reconstrução matemática orientada por fontes históricas, de como deveria ser o piso do Templo de Salomão. Esse trabalho em Opus sectile (pedra cortada) também era usado nos palácios mais suntuosos em todo império romano, segundo Snyder, Barkay e Zachi Dvira (2016).


SOBRE UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DOS ORNAMENTOS


O PAVIMENTO 
O Pavimento Mosaico (mais precisamente criado e assentado com a técnica de Pedra cortada ou “opus sectile” é uma representação modificada do pavimento do Templo de Salomão. A Orla dentada, essa bela borda orlada ou franjada que o rodeia; e a Estrela Flamejante no centro evocam, rememoram e celebram a estrela que apareceu para guiar os sábios do oriente ao lugar da natividade do Salvador. Relembra a luz em seu aspecto simbólico de revelação, desvelação e visão interior. 
Segundo Ronnberg (2012) O preto envolve e engole, é caverna e abismo, os buracos negos do espaço onde nada escapa e as entranhas da terra, noite, melancolia e morte. 
A manhã afunda-se no preto e descansa na sua tristeza abafada. O véu da separação e da perda da viúva, a sóbria veste da autoridade do juiz, são pretos. As vestes pretas do clero renunciam aos prazeres de tons claros da vida material e sensual. Há o preto da Bíblia e o preto ébano, e o preto do escaravelho, do corvo e do gato. 
O preto é obscenidade, decomposição e sujidade. Nossos corpos ficam pretos quando se decompõem, são habitados por bactérias decompositoras que reciclam nossa matéria e nossa energia. Essa sujidade preta significa vida para o solo. A sujidade preta torna-se o próprio solo, a cobertura fértil da terra da qual surge a vida, o humus. No antigo Egito, o preto evocava morte, mas também vida, como o sedimento preto do Nilo que inunda e traz fertilidade; o deus que ressuscita, Osíris, era por vezes retratado com pele preta, outras vezes verde. 
O preto abrange os terrores e as belezas do submundo e os seus tenebrosos recintos de cura e de iniciação. As divindades «pretas» são ambíguas, ctónicas e decisivas. Os forjadores de metais divinos são pretos devido a fuligem das forjas vulcânicas das profundezas criativas do ardor da mente. O solo escuro de Kali, a Negra, absorve o sangue do sacrifício e de massacre da natureza, e alimenta a semente do regresso. Maria Negra, Isis, Perséfone, Artêmis, Hécate possuem o útero preto da misteriosa escuridão e da lua nova. 
Os indios navajo veem no preto o sinistro, mas também, porque confere invisibilidade, a capacidade que o preto tem para proteger. O preto vem do norte, da direção do perigo, mas também de leste o local do nascer do sol (Richard, 1972). 
Em algumas partes da África, o preto é também tradicionalmente a cor do norte, mas aqui significa a direção de onde vem as nuvens escuras da estação das chuvas, vegetação e água. O preto está conotado com a maturidade e autoridade social, paciência e capacidade para esperar, alcançadas pelo individuo «amadurecido» (Portmann, 1963). 
O preto e o branco estão frequentemente em tensão um com o outro, especialmente onde um deles é visto como a deficiência da virtude do outro: o branco possui suavidade e frieza, e o preto possui riqueza e calor, ou preto como inculto e o branco iluminado. Nem sempre sabemos bem o que chamar ao preto, uma cor, ou a ausência de qualquer cor, ou como o poeta místico sufi, Rumi, o descreveu, «a consumação de todas as cores», o estado de beatitude no qual a divindade se revela, maravilhando o iniciado. Por um tempo fiquei no escuro, no negro absoluto, desejando a luz, finda a iniciação, fez-se a luz em meu espírito. Do período Heian do Japão (800-1100 d. C.), deriva a noção de que no preto se expressa a «sublimação e a purificação de todas as emoções» realizadas pelo indivíduo que sondou as profundezas «da tristeza da existência humana» (Portmann, 1972). O preto é o caos primordial, que o poeta latino Públio Ovidio Naso chama de “chaos: rudis indigestaque molis: o caos: massa confusa e informe. Qualificando a escuridão como sem forma e confuso e a forma ao luminoso e harmonioso. 
O preto é fundamental a muitas formas de transformação, o tom imaginário da metanoia individual (transformação espiritual), uma mudança de direção, um virar-se para dentro, ou até uma «noite escura da alma», a escuridão luminosa de auto compreensão na psicologia de Jung. No opus alquímico, O nigredo é um estado de desorientação, exaustão, auto-dúvida, depressão, inércia, confusão e desunião. Os alquimistas descreveram-no como um «preto mais preto que o preto, o preto absoluto», sol preto, viúva, órfão, caput corvis ou «cabeça de corvo». No entanto, os alquimistas consideravam que o nigredo não era causa para consternação, mas para alegria; ele expressava conjunção com o potencial ilimitável e abundante da mente, no qual podia ser concebido o embrião dourado do self, do eu interior que pela calcinação se transforma em algo superior, pois tem o efeito de desencarnar e eliminar a individualidade. 
O Pavimento é um emblema da vida humana, um entrelaçamento do bem e do mal; da luz e das trevas, do transcendente e do imanente, o espírito e a matéria, o som e o silêncio o falso e o verdadeiro, o sólido e o gasoso, o riso e o choro, o nascimento e a morte, o dia e a noite. Deste modo, sua representação está lá para mostrar um aspecto essencial do caminho: a dualidade e a diversidade, para nos lembrar da nossa dualidade e de sua superação. Os ladrilhos ou tesserae brancos e pretos estão lado a lado, circundam-se e formam uma matriz que representa a vida e sua diversidade de momentos. Segundo os antigos pensadores gregos o existem dois princípios a noite absoluta: o tártaro e a luz absoluta: o éter (aither), existe o dia com sua diversidade: o hêmera. Porque acreditamos num único princípio, nossas diferenças nos tornam iguais no seio de nossa Ordem. Estando por cima da dualidade podemos “Caminhar sobre” essas lajotas brancas e negras, significa que aquele que quer ser senhor de seu destino e capitão de sua alma deve caminhar sobre esses opostos no sentido de dominá-los, deve elevar-se acima da matéria e as suas vicissitudes; tornar-se superior a matéria, aspirando a serenidade espiritual. A unidade na diversidade, a fonte arcádica de tudo que existe. 
Como o quadrado transmite a ideia de solidez e estabilidade, representa a Terra e a matéria. Assim, uma tesserae ou ladrilho quadrado alvinegro representa os aspectos positivos e negativos do mundo e de nós mesmos. Representam desta forma a verdade. E verdade em grego se diz alétheia e é o não-esquecimento, é des-ocultação e re-velação. As mentiras símeis, i.e., que são parecidos aos fatos opõem-se, portanto, às revelações como a força da simulação ocultadora se opõe a da presença manifesta, e são no entanto uma só e mesma força. Esse símbolo do quadrado preto e branco no pavimento não deve ser tomado apenas como adequação do intelecto ao que a palavra afirma; mas como re-velações do significado oculto no reino noturno do não-ser i.e., do esquecimento e fundá-lo como manifestação da presença. Assim, o negativo, o despercebido, o que está oculto, o não-presente, o mal, o obscuro é o que afunda no reino do abismal oblivium. Entretanto, pela presença fundadora do ladrilho alvinegro se torna presente e manifesto, sendo por isso, sempre presente na luz do não esquecimento, ou seja, da verdade. 


A ORLA DENTADA 
A bela borda que circunda, o pavimento alvinegro da nossa loja é formado por triângulos negros com a base voltada para fora e triângulos brancos com base apoiada no pavimento mosaico. Nos ladrilhos achados no Monte do Templo, ambos triângulos são triângulos Herodianos caracterizados por terem como medida de sua altura igual a 29,6 cm. Essa faixa composta por triângulos pretos e brancos que cerca o pavimento de quadrados alvinegro do piso do Templo, simboliza a união que deve existir entre todos os homens quando o amor fraternal e a igualdade dominar todas as nações em todos os cantos da terra. 
Segundo Heidegger (2002) em grego o universo de diz o kósmos (ỏ κόμοζ) e é em essência, sobretudo o que se vela, e por isso a obscuridade é essencial. Assim como os símbolos que escondem seu significado a plena vista, mas de forma obscura retém o entendimento do ser humano comum, profamo. Logo, o pensamento e o modo de conhecer esse o essencial nos símbolos, nunca poderá ser uma “vontade” que obriga o universo a trair o seu segredo. Por que o símbolo, o a-se-pensar se encontra na essência de um encobrimento, numa obscuridade, e por isso, o pensamento que experimenta a medida do “obscuro” é em si mesmo necessariamente obscuro. Assim, a orla dentada, encobre um significado. E esse significado obscuro para nós porque abriga a essência do a-se-pensar, a saber: sua delimitação. Uma coisa é abrigar o obscuro uma outra é tropeçar no obscuro como um limite para a razão. Assim, o triangulo simboliza a atração, i.e., o amor, pois este é o emblema por excelência do arquiteto divino, e todas as coisas criadas revolucionam a sua volta, não ficando nenhum detalhe por menor que seja sem ser pensado pelo criador. E por amor pensamos na luz que ilumina a nossa vida, a luz que emana do centro da estrela que nos dá a vitalidade e energia. É a manifestação perfeita e o equilíbrio. A manifestação (origem, gênese) os gregos diziam physis (φύζισ), do verbo phyein natureza. A essência da manifestação luz, e a essência da luz é a claridade, sem a qual nada aparece, sem a qual nada pode sair do encobrimento para o desencobrimento. A physis (natureza) é o fundo eterno, perene, imortal, de onde tudo nasce e para onde tudo volta, é invisível para os olhos do corpo e visível somente para o olho do espírito, para o pensamento. Dai a necessidade do equilíbrio e da manifestação. Segundo Miquel Espinelli, "tudo o que nasce está destinado a ser o que deve ser e não outra coisa. Esse nascer destinado, pelo qual o que nasce se submete a um processo de realização, é a phýsis, e, como tal, a archê. (...) tanto a phýsis quanto a archê não são expressões do anárquico (...), tampouco do ocasional... O que esses termos conjuntamente designam é o que ocorre sempre ou de ordinário (...), mas com uma eficácia tal que "dispara" sempre (como se fosse um gatilho biológico) o que é melhor dentre todo o possível". A manifestação comporta um aspecto de transformação, de vir a ser e equilíbrio. A orla dentada por ser amor, é atração, por ser limite é lei que não deve ser quebrada, podendo-se somente entende-la depois da iniciação. Seja como amor ou como atração universal, seja como manifestação, esse símbolo mantém ainda sua dualidade de obscuridade e luz. No modo grego de pensa, no modo de Heráclito, a luz e a claridade são atributos da deusa Ártemis, deusa da caça, que se apresenta portando uma tocha e seus atributos são a lira e o arco. A caçadora que busca o vivo, para que ele encontre a morte, traz os sinais do jogo: o arco e a lira. Seu outro símbolo é a tocha, sinal da morte enquanto o que não se esvai e não se apaga. A portadora da luz é a portadora da morte. Vida e morte, luz e noite correspondem-se justamente ao se contradizerem. Por isso o bem e o mal, a luz e as trevas, o dia e a noite. 

Assim, o significado que está plasmado no triângulo alvinegro em duas direções, deve ser buscado de maneira apolínea, i.e., essencialmente relacionado com o claro. Segundo Heidegger o obscuro e o claro se pertencem numa mutualidade. E isso não no sentido de que onde existe o obscuro também deve haver luz por toda parte e vice-versa. Mais do que isso, o obscuro “é” em sua essência o claro e o claro “é” em sua essência o obscuro. Lembremo-nos de Deus e Lúcifer ou Deus e Sofia. Quando dizemos que o obscuro “é” o claro, e o claro “é” o obscuro, a vida é morte e a morte é a vida estamos chegando no princípio, ou seja, o essencial está ali, bem na nossa frente, luz e escuridão, vida e morte, vigília e sono, movimento e repouso, liberdade e necessidade, infinito e finito. Além disso, os triângulos brancos da orla dentada apontam para fora e os triângulos negros apontam para dentro. Isso simboliza que o espírito deve ter uma expansão que transcende a restrição imposta pela matéria. Transcender a matéria, sendo matéria. Sendo nós mesmos, melhorados, transformados. O que nos remete ao trabalho de polir do aprendiz. A pedra bruta é a pedra polida. E isso está além do caráter meramente moralista que divide as ações entre vícios e virtudes. Também simboliza as virtudes da Temperança, Fortaleza, Prudência e Justiça; todas características oriundas do Divino arquiteto que por aproximação e amor as herdamos. Também podem representar os quatro elementos dos antigos que são triângulos: água, fogo, terra e ar. Era o que constava Ven.: Mes.: 

Ir.: A. Zeuxis P. MSc, BSc, A.’.M.’. 










Bibliografia 


PORTAMAN, Adolf, et al. Color Symbolism: Six Excerpts from the Eranos Yearbook, Zurique, 1972. 

RICHARD, Gladys, A., Navaho Religion: A Study of Simbolism, NI, 1963. 

RONNBERG. Ami. O livro dos símbolos. China, Taschen, 2012. 

SPINELLI, Miguel. Questões Fundamentais da Filosofia Grega. São Paulo: Loyola, 2006

TORRANO, J. Teogonia. São Paulo, Iluminuras, 1995.






(visitado em 10/X/2019) 


(Visitado em 10/XI/2019) 


(visitado em 9/XI/2019) 





https://en.wikipedia.org/wiki/Mosaic (Visitado em 28/X/2019) 






https://pt.wikipedia.org/wiki/Physis (Visitado em 28/X/2019) 




Apresentada em 23/XI/2019 

ANEXOS


MEMENTUM ET ADENDUM 


Mapa da Mesopotâmia e seus povos ha 3.000 anos atras, idade do bronze. 






Representação de uma cidade estado Suméria da era do bronze.


Este tablete de argila chamado de Planisfério Sumério data de mais de 3.000 anos a.C. e relata o avistamento de um bólido que cruzou a abóboda celeste em direção nordeste. Além disso, esse tablete contem diversas constelações entre elas o polo norte celeste como era visto há mais de 5 mil anos atras. Esse mapa estelar é o mais antigo mapa do céu que se tem noticia. 



ALFABETO CUNEIFORME DOS BABILONICOS E SUMÉRIOS







ALGUNS EXEMPLOS DE PAVIMENTOS ENCONTRADOS NO IMPÉRIO ROMANO CONSTRUIDOS COM A TÉCNICA "OPUS SECTILE".

 1

 2

 3












ALGUNS EXEMPLOS DE PAVIMENTOS MOSAICOS CONSTRUIDOS COM A TÉCNICA DE MOSAICO. 




















Incredible 86m² Roman mosaic from the city of Lugdunum (Lyon), made of approximately 1 million pieces of marble and limestone. It is notable for its use of the ancient Indo-European swastika, symbolising eternal life and good luck. 3rd century AD. 







Polvo gigante retratado num mosaixo 












Compare com obras produzidas através da técnica "opus sectile", do início com estas aqui abaixo, a diferença é brutal. Segundo historiadores antigos a mais desejada e a mais rebuscada era a técnica do "opus sectile".