INÍCIO

04 maio 2024

O ACASO TRANSFORMADO EM ARTE




















DESCASO DO PREFEITO SEBASTIÃO MELO E DO GOVERNADOR EDUARDO LEITE PRODUZIRAM UMA CATÁSTROFE











(Fotos dia 03/V/2024)



 

03 maio 2024

JARDIM DE CIRO

Frontispício do Jardim de Ciro (1658). O texto latino, da Institutio Oratoria de Quintiliano, traduzido: 

“O que é mais belo do que o quincunce, que, 
de qualquer direção que você olhe, 
apresenta linhas retas?”


Descobri esse texto que achei muito cativante e simples. Decidi compartilhar com os poucos leitores q passam aqui nessa paragem. Bom proveito. ACP


Apresentação de Vou-me embora para Pasárgada

Pasárgada, Manuel Antônio Dias Bandeira.



VOU ME EMBORA PARA PASÁRGADA 
Jorge Sallum 

Quando cheguei ao Irã pela primeira vez, vi a imagem de uma manifestação trêmula em uma televisão. “Por que estão se manifestando?” A cena não era nítida. Apenas um fluxo de pernas em debandada durante um tiroteio. “Estão se manifestando pela morte de Ciro. Todos os anos é assim.” Ciro, o grande. Morreu em 530 antes de Cristo. “Kyrosh”, pronunciou meu amigo enterrado na sombra. “Os aiatolás não gostam que a população comemore nada antes do islã. Querem esquecer tudo que veio antes. Mas o povo não esquece Ciro, e todos os anos muitas pessoas correm até Pasárgada, até o túmulo de Ciro, para comemorar o seu aniversário.”

Viajei com uma espécie de ignorância necessária. Não sabia se Pasárgada estava lá e desconhecia que o corpo de Ciro, o grande, tinha um mausoléu.

Todos os lugares estão cobertos por uma areia fina, até mesmo os prédios de Teerã. Quando começamos a viajar para o sul, vimos de longe algo como cupinzeiros no pasto, algo como um forno a lenha no deserto. Através de uma pequena porta baixa, por onde somente um homem podia passar com dificuldade, há uma escada de degraus que descem vinte metros para dentro da terra e terminam em uma bacia com um pouco de água condensada que espera o viajante com sede. “Ob ambor”, em persa, “repositório de água”. Entendi que essa espécie de cisterna mágica ainda era utilizada pelos caminhoneiros e que a sua presença era sinal de que ali era a Pérsia.

Pasárga está a 800 km de Teerã, a uma altidude de 2.500 metros.

Pasárga está a 800 km de Teerã, a uma altidude de 2.500 metros. O sítio arqueológico tem menos de dois quilômetros quadrados. O túmulo de Ciro paira só na paisagem, uma construção baixa de pedra calcária, cercada pela planície da região do semiárido no sudoeste do Irã. É uma construção sóbria, com seis degraus irregulares e a dimensão de um quarto pequeno.
Ciro era pai de Atossa, mulher de Dario, mãe de Xerxes. Todos personagens da tragédia de Ésquilo, com exceção de Ciro. O assunto principal da peça não é a vitória dos gregos sobre os grandes persas, mas o sofrimento, a tristeza ou o pesar. A tragédia se passa em Sussa, na fronteira com a antiga Babilônia, e não em Pasárgada. Sussa foi uma das 59 capitais da Pérsia. 
Se as capitais são lugares fixos, na Pérsia cada geração parece migrar com sua capital para onde convém, como se enrolasse um tapete. Quando Xerxes perde a batalha para os gregos no mar de Dardanelos, Ciro já havia morrido em uma batalha obscura em algum lugar entre o atual Kazaquistão e o Uzbequistão.

Não há nenhuma evidência que o corpo do rei Ciro realmente esteja em Pasárgada. Somente o testemunho de outro grego, Alexandre o grande. 

Conta o historiador Flavio Arriano que “Alexandre encontrou a tumba de Ciro, filho de Cambises, saqueado e violado, e que esse ato de profanação lhe causou muita angústia. 

A tumba estava no jardim real de Pasárgada; um bosque de vários tipos de árvores foi plantado em volta dela; havia riachos de água corrente e um prado com grama exuberante.”

O historiador continua:

A base do monumento era retangular, construída com lajes de pedra cortadas em quadrado, e no topo havia uma câmara coberta, também construída em pedra, com acesso por uma porta tão estreita que apenas um homem de cada vez — pequeno — seria capaz de se espremer com dificuldade. Dentro da câmara havia um caixão dourado contendo o corpo de Ciro, e um grande divã com pés de ouro martelado, coberto com capas de algum material espesso e de cores vivas, com um tapete babilônico no topo. Havia uma inscrição na tumba em persa, que dizia:

Ó homem que passa, sou Ciro, filho de Cambises, quem fundou o império da Pérsia e governou a Ásia. Não ofenda meu monumento.
(Flávio Arriano, 6.29.4-9)


Junto ao túmulo estão até hoje as ruínas do mais antigo jardim persa de quatro pontas. O jardim real descrito pelo historiador é um chahar bāgh. “Chahar bāgh” significa “quatro jardins” em persa, dari, tajik, urdu e hindi. O jardim é um dos poucos elemento poéticos iranianos. Poucos porque estão em todas as partes e se ligam a muitos outros elementos poéticos formando uma única coisa.
Descobri rapidamente que há algo de jardim nos tapetes. São os tapetes e jardins que compõem uma mesquita, que não é uma igreja, mas uma praça fechada, com muitos lugares para a conversa e nenhum banco para sentar. Há algo entre os caminhos desenhados no tapete, as vias internas dos jardins e todos caminhos possíveis num deserto. Estamos habituados a entender os caminhos como pontos de partida e chegada. O desafio do artista que desenha tapetes é desenhar caminhos que sejam infinitos, me diz um amigo de Tabriz.

No Irã as pessoas respeitam seus tapetes. As visitas são colocadas confortavelmente sobre ele, conversam, tocam música, em seguida comem juntas, e quando é tarde são convidadas a dormir sobre o mesmo tapete. 

Em tardes de sol fresco as famílias gostam de levar tapetes para os jardins para fazer o que chamam de pick-nick. Nada menos parecido com um pick-nick. Juntam-se as metáforas sobre a vida em um jardim-tapete, levando o tapete-jardim para o jardim de fato.

Não por acaso a palavra “paraíso” é do velho persa, parādaiĵah, e significa “jardim murado”.

O jardim de Ciro, o grande, que foi visitado por Alexandre, o grande, era murado.
Existem quatro tipos de jardins persas. O hayāt, um jardim público que geralmente não tem tantos caminhos e está junto a um lago, com suas vias e alamedas forradas de castalho, como muitos jardins franceses, tal como Luxambourg. O meidān, na forma de um bosque que imita a natureza, e que me lembrou um jardim inglês. O parque, que está repleto de cantos e caminhos menos ordenados e lugares para sentar. O bāgh, que são jardins privados, geralmente com um solar ou casa, mas em que os aquadutos têm a função prática de servir água. E por fim o chahar bāgh, que é sobretudo um jardim fechado, utilizado para a diplomacia, e em que os quatro fluxos de água correm em um equilíbrio absoluto.

O corpo de Ciro jaz em silêncio em uma urna funerária de pedra ao lado do seu jardim do tipo chahar bāgh, que lembra o paraíso. E que talvez seja o paraíso ou o lugar em que o paraíso primeiro ganhou uma forma, para depois ser metáfora.
A estrada que leva até Pasárgada termina no sítio arqueológico como uma rua sem saída. Quando viajávamos para lá meus grandes amigos Bahram e Negin aconselharam, depois de me contar várias histórias sobre Ciro, que não fôssemos até Pasárgada. “Não há nada para ver lá, somente um túmulo, e podemos seguir direto para Yazd hoje mesmo e chegar de manhã até o deserto de Kavir.” Afinal, depois de tanto pensar em Pasárgada, talvez fosse melhor não irmos até lá.
No caminho para Yazd eu molhei a mão novamente na bacia de uma das cisternas pelo caminho. Qualquer uma poderia ser o túmulo de Ciro.

Fonte





PASARGADAS, Πασαργάδες; em latim, Pasargadae, era uma cidade da antiga Pérsia, atualmente um sítio arqueológico na província de Fars, no Irã, situado 87 quilómetros a nordeste de Persépolis. Foi a primeira capital do Império Aquemênida, no tempo de Ciro II, e coexistiu com as demais, dado que era costume persa manter várias capitais em simultâneo, em função da vastidão do seu império: Persépolis, Ecbátana, Susã ou Sardes. É hoje um Patrimônio Mundial da Unesco. (WP)




 

TRAGÉDIA NO RS

UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA NO RS 


Chove em todo estado há cinco dias chuvas torrenciais. Muitos municípios totalmente alagados, muitos perderam a vida por desabamento e deslizamentos de encostas. Um espetáculo dantesco de tristeza e dor.  



Sobre a emergência climática e ambiental no RS 

Prof. Dr. Rualdo Menegat, IG-UFRGS 

Devemos reconhecer, em primeiro lugar, que não só há um apagão da infraestrutura do Estado do RS - que Leite e Melo privatizaram e que agora gerenciam de forma incompetente, estruturas como CEEE-Equatorial, Corsan, entre outras. Sartori e Leite desmontaram também a inteligência estratégica do Estado: Metroplan, FZB, FEE, SEMA e CIENTEC. Além disso e muito importante: há um apagão da natureza para mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos, posto que a drenagem natural e os ciclos hídricos foram destroçados pelas políticas de uso intensivo do solo. Flexibilizaram leis para aumentar áreas de plantio de soja, desmontaram planos diretores para ampliar a especulação imobiliária em zona ribeirinhas, para implantar minas de carvão e para favorecer a especulação imobiliária. Sem inteligência social e com a infraestrutura natural destroçada, temos pela frente um longo caminho para adquirirmos condições de enfrentar a emergência climática e ambiental que estamos atravessando. Temos que ter em mente que isso é apenas um começo. Temos que agir estrategicamente se quisermos encorajar a sociedade a enfrentar os tempos que estão aí e os que advirão. A UFRGS é uma instituição fundamental para isso. É a inteligência estratégica que sobrou em um Estado que está sendo desmontado peça por peça. Sem inteligência social, a sociedade não só fica muito mais vulnerável frente aos impactos adversos dos tempos severos, mas também fica refém da ação de forças externas, sobre as quais não tem controle, como o Exército e empresas privadas. Tudo conduz para a ideia que nada podemos fazer enquanto sociedade, cada vez mais submetida à inclemência da natureza e ao horror de políticas autocráticas e ignorantes. A Universidade é a esperança possível para desenvolver uma inteligência social que encoraje a sociedade a enfrentar a emergência climática-ambiental do século XXI.






Enchente de 2023 era a maior desde 1941, até então.  Hoje, maio de 2024, sabemos q a enchente atual é a maior da história…




























Irmão Silveirinha no auxílio às vítimas 























Jaqueline Hasan Brizola (*)

Há pouco mais de duas décadas, o químico Paul Crutzen e o biólogo Eugene Stoermer apresentaram ao mundo o conceito de antropoceno. Vencedor do prêmio nobel da química em 1995 , por seu estudo sobre a formação e decomposição do ozônio na atmosfera , Crutzen foi um dos defensores da ideia de que já vivemos em uma nova era geológica, onde a atividade humana deixa marcas permanentes no planeta. O tempo do Holoceno, onde a terra esquentou e os humanos conseguiram desenvolver civilizações mais ou menos estáveis acabou. Estaríamos vivendo uma nova era, de catástrofes ambientais, calor extremo, inundações, doenças geradas pela crise climática, entre outros problemas decorrentes da nossa passagem pelo planeta.

Entre especulações e definições científicas, o certo é que nós, humanos, temos uma clara tendência a pensar que “essas coisas” não são problemas nossos que assuntos relacionados ao clima são teorias da conspiração, até que as rodovias para chegar às nossas cidades estejam completamente bloqueadas e a água dos rios, que poluímos sistematicamente, avance sobre nossas casas, nossos comércios e escolas. Esse é o cenário que vivemos nesse exato momento no Estado do Rio Grande do Sul. Teria o antropoceno chegado no pampa?

Como toda nova teoria, as ideias sobre o Antropoceno geraram inúmeros debates e controvérsias. É certo que as atividades geológicas obedecem a uma escala própria e a um tempo longo, mas é inegável que a atividade predatória dos humanos, sugando os recursos naturais do planeta em grande escala e poluindo a atmosfera de forma constante não pode ser ignorada. Entre os defensores do antropoceno, encontram-se cientistas, ambientalistas que, observando as reações da natureza alertam para tragédias sem precedentes caso não repensemos para ontem o modelo energético predominante, caso sigamos ignorando as extremas desigualdades sociais e regionais, caso continuemos preocupados com os lucros e os juros sem olharmos com cuidado para o clima do planeta que agoniza.

A situação de calamidade que vivemos no Rio Grande do Sul tende a se aprofundar nos próximos anos, mas não estamos sozinhos no caos. Sabemos que episódios de alagamentos, rompimento de barragens, calor extremo e chuvas intensas têm sido cada vez mais frequentes em diversas partes do Brasil e do mundo. Enquanto isso, uma parte da população segue ignorando o aquecimento global, o antropoceno ou as mudanças que ocorrem diante dos nossos olhos. Independente da forma que nomeamos essas mudanças, o fato é que ignorá-las não nos deixará a salvo. É preciso reconhecermos o problema, agindo de acordo com a gravidade da situação. Talvez o primeiro passo seja elegermos representantes que estejam dispostos a buscar soluções reais para a crise climática. As eleições municipais ocorrerão em outubro próximo. Fica a dica!


(*) Pesquisadora do Programa de Pós-graduação em História da Ciência e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz. FIOCRUZ


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