ΕΛΛΗΝΙΚΟΙ ΘΕΟΙ
Blog de Arte e História, Filosofia, Geometria, Astronomia, Ciências, Fotografia alternativa e Política! POR UMA VIDA NÃO FASCISTA.
15 agosto 2020
14 agosto 2020
SUA FALA É RACISTA?
SUA FALA É RACISTA?
É IMPOSSÍVEL NÃO SER RACISTA TENDO SIDO CRIADO
NUMA SOCIEDADE RACISTA (Djamila Ribeiro)
NÓS, OS BRANCOS, E
A NOVA PARTILHA DISCURSIVA
Ivana Bentes
Mesmo tendo que ser muito cuidadosos com a “cultura do linchamento” e do “cancelamento”, há questões muito importantes no debate suscitado por uma figura respeitada como Lilia Schwarcz em relação ao direito de qualquer um de nós analisarmos criticamente a produção cultural contemporânea para além e independentemente do nosso “lugar de fala”. No caso, a produção é o álbum visual Black is king, de Beyoncé.
Hoje, as controvérsias em torno da noção de “lugar de fala” e das “pautas identitárias” atualizam e repetem as reações hostis contra as cotas raciais reproduzidas por intelectuais brancos, utilizando argumentações muito semelhantes.




O célebre e criticado “Manifesto contra as cotas raciais”, publicado em maio de 2006, tinha como título: “Todos têm direitos iguais na República Democrática”. Endossado por artistas e intelectuais reconhecidos como Lilia Schwarcz – que, em 2019 publicou em seu Facebook um pedido de desculpas pela adesão ao documento -, o abaixo-assinado invocava o “direito universal” para se contrapor à política de cotas proposta pelo Estado brasileiro: “A adoção de identidades raciais não deve ser imposta e regulada pelo Estado. Políticas dirigidas a grupos ‘raciais’ estanques em nome da justiça social não eliminam o racismo e podem até mesmo produzir o efeito contrário, dando respaldo legal ao conceito de raça, e possibilitando o acirramento do conflito e da intolerância”.
O manifesto cristalizou uma argumentação falaciosa de que as cotas raciais “iriam introduzir o racismo no Brasil”. Diante da eficácia da política de cotas raciais nas universidades, tornada uma das mais transformadoras políticas de combate à desigualdade e ao racismo do Estado brasileiro, o documento é hoje considerado um equívoco por muitos que o assinaram. Um equívoco que se repete quando intelectuais brancos acusam os movimentos identitários de produzirem, por meio do debate público e da noção de “lugar de fala”, discursos supostamente radicalizados e irreconciliáveis, responsáveis por “acabar com a empatia”, por criar “polarizações e antagonismos” entre negros e brancos ou ainda por “calar” o debate. A inversão é problemática.
O que os brancos escandalizados não percebem é que sem um desequilíbrio estrutural no poder discursivo não teríamos uma “cota de fala” ainda limitada para os muitos e para os não-brancos, pois naturalizamos o homem branco como o sujeito do suposto saber e do suposto falar. Nós, os brancos, falamos e calamos, e se existe um “lugar de cala”, ele esteve explicitado e/ou invisível nesses séculos de grupos silenciados.
O que está em jogo nos movimentos identitários, no “lugar de fala” tal como nas cotas raciais, é o poder de modular privilégios (mesmo que de maneira ínfima ou simbólica). É essa “desvantagem” temporária no discurso que enfurece os brancos e que faz com que apelem, como no caso das cotas, para um direito universal abstrato que sempre tivemos: o de falar para todos no espaço público.
O comentariado
“Eu posso falar de tudo”. Sim, sempre pudemos, mesmo quando havia ou há pessoas mais habilitadas e com repertório para tal. Nós sempre estivemos nesse lugar central de fala e parece bem doloroso sair dele. Por séculos e décadas os intelectuais brancos se viram como intelectuais públicos e universais, autorizados a falar sobre tudo enquanto acumulam capital simbólico e real.
Os especialistas consultados, os colunistas, os donos de opiniões, foram durante séculos e décadas nós, os brancos, a despeito de existirem centenas de outros sujeitos sociais, acadêmicos, científicos (negros, mulheres, minorias) com as mesmas habilidades que nós, ou melhores. Falar sempre foi um lugar de poder. Opinar, analisar, publicar constitui capital simbólico e real passível inclusive de monetização. Quanto mais eu falo e me exponho, inclusive falando gratuitamente, mais tenho possibilidade que alguém me veja e me pague adiante.
O declínio desse intelectual público já vinha se dando com a ascensão da cultura digital e do comentariado: da massa que opina, publica, critica, dos intelectuais do Youtube, do Instagram, dos influenciadores e formadores de opinião do Twitter. Eles já colocavam em xeque a reserva de mercado de inteligência, opinião e análise do intelectual clássico, provocando uma redistribuição de capital simbólico.
Sim, o comentariado também produziu comportamento de manada, enxameamentos para o bem e para o mal, linchamentos, cancelamentos, destruição de reputações, desinformação global e fake news, um efeito colateral da cultura digital massiva imprevisível. Mas produz também outra desordem estrutural que possibilita uma nova partilha do sensível.
A emergência do comentariado e do cognitariado, essa nova força do capitalismo cognitivo, foi só a primeira ferida narcísica e abalo sísmico nos ambientes acadêmicos e entre os formadores de opinião e especialistas.
Beyoncé, influenciadores e os novos intelectuais
A noção política de “lugar de fala” e as pautas identitárias provocam uma nova partilha do sensível ao desnaturalizar e ao desnudar o privilégio branco de “falar sobre tudo” e “falar pelos outros” como sujeito universal de direitos e discursos.
O “lugar de fala” desequilibra as relações de poder que tem o homem branco universal como centro, daí provoca tanto escândalo e revolta. A primeira função do lugar de fala é se desalienar do lugar de onde falamos para entender as hierarquias, desigualdades e assimetrias que o nosso discurso produz, nega ou reproduz.
Então vamos combinar que a controvérsia em torno da análise de Lilia Schwarcz sobre o álbum visual de uma artista negra mainstream, Beyoncé, não é simplesmente o fato dela não ter gostado da linguagem da Disney ou de ter visto uma África clichê, ou ainda a “glamourização da negritude” com o uso de estampas de oncinha.
“Lugar de fala” é o que limita e expõe as perspectivas, justamente. Schwarcz viu clichês onde analistas e intelectuais negros e brancos viram um afrofuturismo potente, um ativismo mainstream, um imaginário colonial ressignificado e uma África mítica que performa a negritude na centralidade de um espetáculo suntuoso.
Da mesma forma que, no Carnaval, moradores de favelas se vestem de reis e rainhas, se cobrem de ouro, ou os remanescentes dos quilombos brasileiros festejam com as congadas a coroação de rainhas negras em cortejos majestosos, Beyoncé se apropria e “hackeia” a cultura colonial pop, remixando-a com infinitas tradições de matriz africana. Realezas tribais, outros reis e rainhas negras, outra nobreza popular, outras “monarquias” e reinados.
A questão, pois, dessa controvérsia está longe de se reduzir à análise propriamente dita: uma questão de linguagem, de gosto, de desinformação, se contém ou não racismo. A questão é que o intelectual branco não fala mais para seus pares com códigos cifrados e cumplicidade, fala para um comentariado que o desconhece (e desconhece a sua “reputação” e capital simbólico acumulado ou intocável); fala para os fãs fervorosos de Beyoncé, fala para movimentos ultrassofisticados que conceituaram o afrofuturismo, fala para outra intelectualidade negra que disputa a “reserva de mercado” do discurso acadêmico para brancos e que, sim, pode exigir outra partilha do sensível e dos discursos em que ser branco não seja mais uma vantagem discursiva. Nós, os brancos, e Beyoncé, falamos para intelectuais e ativistas que disputam narrativas.
O intelectual branco universal
Por isso pode soar tão “fora do lugar” a comoção de brancos com as críticas recebidas por Lilia Schwarcz, vindas de todos esses novos lugares e também dos movimentos negros e de intelectuais negros.
Caros amigos brancos, parem de se defender! É inútil repetir que todos têm “direitos iguais” de fazer crítica cultural sobre quaisquer objetos da cultura, e que uma intelectual branca não pode ser cerceada no seu direito, pois não é disso que se trata. Somos solidárias a Lilia e repudiamos as expressões ofensivas e violentas de alguns comentários, discursos de ódio que vão da extrema-direita ao campo das esquerdas. Mas é só isso: debate público com novos sujeitos do discurso e novos sujeitos políticos que analisam as limitações da brancocracia. Falar de “cancelamento” no caso de Lilia Schwarcz me parece um exagero de brancos. O “cancelamento” é uma estratégia que conforme a modulação pode ir de um honesto e necessário debate público até o seu extremo, que é o linchamento e destruição de reputações.
Qual o risco de “cancelamento” sofre uma intelectual branca, bem sucedida, autora prestigiada de livros acadêmicos e coordenadora de coleções que versam justamente sobre o antirracismo? Coleções e mercado editorial que só foram possíveis pela nova partilha do sensível e da luta dos movimentos antirracistas?
Lilia está longe de ser “cancelada” e seria deplorável se o fosse, já que soube muito bem se desculpar e aceitar as limitações discursivas apontadas. Não precisa de mais defensores brancos indignados reafirmado nossos direitos universais e nossa liberdade de expressão.
Intelectuais negros inventam linguagens
Quem são as novas e novos intelectuais negros e negras? Figuras como a filósofa Djamila Ribeiro popularizaram justamente a noção de “lugar de fala” e outros conceitos acadêmicos decisivos para esse debate. Autoras como Sueli Carneiro conceituaram o feminismo negro no Brasil. Conceição Evaristo traz para a academia e para a literatura a noção de “escrevivências” para contar, a partir de uma vivência e singularidade, uma história coletiva. Exatamente tudo que a tradição universitária nega como escrita científica ou acadêmica: conceitos e noções forjados em meio a lutas e não em território seguro e distanciado.
As intelectuais negras são frequentemente “reduzidas” ao discurso “militante” ou ativista, porque são sujeitos que, ao falar de si ou narrar uma trajetória, falam dos outros. Com uma escrita coletivizada de si, trazem uma real contribuição ao ensaísmo. Um encanto que ensina a nós, brancos acadêmicos universais, a nos narrar assumindo a nossa branquidade, branquitude ou brancocracia.
Pois sim, a minha trajetória de mulher branca, nascida em família de classe média periférica de Parintins, Amazonas, crescida em Rio Branco, Acre, com pais comerciantes que migraram em busca de melhores condições de vida, e minha vinda para o Rio de Janeiro, me proporcionaram uma trajetória de vida e construção de reputação – sem sobrenome, família ou status prévio no Rio – só possível pela minha entrada em uma universidade pública e gratuita, e pelo fato de ser branca. Me identifico com os “novos ricos” do capital simbólico por ter construído meu quinhão vinda das periferias do Brasil para os centros, e sabendo que ser branca me deu incontáveis privilégios, inclusive esse de ocupar um espaço de escrita.
A revolta de intelectuais brancos contra o “cancelamento” de Lilia Schwarcz diz também do “lugar de cala” secular exercido silenciosamente pelos brancos enquanto foi conveniente, da invisibilidade social e acadêmica de intelectuais negros, mulheres e outros. Não é mais e não somos nós que estamos sendo calados. Estamos em meio a uma emergência e “o lugar de fala” recentemente conquistado e performado pelos negros no Brasil é uma ferramenta, um conceito, um instrumento de luta para se celebrar.
Ativismo mainstream
O problema na análise de Schwartcz sobre o álbum visual de Beyoncé é também o de certa intelectualidade branca. Existe uma dificuldade dos intelectuais e das esquerdas entenderem os ativismos mainstream que vêm atravessados por estratégias de marketing, marca, e que produzem efeitos extraordinários em termos de comportamento. É preciso entender o papel da cultura pop nas disputas conceituais e de comportamento.
As mulheres e atrizes e atores brancos e negros usaram Hollywood, a moda, o glamour e a grana para o combate ao machismo no movimento Me Too de forma extraordinária. Beyoncé usa uma estética pop, glamorosa e de apropriação do luxo para o ativismo mainstream negro. O luxo (afrofuturismo suntuoso) não combina com a estética negra ativista?
Para além da questão do lugar de fala – “intelectual branco ou branca dando lições aos movimentos negros e outros” –, hoje as falas acadêmicas são passíveis de serem refutadas ou refinadas no espaço público em diálogo com não intelectuais. Não havia esse espaço. Nós falávamos sozinhos ou entre pares. Então, antes de tudo, celebremos a inclusão conceitual dos não universitários e ativistas no debate público brasileiro.
O direito de ser “neutro”, científico e argumentar criticamente sobre tudo continua, caros amigos e amigas brancas. Mas apenas a “autoridade” intelectual ou o capital conceitual não bastam e não impedem mais que outros sujeitos do discurso digam de forma bem explícita: seus conceitos, suas análises “desinteressadas”, sua argumentação crítica e ilustrada, seu Foucault finíssimo, seu Deleuze sofisticado, seu (completem com todos os nomes maravilhosos que amamos tanto) não servem para a minha luta.
E pasmem, tenho sim visto a intelectualidade branca desqualificar os movimentos identitários ou reduzi-los a um “essencialismo” simplório com bases nos filósofos da diferença. Exatamente como antropólogos e antropólogas prestigiadas da UFRJ e de outras universidades usaram seu capital científico e acadêmico para se posicionarem contra as cotas raciais, desqualificando uma política pública urgente porque ela supostamente revertia e utilizava o conceito de “raças” para beneficiar um grupo.
Disseram os antropólogos no “Manifesto contra as cotas raciais” que “a invenção de raças oficiais tem tudo para semear esse perigoso tipo de racismo, como demonstram exemplos históricos e contemporâneos. E ainda bloquear o caminho para a resolução real dos problemas de desigualdades”.
Conceitos não estão “acima” das lutas, e as lutas forjam, revertem, ressignificam, se apropriam de conceitos, como diz meu filósofo branco preferido, Gilles Deleuze, ou serão caixas de ferramentas ou ficarão em um céu de ideias fixas. E aqui uso e cito os intelectuais brancos que me formaram (Deleuze, Foucault, Negri etc.) sabendo que ao serem relidos ou criticados, não estão sendo “cancelados”, mas ampliados, potencializados por intelectuais negros como Achille Mbembe, por um pensador trans como Paul B. Preciado ou deixados de lado por outra tradição intelectual que prefere partir de outras matrizes conceituais mais enegrecidas.
Bem vindos ao início do fim da “reserva de mercado da inteligência” para nós, os intelectuais universitários brancos “acima” das urgências do presente. Elas sempre existiram, mas muitos de nós preferimos produzir papers destinados a pontuar nosso Currículo Lattes ou a dialogar em congressos de pares, espaços tão gentilmente mudos. Estivemos falando sozinhos durante séculos ou para “os mesmos”, por isso não fomos mais refutados e questionados.
Celebremos a ruidocracia e o embate conceitual, de valores, celebremos! Precisamos tanto de conceitos e análises gourmets, quanto de mais filmes de Beyoncé.
Ivana Bentes é pesquisadora do Programa de Pós Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ



Martin Luther King Jr. sendo preso por se aproximar de um tribunal onde um racista estava sendo julgado, em 1958. Depois dessa foto, o reverendo foi espancado pelos policiais.

Elizabeth Eckford chega na escola Little Rock Central High School sob ataques de estudantes racistas, em 1957.

Dorothy Counts, primeira aluna negra da Universidade de Harry Harding e enfrentou o racismo diariamente
Fonte
África do Sul, Brasil e EUA vivem ofensiva contra negros nas universidades
Retorno dos supremacistas brancos e fraudes em cotas raciais remetem ao episódio de Little Rock, ocorrido há 60 anos
Júlia Dolce
São Paulo (SP)
28 de Setembro de 2017
A cena de nove crianças negras escoltadas pelas Forças Armadas para poder cursar o Colégio Central, até então frequentado apenas por brancos, em Little Rock, nos EUA completou 60 anos nesta semana.
O episódio conhecido como os Nove de Little Rock marcou a luta contra o sistema racista, após decisão da Corte Suprema de eliminar restrições a negros em todas as escolas estadunidenses. Seis décadas depois, manifestações racistas ainda chamam a atenção pública nas instituições de ensino do país.
Segundo a estadunidense Claudia De la Cruz, integrante do Popular Education Project, a recente insurgência de grupos racistas nos EUA tem levado a novos conflitos nas universidades.
"Um dos exemplos mais recentes foi na Universidade de Boston, onde os grupos supremacistas brancos se organizaram contra professores e estudantes que são anti-racistas, que têm protestado contra o racismo", contou.
A situação é presente em outros países que também trazem na sua história a discriminação racial e a luta por direitos civis da população negra.
Conversamos com Vuyolwethu Toli, mestrando em ciências sociais pela Universidade de Rhodes na África do Sul, que explicou que episódios racistas nas universidades do país dele vêm acontecendo de forma mais sutil, mas fazem com que os estudantes negros não se sintam bem-vindos.
"Em 2008 teve um episódio na University of the Free State, ela é historicamente conhecida como uma instituição de africanos brancos e ricos. Houve um protesto de estudantes brancos, sobre uma das residências se abrir para acomodar mais estudantes negros. Eles pegaram quatro faxineiros negros da universidade e fizeram eles beber urina", disse.
De acordo com Mikaela Nhondo Erskog, pesquisadora na Pan Africa Today, em Johannesburgo, África do Sul, as residências brancas segregadas ainda são bastante comuns nas universidades mais conceituadas do país, o que legitima discriminações diárias.
"Na Universidade de Stellenbosch, por exemplo, os estudantes negros tiveram que pedir para as instruções estarem em inglês e não africâner, que era a língua do governo do apartheid. Os estudantes brancos faziam protestos para conseguir manter sua cultura africâner, porque era parte de sua história e cultura, e minimizavam o problema", denunciou.
No Brasil, nesta semana, diversos alunos brancos do curso de medicina da UFMG, a Universidade Federal de Minas Gerais, foram denunciados por fraudarem o sistema de cotas raciais. Sancionada em 2012 pela então presidenta Dilma Rousseff, a Lei de Cotas Raciais foi criada como forma de combater a discriminação e promover inclusão.
Para a jornalista Luka Franca, feminista negra, é papel das universidades enfrentar as fraudes e os protestos contra as cotas:
"É preciso ter políticas das instituições para coibir o racismo, que muitas vezes é feito de forma velada em banheiros, nas paredes das universidades. Acho que temos muita coisa para avançar, mas demos passos muito importantes", disse.
A estadunidense Claudia De la Cruz acredita que o atual contexto político mundial, possibilita uma importante oportunidade de disputa de discursos.
"Nesse contexto particular dos EUA há uma ponte de oportunidades para pessoas que têm consciência política levantarem histórias como a de Little Rock, mas não apenas isso como o movimento pelos direitos civis, os discursos de Martin Luther King e Malcolm X, para entender a conexão entre raça e classe, e aprofundar as análises nesse contexto", opinou
Na cidade de Little Rock, uma cerimônia marcou o aniversário do episódio, contando com a presença de parte dos estudantes negros que protagonizaram o momento histórico na época.

A escola de sua cidade aplica a Lei 10.639/03, uma consequência da luta negra?
Educação é central na formação e constante atualização do sistema racista
Djamila Ribeiro
Muitas pessoas têm me perguntado recentemente o que elas podem fazer em prol da equidade racial no país. Quando Angela Davis afirmou que não basta não ser racista, mas é necessário ser antirracista, fez um chamado à ação, à transcendência do mero repúdio moral à discriminação.
Por ação, precisamos entender que há uma estrutura posta que intermedeia todas as relações sociais e uma semana de mobilização pela internet não será suficiente para transformá-la.
Então, perguntam: qual seria uma ação antirracista possível na minha realidade? O que posso fazer?

A escola de sua cidade aplica a Lei 10.639/03, uma consequência da luta negra?
Educação é central na formação e constante atualização do sistema racista
Djamila Ribeiro
Bom, há muito o que ser feito, mas neste texto gostaria de destacar o que é um elemento central na formação e constante atualização do sistema racista: a educação. A luta de movimentos negros pela transformação no sistema educacional remonta às fundações deste país. Desde a Constituição do Império, que proibia as pessoas negras e indígenas de estudar, até a luta pelas cotas raciais nas universidades, a população negra lutou bravamente. É de conhecimento geral, inclusive da branquitude que se finge de avestruz, que a transformação na educação resulta numa transformação da sociedade.
Em 2003, uma dessas grandes batalhas resultou na Lei 10.639, que alterou as diretrizes básicas da educação para inclusão do “estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à história do Brasil”.
A professora emérita Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva da Universidade Federal de São Carlos integrou a comissão que elaborou o parecer do Conselho Nacional de Educação para as diretrizes curriculares da proposta.
Em “Uma Trajetória até a 10.639/2003”, publicado no décimo ano de vigência da lei, a professora Azoilda Loretto da Trindade, grande educadora brasileira, doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que se juntou aos ancestrais há poucos anos, afirma a enorme importância dessa lei para a população negra.
“A lei 10.639/2003 é consequência da luta histórica do movimento negro por justiça e equidade, contra o racismo e as desigualdades étnico-raciais. É um indicador da persistência e permanência da injustiça e da busca por equidade. Ancora-se, no caso da educação, num longo processo de exclusão da população negra do direito à educação.”
“A invisibilidade é a morte em vida”, Trindade afirmava, e contra esse apagamento histórico, epistemológico e existencial lutou intensamente. Dedicou toda uma vida para que pessoas como eu tivessem oportunidades de conhecer sua história e seus antepassados nas salas de aula, deixando um legado imenso na educação antirracista, como o projeto educativo de valorização da cultura afro-brasileira “A Cor da Cultura”, o qual coordenou em parceria com o canal Futura, e está disponível online.
Ao longo de sua pesquisa, Trindade explorou a importância da valorização da história da população negra no país. Em “Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros na Educação Infantil”, afirma: “A África e seus descendentes imprimiram e imprimem no Brasil valores civilizatórios, ou seja, princípios e normas que corporificam um conjunto de aspectos e características existenciais, espirituais, intelectuais e materiais, objetivas e subjetivas, que se constituíram e se constituem num processo histórico, social e cultural. E apesar do racismo, das injustiças e desigualdades sociais, essa população afrodescendente sempre afirmou a vida e, consequentemente, constitui o(s) modo(s) de sermos brasileiros e brasileiras”.
Nesse mesmo texto, em belíssima passagem, a educadora sintetiza a indignação que deve canalizar na transformação do ambiente escolar para crianças e jovens negros: “É impressionante que, por muito tempo, ninguém se preocupou com a importância de colocar, no acervo de brinquedos das crianças da educação infantil, bonecas e bonecos negros, livros infantis com imagens e personagens negros em posição de destaque, não ter mural com personagens negros, não serem trabalhadas as lendas, as histórias e a história africanas, entre outras formas de afirmação de existência e de valorização dos negros em nosso país”.
Como se vê, o cumprimento da Lei 10.639 e a valorização da educação antirracista é uma medida de urgência histórica, constante e que deve ser feita por toda a sociedade civil: de diretoras aos pais, de secretarias municipais e estaduais aos órgãos de Justiça, entre tantas pessoas e instituições que devem se preocupar com a promoção do ensino histórico e político da luta da população negra brasileira, que segue resistindo neste país.
Honremos a memória de Azoilda Trindade e de tantos educadores que dedicam suas vidas às práticas antirracistas e continuemos a história de transformação da sociedade. Honremos Petronilha, Azoilda e educadores comprometidos com a educação antirracista.
Djamila Ribeiro
Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.




Fonte
SANTA MARIA MAGDALENA, CANNAREGIO, ITÁLIA
SANTA MARIA MAGDALENA
CANNAREGIO, ITÁLIA
La Maddalena (Italiano: Santa Maria Maddalena in Cannaregio) ou Igreja de Santa Maria Madalena em Cannaregio é uma igreja em Veneza, no sestiere Cannaregio e dedicada a Maria Madalena.
Sabe-se de uma igreja no local já em 1222, propriedade da família patrícia dos Balbo. Quando, em meados do século XIV, o senado de Veneza criou um feriado para celebrar a festa de Santa Maria Madalena, decidiu-se ampliar a igreja, incluindo a torre de vigia, que foi transformada numa torre sineira.
A igreja foi restaurada no início do século XVIII, e, em 1780, foi inteiramente reconstruída com base num projeto de Tommaso Temanza, de planta circular inspirada pelo Panteão de Roma. A torre sineira foi demolida em 1888. A mais notável característica da igreja é seu portal, decorado com símbolos maçônicos na parte superior, uma provável referência à ligação dos Balbo com os templários. O interior segue uma planta hexagonal com quatro capelas laterais e um presbitério.
Nehushtan (or Nohestan) is the derogatory name given to the bronze serpent on a pole first described in the Book of Numbers. At a much later period, in the Gospel of John, Jesus discusses his destiny with Nicodemus, a Jewish teacher and makes a comparison between the raising up of the Son of Man and the act of the serpent being raised by Moses for the healing of the people. Jesus applied it as a foreshadowing event to his own execution on a stake stating:
“And as Moses lifted the serpent in the wilderness, even so must the Son of man be lifted up: That whosoever believeth in him should not perish but have eternal life. For God so loved the world, that he gave his only begotten Son, that whosoever believeth in him should not perish, but have everlasting life”
(John 3:14-16).


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