INÍCIO

02 julho 2022

BATALHÃO SAGRADO DE TEBAS

BATALHÃO SAGRADO DE THEBAS
E A ORDEM DE QUERONEIA

A história homoerótica do Bando Sagrado de Thebas, batalhão de elite do exército thebano em 371 a 338 a.C

Batalhão Sagrado de Tebas 
'Ιερός Λόχος τῶν Θηβῶν 
Hierós Lókhos tón Thebón

"OS PRIMEIROS E OS MELHORES"
πρῶτοι καὶ ἄριστοι


Relevo gravado de Hércules a direita, Eros no centro, e Iolaus 
à esquerda na cista Ficoroni. Vaso ritual etrusco do século IV a.C. (WP)

BATALHÃO SAGRADO DE TEBAS

Vamos contar uma história que merece ser repetida sempre, todos os dias. A história de uma das mais emblemáticas e importantes tropas militares da Grécia Antiga, um batalhão de elite, o Batalhão Sagrado de Tebas ou Banda Sagrada de Tebas. Esse batalhão era constitiido por homem em um relacionamento  homoafetivo. Esse relacionamento em nada diminuíram suas bravuras, seus brios e suas coragens.

INTRODUÇÃO

O local era Esparta, grego dórico: Σπάρτα, Spártā; grego ático: Σπάρτη, Spártē, ou Lacedemônia, Λακεδαίμων, Lakedaímōn, que foi uma proeminente pólis (cidade-Estado) da Grécia Antiga, situada nas margens do rio Eurotas, na Lacônia, sudeste do Peloponeso. Esta pólis, Cidade-Estado, surgiu como uma entidade política em torno do século X a.C., quando os invasores dórios subjugaram a população local. Por volta de 650 a.C., a cidade passou a se tornar o poder terrestre militar dominante na Grécia Antiga. 

Dada a sua preeminência militar, Esparta era reconhecida como a líder de todas as forças gregas combinadas durante as Guerras Greco-Persas (guerras médicas, os gregos chamavam os persas de Médos). 

Por quase três décadas, de 431 e 404 AEC, a cidade de Esparta foi o principal inimigo de Athenas durante a Guerra do Peloponeso, conflito do qual Esparta saiu vitoriosa junto com sua Liga do Peloponeso, embora com grande custo tanto em número de tropas quando economicamente. A derrota de Esparta para Thebas na Batalha de Leuctra em 371 AEC acabou com o papel proeminente de Esparta na região e iniciou o período da hegemonia tebana.

Após a Guerra do Peloponeso (431-404 AEC) entre Athenas e Esparta, cujo resultado foi favorável a Esparta, resultou na hegemonia militar evidente por parte dos espartanos em todo o território grego. 

Esta situação seria interrompida após uma dezena de anos pela sublevação da cidade de Thebas, iniciada na batalha de Leuctra (06/Jun/371 AEC), que opôs Esparta aos tebanos, liderados pelo general Epaminondas. A vitória de Tebas nesta batalha solidificou o poder dessa cidade-estado, que rapidamente se tornou uma das principais da Grécia.

Essa vitória do exército de Thebas em muito se deve a um destacamento muito especial. Este destacamento era formado por um selecionado grupo de soldados de elite, treinados exaustivamente em táticas e em diferentes tipos de lutas era constituído por 300 homens, que inovou as táticas militares da época e venceu o maior e mais experiente exército grego de todos os tempos, o exército de Esparta, na Batalha na referida batalha de Leuctra. 

Nessa batalha o exército tebano com auxilio do Batalhão Sagrado expulsou o exército espartano de seu território, mesmo estando em desvantagem numérica. Esse feito aconteceu no dia 06 de julho de 371 AEC (antes da era comum). 

Junto ao grande talento militar, o Batalhão Sagrado se destaca na história por ter sido formado exclusivamente por amantes do mesmo sexo: o exército de 300 homens hiper treinado era formado por 150 casais gays.

Esse batalhão de elite durou em torno de 40 anos, durante o ápice da cidade estado de Tebas, no século IV AC.  

Esse curto tempo foi o suficiente para deixar a sua marca na história da humanidade, porque eles fizeram algo que parecia impossível na época: desafiar a supremacia militar da cidade estado de Esparta, e acabar com hegemonia desta cidade sobre as demais cidades estado da região, não somente por isso, mas por serem homens que mantinham um relacionamento que desde então foi tido desonroso, aviltado maculado como inominável e execrável. E não era assim, como podemos constatar pelo exemplo grego desde Thebas a Athenas.


Um histórico fim 
2 de agosto de 338 AEC

Em 2 de agosto de 338 a.C., uma aliança grega liderada por Athenas e Thebas enfrentou o exército macedônico na planície de Queroneia, uma região da Grécia central. O exército de Filipe II, rei da Macedônia, contava com cerca de 25 mil soldados e 5 mil cavaleiros, enquanto os gregos tinham maior vantagem numérica com 35 mil guerreiros. A derrota grega significou o fim da independência das cidades-Estado gregas e o declínio da democracia ateniense (ensinarhistoria).


https://youtu.be/GhWqkWSoCGc

"A Batalha de Queroneia ocorreu nas imediações da cidade-estado grega de mesmo nome, em 2 de agosto de 338 a.C. Foi a batalha mais importante travada pelo então rei da Macedônia, Filipe II.

O rei macedônio lutava pela expansão territorial de seu reinado e a consequente integração das cidades-estado gregas, que ficariam unificadas sob o comando da Macedônia. Para compreendermos a importância dessa batalha, temos que entender o contexto em que ocorreu o empreendimento expansionista de Filipe II.

Filipe assumiu o reino da Macedônia em 359 a.C., época em que a Macedônia estava subjugada pelos ilírios, povos indo-europeus que haviam ocupado parte da Península Balcânica. Uma das primeiras ações político-militares de Filipe foi justamente promover a libertação de seu reino, guerreando com os ilírios. Desde o início, portanto, Filipe II deu um caráter belicoso (propenso à guerra) ao seu governo.
O projeto que sucedeu a libertação da Macedônia foi o de conquista das outras cidades-estado gregas, começando por aquelas que tinham potencial de reação mais baixo que as duas mais poderosas, Atenas e Tebas.

A política de expansão de Filipe II ocorreu em uma época em que a Hélade (o conjunto das cidades-estado gregas) havia enfrentado um período turbulento com a chamada Guerra do Peloponeso, um conflito interno entre as principais cidades estado gregas, que lutavam pela hegemonia política. Essa guerra durou o longo período que vai de 431 a 404 a.C.

As principais cidades-estado, Esparta, Atenas e Tebas, demoraram para conseguir sua recuperação e, ainda assim, continuaram, nas décadas seguintes, à frente de conflitos menores com cidades sob sua influência."

"Esse cenário acabou por favorecer a Macedônia, que passou a ocupar cidades menores, como Elateia e Anfissa, demonstrando seu poderio militar para toda a Hélade. Em seguida, Filipe II e seu exército ocuparam Queroneia, cidade próxima a Tebas. Sabendo do avanço intermitente de Filipe, Tebas e Atenas, que haviam sido rivais na Guerra do Peloponeso, aliaram-se para confrontá-lo, marchando também para a cidade de Queroneia. Entretanto, essa grande ofensiva de Tebas e Atenas, que ocorreu em 3 de agosto de 338 a.C e configurou a Batalha de Queroneia, não teve sucesso. O exército poderoso de Filipe conseguiu acabar com as defesas das duas grandes cidades-estado e estabelecer o domínio completo sobre a Grécia Antiga.

As conquistas de Filipe II foram o primeiro passo para a construção do Império Macedônico, que seria comandado por seu filho, Alexandre Magno, que, diga-se de passagem, participou da Batalha de Queroneia como general de cavalaria, aos 22 anos de idade." (info)

Aquiles e Pátroclo


O BATALHÃO SAGRADO DE TEBAS

O Batalhão Sagrado de Tebas, em grego antigo: 'Ιερός Λόχος τῶν Θηβῶν, Hierós Lókhos tón Thebón, foi uma tropa de soldados de elite, selecionados entre os melhores e mais capacitados soldados, que consistia de 150 casais gays masculinos, organizados por idade, que formavam a tropa de elite do exército tebano no século IV a.C.

O Batalhão Sagrado de Tebas era uma força profissional composta por soldados veteranos de Tebas, que treinavam em tempo integral, segundo o historiador Plutarco. Eles utilizavam a estratégia clássica grega de batalha em falange: vários soldados hoplitas lado a lado, formando uma parede de escudos e lanças. A espada era uma arma secundária para eles, por para usá-la era necessário estar muito próximo do inimigo o que acarretava riscos maiores.
 
Este batalhão foi organizado pelo comandante Górgidas, por volta de 378 a.C., e desempenhou um papel crucial na Batalha de Leuctra. 

Górgidas, Γοργίδας,  foi um nobre e militar tebano companheiro do general Epaminondas e comandante do Batalhão Sagrado de Tebas, uma unidade de elite formada por 150 casais de soldados homossexuais. Cada casal era composto por um homem adulto e um outro mais jovem. O mais velho era chamado heniochoi, condutor cuja função era instruir o mais jovem, chamado paraibatai, colega.
Depois da reconquista de Tebas, ocupada em 379 a.C. por uma guarnição espartana, e da morte de Arquias e Leontíades, Epaminondas e Górgidas uniram-se a Pelópidas e introduziram-no à assembleia tebana, aonde incitou os tebanos a lutarem pela liberdade de sua cidade.
Em 378 a. C., Górgidas e Pelópidas foram nomeados beotarcas e decidiram fazer um pacto com Esfodrias, governador de Esparta que o rei espartano Cleómbroto tinha deixado em Tespias para conseguir que Esparta invadisse Ática, de modo a provocar o confronto entre Atenas e Esparta. Górgidas, foi o primeiro líder militar tebano conhecido da Banda Sagrada de Tebas por volta de 378 aC. Plutarco em sua Vida de Pelópidas menciona Górgidas pela primeira vez quando o polemarca pró-espartano Leôntidas assumiu com o exército  e forçou os aristocratas e apoiadores pró-Atenas a deixar Tebas para sempre em 382 aC. Mais tarde, eles voltaram em 379-378 aC para retomar sua cidade e matar os tiranos. Também na Vida de Pelópidas, Plutarco atribui a Górgidas a criação da Banda Sagrada, que inicialmente estava dispersa nas primeiras fileiras da infantaria regular, com a ideia de que inspirariam coragem. No entanto, eles foram posteriormente organizados por Pelópidas como uma unidade coesa para tornar sua bravura mais visível (WP).

É certo que a vitória dos tebanos sobre Esparta se deve a mais de um fator. Segundo Pastore (2011) Os fatores principais estão, frequentemente, associados a quatro aspectos: 

1) a grande capacidade de liderança político-militar dos comandantes do Batalhão, sobretudo de Epaminondas; 
2) a invenção e utilização da tática da “Ordem Oblíqua”; 
3) a ligação homoafetiva dos integrantes do batalhão e 
4) a coesão política e social deste grupamento dentro da lógica das pólis gregas. 

Ao longo da história as diversas interpretações tendem para um ou alguns destes fatores e dificilmente observa-se uma abordagem que integre todos esses fatores, entretanto, deixo claro que somente a cidade-estado de Tebas havia criado, organizado e treinado  um batalhão de elite, a Banda Sagrada de Tebas, razão pela qual eles puderam sair-se vitoriosos das batalhas de Tegyra e Leuctra, sendo dizimados por um exército maior, mais organizado e mais bem armado, o exército de Felipe II, da Macedônia e seu filho Alexandre.

Em seguida à sua criação por Górgidas, a força foi organizada por Pelópidas. Com a liderança de Epaminondas, que introduziu novas táticas na guerra hoplítica, tornou-se a melhor unidade militar grega e a mais inovadora até então surgida no ceio das Cidades-Estados helênicas (Pastore, 2011). Graças à existência do batalhão, Tebas conseguiu a hegemonia na Grécia, no começo do século IV a.C.

O batalhão era mais conhecido como “Bando Sagrado” e a designação de sagrado foi explicada, mais tarde, por Plutarco ao afirmar que “mesmo Platão chama o amor de um amigo como inspirado de Deus." (PLUTARCO, 1991, p. 02).
O Batalhão Sagrado era muito temido pela sua bravura e enorme coragem. Eram guerreiros ferozes que se mantinham unidos por laços amorosos. Os hoplitas do Bando Sagrado juravam que nunca dariam vantagem ao inimigo e nunca iriam fugir de um combate. Lutavam em fileiras cerradas e eram extremamebte disciplinados. As questões da homossexualidade e do treinamento físico e militar eram fundamentais no contexto das sociedades erigidas sob a lógica das pólis.
O professor Daniel Ogden, da Universidade de Exeter, levantou informações, bastante contundentes, de que a relação homoerótica (aí incluso relações sexuais) estava efetivamente associada à contínua atuação militar e isso, de maneira mais comum do que supostamente se acredita. E ele estabeleceu esta vinculação não apenas para a cidade de Tebas, mas também para as regiões de Cálcis, Creta, Élis, Esparta, Macedônia e Mégara (Pastore, 2011).

Vernant (1985, p. 10) observa que a guerra era vista como parte do agon, isto é, do espírito de confronto que presidia não só as relações humanas como à própria natureza; o agon estava presente não só na rivalidade que as cidades mantinham entre si, mas nos Jogos (onde havia competições esportivas, musicais e literárias), nos processos do tribunal, nos debates da assembléia etc… (Pastore, 2011).

Esta configuração política estimulava uma constante situação de disputa entre as cidades, tornando, dessa forma, a guerra um acontecimento recorrente e visto como natural pelos habitantes da antiga região da Grécia.

Clínias, o cretense: “aquilo que a maioria dos homens chama de paz é meramente uma aparência; na realidade todas as cidades estão por natureza em um estado permanente de guerra não declarada contra todas as outras cidades.” (PLATÃO, 2004, p. 626a).

Até houve filósofos na Antigüidade que consideraram a Guerra como um valor absoluto, quase divino, uma força dominante na História. Heráclito de Éfeso reconhecia que a Guerra "é de todas as coisas mãe, de todas rainha, e uns ela revelou deuses, outros, homens; de uns fez escravos, de outros livres" e escreveu que "a Guerra e a justiça são contraste e por meio do contraste todas as coisas se geram e chegam à morte". (Pastore, 2011).

Como não havia exército regular e profissional, as lutas eram conduzidas pelos cidadãos, que exerciam outras atividades com principal fonte de sustento, a maioria era composta de pequenos produtores rurais. Assim sendo, as campanhas eram simples e os combates deveriam ser decididos da forma mais rápida possível.

A batalha hoplítica, um decisivo encontro de duas formações em falange, com linhas de ataque ombro a ombro e objetivando o choque direto e frontal, nasceu na lógica desse contexto de camponeses em situação de soldado-cidadão. (Pastore, 2011).

John Keegan, no livro Uma História da Guerra (1995), levantou a tese de que o nascimento da forma ocidental de combate ocorreu no seio da falange hoplítica grega. Isto quer dizer, para Keegan, que a estratégia militar ocidental é direta, sempre tencionando um choque rápido e decisivo, em oposição a um pensamento militar oriental, que advoga a estratégia indireta. Portanto, estudar a arte da guerra dos antigos gregos é entender a constituição da forma de combate que vigora hoje no mundo, uma vez que o Ocidente tornou-se militarmente dominante.

EPAMINONDAS E O BANDO SAGRADO DE TEBAS


A Guerra do Peloponeso foi um conflito entre as cidades-estados gregas Atenas e Esparta, no século V a.C., pela disputa do domínio da Grécia Antiga. 

As duas cidades encabeçavam as principais alianças militares da época: a Liga de Delos, liderada por Atenas, e a Liga do Peloponeso, comandada pelos espartanos.
A guerra durou aproximadamente 30 anos e foi decisiva para o fim da Era Clássica grega. 

A guerra foi vencida por Esparta, mas seu domínio sobre a Grécia não durou muito tempo. Os espartanos não conseguiram impedir a invasão dos macedônicos, liderados por Filipe II.

A vitória da Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, contra a Confederação de Delos, sob controle ateniense, na Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.) conduziu os espartanos a um período de grande hegemonia na Grécia. 

Durante esse conflito, Tebas foi aliada de Esparta, mas com o crescimento de Esparta na região tebana, na Beócia, a situação mudou drasticamente quando o líder tebano Amtálcidas decidiu romper a aliança com Esparta, no ano de 386 a.C.
Tebas, ao tentar fugir do controle que Esparta exercia na sua região, enfrentou a divisão de sua elite entre oligarcas, vinculados aos espartanos, e democratas, ligados a Atenas – como era comum na Grécia do período  
clássico. Os oligarcas tomaram o poder em 382 a.C. graças à ação de um grande exército espartano. Para assegurar o poder oligarca, uma guarnição espartana ficou em Tebas na Rocha Cadmea (o equivalente tebano da acrópole ateniense, assim chamada devido ao nome do lendário fundador da cidade, Cadmo, o irmão da Europa e o marido da Harmonia.). (Pastore, 2011).
Este ato vergonhoso para os tebanos provocou a reação dos líderes democratas, que haviam fugido para Atenas. Com apoio dos atenienses eles conseguiram expulsar os espartanos de Tebas. Entre os líderes dessa reação estavam Pelópidas e Epaminondas. A famosa “libertação” ocorreu em 379 a.C. (Pastore, 2011).
O ano seguinte viu o nascimento do Batalhão Sagrado de Tebas, uma vez que Esparta não aceitou a derrota e enviou novas forças para submeter Tebas novamente e recuperar o controle sobre a Beócia. O primeiro embate da nova formação ocorreu na batalha de Tegira (perto de Orcómeno), dois anos depois. E, pela primeira vez na história, um exército espartano numericamente superior foi derrotado em campo aberto. (Pastore, 2011).

No início da batalha, o fundador da unidade, Górgidas, decidiu usar a tropa de elite de forma dispersa pelas linhas de batalha do exército tebano com o intuito de elevar o moral e o espírito de luta de todos os combatentes. Contudo, no momento decisivo, quando as linhas espartanas abriram, o comandante geral de Tebas, Pelópidas, utilizou o grupo como uma unidade coesa e como se fosse a sua guarda pessoal.
Com a vitória conseguida, decidiu-se que a unidade deveria atuar sempre dessa forma, ou seja, em grupo. E assim ela seguiu pelos seus quarenta anos de existência. Como bem afirma Plutarco, em sua análise:

Com vista a isso, eles fizeram da Harmonia, a filha de Marte e Vênus, a sua divindade tutelar; uma vez que, onde a força e a coragem se unem com graça se ganha mais capacidade, uma harmonia que combina todos os elementos da sociedade, em consonância com a perfeita ordem. Górgidas distribuía o Bando Sagrado por todas as fileiras da infantaria, assim, fez com que sua potência ficasse menor, por não estarem unidos em um só corpo, mas misturados com tantos outros de resolução inferior, eles não tinham tido oportunidade de mostrar o que eles poderiam fazer. Mas Pelópidas, tendo visto suficientemente a sua bravura em Tegira, onde eles lutaram como um bloco e em torno de sua própria pessoa, nunca mais os dividiu depois disso, mas os manteve inteiros, como um homem, e deu- lhes o primeiro lugar nas maiores batalhas. Como cavalos que correm mais vigorosos em uma carruagem que isoladamente, não porque a sua força conjunta divide o ar com maior facilidade, mas porque ao serem colocados um com o outro, acende-se a emulação e inflama-se a coragem; assim, ele acreditava que homens corajosos, provocando um ao outro para ações nobres, iriam se revelar mais úteis e mais resolutos, com todos unidos”. (PLUTARCO, 1991, XVIII, p. 18.).

A vitória mais importante e famosa do grupamento ocorreu na batalha de Leuctras em 371 a.C. e já sob o comando geral de Epaminondas. Para reforçar o poder de coesão de sua força de elite e baseado na sua experiência de batalha e na observação das falanges hoplíticas, Epaminondas criou um dos pontos mais importantes para o desenvolvimento da arte da guerra grega e, portanto, ocidental, ao proceder a introdução da famosa “Ordem Oblíqua”. (Pastore, 2011).
Esta consistia na manutenção de uma grande e forte unidade militar, no caso o Bando Sagrado, na retaguarda esquerda da linha de batalha tebana com o propósito de utilizá-la de forma integral e em grupo no momento e no local decisivo do engajamento. (Pastore, 2011).
E por que na ala esquerda? Aí está a genialidade e, concomitantemente, a simplicidade do brilhante arranjo tático de Epaminondas. Ele observou que, durante o confronto das linhas hoplíticas, existia uma tendência de os soldados deslocarem o movimento para a direita, com o intuito de se proteger do choque das lanças inimigas cobrindo-se também no escudo do companheiro do lado.
Como todos faziam, instintivamente, o mesmo movimento e quase que ao mesmo tempo, a linha derivava para o lado, deixando o seu flanco direito mais exposto e, portanto, mais fraco e vulnerável. (Pastore, 2011).
Em suma, esta manobra envolve a concentração de forças contra um flanco oposto e usa forças secundárias para distrair e seduzir as reservas opostas. Esta manobra é uma boa escolha se a força oposta é superior, como nas batalhas em que os tebanos enfrentaram os espartanos.
A vantagem desta manobra é a habilidade de concentrar força no ponto mais fraco do inimigo, negando seu ponto mais fraco para atacar. A desvantagem desta manobra é que o desequilíbrio de força pode ser desastroso se o inimigo for capaz de reforçar, em tempo, o seu ponto mais fraco, ou, ainda, atacar com força e velocidade precisas o ponto mais fraco da tropa que está utilizando a ordem oblíqua. (Pastore, 2011).
Em Leuctras, Epaminondas também se utilizou de outros artifícios: primeiramente, ao contrário do que pregavam as regras táticas da época, ele colocou o Batalhão Sagrado de Tebas, isto é, os seus melhores hoplitas, em uma falange com cinqüenta homens de profundidade (o normal ficava entre oito e doze hoplitas). Com isto ele enfraqueceu o seu centro de batalha e a sua ala direita, porém o flanco esquerdo ficou poderosamente reforçado.
Outro artifício foi deslocar as suas tropas em escalão com o objetivo de evitar que os setores fracos da sua linha de choque fossem esmagados antes que a sua ala esquerda rompesse a frente espartana. Assim, as suas unidades travariam contato com o inimigo paulatinamente, iniciando pela sua fortíssima esquerda. 

O choque frontal da sua fraca ala direita seria retardado ao máximo, de preferência quando a situação na ala esquerda tebana já estivesse resolvida.
Todos os artifícios e a disposição da ordem oblíqua funcionaram conforme o previsto no plano de Epaminondas. Esparta perdeu a batalha e a hegemonia sobre a Grécia. Até um dos reis de Esparta, Cleombrotos, foi morto na batalha. (Pastore, 2011).

Aproveitando o êxito da vitória, Epaminondas decidiu rapidamente levar a guerra ao território espartano e planejou uma campanha ofensiva no Peloponeso, a ser realizada no ano seguinte. (Pastore, 2011).

“A Campanha de Epaminondas em 370/369 tem sido descrita como um exemplo da grande estratégia de abordagem indireta”, que visava romper “as raízes econômicas da supremacia militar de [Esparta].” (LIDDELL-HART, 1991, p. 35, (Pastore, 2011).

Em poucos meses, tinha Epaminondas criado, na Messênia, dois novos Estados que se opunham a Esparta, abalando os alicerces da sua economia e, sobretudo, devastando o prestígio militar espartano. Isto feito, ele conduziu seu exército de volta para casa, vitorioso.
Mais outras duas campanhas, entre 369 e 366 a.C., foram necessárias para que o controle tebano fosse estabelecido na região. Liddell-Hart, talvez o maior analista militar de todos os tempos, ao estudar as batalhas e campanhas de Epaminondas colocou-o como o primeiro grande mestre da “arte da guerra”. (Pastore, 2011).

Depois da Batalha de Leuctras (371 a.C.) a hegemonia de Esparta passou para Tebas. Contudo, o domínio tebano não sobreviveu muito tempo depois da morte de Epaminondas na batalha de Mantinéia, ocorrida nove anos depois. 

O Batalhão Sagrado de Tebas, por sua vez e agora comandado por Pammenes, foi completamente aniquilado por Filipe II e Alexandre da Macedônia na batalha de Queronéia em 338 a.C., exatamente quatro décadas depois da sua gênese.

Em homenagem à coragem do Bando Sagrado, que lutou e resistiu até o fim, mesmo quando todo o exército tebano já havia fugido do campo de batalha, Filipe e o seu jovem filho Alexandre, então com dezoito anos e comandante da cavalaria macedônica, ergueram um belo monumento na colina do choque final do confronto. O Monumento ainda está lá. (Pastore, 2011).

Felipe II, DA Macedônia 

Alexandre, o grande. 


PEDERASTIA E COMPANHEIRISMO: OUTRAS DUAS “NATURALIDADES” GREGAS

Se pudéssemos inventar uma cidade de sábios ou um exército composto por amantes e por aqueles que eles amam, eles poderiam ser os melhores cidadãos do seu país, abstendo-se de toda a desonra, e emulando um ao outro em matéria de honra; e homens como estes, quando lutando lado a lado, apesar de ser um pequeno bando, poderiam vencer o mundo. Um homem apaixonado, certamente não iria escolher, em vez de ser visto por todo o resto do exército que por seu amado se abandonasse o seu posto ou jogasse fora suas armas; antes disso, ele prefere morrer muitas mortes: enquanto que para deixar a pessoa amada em apuros, ou não o socorrendo do perigo, ninguém é tão covarde que a influência do amor não pode inspirá-lo com uma coragem que faz dele o mais bravo como se assim tivesse nascido; e sem dúvida o que Homero chama de "fúria inspirada" por Deus em certos heróis é o efeito produzido por amantes como um peculiar poder do Amor. Além disso, somente no amor é que está o consentimento para morrer pelos outros”. (PLATÃO, 1998, p. 178e.).

A pederastia, provavelmente surgida na Grécia arcaica com a vinda dos guerreiros dórios, é uma relação aristocrática de cunho educativo entre dois homens de idades diferentes; o “erómeno” (amado), um jovem, já entrado na puberdade, e o “erástes” (amante), um adulto, geralmente de família afastada da do jovem. 

Esta era uma estrutura socialmente instituída para servir no controle de natalidade (os casamentos heterossexuais eram realizados tardiamente), na educação e na prevenção da delinqüência. (Pastore, 2011).

Como uma típica relação pederasta ocorria entre um jovem e um adulto – a relação entre dois adultos, assim como a figura do efeminado não eram bem vista na sociedade helênica – a palavra pederasta, em grego, significa “amor ao jovem”.

A existência de casais do mesmo sexo é muito freqüente na cultura e, sobretudo, na mitologia helênica. Podemos citar algumas duplas, das mais famosas, para exemplificar: entre os deuses aparecem Zeus e Ganímedes, Dionísio e Seilinos (rei dos sátiros), Apolo e Jacinto (e, depois da morte trágica de Jacinto, Ciparisso). Duplas de Heróis também aparecem como Heracles (Hércules)(1) e Iolao, e, provavelmente, Aquiles e Pátroclo.

Os mortais também não foram esquecidos, como os tiranicidas atenienses Aristogitón e Harmodio e, nem mesmo, as mortais, como a famosa poetisa da ilha de Lesbos (daí o termo lésbica), Safo e a sua amada, Átis.

Duplas de guerreiros mortais como os já citados chefes tebanos Pelópidas e Górgidas, Filipe da Macedônia e Pausânias (que matou o rei macedônio depois de ter sido trocado por outro – um indício da força que a relação possuía e de como ela poderia interferir nas demais relações da sociedade) e, por fim, Alexandre Magno e Hefestión, general da falange principal do grande macedônio.

Filipe II da Macedônia, pai de Alexandre, quando ainda era apenas o irmão do rei da Macedônia, foi levado como refém para Tebas por Epaminondas quando das negociações entre o reino da Macedônia e a Hegemon grega da época (369 a.C.). Não deve ser coincidência o fato de Filipe, e o seu filho Alexandre, adaptarem dos tebanos as táticas militares e os laços de Companheirismo no exército macedônico, que irá unificar a Grécia e conquistar todo o Império Persa.(Pastore, 2011).
O próprio Epaminondas teve vários amantes guerreiros como Asópico e Capisdoros. Inclusive, Epaminondas e Capisdoros foram enterrados juntos, depois de morrerem na batalha de Mantinéia (362 a.C.)(2), algo que se reservava somente aos esposos.

Esta prática de usar um “exército de amantes” contrariava a tradição helênica da divisão das unidades militares em grupos tribais como o exemplo de Nestor e Homero. (Pastore, 2011).

Contudo, Pammenes, o último comandante do Batalhão Sagrado de Tebas, criticava esta disposição e considerava muito maior a motivação conseguida com a adoção das tropas de casais unidos por amor.

Com relação a este ponto, assim se expressou Plutarco:

Nestor não estava muito certo ao organizar um exército quando aconselhou aos gregos que se colocassem por tribos... deveria ter juntado aos amantes com seus amados. Para homens da mesma tribo ou família pouco valor tem o outro quando o perigo pressiona; mas um grupo cimentado sobre os laços da amizade baseada no amor nunca se romperá e é invencível; já que os amantes, envergonhados de não serem dignos ante a vista de seus amados e os amados ante a vista de seus amantes, desejosos se arrojam ao perigo para o alívio de uns e outros”. (PLUTARCO, 1991, XVIII, p. 04.).

A prática da pederastia era conhecida em toda a Grécia Antiga e mesmo que não possuísse as mesmas características na Hélade, era considerada como instituição importante por todos os habitantes de cultura grega. (Pastore, 2011).

Apesar das diversidades regionais, alguns pontos em comum podem ser destacados: o adulto torna-se o mentor e, quase que o tutor legal do jovem, lhe ensinando os conhecimentos da cultura grega e todas as convenções sociais aristocráticas, inclusive aquelas ligadas ao desporto e as atividades militares.

Contudo, devido ao fato de não se admitirem jovens com menos de dezesseis anos nas batalhas, o ensinamento prático da arte guerreira era formalizado depois da idade em que a pederastia se definia. (Pastore, 2011).

Portanto, nesta fase do aprendizado, a relação já ocorre entre dois adultos e, pela definição básica de pederastia, vinculada às faixas de idade, não seria conceitualmente preciso chamá-la de pederastia militar. (Pastore, 2011).

É, então, neste contexto que aparece a relação que, na falta de um termo melhor, estamos sugerindo a definição de um novo conceito, o de Companheirismo. Trata-se de uma relação de aprendizagem militar na qual as duplas organizadas do Batalhão Sagrado de Tebas sempre apresentavam um membro veterano em combate (ou de maior experiência e idade) e um menos experiente e mais jovem.

O guerreiro mais experiente ficou conhecido como “Heniochoi” (Condutor) e o “aprendiz” recebeu a designação de “Paraibatai” (Colega). Desta forma, a relação homoafetiva de aprendizagem militar entre Condutor e Colega, ambos em idade adulta, é que pode ser definida pela expressão Companheirismo.

O casal, assim formado, atuava de forma parecida com as táticas de aviões de combate, que também atuam em pares. Nestas ações de combate aéreo, o piloto mais experiente é colocado na função de “líder” das operações e o seu companheiro, menos experiente, atua como protetor das atividades do seu líder, como “ala” da formação binária. (Pastore, 2011).

(11) Curiosamente, a clava estilizada de Heracles tornou-se o símbolo ostentado nos escudos tebanos, ao contrário de outras cidades gregas que utilizavam a primeira letra do nome do povo ou da cidade como emblema para os escudos. Esparta, por exemplo, era representada pelo Lambda maiúsculo – referente ao povo da região, os lacedemônios.

(2) Mesmo assim, Tebas saiu vitoriosa desta batalha contra uma coligação de atenienses e espartanos. Contudo, a perda de um chefe militar e de um estadista do porte de Epaminondas selou o destino da hegemonia tebana na Grécia.


As táticas e equipamentos do Batalhão Sagrado de Tebas não era muito diferente do restante da infantaria pesada grega, já que todos os seus membros eram hoplitas. 

Os hoplitas do século IV a.C., o período em que o batalhão sagrado foi fundado e atuou contra Esparta, contavam com equipamento pesado de última geração para a época. Como capacetes, eles usavam um elmo frígio ou beócio de bronze, com ou sem uma proteção facial que possuía um adorno em barba para o elmo frígio, ou proteções laterais nas bochechas para o elmo beócio. Ocasionalmente, esses elmos também possuíam espaço para outros adornos, e penas poderiam ser colocadas nas laterais para decorar os elmos que eles utilizavam. Entre esses, o elmo beócio era o mais comum entre os hoplitas daquela região, onde Tebas inclusive se situava.

Além disso, eles também usavam uma couraça muscular de bronze por cima de suas roupas convencionais. Como escudos, os integrantes do batalhão sagrado usavam o hoplon, ou aspis, que era um escudo redondo de madeira coberto por uma fina camada de bronze. Como arma, os hoplitas do batalhão sagrado usavam a doru, uma lança que possuía aproximadamente pouco mais de 2m de altura, feita de madeira de corniso ou freixo, pesando entre 900g e 1,8kg. Nessa época, era difícil as dorus não serem feitas com uma ponta de ferro, mas era possível, porém raro, que a ponta dessa lança também pudesse ser feita com bronze. 

Os hoplitas do Batalhão Sagrado de Tebas lutavam no mesmo modelo que hoplitas de outras polis gregas, em formação cerrada de falange, batendo seus escudos contra os de seus inimigos, enquanto os integrantes das linhas mais recuadas das falanges davam apoio a aqueles da linha de frente pressionando os outros ao ataque.

De acordo com Sófocles, durante uma batalha entre dois grupos de hoplitas, os guerreiros mais experientes tentavam sondar as fraquezas do inimigo, investindo suas lanças contra os pontos desprotegidos dos seus adversários, geralmente a garganta e a virilha. Esse tipo de embate fechado continuaria até que um dos lados se permitisse a retirada, que muitas das vezes era sangrenta. Muitas coisas motivavam um hoplita a combater, seja pela lealdade ao seu líder ou até mesmo a sua própria família e amigos. 

É justamente nesse diferencial que está o Batalhão Sagrado de Tebas, nessa falange de soldados que era composto por 150 pares de homens bem treinados, todos eram amantes homossexuais. Esses homens eram escolhidos por apresentarem os mais elevados parâmetros em relação a proficiencia em batalha, disciplina e treinamento. A escolha recaia sobre a elite tebana e possuíam uma ampla experiência em combate, sendo considerados a força de elite do exército tebano.

A decisão para escolher 300 amantes homossexuais era de que os seus integrantes, lutando ao lado de seus amados, lutariam com maior ferocidade e vontade de defender a pessoa amada. Era também por isso que o batalhão era chamado de “sagrado”, já que os laços entre os dois amantes que entrariam no corpo seria consagrado no santuário de Iolaus, amante de Hércules. 

Os membros do batalhão ficavam abrigados na Palestra da cidadela de Cadmeia, e seu treinamento incluía a luta pancrácio, luta com espada e sabre além de dança. O Pancrácio era a arte marcial da Grécia antiga e esporte gladiatório, o pancrácio era uma fusão de técnicas de luta, que incluíam a luta grega, boxe, estrangulamento, chutes, golpes e técnicas de travamento das articulações. Na verdade, o pancrácio só não permitia morder, arranhar e arrancar o olho do oponente – tudo o mais era considerado legal na competição. O termo pancrácio vem do grego “pancratium”, que significa “cerco total” ou “poderes totais”. 

Os praticantes do pancrácio treinam em um espaço chamado “palaestra”. Nele há um aposento especial denominado “korykeion”, que abriga equipamentos especiais de treinamento para praticantes e boxeadores. Os iniciantes em pancrácio primeiro aprendiam técnicas básicas, como golpes, chutes e agarramentos, antes de participar de treinos leves e pugilato com outros praticantes. 

Fisicamente exigente, o pancrácio requer muita energia e flexibilidade. Uma das técnicas favoritas era esmurrar um saco de pancadas, permitindo que o saco batesse de volta no praticante. O pugilato era encorajado para simular uma competição de verdade.

Era considerado o verdadeiro teste físico quando estreou no 33º Jogos Olímpicos da Antiguidade, pois as competições de pancrácio eram extremamente físicas e violentas; ferimentos graves e até mortes não era incomuns. As partidas continuavam indefinidamente, até que um dos competidores sinalizasse a derrota ao bater no ombro de seu oponente, levantasse a mão, ou até que um ferimento ou fatalidade ocorresse (educaçãofisica). 

Geralmente os homens entravam nesse serviço aos 20 ou 21 anos, e lutavam até os 30, com seu equipamento sendo fornecido pelo seu amante mais velho (modif. de tormentum).


Na batalha contra os macedônicos, foram completamente aniquilado por Alexandre, o Grande, então ainda combatendo em nome de seu pai, Filipe II da Macedônia, durante a Batalha de Queroneia, em 338 a.C. 

Acredita-se que os ossos dos guerreiros mortos do Batalhão Sagrado são aqueles encontrados nos remanescentes de um antigo tumulus descoberto junto ao monumento do Leão de Queroneia.


☆☆☆
I

O mais antigo registro sobrevivente da Banda Sagrada ou Batalhão Sagrado pelo seu nome foi em 324 aC, na oração Contra Demóstenes pelo logógrafo ateniense Dinarco. Ele menciona a Banda Sagrada como sendo liderada pelo general Pelópidas e, ao lado de Epaminondas que comandava o exército de Tebas (Beócia), foram responsáveis ​​pela derrota dos espartanos na decisiva Batalha de Leuctra (371 aC).

A Batalha de Leuctra (Λεῦκτρα, lêu̯ktra, foi uma batalha travada em 6 de julho de 371 a. A batalha ocorreu no povoado de Leuctra, uma vila na Beócia no território de Thespiae. A vitória de Tebas destruiu a imensa influência da Cidade esetado de Esparta sobre a península grega, que Esparta havia conquistado com sua vitória na Guerra do Peloponeso uma geração antes.

Plutarco (46–120 dC), um nativo da vila de Queroneia (Chaeronea), é a fonte do relato sobrevivente mais substancial da Banda Sagrada ou Batalhão Sagrado. Ele registra que a Banda Sagrada foi originalmente formada pelo general então boeotarca Górgidas, logo após a expulsão da guarnição espartana que ocupava a cidadela tebana de Cadmea.

Plutarco disse sobre eles: "um batalhão unido pela amizade entre amantes é indissolúvel e não pode ser derrotado, pois um amante não ira agir como covarde ante seu amado, ou o amado ante seu amante, e ambos se erguem firmes diante do perigo para proteger um ao outro."

É provavel que o "sagrado" colocado a junto ao nome de sua divisão seja devido a que cada casal fazia uma cerimônia no santuário de Iolau em Tebas, uma troca de votos consagrados de amor e devoção que era essencialmente um casamento.

O autor macedônio do século II, Polyaenus, em seus Stratagems in War, também registra Górgidas como o fundador da Banda Sagrada. 

No entanto, Dio Crisóstomo (c. 40–120 dC), Jerônimo de Rodes (c. 290–230 aC) e Ateneu de Naucratis (c. 200 dC) creditam a criação do batalhão à Epaminondas.

A data exata da criação da Banda Sagrada, e se foi criada antes ou depois do Simpósio de Platão (c. 424–347 aC) e do simpósio de seu rival Xenofonte (c. 430–354 aC), também tem sido assunto de longo debate. 

A data geralmente aceita da criação da Banda Sagrada é entre 379 e 378 aC. Antes disso, havia referências a forças de elite tebanas também em número de 300. 

Heródoto (c.484–425 aC) e Tucídides (c. 460–395 aC) ambos registram uma força de elite de 300 tebanos aliados aos persas, que foram aniquilados pelos atenienses na Batalha de Plateia em 479 aC. 

Heródoto os descreve como "o primeiro e o melhor", πρῶτοι καὶ ἄριστοι, protoi ke aristoi, entre os tebanos. 

Diodoro,  Diodorus Siculus, Διόδωρος Diodoros; que floresceu no I sec aC também registra 300 "homens escolhidos" (ἄνδρες ἐπίλεκτοι, andres epilektoi) presentes na Batalha de Delium no ano 424 aC, composto por heníochoi, ἡνίοχοι, "carruagens" e parabátai, παραβάται, "aqueles que andam ao lado", um tipo de infantaria. 

História Universal de Diodorus, que ele chamou de Bibliotheca historica 
(em grego: Βιβλιοθήκη Ἱστορική, WP)

Embora nenhum deles mencione a Banda Sagrada pelo nome, estes podem ter se referido à Banda Sagrada ou pelo menos a um batalhão de soldados de elite com funções semelhante que seriam os precursores do Batalhão sagrado.

O historiador John Kinloch Anderson acredita que a Banda Sagrada estava de fato presente em Delium, e que Górgidas não a estabeleceu, mas apenas a reformou.


Resumindo

De acordo com Plutarco, os 300 homens foram escolhidos por Górgidas puramente por sua habilidade, destreza e mérito, independentemente da classe social. 
Estes eram composto por 150 casais masculinos, cada par consistindo de um erastês mais velho (ἐραστής, "amante") e um erômenos mais jovem (ἐρώμενος, "amado"). 

Athenaeus de Naucratis também registra a Banda Sagrada como sendo composta de "amantes e seus favoritos, indicando assim a dignidade do deus Eros em que abraçam uma morte gloriosa em preferência a uma vida desonrosa e repreensível", enquanto Polyaenus descreve o Banda Sagrada como sendo composta por homens "dedicados uns aos outros por obrigações mútuas de amor". 

A origem da denominação "sacra" da Banda Sagrada é inexplicada por Dinarco e outros historiadores. Mas Plutarco afirma que foi devido a uma troca de votos sagrados entre amante e amado no santuário de Iolaus (um dos amantes de Heracles) em Tebas. Ele também menciona tangencialmente a caracterização de Platão do amante como um "amigo inspirado por Deus".

A Banda Sagrada estava estacionada em Cadmea como uma força permanente, provavelmente como defesa contra futuras tentativas de forças estrangeiras de tomar a cidadela. Foi ocasionalmente referido como a "Banda da Cidade" (ἐκ πόλεως λόχος), devido ao seu treinamento militar e alojamento sendo fornecido às custas da polis da Beócia. Seu treinamento regular incluía luta livre, equitação, lançamento de lança ou dardo, lutas com espada e sabre e dança. O historiador James G. DeVoto aponta que Górgidas serviu anteriormente como um hiparca (oficial de cavalaria), portanto, o treinamento equestre provavelmente também foi fornecido. As idades exatas dos membros da unidade não são registradas em testemunhos antigos. No entanto, comparando-os com a unidade de elite espartana hippeis (ἱππεῖς) e os epheboi atenienses (ἔφηβοι) recrutas, DeVoto estima que os estagiários foram empossados ​​como membros plenos da Banda Sagrada com idades de 20 a 21, após o que eles receberam um conjunto completo de armaduras por seus erastai. Eles provavelmente terminavam o serviço aos 30 anos.


☆☆☆
II

No antigo debate em torno das obras de Xenofonte e Platão, a Banda Sagrada tem se destacado como uma possível forma de datar qual dos dois escreveu sua versão do Banquete primeiro. O Sócrates de Xenofonte em seu Banquete menciona com desaprovação a prática de colocar amantes lado a lado em batalha nas cidades-estados de Tebas e Elis, argumentando que, embora a prática fosse aceitável para eles, era vergonhosa para os atenienses. Tanto Platão quanto Xenofonte eram atenienses. De acordo com o estudioso clássico britânico Sir Kenneth Dover, esta era uma clara alusão à Banda Sagrada, refletindo a consciência contemporânea, embora anacrônica, de Xenofonte da prática tebana, já que a data do próprio trabalho é c. 421 aC.

No entanto, é o discurso do personagem Fedro no Simpósio de Platão referindo-se a um "exército de amantes" que é mais notoriamente ligado à Banda Sagrada; embora tecnicamente não se refira ao ao Batalhão Sagrado, já que o exército referido é hipotético. 

Dover argumenta que Platão escreveu seu Simpósio primeiro desde que o Fedro de Platão usa uma linguagem que implica que a organização ainda não existe. Ele reconhece, no entanto, que Platão pode ter simplesmente colocado a hipótese na boca de Fedro de acordo com a suposta data anterior da obra (c. 401 aC). Isso apenas mostra que Platão estava mais atento à sua cronologia em seu Banquete do que Xenofonte, e prova que ele estava realmente ciente da existência do Batalhão Sagrado em seu tempo.

De acordo com Plutarco, Górgidas originalmente distribuiu os membros da Banda Sagrada entre as primeiras fileiras das falanges da infantaria regular. Em 375 aC, o comando do Batalhão foi transferido para o jovem  boeotarca e general Pelópidas, um dos exilados tebanos originais que lideraram as forças que recapturaram Cadmea. Sob Pelópidas, a Banda Sagrada foi constituída como uma única unidade de tropas de choque. Sua principal função era paralisar o inimigo, engajando e matando seus melhores homens e líderes em batalha.
Busto do historiador Heródoto 
(Hēródotos, Ἡρόδοτος, c. 484 – c. 425 BC)

Busto do historiador Thucydides, (Θουκυδίδης; c. 460 – c. 400 BC)
considerado por muitos como "o pai da história científica" ("the father of scientific history"), uma vez que ele aplicou padrões rígidos de imparcialidade na coleta de evidências e análise de causa e efeito sem referência à intervenção das divindades.
 
 
BATALHAS MEMORÁVEIS

O exército espartano, especialmente aquele da falange dos 300 soldados, tem muita fama, mas existiu outro grupo que era tão bom ou melhor que eles e que derrotou os espartanos mais de uma vez. As vezes sem sequer lutar. Era o Batalhão Sagrado de Tebas. Este Batalhão era formado inteiramente por casais de amantes homens.

Essa unidade de soldados de elite foi criado por um líder tebano chamado Górgidas. Como general dispunha de meios da cidade para montar e treinar homens com o que havia de melhor na cidade estado. Os membros desta unidade eram escolhidos independente de classe social, apenas pela habilidade, força e inteligência em combate. O grupo era composto por 150 casais de soldados, e quando eu digo casais, estou falando literalmente. (KT, 2021)

Plutarco disse sobre eles:

"um batalhão unido pela amizade entre amantes é indissolúvel e não pode ser derrotado, pois um amante não ira agir como covarde ante seu amado, ou o amado ante seu amante, e ambos se erguem firmes diante do perigo para proteger um ao outro". 

Basicamente a ideia do Batalhão era eles lutarem por amor, porque estariam mais motivados a manter seus parceiros a salvo do que estariam por qualquer outra razão. 

Os treinos do Batalhão Sagrado envolviam combate, luta-livre, treinos de cavalaria, arremesso de lança, luta livre, dança e artes em geral, porque era uma maneira de tornar os soldados pessoas mais completas, com vários interesses, ao invés de apenas viverem pra serem soldados, para lutarem sem um objetivo maior, como em costume em outras cidades-estado daquela época. (KT, 2021)

Um ponto diferencial do Batalhão Sagrado de Tebas: o grupo era liderados por Pelopidas, um dos generais mais brilhantes da Grécia antiga, enquanto o igualmente genial Epaminondas comandava o exército de Tebas como um todo. O Batalhão Sagrado de Tebas não era treinado para vencer no braço-de-ferro com o inimigo, para ver quem era mais forte. O diferencial era a estratégia. O foco desses homens diligentemente treinados eram abrir uma brecha nas linhas inimigas, para alcançar os comandantes e neutralizá-los, mantando-os e, com isso, deixar o exército adversário sem liderança e desorganizado (Nogueira s/d).

E eles eram o "Batalhão Sagrado", provavelmente pelo fato de que cada casal participava de um ritual em uma cerimônia no santuário de Iolau em Tebas, que consistia em uma troca de votos consagrados de amor e devoção ao parceiro que era essencialmente um compromisso de proteger o companheiro a qualquer custo, mesmo as custas de sua vida, e com isso proteger sua genós (γένος; génos, plural: γένη, gén, raça, clã, parentesco, companheiro de vida), e sua memória, alem de sua cidade estado, o que era basicamente uma espécie de "casamento".(KT, 2021)

☆☆☆
IOLAU 

Na mitologia grega, Iolau (em grego: Ἰόλαος, Ιόλαος, Iólaos) era um herói divino tebano, filho de Iphicles, ou Íficles,  e de Automedusa, e assim sobrinho de Hércules. 

Ele era famoso por ser sobrinho de Hércules e por ajudar em alguns de seus trabalhos, e também por ser um dos Argonautas. Por meio de sua filha Leipephilene, ele foi considerado o pai da linha mítica e histórica dos reis de Corinto, terminando com Telestes.

Ele frequentemente agia como condutor de bigas e companheiro de Hércules, e foi tido também como eromenos de Héracles, amante, na passagem de jovem adulto para homem.

Plutarco reporta que antes dele casais homoafetivos de homens (gays) peregrinavam à tumba de Iolau para jurar lealdade ao herói e amor e lealdade um ao outro. Este mito de iniciação é de origem muito antiga, provavelmente do final da Idade do bronze. A existência de uma tumba de Iolau também é mencionada por Píndaro. O ginásio tebano foi também nomeado após ele, e a Ioleia, um festival atlético consistindo de eventos ginásticos e equestres, era realizado anualmente em Tebas em sua honra. 

Hércules e Iolau, com Eros entre eles. Vaso de ritual etrusco do século IV a.C.
Quando Hércules estava parando a hidra em seu segundo trabalho, Iolau cauterizou cada pescoço, e levou a hidra a ser morta. Hércules casou sua ex-esposa Mégara com Iolau. Tiveram uma filha, Leipefilene. Com a morte de Hércules, Iolau acendeu a tocha do funeral.(KT, 2021)

Lembrando que Iolau foi um dos amantes de Heracles (que ajudou a derrotar a Hidra de Lerna), e se não estava claro, os casais do batalhão eram todos de homens. 

O general Górgidas começou a usar o Batalhão durante a Guerra da Beócia, porque Atenas e Esparta, estavam em guerra, e Tebas era aliada de Atenas.

Foi em um confronto contra o rei Agesilau II de esparta que aocnteceu o primeiro incidente envolvendo o Batalhão sagrado. O exército espartano estava a 200 metros das tropas tebanas e atenienses, e ao invés de mandar as tropas atacarem, o comandante ateniense Chabrias, de Atenas, mandou os soldados, ficarem à vontade, relaxados. Lanças pra cima, escudo apoiado no joelho, como se o exército espartano vindo não fizesse nenhuma diferença. (KT, 2021)

Nesse momento o Batalhão Sagrado chegou. Vendo que eles estavam relaxados em sua posição, fizeram o mesmo, o exército espartano se aproximando, e eles agindo como se nada estivesse acontecendo.

E esse estratagema deu certo. O Rei Agesilau não quis arriscar, mandou o exército parar de avançar e recuou de volta pra Téspia.

Depois ele tentaria novamente, ganhando uma série de conflitos, mas quando o exército de Tebas aparece inteiro enquanto ele se aproxima da cidade, os espartanos simplesmente fugiram. 


A BATALHA DE TEGYRA

E aí veio a Batalha de Tegyra. Nessa época quem estava no comando do Batalhão Sagrado era o general Pelopidas, e ele tinha recebido relatos de que a guarnição espartana que havia tomado a cidade de Orcómeno havia ido embora, então ele juntou o Batalhão pra ir recapturar a cidade. Quando o Batalhão Sagrado chega na cidade, não apenas viram que a guarnição ainda estava lá, mas tinha uma outra a mais, muito maior eram mais de mil soldados espartanos que estavam na cidade agora. 

O general Pelopidas não quis sacrificar o Batalhão sagrado, pegou o toda a unidade e voltou pra Tebas. Mas quando chegaram no Santuário de Apolo, em Tegira, o Batalhão deu de cara com duas "morai" de soldados espartanos.

Uma "mora" é uma guarnição com mais ou menos 600 soldados. (KT, 2021)
Ao todo eram 300 do Batalhão Sagrado contra cerca de 1200 espartanos. Vendo um fim não muito glorioso um dos soldados falou para o general Pelopidas: "nós caímos nas mãos do nosso inimigo!" e Pelopidas retrucou "e por que não dizer que eles caíram nas nossas?" 

Pelopidas ordenou a cavalaria seguir em frente enquanto o Batalhão fazia uma formação densa.  Os espartanos, confiantes por que estavam em maior número, avançaram e imediatamente tiveram os lideres mortos, bem na primeira ofensiva. Isso porque o foco do Batalhão Sagrado eram sempre os soldados mais hábeis e fortes e os comandantes inimigos. 

Eles treinavam exatamente pra isso. Sem lideres, e contra um inimigo que apesar de estar em muito menor número, era igualmente disciplinado, os espartanos acabaram abrindo as fileiras achando que os tebanos iriam usar isso como oportunidade para escapar. 
O que o general Pelopidas fez foi usar a abertura nas fileiras pra flanquear os espartanos e acabar com eles de dentro da formação pra fora.
Os espartanos foram completamente derrotados, massacrados e humilhados, perdendo boa parte da guarnição. (KT, 2021)

Aterrorizados com as perdas, os espartanos fugiram. O Batalhão Sagrado não foi atrás, afinal, havia mais 1000 soldados em Orcómeno, a menos de 5km dali, mas tiraram as armaduras de todos os mortos e montaram um "Tropaion" com elas. 

Um "Tropaion" é um monumento comemorando uma vitória em batalha, é dai que vem a palavra "Troféu".

Um tropaion (em grego: τρόπαιον, latim: tropaeum), da qual deriva a palavra  "troféu", era um monumento erguido para comemorar uma vitória sobre os inimigos pelos antigos gregos e, mais tarde, pelos romanos. A armadura do inimigo derrotado seria pendurada no monumento. Originalmente, a localização do monumento era o campo de batalha onde ocorreu a vitória comemorada. Inicialmente, o monumento típico era construído a partir de uma árvore viva com galhos laterais, ou em forma de um. Após a construção, o tropaion era dedicado a uma divindade em ação de graças pela vitória. Algumas imagens do tropaion mostram muitas armas e escudos empilhados abaixo da armadura içada sobre o monumento. Em tempos posteriores, pares de lanças, estandartes ou estacas colocadas transversalmente podem ser usadas em vez de uma árvore. 

Um tropaeum romano das Guerras Dacianas (Coluna de Trajano 113 dC), observe o tronco da árvore com galhos semelhantes a braços e a armadura e armas empilhadas em sua base

Um tropaeum romano exibido em estacas cruzadas dentro do pátio do Musei Capitolini, Roma.

Essa foi a primeira vez na história que as forças espartanas foram derrotadas por um inimigo em número muito inferior ao seu exército.


O POVOADO DE TEGYRA

Tegyra, Τεγύρα ou Τέγυρα, tambem Tegyrae em grego antigo Τεγύραι, Tegyrai, era uma cidade da Boeotia antiga (Beócia) e local  de um importante oráculo de Apolo, que na mitologia diz-se que nasceu na região. 

Beotia, às vezes latinizado como Boiotia ou Beotia, em grego: Βοιωτία; atualmente: Viotía; grego antigo: Boiōtía; anteriormente conhecida como Cadmeis, é um dos unidades regionais da Grécia. Faz parte da região da Grécia Central. Sua capital é Livadeia, e sua maior cidade é Tebas.

A cidade de Tegyra tem sua área localizada ao norte do Lago Copais, acima dos pântanos do rio Melas. Sua localização foi reconhecida pelo restos de construções datando do séc. IV aC, situada a 5 km a nordeste de Orchomenus, uma colina elevada com uma fonte na base, uma das nascentes do rio Melas. Toda a região fica próxima ao mais famoso e prestigiado santuário da antiguidade clássica, e lar do oráculo mais sagrado, o Oráculo de Delfos na cidade de mesmo nome. A região desde Orchomenus à Tegyra e Queroneso, não possui riquezas como ouro e prata mas tem algo mais importante, um solo muito fértil onde nasce centeio, cevada e trigo, propiciando grandes colheitas que eram comercializadas com todas as cidades estados da região sendo portanto um grande celeiro que alimentava a Grécia. Ter o domínio dessa região significava ter o domínio sobre a produção de grãos, além de seu cavalos que dizia-se na Grécia que eram os melhores bem como seus domadores (WP).

Em amarelo o território da Grécia atual e em vermelho a região da Beotia, 
(atual Viótias), região habitada desde o final da era do bronze (WP). 

No ano de 375 a.C., o mundo grego vislumbrou a derrota do exército Espartano na Batalha de Tegyra. As tropas espartanas, que contavam com pelo menos mil homens, foram atingidas por uma pequena tropa de apenas 300 soldados de elite, cuja força, determinação e disciplina não se via na Grécia. Esse tropa era conhecida como o Batalhão Sagrado de Tebas ou a Banda Sagrada de Tebas.

O confronto se deu próximo ao santuário do Oráculo de Apolo, no povoado de Tegyra, e os homens de Tebas, liderados pelo general Pelopidas, foram atacados pela grande unidade espartana. A batalha parecia perdida. No entanto, Pelopidas ordenou que seus cavaleiros atingissem o flanco exposto do inimigo e agrupassem seus hoplitas em uma formação de unidade compacta, que parecia invencível. Assim procedendo eles quebraram a linha inimiga matando rapidamente seu líder, e os soltados mais forte e valentes de esparta, e os Espartanos foram banidos de Tebas. Foi uma vitória gloriosa, e Pelopidas instituiu o Batalhão Sagrado para qualquer campanha militar que se seguisse nas cidades estados da Beócia. Mas quem eram esses soldados de elite? 

Camaradagem, coragem, valentia e amor

De acordo com documentos antigos já citados nesse texto, todos os componentes do Batalhão ou banda Sagrada eram amantes gays (homossexuais), bem ao costume de Athenas e algumas polis gregas onde o amante ἐραστής = amante, plural é erastai, era o mais velho e mais esperiente, e o outro mais jovem era o eromenos (em grego, ἐρώμενος, plural é eromenoi).

Eram 150 pares excepcionalmente bem treinados. Os relacionamentos eróticos entre homens e rapazes, frequentemente um mestre e seu aprendiz, constituíam parte importante da sociedade grega, vista como um ritual pelo qual todo jovem cidadão precisava passar. 

A criação e o estabelecimento desse batalhão é creditado ao general Georgidas, chefe oficial da Beócia, que teria selecionado pessoalmente os casais do Batalhão Sagrado, cada um consistindo de um Erastes (o mais experiente, ou Amante) e um Erômenos (o aprendiz, ou Amado), com idades não tão conflitantes. Sua escolha consistia apenas em suas habilidades, disciplina, lealdade e comprometimento. Habilidosos lutadores, eles eram pagos pelas cidades estados as quais estariam servindo, para proteger a cidade e seus moradores. 

Eram soldados de elite treinados para abater os melhores combatentes do exército inimigo, como foi no caso dos Espartanos. Recebiam treinamento em cavalaria ligeira, luta livre, luta com espada e  sabre, com arco e também treinavam dança e atletismo, pois a filosofia das democracias daquela época era a formação integral do ser humano.

A profunda conexão entre dois homens era interessante e importante especialmente no teatro de guerra (o campo de batalha). 

Segundo Plutarco, Πλούταρχος; Ploútarkhos, Lúcio Méstrio Plutarco, latim: Lucius Mestrius Plutarchus, grego: Λούκιος Μέστριος Πλούταρχος, que era natural da Chaironeia, Queroneia, ca 46 d.C. – Delfos, 120 d.C., historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo platônico grego, conhecido principalmente por suas obras Vidas Paralelas e Morália. Em seu livro A Vida de Pelópidas, afirma:  

"um grupo cimentado pela amizade baseada no amor é inquebrável e invencível, já que os amantes, envergonhados de serem fracos à vista de seus amados, e os amados diante de seus amantes, de bom grado se arriscam para o alívio um do outro".

A BATALHA DE LEUCTRA 

A derrota ia se repetir, contra o mesmo inimigo, na Batalha de Leuctra. Depois da Batalha de Tegyra, o Batalhão Sagrado se tornou uma unidade tática separada do resto do exército de Tebas, eles eram a arma secreta. 

No ano de 371 a.C. Tebas recusou os termos da conferência de paz que havia sido proposta com Esparta. Esparta havia mandado uma força enorme, junto com um de seus reis, Esparta sempre tinha dois reis, Cleombrotus I, e eles estavam prontos pra invadir assim que se confirmasse a notícia de que Tebas se recusara a comparecer na conferência de paz ou se recusassem os termos do acordo de paz. 

Com essa desculpa, Esparta declarou guerra e Cleombrotus I cruzou a fronteira com as suas forças, esperando que os Tebanos voltassem atrás. 
Vocês acham que os Tebanos iriam dizer que não iriam lutar? Ainda mais tendo um batalhão de elite que lutava pelos mais altos ideias democrática, por amor e aprovação de seu companheiro e pela sua cidade-estado? (KT, 2021)

A Batalha aconteceu no povoado de Leuctra, e o Batalhão Sagrado venceu essa luta contra os  espartanos, e mais uma vez o exército dos espartanos tinha mais que o dobro de soldados que o exército tebano. 

A estratégia usada nessa batalha ficou conhecida como Ordem oblíqua, e foi a primeira vez que foi usada na história. Basta dizer que quando os espartanos perceberam que tinha algo de diferente acontecendo no ataque, no teatro de guerra, era tarde demais, o Batalhão Sagrado prendeu as tropas espartanas onde elas estavam até a infantaria de Tebas chegar com tudo e terminar o trabalho.

Estratégia da Ordem oblíqua usada pelo exército de Tebas na 
Batalha de Leuctra em 371 aC. 

Mais de 1000 soldados espartanos, incluindo o rei Cleombrotus I, morreram, sob o assalto do Batalhão Sagrado. Quando isso aconteceu os espartanos sem lideranças, sem os seus melhores homens, simplesmente começaram a fugir. Esparta perdeu a batalha, destruiu-se a lenda de sua invencibilidade que havia se formado uma geração anterior, durante a Guerra do Peloponeso, e também perderam a influência que tinham na península grega, especialmente na Beócia. Tudo isso graças a 150 soldados de elite comprometidos profundamente com a pólis a qual serviam e que se amavam mutuamente. 

Um novo Tropaion foi construído pra comemorar essa vitória, desta vez a população de Tebas decidiu erigir um Tropaion, com materiais permanentes. Geralmente os tropaions eram monumentos temporários, e isso foi feito de propósito com o intuito de servir como um alerta a todos que quisessem invadir a área principalmente os espartanos. A base do Tropaion existe até hoje em Leuctra.

Base do Tropaion em honra a vitória de Tebas sobre os espartanos, em Leuctra.

É claro que em se falando de uma história de soldados gregos, só existem dois destinos que eles poderiam alcançar no fim: o Tártaro ou os Campos Elíseos, e no fim das contas só existia uma maneira de chegar em qualquer uma dessas opções: pela morte no campo de batalha. 


BATALHA DE QUERONEIA

Em 338 a.C. na Batalha de Queroneia (Chaironea), contra Filipe II, rei da Macedônia, e seu filho Alexandre, o Batalhão Sagrado de Tebas em sua totalidade pereceu em combate contra as lanças da inovadora Falange Macedônica. Felipe II havia arregimentado um exército maior, melhor em termos de treinamento, táticas e mais bem armado.

Mais de mil atenienses morreram, mais de 2000 foram capturados pelos macedônios. No calor da batalha enquanto os soldados de Tebas e de Atenas quebravam fileiras, recuavam e fugiam, os homens de elite do Batalhão Sagrado, e seu líder Theagenes, se recusaram a fugir do campo de batalha, lutando até o derradeiro fim, lutando por seu amar e pelo seu povo, pelo seu estilo de vida.

Segundo Plutarco, quando Filipe II da Macedônia encontrou os corpos empilhados dos soldados que integravam o Batalhão Sagrado, os reconheceu, e chorou, dizendo: "que pereça qualquer um que suspeite que esses homens sofreram ou fizeram algo impróprio."

O Filipe II sabia quem integrava o Batalhão Sagrado, e não apenas pela fama de invencíveis que eles tinham em batalha pela Grécia toda, mas porque na adolescência ele fora tomado como refém político por ninguém menos que Pelopidas, um dos lideres do Batalhão, e viveu anos em Tebas por algum tempo.

Filipe II estudou as táticas dos tebanos enquanto vivia lá, incluindo as do general Epaminondas, e todas as inovações e estratégias militares tebanas, além de ter sido amante do próprio Pelopidas durante esse tempo. 


O LEÃO DE QUERONEIA

Pausânias relata que os tebanos construíram um grande monumento em forma de leão perto de Queroneia, para honrar a morte do Batalhão Sagrado em combate.
O historiador Strabo também fala do monumento, mas por muito tempo ele foi considerado uma lenda.




O monumento foi redescoberto em 3 de junho de 1818 pelo arquiteto inglês George Ledwell Taylor e seus amigos, os arquitetos John Sanders, William Purser e Edward Cresy, que passeavam a cavalo em direção às ruínas da cidade antiga de Queroneia, usando como guia a Descrição da Grécia de Pausânias. 

No caminho, o cavalo de Taylor tropeçou num bloco de mármore. Examinando a pedra, Taylor percebeu que era esculpida, e chamou alguns aldeãos da redondeza para ajudá-lo a desenterrá-la. A pedra revelou ser uma grande cabeça de leão, logo outras partes da estátua foram encontradas em torno, e também os remanescentes de um pedestal. O monumento logo foi reconhecido como sendo o mesmo que Pausânias disse ter sido erguido nesta área, mas que na sua época já se encontrava soterrado, e cuja localização precisa se perdera.

Taylor desistiu da ideia de levar consigo os fragmentos devido ao seu grande volume, e mandou enterrar tudo novamente. Voltando a Atenas, notificou o cônsul britânico e outras autoridades e solicitou ao escritório do Almirantado autorização para carregar os fragmentos para Londres em um dos navios ingleses, mas a permissão foi negada. 

Pouco depois mobilizou a Dilettanti Society, uma associação de eruditos, em busca de ajuda, que tampouco foi conseguida. Na mesma época a descoberta foi anunciada na Litterary Gazette

Durante a Guerra de Independência Grega os fragmentos haviam sido novamente expostos e o pedestal sofreu sérios danos. Em 1879 uma escavação descobriu que o monumento se localizava junto a uma câmara quadrangular, provavelmente parte de um antigo tumulus, ora desaparecido, onde foram achadas ossadas de 254 pessoas, dispostas em fileiras ordenadas. O conjunto continuou desmantelado até o fim do século XIX.

Finalmente, em 1902 o governo grego autorizou o restauro, com financiamento da Ordem de Queroneia
Para isso foi organizada uma escavação científica, que descobriu nas proximidades quase todos os fragmentos perdidos da estátua do leão e os descoberto resíduos de uma pira funerária, onde os mortos devem ter sido cremados. 

Foi criado um novo pedestal de 3,0m e no mesmo ano o leão, foi restaurado, e instalado no topo deste. 

A estátua do leão tem 3,8 metros de altura, e o pedestal, 3,0 metros. O leão foi talhado em mármore da Beócia, mas não era uma peça monolítica, sendo criado em várias partes, com um interior oco. 

Geralmente se aceita que as ossadas encontradas na câmara junto ao monumento pertencem aos guerreiros que integravam o Batalhão Sagrado de Tebas. Uma cópia do monumento foi instalada na Praça Pitágoras na ilha grega de Samos em honra desses homens e de seu batalhão tão valoroso que nunca mais se repetiu na história da humanidade.

Esquema da área sob o Leão da Queroneia que foi escavada, onde foram encontradas sete fileiras de esqueletos, arranjados em pares, em um total de 254 soldados, confirmando que aquele era realmente o local do descanso final do Batalhão Sagrado de Tebas.



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ORDEM DE CHAERONEIA
Ordem Militar Soberana de Queroneia

Leão de Chaeronea, Το λιοντάρι της Χαιρώνειας, em Χαιρώνεια, Chaironeia. Queroneia é uma vila e um antigo município na Beócia, Grécia, localizada a cerca de 35 quilômetros a leste de Delfos. Atualmente faz parte do município de Livadeia, do qual é uma unidade municipal. Está localizada no Monte Thourion e no vale do rio Kifisós, a noroeste de Tebas. (Foto: Philipp Pilhofer, WP).

Queronéia é uma vila localizada na Beócia, Grécia. Foi palco de várias batalhas históricas. A mais conhecida é o de 338 aC, entre Filipe II da Macedônia e uma coalizão de vários estados do sul da Grécia, principalmente Tebas e Atenas. Alexandre, o Grande, travou aqui sua primeira batalha, como general com apenas 18 anos. Durante a batalha, a unidade de elite de soldados tebanos conhecida como Bando Sagrado de Tebas ou Batalhão Sagrado de Thebas foi completamente exterminada. Um monumento funerário foi erguido para marcar a vala comum onde descansam os restos mortais desse batalhão de elite. 
As escavações revelaram os esqueletos de 254 homens e parte do seu armamento. O leão simboliza o heroísmo dos soldados de Tebas, reconhecido até pelo próprio Filipe II. 
A estátua foi encontrada em 1818, em cinco peças, que foram reconstruídas e colocadas num pedestal de 3 metros de altura junto ao Museu Arqueológico de Queronéia.


A Ordem de Chaeronea era uma sociedade secreta para o cultivo de um ethos homossexual,  moral, ético, cultural e espiritual. 

George Cecil Ives 
Fundador da Ordem Militar Soberana de Queroneia

Foi fundada por George Cecil Ives em 1897, como resultado de sua crença de que os homossexuais não seriam aceitos abertamente na sociedade e deviam, portanto, ter um meio de comunicação subterrânea.

A sociedade é nomeada em honra da Batalha de Queroneia, onde o Batalhão Sagrado de Tebas foi finalmente aniquilado em 338 aC. pelas tropas de Filipe II.

Na década de 1860, o advogado alemão Karl Heinrich Ulrichs, que pode ter sido o primeiro europeu moderno a declarar publicamente sua homossexualidade. Ulrichs escreveu dezenas de livros e panfletos que traziam um argumento crucial: 

A preferência afetiva por pessoas do mesmo sexo é hereditária; por isso não deve ser um crime nem deve ser criminalizada. Ele introduziu a palavra “urânio” como sinônimo de relações homossexuais, e até exigiu que aos homossexuais fossem concedido o direito de se casar.

Com o tempo menos pensadores radicais na Alemanha, Áustria e França começaram a argumentar que a atração pelo mesmo sexo e as relações entre os homens era uma perturbação psicológica a ser tratado por médicos, em vez de um crime a ser punido pelos tribunais. Essa foi a era da patologização do amor homoafetivo.

Nesse contexto surge a Ordem de Queroneia que foi uma sociedade secreta para o desenvolvimento de um ethos moral, ético, cultural e espiritual homossexual. 

Esta Ordem secreta foi fundada por George Cecil Ives em 1897, como resultado da sua conclusão que a "Causa" (termo com que Ives designava a sua luta pelo fim da opressão dos homossexuais) não seria aceita abertamente na sociedade e teria, por isso, que dispor de uma forma de comunicação secreta, subterrânea. 

O nome da sociedade fazia referência ao local da batalha em que o Batalhão Sagrado de Tebas, constituído por 150 casais de guerreiros tebanos homossexuais, foi definitivamente aniquilado em 338 AC.

A Ordem, de acordo com os livros de notas de Ives, tinha um objectivo, filosofia e recomendações específicas e distintas, e o seu simbolismo particular. Os pré-requisitos para admissão seriam "Zelo, Aprendizagem e Disciplina". 

O secretismo em que se baseava era descrito pela metáfora da "Corrente", sublinhando que nunca se poderia revelar qualquer informação sobre a Ordem ou sobre os seus membros, sobre seus rituais ou sobre seus estatutos.

Nas palavras de Ives:

"Acreditamos na glória da paixão. Acreditamos na inspiração da emoção. Acreditamos no carácter sagrado do amor. Alguns, no mundo exterior, questionam-se sobre a nossa fé; julgamos não ter uma resposta simples para eles. Haverá irónicos, aos quais não precisamos retorquir, e tolos, para quem as nossas palavras não significam nada. Pois que são as palavras? Símbolos de concepções partilhadas num grupo, e naturalmente gostamos daquilo que conhecemos."

Os membros da sociedade utilizavam um elaborado sistema de rituais, cerimônias, iniciação ao rito, selos, códigos e palavras senha. Ives e os outros membros da sociedade, por exemplo, datavam as suas cartas e outros materiais e documentos da Ordem com base no ano da Batalha de Queroneia, de tal forma que 1899 seria escrito como C2237. Ives refere-se, nos seus escritos, a Walt Whitman como "O Profeta", e usou versos de Whitman nos rituais e cerimônias da Ordem.

A Sociedade Secreta acabou por se expandir para o estrangeiro, e Ives não desperdiçou nenhuma oportunidade de divulgar informação sobre a "Causa". 

Entre os seus membros contavam-se Charles Kains Jackson, Samuel Elsworth Cottam, Montague Summers, Laurence Housman, John Gambril Nicholson e Oscar Wilde. Suspeita-se que Charles Robert Ashbee fosse membro.

Dada como extinta há muitos anos, no final da década de 1990 assistiu-se a uma tentativa de reconstruir a Ordem de Queroneia com base na doutrina, governação e rituais da Maçonaria. 

O Reverendo Sotemohk A. Beeyayelel, bispo da Moorish Orthodox Church de New Jersey, foi nomeado Grande Mestre de Grande Loja da Ordem Militar Soberana de Queroneia, que ainda tem membros nos Estados Unidos, Reino Unido, França, na Guiné Equatorial e na África do Sul.

Agora no século XXI instituiu-se a Nova Ordem de Queronéia, que é uma tentativa de renascimento da Ordem Militar Soberana de Queronéia de George Ives para os tempos modernos com base, em certa medida, nos ideais da Ordem original como eram professados pelos iniciados no antigo rito e na cultura grega antiga, que é o melhor exemplo da história de uma cultura e religião que em certa medida aceitava e adotava a homossexualidade e a bissexualidade como naturais. Tão naturl que até os deuses e heróis demonstravam seu desejo pelo mesmo sexo e pelo sexo oposto, sem existir nenhuma cobrança moral que gera sofrimento tanto físico quanto psicológico.

Leão de Queroneia



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MEMENTO 



A GRÉCIA DO SÉCULO V AO III 

Breve retrospectiva

A Idade de Ouro de Atenas Um século antes, Atenas, sob o governo de Péricles (c. 460 a 429 a.C.), dominava o mundo grego exercendo sua hegemonia através da Liga de Delos. Foi a Idade de Ouro de Atenas que, desde o século anterior já ocupava uma posição de proeminência no Mediterrâneo.(ensinarhistória

A democracia, depois das reformas de Clístenes, em 507 a.C., estabilizou-se por dois séculos, garantindo aos cidadãos atenienses a participação no governo por meio da assembleia, conselho, tribunais judiciários, administração da cidade e comando militar. 

Os cidadãos recebiam, até mesmo, uma compensação monetária para participarem da vida pública. Apesar de seu caráter excludente (mulheres, estrangeiros e escravos não participavam da vida política), a democracia ateniense foi o exemplo mais clássico do mundo antigo. (ensinarhistória)

Péricles foi um dos grandes nomes da democracia ateniense; daí o século V a.C. ser também chamado de “o século de Péricles”. Atenas era uma cidade rica graças à exportação de seu azeite e cerâmica de luxo. A descoberta de minas de prata no início do século V a.C. impulsionou ainda mais sua economia e financiou a marinha de guerra ateniense. (ensinarhistória)

Em meados daquele século, Atenas apropriou-se do tesouro da Liga de Delos utilizando-o para distribuir benefícios aos seus cidadãos e embelezar a cidade com templos magníficos como o Partenon, o grande templo a Atena, na acrópole. 
Nem a derrota final de Atenas na Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.) abalou a cidade. 

Atenas permaneceu uma cidade democrática e fortaleceu as instituições do Estado por meio de diversas reformas. No século IV a.C., contudo esse cenário mudou. Conflitos internos, disputas entre cidades e as sucessivas hegemonias entre os gregos – de Esparta, Tebas e Coríntio, desorganizaram e enfraqueceram as cidades. Isso deu oportunidade do pequeno reino da Macedônia se fortalecer. 



O reino da Macedônia 

Localizada a nordeste da Grécia, a Macedônia era habitada por lavradores e pastores aparentados dos gregos, mas por estes desprezados como um povo bárbaro. (ensinarhistória)

Reino da Macedônia em 336 aC (ensinarhistoria)

A relação com as cidades gregas foi instável: na Guerra do Peloponeso, a Macedônia aliou-se à Atenas, mas depois se uniu a Esparta, e novamente firmou uma nova aliança com Atenas. (ensinarhistória)

Sob o reinado de Filipe II (359 a 336 a.C.), a Macedônia fortaleceu-se. Filipe II empenhou-se em formar um poderoso exército com o qual expandiu seus domínios vencendo diversos estados tribais que foram incorporados como súditos do reino macedônico. Os melhores guerreiros foram recrutados para o exército real e treinados intensamente. Em poucos anos, a Macedônia passou de 600 cavaleiros e 10 mil soldados em 358 a.C., para 2.800 cavaleiros e 27 mil soldados em 336 a.C. (ensinarhistória)

https://youtu.be/fcz3Gg9mgj8



Filipe recorreu, também, a casamentos para impor alianças sobre os povos dominados. Entre as quatro mulheres que desposou está Olímpia, mãe de Alexandre, o Grande (356-323 a.C.). 

Demóstenes contra Filipe II 

Em relação às cidades gregas. Filipe II adotou uma política dúbia e dissimulada: conquistou algumas, fez acordos de paz com outras (sempre rompidos e refeitos conforme o interesse imediato), cooptou cidadãos gregos influentes para defende-lo nas assembleias da pólis, e aliou-se a algumas cidades gregas, como Tebas e, em alguns momentos, até mesmo Atenas. 

O crescente poder militar da Macedônia chamou a atenção do político ateniense Demóstenes, que se esforçou para abrir os olhos dos cidadãos de Atenas para o perigo macedônio. 

Escreveu inúmeros discursos contra Filipe II da Macedônia que ficaram conhecidos como Filípicas. Demóstenes pretendia convencer os atenienses a reunirem forças contra a Macedônia antes que fosse tarde demais. Em seus discursos, Demóstenes conclamava os gregos a desconfiarem do rei da Macedônia, a não acreditarem nas falsas promessas de paz que escondiam suas intenções de apoderar-se de riquezas, territórios, cidades e seus navios mercantes.

"Observai pois, Atenienses, a que ponto chegou a insolência do homem [Filipe II], que não nos dá escolha de agir ou de ficar na quietude. Pelo contrário, ameaça e profere palavras arrogantes, e não é capaz de parar no que subjugou, mas sempre estende mais alguma coisa ao seu território e cerca-nos com armadilhas por todo o lado, enquanto permanecemos quietos. Ora quando, Atenienses, quando é que realizareis aquilo que é preciso? Quando acontecer algo? Até que, por Zeus, haja alguma necessidade? (…) Na verdade, Filipe não cresceu tanto graças à sua própria força, quanto devido à nossa negligência"
Primeira Filípica (351 a.C.), parágrafos 9-11.(ensinarhistória)


Batalha de Queroneia 

Os gregos não deram ouvidos aos discursos de Demóstenes e nem estes conseguiram deter os macedônios. Contudo, quando a guerra estourou os argumentos do orador ateniense convenceram os gregos a deixarem de lado seus conflitos e se unirem contra as forças macedônias.

https://youtu.be/iDgomCumtuw


Filipe II levou para a guerra seu filho Alexandre que, mesmo jovem (com 18 anos de idade) comandou as tropas montadas. Foi sua primeira participação militar. 

O confronto ocorreu na Batalha de Queroneia, em 2 de agosto de 338 a.C. Os gregos foram esmagados: perderam cerca de 2 mil homens e tiveram 4 mil capturados, enquanto os macedônios tiveram apenas algumas dezenas de mortes. (ensinarhistória)

Os atenienses derrotados foram tratados com consideração pois Filipe II estava interessado no apoio da cidade para a guerra planejada contra o Império Persa. 

Atenas não foi ocupada, pode manter o que restou da Liga de Delos e conservou seu governo democrático (que só foi abolido em 322 a.C.). Mas,  a cidade perdeu sua independência, tendo que se submeter, como o resto da Grécia, à Macedônia. 

Já Tebas foi punida com a ocupação militar e teve seus líderes executados ou exilados. Os prisioneiros tebanos foram vendidos como escravos. A cidade passou a ser governada por uma oligarquia de 300 homens de confiança do rei da Macedônia. (ensinarhistória)

Três anos depois, a cidade foi destruída pelas tropas de Alexandre. Em 336 a.C., Filipe II foi assassinado por um de seus homens. Alexandre, com 20 anos, assume o trono e dá sequência ao projeto expansionista do pai derrotando os persas e levando os domínios macedônios para a Ásia e o Egito (ensinarhistória).



Coda

Enquanto as forças da Comunidade Grega se reuniam, Filipe decidiu fazer do festival de outubro em Aigai uma ocasião internacional, convidando os enviados das Cidades-Estados e os líderes de seus súditos balcânicos. Era nesse festival que se celebravam os casamentos na Macedônia. As cerimônias começaram com sacrifícios aos deuses, casamentos, que incluíram o de Cleópatra, filha de Filipe e Olímpia, com Alexandre, o rei molosso, e generosos banquetes patrocinados pelo estado.

Busto de Filipe II rei da Macedônia. 
Gliptoteca Ny Carlsberg, Copenhagen, Dinamarca

Os convidados, de seu lado, presentearam Filipe com grinaldas de ouro, alguns como indivíduos e outros como delegados oficiais das Cidades-Estados gregas e, dentre elas, Atenas. O segundo dia deveria começar com uma procissão religiosa e com apresentações musicais e dramáticas no teatro logo abaixo do palácio. Por isso, antes do alvorecer, o teatro estava lotado com os principais macedônicos da época e os convidados oficiais do Estado Macedônico. A procissão foi uma estonteante exibição de riqueza. Foi encabeçada por estátuas ricamente adornadas dos 12 deuses olímpicos e uma estátua igualmente magnífica de Filipe "digna de um deus, já que o rei exibia a si mesmo entronado junto com os 12 deuses". Na crença macedônica, os reis descendiam de Zeus. A melhor explicação sobre a estátua de Filipe junto aos 12 deuses olímpicos, nessa ocasião é que essas "honras divinas" lhe haviam sido conferidas, e que ele decidira mostrar sua elevação à divindade.

Após o término da procissão, alguns dos amigos de Filipe II, encabeçados por Alexandre, como sucessor escolhido e pelo outro Alexandre, rei de Molóssia, entraram e tomaram seus assentos designados na fileira da frente. Vieram em seguida os guardas da infantaria, que se colocaram no canto da orquestra. Filipe II entrou sozinho, usando um manto branco, e ficou no centro da orquestra, recebendo as aclamações dos espectadores. Os sete guarda-costas, que haviam entrado atrás dele, ficaram a alguma distância. Repentinamente, um deles, Pausânias de Oréstide, correu para a frente em direção a Filipe II, apunhalou o rei e fugiu. Três guarda-costas correram para o lado do rei, três outros, chamados: Leonato, Pérdicas e Atalo, correram atrás de Pausânias, que tropeçou e caiu. Eles o mataram com suas lanças.

O motivo pessoal de Pausânias logo foi estabelecido. Começara com um caso homossexual entre ele e um pajem real. Essas relações eram tão aceitáveis quanto as heterossexuais (de fato, frequentemente concorriam com elas), e faziam parte de uma tradição militar que naquela época, por exemplo, louvava os tebanos do batalhão sagrado como "casais de amantes". Quando o relacionamento terminou, Pausânias insultou o menino, que confidenciou a Átalo sua intenção de cometer suicídio, coisa que fez na batalha contra Plêurias, no verão de 337 a.C.
Átalo vingou o menino convidando Pausânias para jantar, embebedando-o e fazendo com que um grupo de homens abusasse sexualmente dele. 
Pausânias queixou-se a Filipe, que lhe deu presentes e uma promoção, mas não tomou qualquer medida contra Átalo ou os peeyradores do abuso. Para vingar-se, Pausânias assassinou Filipe. 
Embora os detalhes possam ser questionáveis, a essência está correta, pois Aristóteles, que naquela época estava na corte de Filipe II, escreveu que "Pausânias atacou Filipe porque este não fez nada ao saber que Pausânias havia sido violentado pelos homens de Átalo". Mas o motivo pessoal de Pausânias não excluía uma conspiração, da qual ele seria apenas uma peça.

Quando Filipe II foi assassinado, suspeitou-se tratar-se de uma conspiração, pois, ao tentar escapar, Pausânias não correu para um cavalo, mas "para os cavalos na entrada, que haviam sido preparados para a fuga". Esses cavalos deveriam ser para o uso de mais de um assassino. Aparentemente, Pausânias agiu sozinho por impulso e esse outro assassino ou assassinos haviam sido frustrados. Quem seria a outra vítima, ou vítimas? Alexandre certamente teria sido uma delas. Pois, se Filipe e Alexandre, sentados um ao lado do outro, houvessem sido mortos, o reino seria lançado em completo caos. As provas circunstanciais apontavam uma conspiração com esse projeto.





Fonte




RICKARD, J. Battle of Chaeronea, august 338 BC. History of War, 2017. 

SANTOS, Elisabete Cação dos. Demóstenes, Filípicas I e II. Estudo introdutório. Coimbra, Portugal: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2010.





















https://aminoapps.com/c/comunidade-lgbt/page/blog/historia-7-a-ordem-de-chaeroneia-sociedade-secreta-homossexual/V03B_jmkh7uP3mz4MW66xQmzx7k3Em6n44g


RICKARD, J. Battle of Chaeronea, august 338 BC. History of War, 2017. 

SANTOS, Elisabete Cação dos. Demóstenes, Filípicas I e II. Estudo introdutório. Coimbra, Portugal: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2010.





































P.S.: Caso vc encontre algum erro (digitação, gramatical, datas, etc… por favor escreva um comentário! Ficarei muito feliz em corrigir ou alterar e citar o nome da fonte (pessoa que sugeriu ou enviou o comentário).

(Publicado em 2 de jul. de 2022 e atualizado em 02/VIII/2022)