INÍCIO

26 outubro 2024

A NOITE TEM MIL OLHOS

A noite tem mil olhos 


A noite tem mil olhos 
E o dia apenas um 
Contudo, a luz do mundo radiante 
Morre com o Sol morrente. 

A mente tem mil olhos 
O coração apenas um 
Porém, a luz de uma vida inteira morre 
Quando o amor acaba.

Francis William Bourdillon (1852-1921)


Francis william Bourdillon




22 outubro 2024

CIÊNCIA, UNIVERSIDADE E FASCISMO

CIÊNCIA 




Uma “fireball”, bola de fogo, passou por cima do meu prédio na Azenha, em Porto Alegre, as 19h13 minutos. Estava sem o celular na hora então resolvi desenhar no iPad. É a segunda vez que testemunho esse fenômeno aqui em Porto Alegre, a primeira vez foi em 2021. 

Todavia há uma discrepância, na trajetória reportada pelo observatório Keller & Jung; pois o meteoro que eu avistei estava na direção SE vindo de NO. E o que foi veiculado na imprensa estava indo na direção Oeste. 

“(…) O relógio marcava 19h13min e o sol ainda iluminava parte do alaranjado horizonte da Região Metropolitana quando a bola de fogo cruzou o céu. Foi o primeiro registro de um meteoro do tipo durante o dia no Rio Grande do Sul em anos. 
Foi o primeiro registrado durante o dia, em oito anos, aqui no Rio Grande do Sul. Cruzou o céu ainda com a luz do dia, destacou o professor Carlos Jung, um dos coordenadores do Observatório em Taquara.” (ZH).


Em 08 de janeiro de 2021, também avistei uma fenômeno semelhante aqui em Porto Alegre. Infelizmente estava sem o celular no momento e-mail ocorreu a passagem de um meteoro pelo céu de PoA. Estava estudando e notei uma luz forte no céu em direção ao oeste só olhei para fora e vi uma linda bola de fogo no céu. Demorou uns 4 segundo e desapareceu. Somente pude desenhar o que vi.

Fireball em Porto Alegre em janeiro de 2021. Abaixo está o vídeo veiculado pelos meios de comunicação.



***

A TRAVESTI DA UFMA E A ESQUERDA QUE FACILITA O TRABALHO DA EXTREMA DIREITA

Artigo de Luis Felipe Miguel (1)

(1)

I
Tem uma parte da “esquerda” que parece ter como vocação facilitar o trabalho da Brasil Paralelo e de outros extremistas no ataque ao conhecimento, com a universidade pública e à ciência.
Ontem, voltou a atacar a estudante de História e cantora que já tinha alimentado, tempos atrás, a gritaria contra a “bagunça nos campi” com a mesma performance “educando com o cu”.
Em uma mesa redonda sobre gênero e sexualidades, ela entoa sua composição sobre “mestrado da putaria”, sobe na cadeira e rebola de costas para a plateia, com o minivestido levantado.
(Em nota oficial, a Universidade Federal do Maranhão afirmou que “está averiguando o ocorrido e tomará as providências cabíveis“. Tomara que marque uma posição clara.)
Não vou dar o nome – afinal, o objetivo da performer é obter notoriedade por meio do escândalo e eu já estou colaborando demais com isso.
Ela mesma publicou o vídeo em sua página, em busca de likes. Tinha conseguido, até hoje de manhã, uns mil e poucos.
Mas só na página da deputada Bia Kicis, que o publicou muitas horas depois, o vídeo já tinha 30 vezes mais curtidas. Kicis anotava que a performance tinha ocorrido com financiamento público.
O resultado líquido da transgressão: levantar a bola para que até uma bolsonarista de poucas luzes possa lacrar em cima.
Mas é isso: não importa que se fragilize a universidade pública, que o debate sobre gênero seja vilanizado, que as ciências humanas sejam desmoralizadas, que seja um tiro no pé para a defesa dos direitos das travestis. Todas estas pautas são parasitadas por uma gente movida por exibicionismo e desejo de notoriedade.
Na postagem com o vídeo, a performer diz “entender que a universidade é sim lugar de múltiplas formas de conhecimento, inclusive do proibidão”. “Proibidão”, para quem desceu no planeta recentemente, é o tipo de funk que traz letras sexualmente explícitas, muitas vezes com forte objetificação das mulheres, e/ou faz apologia do tráfico de entorpecentes.
O discurso pronto das “múltiplas formas de conhecimento” é bonito, mas não se aplica ao caso. 
A universidade acolhe “formas de conhecimento” que preenchem determinados critérios de cientificidade. O funk proibidão entra como objeto de estudo, não como “forma de conhecimento”.
Por coincidência logo depois de ter visto a reportagem sobre a performance na Universidade Federal do Maranhão, li um artigo em que professores de universidades de elite nos Estados Unidos reclamam que uma parcela cada vez maior de seus estudantes se mostrava incapaz de ler um livro do começo ao fim.

Creio que os dois fenômenos estão ligados.

A democratização do acesso à educação superior, que é uma conquista importante, vai perdendo sentido à medida em que este ensino superior se mostra menos capaz de prover os conhecimentos que deveria.
Com base em uma postura muitas vezes paternalista e condescendente, para não dizer arrogante e preconceituosa, vamos rebaixando nossos parâmetros, permitindo a contaminação por abordagens místicas, mitológicas ou simplesmente pelo oportunismo disfarçado de militância identitária.
Em vez de democratizar o acesso às ferramentas que proporcionam o pensamento crítico e emancipador, distribuímos diplomas. Que dizem cada vez menos das competências de quem os porta, que se desvalorizam.
Um presente para os detentores do capital econômico, sempre empenhados em reduzir o capital cultural à insignificância.
Com muito mais propriedade, outra funkeira, Tati Quebra Barraco, cantava: “Piranhas doutoradas farão revolução”.
Esse devia ser nosso horizonte: uma universidade aberta a pessoas de todas as extrações sociais, que efetivamente dê a elas os instrumentos para agir conscientemente no mundo.


II
A performance inapropriada na Universidade Federal do Maranhão não foi, nem de longe, uma transgressão inocente e desprovida de consequências. Ela deu gás à campanha da extrema direita contra a universidade pública 
O deputado Nikolas Ferreira, que espantosamente é o presidente da Comissão de Educação da Câmara, já mandou investigar o caso e ameaça até com a exoneração dos envolvidos. Quem pode culpá-lo? O caso lhe foi entregue de mão beijada. Se ele mesmo tivesse contratado a performer, o resultado não teria sido melhor.
A dancinha da estudante de história e cantora circula como a prova viva de que tudo o que inventam sobre as universidades é verdade. Um lugar sem seriedade, que despreza os valores morais, em que impera o vale tudo, que desperdiça o dinheiro do contribuinte.

Foi um desserviço, em particular, aos estudos de gênero, transformados na caricatura que os fundamentalistas produzem. E para qual avanço dos direitos LGBT contribuiu?

Muita gente questionou também se não há um viés sexista em toda a situação: será que a mesa redonda aceitaria a performance fescenina se fosse uma mulher, não uma travesti?

Um influencer chamado Tiagson pegou minha postagem de ontem para tecer uma série de críticas. No caminho, como infelizmente é de costume, manipulou o que eu escrevi, mostrando flashes tão rápidos dos meus cards que quem simplesmente viu o vídeo dele não tinha como acompanhar.
Mas vou focar no principal. Ele disse que não tem sentido a esquerda se preocupar com o tipo de utilização que a direita vai fazer de suas ações.
Isso é típico de quem vê a disputa política como algo estético e está simplesmente despreocupado de suas consequências na vida das pessoas.

O influencer joga a carta de “eu vim da periferia”, a identidade como argumento de autoridade, sempre. Mas sua postura é do pequeno-burguês bem acomodado que lacra hoje como se não houvesse amanhã.
Como se não houvesse corte de orçamento, privatização, cerceamento da liberdade de ensino e pesquisa, macarthismo, tudo isso espreitando à nossa frente.

Sim, nós temos que nos preocupar com o efeito que qualquer uma de nossas ações vai ter. Isso significa não que devemos nos curvar às determinações do outro campo, mas pesar o que vale a pena e o que não vale a pena.

O nome disso é política.

Afinal, aproveitando uma reflexão do Hobsbawm, que alguém (infelizmente não me lembro quem) recordou no contexto mesmo da polêmica de agora, o que nós queremos não é chocar a burguesia e sim derrubá-la.
Até porque (como também lembrou essa mesma pessoa) as sensibilidades ofendidas não são burguesas.
Aliás, muitas vezes o que esse tipo de “transgressão” faz é afastar da universidade as pessoas que vêm dos espaços sociais mais subalternos, vinculadas a padrões de moralidade mais rígidos e sem familiaridade com a cultura das performances.
A performance deu munição à direita. E mais o quê? Deu visibilidade à performer, que agora, segundo leio, está promovendo sua página numa plataforma de conteúdos “adultos”.
No vídeo que gravou para responder às críticas, ela mostrou novamente o nível rasteiro em que se move: chamou quem condenou a exibição de “os fascistas que me odeia” (sic), fez uma provocação boba (“ainda vou ser a sua ministra da Educação, bebê”), cantou novamente a música do “mestrado da putaria” (aaaaargh), e pronto, foi isso.
Por fim, o influencer esqueceu de um ponto central no meu argumento: não é só por causa do uso pela direita.
A universidade não pode ser mesmo um lugar de vale tudo. É necessário manter os critérios de validação do discurso científico, isto é, do que tem condições e do que não tem condições de ingressar no debate.
A democratização da universidade deve significar que pessoas pertencentes a grupos que historicamente estavam afastados dela passarão a ter acesso ao conhecimento que nela se produz. E vão enriquecer esse conhecimento a partir de novas perspectivas sociais.
Se a gente abre mão do rigor do trabalho acadêmico, sob pretexto de “inclusão”, na verdade continuamos a excluir; a excluir do acesso ao conhecimento científico.
Porque para fazer um diploma basta uma folha de papel e uma impressora.

A liberdade na universidade não é deixar cada um gritar o que quiser, mas oferecer a todos a oportunidade de manejar as ferramentas que permitem intervir de forma efetiva nas discussões.

É preciso dar um basta nesse tipo de achincalhamento do ambiente universitário. Precisamos romper o cerco de intimidação dos nossos pretensos “aliados” e restaurar critérios acadêmicos sãos, que permitam um debate verdadeiramente aberto e produtivo.


Fonte 







PENSAMENTO FILOSÓFICO

FILOSOFIA É PARA VIVER

(Google image)

“Impiedoso não é aquele que refuta os deuses do povo, mas aquele que atribui aos deuses as opiniões do povo”.

Sincero em sua fé nos cultos da cidade, Epicuro era igualmente sincero no uso que fazia em seus escritos daquelas invocações nas quais os deuses são mencionados como testemunhas. 

"Seria cômico dizer que eles santificaram o uso do juramento", observa Filódemo, "na medida em que suas obras filosóficas estão repletas de invocações". 

É correto, no entanto, afirmar que Epicuro os incentivava a cumprir a promessa que haviam feito, vinculados por tal ou tal juramento, e especialmente a respeitar o juramento enfático em nome do próprio Zeus.

Pois não é o homem que escreverá: "Em nome de... mas o que dizer? Como posso falar de modo piedoso?"

E ele aconselha Colotes a ser sempre cuidadoso com os juramentos e com o uso apropriado do nome dos deuses (e de toda teologia).

Assim, Epicuro observava as formalidades da religião estatal com real sentimento, e não apenas para "obedecer à lei". No entanto, sua religião não era a mesma das pessoas comuns. Diferia em dois aspectos.

Primeiro de tudo, os deuses de Epicuro, sendo despreocupados, como o Sábio, não se interessam pelos assuntos humanos. Vamos examinar essa doutrina essencial mais uma vez com a ajuda de alguns fragmentos. Em seu tratado "Sobre a Piedade", Epicuro descreve a existência do Divino como a mais prazerosa e bem-aventurada e acredita que devemos remover todos os elementos espúrios da nossa ideia sobre o divino e compreender as condições desse tipo de vida (a vida divina) para ajustar tudo o que acontece conosco ao modo de vida que se adequa à felicidade divina. Com isso, Epicuro acredita que a "piedade" encontra sua plenitude, e ao mesmo tempo, as tradições comuns são diligentemente observadas. 

Mas as pessoas que são descritas como "aterrorizadas pelo medo religioso, a que grau insuperável de impiedade elas não se lançam?".

Impiedoso não é aquele que defende a imortalidade e a bem-aventurança suprema de Deus junto com todos os privilégios associados a esses dois conceitos. 

Pelo contrário, piedoso é aquele que defende as duas ideias sobre a divindade (que o divino é imortal e bem-aventurado). 

E aquele que também percebe que o bem e o mal que nos acontecem não escondem nenhuma ira ou bondade doentia dos deuses, mostra claramente que Deus não tem necessidade das coisas humanas, mas desfruta de todos os bens em plena completude". 

E novamente, "Basta dizer que o divino não precisa de títulos honoríficos, mas é natural que o honremos, especialmente formando concepções piedosas sobre ele e, secundariamente, oferecendo a cada deus os sacrifícios tradicionais". 

"Se admitirmos que os deuses cuidam do mundo, devemos então aceitar que trabalham excessivamente e por tempo ilimitado. 

Mas nós dizemos que estamos convencidos de que os deuses, dotados de sabedoria, não podem ser comparados a artesãos incompetentes, como os humanos ativos aqui na Terra, porque, de acordo com nossa teoria, isso destruiria sua serenidade. Para falarmos corretamente, devemos garantir que os deuses não conhecem nem o trabalho nem o cansaço."

Por outro lado, como os deuses são bem-aventurados de uma maneira indescritível, louvá-los em nossas orações, aproximar-nos deles nessas ocasiões oficiais quando a cidade lhes oferece um sacrifício e nos regozijarmos com eles nas festividades anuais é como participar de sua felicidade. 

É por isso que o discípulo de Epicuro deve ser fiel aos mandamentos da religião. E se as festas em Atenas eram uma oportunidade de alegria para todos, havia ainda mais razão para os epicuristas participarem. Não era o Mestre equivalente a Zeus? 

Desde que não sofresse de fome, sede ou frio, e desde que não lhe faltasse um pouco de pão de cevada e água, coisas facilmente obtidas , ele poderia rivalizar com o próprio Zeus em felicidade. 

É por isso que o sábio epicurista não hesitava em invocar o nome dos deuses: ele invoca o perfeitamente bem-aventurado para fortalecer sua própria bem-aventurança.

O Sábio poderia ficar surpreso ao ouvir isso, mas permanece verdade que essa religião de Epicuro está conectada à de Platão. Ambos consideram a contemplação do Belo como o objetivo da atividade religiosa e, dessa maneira, provam ser filhos autênticos da Grécia. Para eles, assim como para todos os gregos, a existência divina, qualquer que seja sua essência, é uma entidade de Beleza absoluta que vive em harmonia e serenidade.

Assim, o Universo Divino do "Timeu" é uma obra de beleza completa que o Criador, "o artista supremo", esculpiu admiravelmente, e esse tema do Belo surge continuamente como um leitmotiv em cada referência à tecelagem do Universo. 

Da mesma forma, os deuses de Epicuro estão cheios de Beleza: "Devemos começar pela natureza humana para concluir, analogicamente, a natureza dos deuses, e afirmar que Deus é uma entidade que vive para sempre, indestrutível e bem-aventurada. 

Essa entidade não é responsável pelos sofrimentos do homem ou pelos males associados à morte, e não podemos culpá-la por nada do que nos faz sofrer. Essa entidade possui o Belo em toda a sua plenitude". 
E novamente, seguindo a tradição grega, o Universo Divino do "Timeu" é completamente autossuficiente e não precisa de nada. 

O mesmo vale para os deuses de Epicuro. No entanto, para citar Platão, esses deuses bem-aventurados, que não carecem de nada, "se compadeceram da raça humana, condenada por sua natureza a sofrer. 

Por isso, estabeleceram, como momentos de alívio de nossos problemas, as festividades durante as quais os humanos dialogam com os deuses, e nos deram companheiros para as festividades, as Musas, Apolo o condutor das Musas e Dionísio, para que, ao nos relacionarmos com os deuses nessas reuniões, possamos revisar e corrigir nosso modo de vida... Assim surgem o ritmo e a harmonia. 

Pois os deuses, que nos foram dados como companheiros na dança, nos ajudam a sentir felicidade quando percebemos o ritmo e a harmonia. 

Eles nos ensinam a nos mover com ordem e, liderando-nos, nos unem através das danças e canções e chamam essas atividades de danças, por causa da alegria que sentimos durante elas". Filódemo, por sua vez, diz: "Principalmente através dos deuses brota a alegria no coração do homem". 

Como Diels muito bem compreendeu, essa observação se refere às festas religiosas. Os deuses instituíram essas festividades para nos dar uma parte de sua alegria eterna. 

Sem dúvida, o homem pode saborear a felicidade dos deuses em outros momentos, sempre que recebe em sua alma os raios benéficos que emanam dos rostos dos deuses. 

Mas principalmente nos dias festivos, quando nos aproximamos do altar ou meditamos diante da estátua divina, sentimos a influência dos deuses com maior força, e isso nos traz maior alegria. "Isso", diz Epicuro, "é o mais essencial e distinto. 

Pois todo homem sábio tem concepções puras e sagradas sobre o Divino e acredita que sua natureza é nobre e venerável. Especialmente nas festividades, à medida que progride na compreensão da natureza do Divino, e enquanto tem seu nome nos lábios, ele compreende (ou 'possui') a imortalidade dos deuses com uma sensação mais vívida".

"[O Sábio faz orações] aos deuses, admira sua natureza e sua condição, se esforça para se aproximar deles, deseja por assim dizer tocá-los e viver com eles, e chama os sábios de amigos dos deuses, e os deuses de amigos dos sábios"




(Traduzido do original grego)